Artilheiro espanhol

Torneio Wimbledon


fotos: Ron C. Angle

Artilheiro espanhol

Dias antes de Wimbledon começar, Espanha e Suíça já travavam duelo sobre a grama, mas na Copa do Mundo da África do Sul. Ao contrário do que costumeiramente ocorre no tênis, os suíços, com um futebol defensivo, levaram a melhor sobre os ousados espanhóis. Seria um presságio? Não. Tanto nos campos de futebol quanto nas quadras de grama, a Espanha provou-se superior. Rafael Nadal, apesar de um começo um pouco vacilante (quando foi levado ao quinto set contra o holandês Robin Haase e o alemão Phillip Petzschener), repetiu seu feito de 2008 e venceu Wimbledon logo após ter ganhado Roland Garros (Federer fez isso em 2009 também). Aos 24 anos, Nadal conquistou seu oitavo título de Grand Slam. Com essa idade, só Bjorn Borg tinha números mais expressivos do que ele. Com campanhas tão avassaladoras nos últimos meses, será difícil alguém tomar o primeiro lugar do ranking do espanhol até o fim do ano.

fotos: Ron C. Angle

COME FLY WITH ME
Se Wimbledon fosse como o US Open, com DJ e muito barulho, Serena Williams seguramente teria pedido para tocar "Come fly with me" ao conquistar seu 13o Grand Slam, seu quarto troféu em Londres. "Estava me sentindo meio Frank Sinatra", disse na coletiva pós premiação. Mas, logo em seguida, ela voltou a colocar os pés no chão e, mesmo sem ter perdido um set sequer na competição, afirmou que não estava jogando seu melhor tênis. Apesar disso, ela manteve a soberania das Williams na grama. Desde 2000, ela e a irmã, Venus, venceram oito vezes, sendo que por três vezes ambas estiveram na final. O resultado manteve Serena em primeiro lugar do ranking e, mais do que isso, alçou-a ainda mais alto no livro dos recordes, passando Billie Jean King e tornando-se a sexta mulher a ter mais conquistas de Grand Slam na carreira. Aos 28 anos, a norte-americana ainda está longe dos 18 Majors de Martina Navratilova e Chris Evert e mais ainda dos 24 de Margareth Smith Court. Ela diz não estar preocupada com isso, mas, a cada dia, prova-se definitivamente como o maior nome de sua geração.

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fotos: Ron C. Angle

"Ela não é uma máquina"
Realmente, Serena Williams está longe de ser invencível, apesar de estar liderando o ranking feminino. E a russa Vera Zvonareva sabia disso. Contudo, mesmo com um jogo bastante dinâmico e agressivo, todos sabiam que a única chance de Zvonareva contra Serena era se a norte-americana não estivesse firme no saque. Mas ela estava. Pior para a russa, que não conseguiu o título para consagrar seu retorno triunfal após uma temporada difícil em 2009, quando alcançou a quinta posição no ranking, mas, logo em seguida, uma lesão no tornozelo direito fez com que alternasse bons e maus (mais maus do que bons) momentos. Tanto que, no fim da temporada, passou por cirurgia. "Sou muito perfeccionista, então não considero este um resultado fabuloso", disse Zvonareva, que retornou ao top 10.

fotos: Ron C. Angle

Mais um gigante
Primeiro foi o argentino Juan Martin del Potro, de 1,98m. Depois, o sueco Robin Soderling, de 1,93m. Agora é Tomas Berdych, de 1,96m, quem resolveu mostrar que tamanho faz, sim, diferença. O rapagão de olhos azuis, semifinalista em Roland Garros, ingressa no top 10 após mais uma campanha espetacular. Em Wimbledon, deu um pouco de sorte na chave no começo, mas bateu, com extrema facilidade, ninguém menos que Roger Federer nas quartas e Novak Djokovic na semi. No entanto, na decisão, Nadal mostrou ao tcheco que é preciso mais do que tamanho para ganhar um Major.

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fotos: Ron C. Angle

Sem hotel
Digamos que a búlgara Tsvetana Pironkova foi bastante realista quanto às suas chances em Wimbledon 2010 e resolveu alugar um quarto de hotel somente até a segunda rodada do torneio. A expectativa da jovem de 23 anos tinha fundamento, pois ela nunca havia passado dessa fase em nenhum Grand Slam antes. Apenas a 82a colocada na WTA, ela não esperava ir tão bem este ano. Ela passou as duas primeiras rodadas. Nas oitavas, veio a primeira surpresa: venceu Marion Bartoli. Na rodada seguinte, anulou a pentacampeã Venus Williams. Nessa altura do campeonato, porém, sua reserva no hotel já havia acabado e não conseguiu outro lugar para ficar. "Nessa época, os hotéis estão lotados. Então tive que ligar para o presidente da federação búlgara, que falou com a embaixada aqui e eles nos arrumaram um apartamento", contou Pironkova, que parou na semi, após levar virada de Zvonareva.

