Equipamento
Uma corda na vertical, outra na horizontal. Para quê?
VOCÊ ATÉ PODE ACHAR que é luxo, que é coisa de tenista profissional, mas, muitas vezes, a melhor corda para você, na verdade, são duas. Como assim? Um filamento na horizontal e outro na vertical, o que comumente chamamos de encordoamento híbrido.
Assim como as raquetes, cada corda serve para um estilo de jogo, cada uma tem características próprias, umas mais duras, outras mais macias, mais resistentes etc. Então, quando uma única não oferece a solução de que você precisa para o seu jogo, está na hora de tentar mesclar. E acredite, usar duas diferentes é, sim, uma possibilidade plausível para os amadores, mas sua utilização deve vir no momento adequado.
Se voltarmos no tempo e nos lembrarmos da década de 1990, principalmente antes do auge de Gustavo Kuerten, a maioria dos jogadores, de iniciantes a profissionais, acostumou-se com os "antigos" multifilamentos, como as cordas de nylon e as tripas naturais, essas últimas as favoritas de Pete Sampras.
No final da década, no entanto, a tecnologia que vinha mudando as raquetes também alcançou as cordas, com os copolímeros, por exemplo. Guga foi um dos primeiros a "ousar" e testar esse novo tipo de filamento, a Luxilon, um copolímero que mudou totalmente a sensação das batidas e que traria uma verdadeira revolução na parte de equipamento para a geração posterior.
A sensação de potência dos multifilamentos parecia não ser o bastante para o campeão de Roland Garros em 1997 e ele incentivou milhares de atletas a experimentarem a nova moda. "Com o copolímero, eles tinham uma corda que quase não se perdia a tensão e oferecia grande toque e firmeza, além de não deslizar na raquete à medida que usavam", explica o encordoador Fabrizio Tivolli.
Ainda assim, muitos tinham receio de abandonar totalmente a sensibilidade aguçada e capacidade de gerar potência de uma tripa natural (como Guga o fez), então continuaram a mantê-la na trama, mas agora com uma nova combinação (com os monofilamentos) para lhes assegurarem o controle de seus golpes potentes. Nasciam, portanto, os primeiros encordoamentos híbridos.
Durabilidade, firmeza, potência e controle passaram a ser sinônimos, antes inimagináveis, numa mesma raquete através do equilíbrio das duas cordas. Muitos jogadores provenientes da última década do século passado compraram a ideia e usam o copolímero e a tripa mescladas até hoje. Roger Federer, Novak Djokovic, Andy Murray, Maria Sharapova e as irmãs Williams são alguns deles.
Para o encordoador Ricardo Dipold, o hibridismo traz a combinação perfeita para o tenista encontrar as melhores sensações na sua batida, tanto nas cordas verticais (mains) quanto nas horizontais (crosses). "Usar cordas híbridas ajuda a se chegar ao equilíbrio. Para poder ter a qualidade da tripa natural, aquela sensação macia, mas que não estoura tanto e traz mais controle, o que é o caso do copolímero. O jogador profissional quer o melhor dos dois lados", analisa o especialista que trabalha em Serra Negra.
Hoje é difícil você ver profissionais perdendo tempo para trocar a raquete devido a uma corda quebrada (às vezes em um momento delicado do jogo), como acontecia "antigamente". Agora, além de ela ter durabilidade maior, a chance de ver um tenista romper uma corda é ainda mais remota, pois eles possuem diversas raquetes encordoadas da mesma forma em suas raqueteiras e trocam constantemente, tanto para não correrem o risco de quebrar, quanto para terem sempre a tensão ideal das cordas.
A maioria dos profissionais que usufrui do hibridismo seleciona as cordas de tripa natural na disposição vertical, o que propicia mais sensibilidade no contato imediato com a bola, enquanto que o copolímero na horizontal fornece mais rigidez à trama dando mais solidez nos golpes da base. "A maioria dos tenistas top usa tripa na vertical, buscando potência, porque sabem corrigir na técnica para colocar a bola dentro da quadra. Com o amador não tem isso. E aí está um dos porquês de o amador usar as mesmas tramas que os profissionais, porém ao contrário", afirma Dipold, apontando que o copolímero na vertical vai gerar mais controle e durabilidade e a tripa na horizontal mais conforto e sensibilidade.
Profissionais costumam usar tripas na vertical e copolímeros na horizontal. Para os amadores, indica-se o contrário
E para os amadores, tal técnica é a melhor escolha logo de cara? Dipold recomenda que os iniciantes e intermediários continuem usando os multifilamentos. "O iniciante ainda não sabe o movimento certo, a batida ideal, a técnica dele não está formada. Você tem que ensinar o cara a pescar e não dar o peixe direto. É legal ele começar com multifilamento, ajuda também o professor a dar aula. Sou contra o copolímero na raquete inteira, porque é agressivo para qualquer pessoa, até para profissional. É um equipamento duro, tem que fazer muito esforço para fazer a bola andar", conta.
Para o encordoador, o iniciante precisa de muita sensibilidade e potência no início de sua caminhada e, a partir do instante que começa a ter uma evolução, pode pensar em mesclar dois filamentos na mesma trama. "É interessante que o amador use cordas híbridas para evitar lesões, pois são mais macias do que usar somente copolímeros, e também há uma vantagem em relação ao custo, pois como a tripa estoura toda hora, o copolímero na vertical traz maior durabilidade", complementa.
Os que iniciaram há pouco tempo com o hibridismo e se deparam com apenas metade da raquete encordoada após um filamento quebrado, às vezes se perguntam: "E se romper uma das duas cordas, deixo a outra "intacta" e só troco a que estourou?"
O inevitável para o amador é que as tripas, com menor durabilidade, rompam-se na horizontal - considerando-se que o hibridismo dele seja o contrário do profissional - e, assim, o correto é trocar ambos os filamentos. "Uma vez que a corda da vertical está lá por mais tempo e a horizontal é nova, perde-se a referência da tensão utilizada", explica Tivolli.
O amador, com atitude já de profissional, deve andar prevenido. Para Dipold, carregar uma tesoura ou até mesmo um trim é o ideal para essas situações de cordas quebradas, em que a primeira ação é tirar a trama inteira da raquete, evitando, assim, uma deformação do aro, que sofre grande tensão a partir do momento que é encordoado. "Não há vantagem alguma (em deixar a corda que não estourou na raquete). Nós não temos tensão apenas de um lado da raquete. Conforme você quebra a corda, a raquete expande, tomando a forma que ela teria se tivesse presa na máquina. Quando quebrar, deve-se tirar tudo. Tem gente que estoura a corda e deixa a raquete parada por uma semana. Com uma só quebrada, vai ter 250, 300 kg de força puxando para um lado e zero para o outro. Isso gera um desequilíbrio e acaba com a raquete. É como deixar seu violão no sol, a madeira vai adquirir uma nova forma com o calor. Então, quebrou uma corda, tem que aliviar o aro e já levar a raquete para reencordoar", recomenda.
Tivolli afirma que os jogadores devem testar as várias técnicas de encordoamento para terem certeza se estão fazendo a escolha certa, e o hibridismo está dentro desse processo de transição. Afinal, o amador também pode aproveitar melhor para poder ter as ferramentas necessárias a fim de elevar sua qualidade de jogo.
AS HÍBRIDAS DOS PROFISSIONAISRoger Federer Serena e Venus Williams Maria Sharapova Novak Djokovic Caroline Wozniacki Marcos Baghdatis: Ana Ivanovic Agnieszka Radwanska |
Publicado em 24 de Abril de 2013 às 08:47
+LIDAS