Torneio Fed Cup

Tempo de reflexão

O Brasil foi derrotado pela Suíça na volta à repescagem do Grupo Mundial da Fed Cup, mas o confronto deixou lições de experiência para nossas tenistas


NÃO SERIA UM PARALELO MUITO distante dizer que na semana da Páscoa as mulheres do Brasil enfrentavam sua “via crúcis” para quebrar um longo jejum na Fed Cup. Há 10 anos, Carla Tiene defendia o país na repescagem do Grupo Mundial (a última vez que o Brasil tinha disputado o Play-off) e, agora, seria a responsável por comandar Teliana Pereira, Paula Gonçalves, Laura Pigossi e Gabriela Cé rumo ao sonho de retornar à elite do torneio por equipes.

Além da época, propícia a celebrações, o cenário montado não poderia ser melhor. O forte calor da aprazível Catanduva, o piso de saibro, tão conhecido por Teliana e suas companheiras, e o apoio da barulhenta torcida paulista foram as apostas para minar a frieza das suíças, que vieram para o confronto desfalcadas de sua número 1, Stefanie Voegele, e dependiam do talento da jovem Belinda Bencic, que, no entanto, nunca entrara numa série como principal nome da equipe. A pressão, sim, poderia jogar a favor das brasileiras.

Desenrolar da série

Na sexta-feira, o sorteio dos jogos definiu que Teliana abriria as ações contra Timea Bacsinszky, rival que não vinha de resultados expressivos no circuito. Perfeito para os mais otimistas, já que um possível triunfo da pernambucana tiraria o peso de Paulinha na sequência contra Bencic. A número 1 do mundo no juvenil e top 100 no ranking WTA jogaria sob pressão de um placar desfavorável e com a obrigação de deixar tudo igual para que as visitantes mantivessem chances no domingo.


Faltou experiência para Paula Gonçalves diante de adversárias de melhor ranking

Só que o “Sábado de Aleluia”, nas tradições cristãs, deu lugar a sua outra denominação e um “Sábado Negro” foi determinante para erradicar a confiança do time brasileiro. No primeiro dia, o que chamou mais a atenção não foram os jogos, mas as coletivas. Os semblantes de Teliana e Paulinha aos prantos traduziram fielmente o quanto o sábado foi desastroso para o Brasil. Na preliminar, Teliana realizou uma das piores partidas de sua carreira – segundo sua melancólica análise – e não viu a cor da bola frente à Bacsinszky, o surpreendente destaque de todo o final de semana. Em seguida, com o cenário inverso do que os anfitriões haviam previsto, Bencic entrou solta e fez prevalecer seu ranking diante de Paula, que também desabou em lágrimas minutos após a saída de quadra. E por mais que jogadoras e a capitã Carla Tiene não jogassem a toalha, o caminho para o Grupo Mundial tornou-se um calvário.

Só que Teliana, no primeiro jogo do domingo, “renasceu” e mal lembrou a mesma jogadora do dia anterior. Com uma postura corajosa, a número 1 do Brasil fez um jogo impecável diante de Bencic e reacendeu a esperança do país. Paulinha teria que, em seguida, derrotar Bacsinszky para forçar a definição do confronto no quinto jogo, de duplas. A paulista teve suas chances, brigou, vibrou junto com a fiel plateia, que compareceu em peso ao clube no domingo de Páscoa, porém a maior experiência da suíça, que foi top 40 há quatro anos, contou nos momentos decisivos para fechar a partida, e o confronto. A partida de duplas ainda cumpriu tabela e as europeias anotaram o quarto ponto com o triunfo de Bencic e Viktorija Golubic sobre Gabriela Cé e Laura Pigossi.

Análise

Nem precisava da explicação formal e racional da capitã Carla Tiene após o confronto, pois foi nítido que o fator emocional, que poderia ser uma arma a nosso favor, tornou-se a pedra no meio do nosso caminho. As duas derrotas no sábado, principalmente a de Teliana, que atuou bem abaixo do nível que apresenta no circuito, reduziram bastante as previsões de vitória para as donas da casa.

No mais favorável dos panoramas, a pernambucana teria que ganhar seus dois pontos de simples a fim de deixar Paula mais à vontade em quadra para beliscar, ao menos, um ponto. Apesar de chegar a Catanduva invicta defendendo o país na Fed Cup, Paulinha nunca tinha enfrentado jogadoras de ranking tão alto nessa competição, e talvez atuar pelo país pela primeira vez em casa, numa série de vital importância, possa ter sido demais para a sua experiência.

Não adianta procurar culpados, pois talvez a “culpa” seja mesmo das suíças, que têm um time mais forte. A derrota, porém, não diminui a ótima trajetória do time brasileiro em 2014, que superou a barreira do Zonal e voltou a dar as caras em um confronto de Grupo Mundial, ainda que de repescagem do segundo pelotão. Foi louvável também testemunhar a guerreira Teliana treinando horas e horas em busca de evolução após um sábado terrível e dar a volta por cima frente a uma rival perigosa como é Bencic.


Belinda Bencic e Timea Bacsinszky não se importaram com a pressão da torcida

Moral da história

E, talvez, o que mais conte agora é o poder de reflexão. É verdade que a vitória contra as suíças, por mais que as europeias tivessem certo favoritismo, era uma possibilidade palpável, no entanto a realidade de uma seleção que joga o Grupo Mundial, mesmo a segunda divisão, requer atletas mais preparadas para disputar partidas em alto nível. Carla Tiene tem Teliana como a mais experiente e quem tem disputado os maiores torneios do calendário, porém as outras ainda não têm a bagagem necessária. Tanto Paula quanto Laura Pigossi e Gabriela Cé ainda emperram na transição dos torneios Challengers, e necessitam evoluir ainda mais para chegar ao mesmo patamar da nossa top 100. A última vez que o Brasil disputou o Grupo Mundial aconteceu em 1991.

Em 2015, nossas meninas voltam ao Zonal das Américas novamente confiantes em garantir uma nova tentativa para disputar o Grupo Mundial II, mas cientes de que toda persistência e trabalho terão que ser dobrados para subir um degrau na Fed Cup.

Resultado final

Fed Cup 2014 - Play-offs do Grupo Mundial II
Brasil 1 x 4 Suíça, Clube de Tênis Catanduva, Catanduva (Brasil)
Timea Bacsinszky (SUI) d. Teliana Pereira (BRA) 6/3 e 6/3
Belinda Bencic (SUI) d. Paula Gonçalves (BRA) 6/3 e 6/3
Teliana Pereira (BRA) d. Belinda Bencic (SUI) 6/3 e 6/4
Timea Bacsinszky (SUI) d. Paula Gonçalves (BRA) 7/5 e 6/2
Belinda Bencic/Viktorija Golubic (SUI) d. Gabriela Cé/Laura Pigossi (BRA) 6/2 e 6/2
Por Matheus Martins Fontes

Publicado em 9 de Maio de 2014 às 00:00


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Artigo publicado nesta revista

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Revista TÊNIS 127 · Maio/2014 · Torne seu SAQUE uma arma!

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