Faltou acreditar?
Por pouco o torneio feminino de Wimbledon, assim como ocorreu em Roland Garros, não consagrou nomes diferentes dos que habitualmente estamos acostumados a ouvir nas finais. A ousada tcheca Petra Kvitova também possui um jogo agressivo e variado, como as mulheres que estão despontando nos últimos meses. Interessante que ela nunca havia vencido um jogo sequer na grama como profissional e seus resultados anteriores não a credenciavam como favorita a nada. "Não estou jogando muito bem, estou jogando o melhor tênis da minha vida", disse após passar à semifinal, que jogaria contra Serena. Contudo, a frase seguinte já mostrava que ela mesma acreditava que tinha ido longe demais: "Não acredito que posso vencer Wimbledon".

Número dois sem esforço
Apesar de ter alcançado o segundo lugar do ranking (devido à queda precoce de Federer), Novak Djokovic certamente não tem feito por merecer tal posição. É verdade que o sérvio tem tido campanhas consistentes, mas, ao contrário de temporadas anteriores, em que era apontado como o grande opositor ao domínio de Federer e Nadal, agora ele é visto com desconfiança. E chegou assim em Wimbledon. Com algumas boas atuações, pareceu ser um dos postulantes ao título na grama, contudo, parou na semi, frustrando mais uma vez seus fãs.

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Insuperável
Por Felipe de Queiroz

Hexacampeão em 1886, reinado de Renshaw em Wimbledon já atravessa três séculos
"Lógico que sei quem foi o senhor Willie Renshaw", afirmou Bjorn Borg, em 1981, quando, em uma final emocionante contra John McEnroe, deixou escapar a conquista de seu sexto troféu consecutivo. A lembrança de Borg comprova a força do legado deste inglês nascido em Royal Leamington Spa, uma cidade na região central do Reino Unido que, como sugere o nome, é famosa por seus spas.
Na época, Borg buscava igualar a marca de seis títulos consecutivos de Renshaw nas famosas quadras de grama de Londres. Não conseguiu. Nem ele, nem Sampras (que ganhou por sete vezes de 1993 a 2000 - porém com uma derrota em 1996), nem Federer (que perdeu a chance ao ser derrotado por Nadal em 2008). O recorde de seis troféus em seguida pertence a William Charles Renshaw desde 1886 (ele tem sete títulos ao todo) e não é improvável que permaneça com ele por mais algumas décadas, séculos até.
Para muitos, contudo, o nome e principalmente a carreira de Willie Renshaw permanecem envoltos sob um intenso obscurantismo. Nascido em 3 de fevereiro de 1861, Renshaw, que tinha como marca registrada a potência em seu forehand e o bom preparo físico, brilhou no mais antigo torneio de tênis do mundo, antes até de o "The Championships" - como é chamado Wimbledon - ganhar a aura sagrada que o envolve atualmente.

Primeiro ídolo
O primeiro grande campeão de Wimbledon, ao contrário, ajudou a sacralizar o torneio. Ele protagonizou o que ficou conhecido como "Renshaw Rush". A incrível sequência de vitórias aumentou a popularidade do tênis na Inglaterra. Numa época em que pouco se viajava para outros países, pode-se dizer que sua fama chegou até onde os limites da tecnologia permitiram. Ele fez muitos britânicos admirarem o tênis e, assim, proporcionou, também, o crescimento da modalidade mundo afora, nas colônias do Império Britânico, o mais poderoso da época, batizado de "Império onde o sol nunca se põe".

Ao lado de seu irmão (15 minutos) mais velho, Ernest Renshaw, Willie estabeleceu os padrões de competitividade no tênis de então. Ainda que não houvesse profissionalismo, eles foram os primeiros a levar o esporte a sério e se dedicar ao tênis durante todo o verão britânico. Os irmãos Renshaw dominaram o tênis no final do século XIX, mas somente Willie construiu uma fama para a eternidade. Ernest, ainda que talentoso, foi eclipsado pelo irmão gêmeo, ainda que conste em seu currículo um título, em 1888, e quatro vices em Wimbledon (sendo três derrotas para o irmão) em simples. Juntos, eles venceram cinco torneios de dupla.

Curta e intensa
Vale lembrar que naquela época, diferentemente do que acontece hoje, os duelos pelo título de Wimbledon se assemelhavam às disputas de cinturão do boxe, na medida em que o campeão tinha o direito de defender seu título em apenas uma partida (era o sistema Challenge Round).
Desta forma, considerando que não havia, como hoje, um circuito mundial, Renshaw não precisava jogar muito para permanecer no topo. Em toda carreira, foram apenas 25 jogos disputados em Wimbledon, dos quais venceu 22. Federer, por exemplo, desde 2003, já entrou em quadra 54 vezes no Major britânico.
Curta, intensa e extraordinária foi a carreira de Renshaw, assim como sua vida, breve e memorável, que se encerrou ainda na casa dos 40 anos. Em 1904, o mundo deu adeus a Willie Renshaw; seu legado, contudo, ainda vive nos livros de história do tênis para atormentar as gerações futuras.

