Para vencer no saibro, é preciso ter estratégia, técnicas adequadas, preparo físico e também muita paciência
Segundo o Antigo Testamento, Jó era um homem íntegro, reto, temente a Deus e que se afastava do mal. Ele também era rico. Porém, uma aposta entre Deus e o Diabo - para testar sua fé - fez com que este personagem perdesse tudo, menos a vida. Humilde e paciente, Jó sofreu todas as provações sem cair em pecado. No fim, Deus lhe restituiu tudo o que tinha em dobro.
Que diabos essa história tem a ver com a maneira de se jogar no saibro? Tudo. O saibro é tido por muitos como o piso que melhor define um grande tenista. Nele não basta apenas possuir primor técnico (aliás, isto não basta em qualquer superfície), pois é sobre a terra batida que um tenista precisa provar todas as suas qualidades físicas, técnicas, táticas e mentais; e aí entra a "paciência de Jó". Sendo assim, os que melhor conseguirem conjugar estes fatores seguramente alcançarão a glória neste terreno.
Saibro, como todos sabem, é a superfície mais lenta do tênis. É onde winners se tornam bolas defensáveis, onde, apesar de toda força que fizer, a bola não vai andar tanto quanto andaria em outros lugares. Por este motivo, o jogo precisa ser muito mais estudado do que em outros pisos e a paciência é uma virtude. Até mesmo grandes campeões sofrem quando atuam sobre o pó. O exemplo mais clássico é Pete Sampras, que sempre teve resultados modestos nestas quadras lentas, que minimizavam sua estratégia de sempre ser agressivo.
Haja paciência
É fácil notar o quanto o fator "paciência" influencia e determina ações quando se trata de partidas em terra batida. No ano passado e neste novamente, o inglês Andy Murray contratou Alex Corretja - ex-jogador cujos resultados mais expressivos sempre foram em saibro - para auxiliar em sua preparação para a temporada europeia de quadras lentas. Em 2008, o espanhol disse ao iniciar seu trabalho: "Estamos tentando fazê-lo entender que, sobre saibro, você precisa ser mais paciente e colocar um monte de bolas na quadra".
Durante Roland Garros 2007, Maria Sharapova, conhecida pela beleza e pelos potentes e definidores golpes de fundo, foi questionada sobre o fato de precisar ter um pouco mais de paciência em seus jogos no saibro. A musa, que possui seus resultados mais modestos nesta superfície, retrucou com: "Não acho que a paciência é necessariamente uma das minhas fraquezas". E, assim, o Aberto francês continua sendo o único que ela não conquistou.
Novak Djokovic, quando ainda estava tentando alcançar as primeiras posições do ranking, declarou após uma dura vitória sobre Gaston Gaudio em Monte Carlo 2007: "Acredito que preciso ser mais paciente nesta superfície. Esse foi o porquê de eu estar perdendo hoje, especialmente no segundo set. Estava muito impaciente, tentando bater um winner de todos os lugares, o que é impossível neste piso. Estou tentado me acostumar ao saibro e ao estilo de jogo que é diferente. [...] As bolas que você acha que vão ser um winner, voltam. Então, física e mentalmente, você precisa estar muito mais preparado".
Esteja preparado
Como bem definiu Djokovic, é necessário muito preparo físico e mental para aguentar os jogos no saibro. Aqui, a velha máxima: "ganha quem coloca uma bola a mais do outro lado da quadra" é mais do que válida, é um ponto crucial. Quem não se sente fisicamente preparado para suportar longas trocas de bola irá sofrer. A falta de um condicionamento físico razoável - ou, no mínimo, no mesmo padrão do seu adversário - deixará o jogo desnivelado quanto mais o tempo passar. E, se um dos jogadores perceber esta fraqueza no outro, ele fará de tudo para ficar horas dentro da quadra e se aproveitar desta vantagem.
Reviravoltas constantes
A lentidão do jogo no saibro, além de favorecer o preparo físico (muitas vezes em detrimento de uma boa técnica), faz com que as partidas se tornem, muitas vezes, imprevisíveis. A morosidade dos pontos na superfície permite que mesmo placares dilatados sejam revertidos e viradas espetaculares aconteçam com relativa frequência. Sendo assim, é possível lutar por um resultado por mais improvável que pareça, alterando mudanças táticas sempre que parecer interessante. No saibro, nunca é tarde para tentar algo novo.
A estratégia e as estratégias
Assim como qualquer outra superfície, jogar sobre terra batida requer planejamento. Ou melhor, planejamentos. Aqui, no entanto, este fator tende a ser ainda mais crucial que em outros pisos. Ter e usar uma estratégia é algo imprescindível, porém, é sempre bom ter variáveis para experimentar. Pois, se existe algo que a menor velocidade no saibro propicia, isso é "pegar o ritmo do jogo". Ou seja, se alguém joga sempre da mesma maneira, seu oponente logo logo perceberá os pontos fracos desta tática e começará a desvendar os segredos para derrotá-la. Por isso, é sempre bom alternar estratégias para que os adversários não se acostumem a elas.
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Falta e quebra de ritmo
A longa duração dos pontos sobre quadras lentas é uma boa quando um tenista está tentando encontrar o ritmo. O tempo maior para se ajustar a uma batida ajuda os que estão com problemas e até compensa algumas falhas na execução dos golpes. Com paciência, é possível reencontrar a cadência do jogo. Contudo, o que se prega para ter sucesso no saibro não é somente a constância, mas também a variação.
Uma boa mescla de golpes, com peso e efeito diferentes, é o ideal neste piso. Bolas anguladas, drop-shots, grandes topspins, slices, enfim, tudo isso e mais um pouco pode e deve ser usado para machucar o oponente (e deixá-lo maluco sem saber o que será feito no próximo ponto). Tente ser imprevisível quando este fator se fizer necessário.
Constância e paciência
Bola vai, bola vem. O maior segredo para vencer no saibro é, sem dúvida, a constância. Ser agressivo ou defensivo demais é algo que pode não resultar em vitórias, mas a regularidade, esta sim é um caminho mais seguro para o sucesso. Aqui voltamos ao exemplo de Jó, já que constância é sinônimo de continuidade, perseverança, firmeza, obstinação, lealdade, fidelidade. No saibro, a paciência é uma virtude que quase sempre trará grandes recompensas.
Tomamos como exemplo maior Rafael Nadal, cuja constância e paciência tornam-no praticamente imbatível na terra batida. Seu apego tático e sua força mental (além do físico privilegiado, obviamente) fazem dele o que ele é. Ele vence os adversários com os golpes constantes, minando suas resistências, e a calma para se manter nos pontos até o fim, sem se preocupar. Assim, a recompensa por sua paciência sempre vem.
Fique esperto para jogar no saibro 1. Seja paciente |
Publicado em 28 de Maio de 2009 às 14:41