Torneio Brasil Open

Surpresas

Como no ano passado, Brasil Open novamente foi palco de revelações


Logo no primeiro dia, as perspectivas não pareciam muito animadoras no Brasil Open. Em sua 15ª edição, o mais tradicional torneio do país começou com o abandono de seu cabeça de chave número 1, o espanhol Feliciano Lopez – que no dia anterior havia sentido uma contusão na final do ATP de Quito. Era uma grande perda para o torneio, especialmente porque Lopez tem o estilo de jogo que agrada o público, com muita agressividade e plástica nos golpes.

Para piorar, no segundo dia, Thomaz Bellucci acabou derrotado pelo eslovaco Martin Klizan depois de sacar para fechar a partida no terceiro set. No mesmo dia, Bruno Soares e Alexander Peya também foram surpreendentemente derrotados pela dupla Paolo Lorenzi e Diego Schwartzman. Antes, Guilherme Clezar já havia perdido para Albert Ramos-Vinolas.

Ainda assim, a torcida brasileira podia contar com as parcerias entre Marcelo Melo e o austríaco Julian Knowle e André Sá e João Souza. Foi com Feijão, aliás, que o Brasil seguiu longe no torneio. Em uma semana inspirada, o jovem de Mogi das Cruzes alcançou sua terceira semifinal de ATP na carreira e, por muito pouco, não conseguiu chegar à final.

Um novo Feijão

A campanha de Feijão foi repleta de drama. Somente a primeira partida, contra o espanhol Pablo Carreño-Busta, não foi decidida em três sets. Na estreia, Souza esteve impecável técnica e taticamente, mesmo tendo tido pouco tempo para se adaptar ao saibro coberto paulistano – pois, na semana anterior, havia feito sua primeira final de ATP, em duplas.


Com o título, no Brasil Open, Pablo Cuevas se tornou o uruguaio melhor ranqueado na história

Nas oitavas, contra Klizan, o algoz de Bellucci, Feijão conseguiu uma virada impressionante e pouco provável. Depois de perder o primeiro set sem oferecer muita resistência nos saques do eslovaco, o brasileiro passou a responder melhor os serviços, colocando a bola na quadra e aguardando os erros do rival, que vieram aos borbotões. Com a partida igualada em sets, Klizan e Souza testaram a regularidade um do outro. E, com ajuda da torcida, que desestabilizou o estrangeiro, Feijão saiu com a vitória.

Nas quartas, ele encarou Leonardo Mayer, o melhor argentino no ranking, numa prévia do que pode ocorrer na Copa Davis. Em nova atuação sólida e taticamente muito bem planejada, Feijão foi capaz de segurar o volume de jogo do argentino e contou com novo apoio da torcida para minar mentalmente o adversário.

Na semifinal, Feijão encarou o azarão Luca Vanni. Desta vez, porém, o brasileiro teve dificuldade de encontrar a melhor maneira de lidar com o jogo agressivo do italiano. No segundo set, quando a partida parecia terminada com Vanni sacando para liquidar, a torcida enfim mexeu com os nervos do italiano. Feijão aproveitou e igualou o jogo depois de um tenso tiebreak. Jogando mais solto, Souza conseguiu uma quebra no terceiro e, quando tudo parecia se encaminhar para nova vitória, alguns descuidos – fruto do cansaço físico e mental – custaram caro e o impressionante Vanni saiu vitorioso.

Prodígio italiano?

Aos 29 anos, o italiano Luca Vanni se profissionalizou somente aos 21. Isso mesmo. Até chegar ao Brasil Open 2015, nunca havia vencido uma única partida de ATP na vida e seu melhor ranking era um mero 145° lugar. Era tão “desconhecido” que o site ATP sequer informava se era destro ou canhoto.

Aos 29 anos, o italiano Luca Vanni (direita) venceu suas primeiras partidas de ATP na carreira. Bellucci não conseguiu superar a estreia

Em São Paulo, passou o quali e, graças à desistência de Feliciano Lopez, entrou no lugar do cabeça 1 na chave, direto nas oitavas de final. Na estreia, fez um jogo duro contra o holandês Thiemo de Bakker. Nas quartas, superou o promissor sérvio Dusan Lajovic em dois tiebreak e chegou todo sorridente para falar com a imprensa, pois essa tinha sido sua primeira partida transmitida para a Itália, portanto, sua mãe estava assistindo.

Na semifinal, encurralou Feijão desde o começo com seu estilo agressivo, mostrando um tênis exuberante, com saque muito potente (muito devido aos seus 1,98 m) e ótimas subidas à rede. Para finalizar a partida, porém, não teve o mesmo sangue frio dos jogos anteriores e tremeu diante dos berros da torcida em prol de Feijão, que, no fim, não soube aproveitar a vantagem psicológica.

Na inesperada decisão, Vanni enfrentou o experiente uruguaio Pablo Cuevas, que atravessa uma grande fase. Ainda assim, levou o jogo para o terceiro set, chegou a sacar para fechar a partida, mas viu Cuevas devolver tudo e levar a decisão para o tiebreak, em que o uruguaio foi mais consistente e levantou seu terceiro título na carreira.

Renascimento uruguaio

Assim como Vanni, Pablo Cuevas também tem 29 anos e, recentemente, sua carreira sofreu diversas reviravoltas. Até 2013, apesar de ser campeão de Grand Slam em duplas (em Roland Garros 2008 com Luis Horna), ele nunca tinha conseguido grandes resultados em simples. Aí, uma lesão no joelho quase fez com que abandonasse o circuito. Voltou no ano passado sem grandes expectativas. Mesclando Challengers e ATPs, contudo, conseguiu vencer dois ATPs, em Bastad e Umag, em sequência, sendo que até então nunca tinha feito uma final sequer.

Depois da vitória no Brasil Open, tornou-se o melhor sul-americano no ranking da ATP, em 23o lugar, posição que também lhe confere o status de melhor uruguaio na história, superando a 27a posição alcançada por Diego Perez em 1984.

Resultados finais Brasil Open

Pablo Cuevas (URU) v. Luca Vanni (ITA) 6/4, 3/6 e 7/6(4)
Juan Sebastian Cabal e Robert Farah (COL) v. Paolo Lorenzi (ITA) e Diego Schwartzman (ARG) 6/4 e 6/2
Por Arnaldo Grizzo

Publicado em 6 de Março de 2015 às 00:00


Torneio Brasil Open revelações Feliciano Lopez Bruno Soares Alexander Peya Paolo Lorenzi Diego Schwartzman João Souza Luca Vanni

Artigo publicado nesta revista

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