Especial Rotary

Uma causa

É possível combater a poliomielite através do tênis? Os torneios do Rotary provam que sim e dão uma lição do que o esporte e o companheirismo são capazes de realizar


Diz-se que o esporte une as pessoas e o tênis é uma ferramenta social. No entanto, há momentos em que ele pode ser muito mais do que isso. Ele pode apoiar uma causa.

Em 2004, croatas membros do Rotary (uma associação que, entre outras coisas, promove ética nos negócios, amizades entre profissionais de diversas áreas e também ações humanitárias) decidiu criar um “grupo de companheirismo” de tenistas, o International Tennis Fellowships of Rotarians (ITFR).

No ano seguinte, o grupo foi “sancionado” pelo Rotary Internacional e já organizou seu primeiro campeonato mundial, em Rovinj, na Croácia. Hoje, 11 anos depois, o ITFR tem mais de 1.500 rotarianos tenistas cadastrados em mais de 50 países. Mais do que isso, seus inúmeros torneios mundo afora já arrecadaram mais de US$ 350 mil para o combate à poliomielite (ou paralisia infantil).

Na década de 1980, o Rotary Internacional decidiu lançar um projeto global de para a erradicação da pólio no mundo. Na época, essa terrível doença era endêmica em 125 países no mundo. Hoje, muito graças ao trabalho e dedicação dos rotarianos, ela permanece assim em apenas três países: Nigéria, Afeganistão e Paquistão (sendo que a Índia foi o último país a sair dessa desagradável lista em 2012). Hoje, em um esforço para acabar de vez com a doença, para cada dólar arrecadado pelos rotarianos, o bilionário Bill Gates, através de sua fundação, dobra esse valor. Para informações mais detalhadas sobre o projeto, é possível acessar o site www.endpolio.org.

A força do tênis

Recentemente, durante o US Open, foi realizado o 11o ITFR World Championship, na cidadezinha de Thomasville, na Geórgia, Estados Unidos. Dele participaram 46 competidores de nove nacionalidades e foram arrecadados mais de US$ 20 mil em inscrições e patrocínio. O torneio foi organizado pelo vice-presidente da ITFR, Eugene McNease, que compete regularmente nos eventos de tênis do Rotary pelo planeta, incluindo mundiais anteriores em Viena e Barcelona, por exemplo. Contudo, já houve competições até mesmo na Turquia, Bulgária e Sri Lanka. O último mundial, organizado em agosto de 2014, havia sido em San Benedetto del Tronto, na Itália.

Eugene McNease
Eugene McNease (acima) organizou o 11° ITFR World Championship na cidade de Thomasville, na Geórgia, Estados Unidos

Os mundiais de tênis rotariano, aliás, costumam ser eventos concorridos e prestigiados. Graças à influência de seus organizadores, os presidentes das principais organizações de tênis do mundo, como a Federação Internacional de Tênis (ITF) e a Associação dos Tenistas Profissionais (ATP), por exemplo, costumam enviar mensagens de apoio aos participantes.

Em junho deste ano, McNease esteve no Brasil para a convenção internacional do Rotary, realizada em São Paulo e fez questão de incentivar seus colegas a irem disputar o mundial em sua cidade natal. Concomitantemente à convenção, Marcos Franco, presidente do ITFR para a América do Sul, organizou um rápido torneio de duplas no clube do Círculo Militar, na capital paulista, do qual participaram tenistas de diversas regiões brasileiras, além de croatas, nigerianos, norte-americanos etc.

McNease venceu na categoria acima de 60 anos juntamente com Ramiro Martins Araújo. Franco, por sua vez, ganhou com Luís Gonzaga Ribeiro dos Santos entre os que têm menos de 60. Na final, venceram a dupla formada pelo atual presidente mundial do ITFR, o croata Mladen Novakovic.

“Os princípios do tênis são compartilhados com o espírito dos rotarianos; a ética e fair-play utilizados fazem deste esporte o mais adequado para os fins rotários”, acredita Franco, que completa: “O ITFR é um instrumento privilegiado para promover a amizade e a solidariedade em todo o mundo. A presença do Rotary International em todos os continentes dá ao ITFR a oportunidade de interagir com membros de diferentes nacionalidades com os mesmos objetivos rotários e do interesse do tênis”.

Amizade, boa ação e disputas

Mladen Novakovic

Mladen Novakovic, presidente do ITFR

Quem corrobora a opinião de Franco é o rotariano membro do ITFR Felipe Cabrera. “O Rotary é, no final das contas, um grupo de amigos com alguns interesses em comum, sendo o principal deles o desejo de retribuir de alguma maneira com a sociedade. Nesse grupo tão heterogêneo, formado por pessoas de áreas profissionais das mais variadas, de diferentes religiões e inclinações políticas, formam-se outros grupos para difundir e fomentar interesses específicos. São os grupos de companheirismo. Existem grupos relacionados a esporte, carros, motos, coleções e todo o tipo de hobbies que se possa imaginar. Um dos grupos de companheirismo mais fortes do Rotary é o dos amantes do tênis”, garante.

