Brasil venceu a Colômbia com facilidade fora de casa e agora vai encarar o Equador para tentar voltar ao Grupo Mundial. A (improvável) tarefa parece que nunca foi tão fácil
Thomaz Bellucci |
Franco Ferreiro |
Desentendimento, um local estranho, torcida contra, pressão. Tudo conspirava contra o Brasil diante do time colombiano, em maio, na pequena cidade de Tunja, a cerca de 150 km da capital Bogotá (por uma estrada sinistra), com 120 mil habitantes e poucas mordomias. E, lembrando, mais de 2.700 metros acima do nível do mar.
Um dos principais tenistas da equipe do capitão Chico Costa, Marcos Daniel, se recusou a disputar o confronto por desentendimento com a Confederação Brasileira de Tênis (entenda o que aconteceu no Box ao lado). Sem ele, que tem excelente retrospecto em partidas na Colômbia e contra os principais jogadores do país andino, o grupo foi pressionado com nossa jovem esperança, Thomaz Bellucci; o instável, porém talentoso, Franco Ferreiro; e a dupla mineira de André Sá e Marcelo Melo, que apesar da má fase ainda era considerada nossa principal pilastra.
Não, o time colombiano não era um monstro imbatível. Seus principais tenistas, Santiago Giraldo e Alejandro Falla, tinham rankings modestos (127 e 173, respectivamente). Porém, o que esperar dos pouco experientes Bellucci (que acabara de sair do top 100) e Ferreiro (apenas o quinto melhor brasileiro no ranking, perto do número 180)?
A verdade é que nem os mais otimistas imaginariam a lavada que demos na Colômbia. Bellucci dominou Falla e Ferreiro teve atuação esplendorosa diante de Giraldo. Com duas vitórias inesperadamente "fáceis", a dupla só precisava confirmar o favoritismo. Falla e Juan Sebastian Cabal, contudo, aproveitaram-se da instabilidade de Melo e Sá e levaram o jogo para o quinto set. Lá, no entanto, a maior experiência e categoria dos mineiros falou mais alto.
Mais fácil, só em 1991
Confronto selado, o Brasil se classificou para o playoff do Grupo Mundial pelo quarto ano seguido. Em 2006, de volta da terceira divisão, vencemos o Equador fora (com Nicolas Lapentti muito oscilante e seu irmão Giovanni que se machucou na primeira partida) e perdemos o playoff para a Suécia, em Belo Horizonte. No ano seguinte, batemos o Canadá em Florianópolis e fomos destroçados pela Áustria em seguida. Em 2008, batemos a Colômbia em Sorocaba e não vimos a cor da bola no piso super-rápido preparado pelos croatas.
O caso Daniel Assim que saiu a convocação do técnico Chico Costa para o duelo contra a Colômbia, um susto. Marcos Daniel, número dois do País na ocasião, carrasco de Giraldo e Falla e acostumado a se dar bem em torneios disputados na altitude colombiana, simplesmente não estava na lista. O gaúcho, que não assinou contrato com os Correios (patrocinador da CBT) no começo do ano, recusou-se a jogar com o logotipo e foi cortado da equipe. O acordo com a estatal prevê que os dez tenistas mais bem colocados no ranking recebam ajuda financeira para comprar passagens aéreas. O valor varia de acordo com a colocação e, na primeira listagem de 2009, Daniel - devido à diferença de calendário de um ano para o outro - caiu para 102 no ranking. Pelo contrato, tenistas top 100 recebem R$ 20 mil por semestre. Os que estão entre 100 e 200, R$ 12 mil. O gaúcho, sentindo- se injustiçado, não quis aceitar. A CBT, cumprindo uma regra à risca (coisa rara no País), não cedeu. Para jogar a Davis, Daniel queria vender a terceira manga (em torneios normais os jogadores podem usar dois patrocinadores nas mangas, mas na Davis há espaço para mais um). No entanto, este terceiro espaço, por regra, pertence ao apoiador da federação nacional, no caso, a CBT. Como Daniel disse se recusar a jogar com os Correios (que não oferece dinheiro extra aos participantes da Davis), não pôde ser convocado. A situação gerou incômodo, mas Jorge Larcerda, presidente da CBT, garante que apenas fez cumprir regras e que, se Daniel rever sua posição de não jogar com o logo dos Correios (assinando, ou não, o contrato no segundo semestre), poderá atuar pelo time contra o Equador normalmente caso seja interesse do capitão convocá-lo. |
Marcelo Melo e André Sá |
Alejandro Falla |
RESULTADO brasil 4 x 1 colômbia Thomaz Bellucci (BRA) v. Alejandro Falla (COL) 7/6(5), 3/6, 7/6(6) e 6/2 |
Agora, com a sorte de ter sido cabeçade- chave no sorteio do playoff, vamos jogar com o Equador (que venceu o Peru) em casa, em setembro. Chance melhor para subir à primeira divisão do tênis por equipes talvez nunca mais ocorra. Óbvio que não se pode menosprezar os irmãos Lapentti, mas Nicolas (já com 32 anos) há tempos não é mais o mesmo e não se mantem no top 100 e Giovanni também não consegue deslanchar e está mais próximo dos 200.
Não se pode dizer que o time brasileiro seja superior, mas haverá o fator campo, que costuma ser determinante. E, além disso, nossos tenistas parecem estar em melhor fase, apesar de os rankings serem parecidos com os dos equatorianos. A última vez que o Brasil ascendeu ao Grupo Mundial foi em 1996, ao vencer a Áustria de Thomas Muster (de maneira conturbada com a desistência dos austríacos), quando Guga ainda era uma promessa. Os brasileiros permaneceram na elite até 2003, quando começou o boicote à gestão de Nelson Nastás na CBT, e o declínio do catarinense.
Antes, o Brasil tinha atingido o Grupo Mundial em 1991, com o time formado por Luiz Mattar e Jaime Oncins. Após vencer Peru e Uruguai em casa, os brasileiros ainda voltaram a jogar o playoff diante da torcida, no Clube Pinheiros, em São Paulo, contra a Índia do experiente, mas já decadente Ramesh Krishnan, de 30 anos, então 157 do mundo, e o ainda garoto Leander Paes, de 18, apenas 330 do ranking. Mattar e Oncins, ambos top 100, passearam em quadra.
No ano seguinte, o Brasil fez campanha histórica e atingiu a semifinal do Grupo Mundial, só perdendo para a Suíça, de Marc Rosset e Jakob Hlasek, no carpete de Genebra. Será que nosso time atual tem bala na agulha para isso? Tomara. Mas, primeiro, precisamos vencer o Equador.
Publicado em 28 de Maio de 2009 às 11:53