Tenista amador “tardio” (aprendeu a jogar por volta dos 30 anos de idade), ele é um membro assíduo dos eventos do ITFR, tendo sido campeão do último “Brasileiro de Tênis para Rotariano”, realizado em Petrópolis, Rio de Janeiro, em novembro do ano passado, em todas as categorias: simples, duplas e duplas mistas. “São torneios em que o ponto central é a amizade, como prega a filosofia do Rotary, mas, ainda assim, é uma competição, então, ninguém gosta de perder”, afirma Cabrera, que revela ter treinado com afinco para levantar a taça de campeão brasileiro.

Os prêmios geralmente não passam de troféus que são oferecidos durante as confraternizações finais. No entanto, a página na internet do ITFR, além de divulgar o calendário de competições anual também dá acesso a um ranking (que só pode ser acessado por membros). Cabrera está entre os 10 primeiros entre os tenistas com menos de 50 anos. O líder é o búlgaro Petar Radushev. “Ele ganha quase todos os torneios”, comenta Cabrera. No último mundial, porém, Radushev perdeu na primeira rodada, mas venceu a chave de consolação. O campeão geral foi o norte-americano Erick von Hellens.

Entre as mulheres, a vencedora foi a argentina Daniela Macias, que havia sido campeã do Sul-Americano de 2014, em Assunção, no Paraguai. Aliás, durante esse evento, a força conjunta do tênis e do Rotary mostrou-se ainda maior quando os participantes – por sugestão de Cabrera – se uniram para angariar fundos e materiais para o projeto social de ensino de tênis para crianças especiais mantido por Macias.

Até o começo deste ano, somente na América do Sul haviam quase 230 jogadores cadastrados e os torneios somaram uma arrecadação total acima de US$ 30 mil para o Rotary International. Para se ter ideia, o Sul-Americano de 2015, organizado em Buenos Aires, angariou cerca de US$ 2,5 mil e contou com 23 jogadores. Neste ano, a terceira edição do “Brasileiro” será realizada na cidade de Canela, no Rio Grande do Sul, em novembro, e o próximo torneio “Sul-Americano” (quarta edição) será em Santiago, Chile, em abril de 2016.

O lema do ITFR é: “Score an ace with Rotary … for a winning service” (Faça um ace com o Rotary... para um serviço vencedor). É assim que o Rotary “usa” o tênis da melhor maneira, em sua plenitude: promovendo a saúde, congregando as pessoas, criando interações entre elas e, ainda por cima, fomentado ações sociais.

Mais informações sobre o ITFR em www.itfr.org
O cadastro é livre e pode ser feito por qualquer um que queira participar dos eventos.

Rotary

O primeiro clube Rotary do mundo nasceu em 1905, em Chicago, Estados Unidos, quando o advogado Paul Percy Harris reuniu colegas (homens de negócios) para criar um grupo de amizade e relações profissionais. O nome Rotary surgiu da prática inicial de fazer um rodízio das reuniões entre os escritórios de cada associado.
“Os rotarianos são profissionais de destaque em suas áreas, com reputação ilibada e com vocação para atuar em projetos humanitários. O Rotary começou como uma rede social, sendo que cada membro deveria pertencer a uma área profissional distinta. Juntavam-se os que tinham destaque com o objetivo de fazer network. Em pouco tempo, o Rotary passou a ser uma instituição focada em fomentar elevados padrões de ética nos negócios. Com essa mistura de pessoas de destaque profissional e com boas intenções, além de esse grupo crescer muito, ele começou a usar a habilidade de seus componentes para promover ações humanitárias”, resume o rotariano Felipe Cabrera.
Muitas vezes, o Rotary é definido como um clube de serviços filantrópico. Hoje, ele congrega mais de 1,2 milhão de pessoas. Elas prestam serviços humanitários, ajudam a fomentar um elevado padrão de ética em todas as profissões e a estabelecer a paz e a boa vontade no mundo. Para isso, eles seguem os preceitos da “prova quádrupla” para guiar sua filosofia. Assim, eles devem sempre responder a quatro questões em todas as suas atividades: “É a verdade?”; “É justo para todos os interessados?”; “Criará boa vontade e melhores amizades?”; e “Será benéfico para todos os interessados?”. Seu lema é “dar de si antes de pensar em si”.
Mais informações em
www.rotary.org

Por Arnaldo Grizzo

Publicado em 23 de Outubro de 2015 às 00:00


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Artigo publicado nesta revista