William Renshaw ganhou Wimbledon por sete vezes, sendo seis seguidas (de 1882 a 1886 e o sétimo título em 1889). Ele disputou três finais contra seu irmão gêmeo, Ernest (1882, 83 e 89). Juntos, eles ganharam cinco torneios de dupla (1884, 85, 86, 88 e 89). O hexacampeonato de William Renshaw (à esquerda na foto à direita) é um recorde nunca igualado. Borg e Federer chegaram perto, mas perderam justamente na disputa do sexto título

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fotos: Ron C. Angle

Ainda não foi dessa vez
Desde que os escocês Andy Murray despontou no circuito, os britânicos voltaram a fazer as contas de quantos anos um tenista do país não vence Wimbledon. O último a acalentar as esperanças da nação tinha sido Tim Henman, que nunca passou das semifinais. Agora parece que Murray segue a mesma sina. No ano passado, foi barrado por Andy Roddick. Agora, Nadal. Até enfrentar o espanhol, Murray tinha perdido apenas um set e estava tendo atuações brilhantes, porém isso não foi suficiente. Então, os britânicos terão de esperar mais um ano. Já são 74 anos desde que Freddy Perry conquistou o tricampeonato na grama sagrada.

Falta de sorte?
Depois da derrota nas quartas em Roland Garros (algo que não acontecia desde 2004, quando perdeu para Guga) e da consequente perda da liderança do ranking há uma semana de passar o recorde de Pete Sampras (com 286), Roger Federer voltou a vacilar. O "Rei da Grama", uma semana antes de Wimbledon, tinha vencido o colombiano Alejandro Falla, por 6/1 e 6/2, na grama de Halle. Na estreia do Grand Slam britânico, o suíço escapou por pouco da maior derrota de sua carreira. Falla teve dois sets a zero e quatro break-points para quebrar o saque de Federer e sacar para fechar no terceiro set. Não conseguiu e perdeu a parcial. No set seguinte, quebrou o suíço no começo e manteve-se para sacar em 5/4 e fechar a partida. Nervoso, não conseguiu. "Tive sorte", disse Federer, que, em seus anos de domínio, raramente apontou esse fator como decisivo em suas vitórias. Todavia, a "sorte" do suíço não durou muito, parando nas quartas, contra Berdych. Agora em terceiro lugar no ranking (posição que não ocupava desde 2003), o recorde de Sampras parece cada vez mais longe.

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Interminável
Há 41 anos, os norte-americanos Richard "Pancho" Gonzales e Charlie Passarell disputavam o mais longo jogo da história de Wimbledon. Na época, 1969, não havia tiebreak e o primeiro set foi 24 a 22 para Passarell, de 25 anos, 16 anos mais novo que Gonzales - que já havia sido seu treinador. Com o poente, Pancho passou a reclamar com o árbitro para suspender a partida e, como isso não aconteceu, Charlie levou o segundo set por rápidos 6/1. Aí a partida foi suspensa. No dia seguinte, o veterano voltou com tudo e ganhou o terceiro set por 16 a 14 e o quarto por 6 a 3. Antes de perder por 11/9, Passarell salvou sete match-points e Gonzales se livrou por duas vezes de ser quebrado em games que sacou em 0/40. Depois de 112 games, cinco horas e 12 minutos, Pancho venceu. Era apenas a primeira rodada. Mesmo cansado, ele venceu mais dois jogos. Em 2010, o norte-americano John Isner e o francês Nicolas Mahut começaram seu duelo de primeira rodada na terça-feira, dia 22 de junho. Cada um venceu dois complicados sets até que a falta de luz fez com que o quinto set fosse interrompido logo início. No dia seguinte, eles voltaram e jogaram nada menos que 118 games, até o que o árbitro novamente interrompesse a partida no cair da noite quando o placar apontava 59 a 59. No terceiro dia, enquanto Wimbledon recebia a visita da rainha Elizabeth II (que voltava a prestigiar o torneio após 33 anos), ambos voltaram à fatídica quadra 18 para retomar a partida "interminável". Depois de mais 20 games, enfim, Isner saiu vencedor, com 70 a 68. Um duro golpe para Mahut, que havia passado o qualifying após vencer uma partida de segunda rodada contra Alex Bogdanovic só decidida com 24 a 22 no terceiro set e outra contra Stefan Koubek de cinco complicados sets. Esgotado, Isner perdeu rapidamente na segunda rodada.

Os recordes da partida (espera-se) não serão igualados tão cedo:
duração total do jogo: 11 horas e cinco minutos
Recorde anterior: seis horas e 35 minutos (Fabrice santoro x Arnaud Clement - Roland Garros 2004)
Duração de um set: Oito horas e 11 minutos (quinto set)
Total de games: 183
Recorde anterior: 112 (Pancho Gonzales x Charlie Passarell - Wimbledon 1969)
Total de games em um set e em um quinto set: 138
Recorde anterior (set qualquer): 48 (John newcombe x Marty Reissen - Us Open 1969)
Recorde anterior (quinto set): 40 (Andy Roddick x Younes el Aynaoui - Australian Open 2003)
Aces em uma partida (um único jogador): 112 de isner e 103 de Mahut
Recorde anterior: 78 de ivo Karlovic (Copa Davis 2009) total de aces: 215
Recorde anterior: 96 ivo Karlovic e Radek stepanek (Copa Davis 209)
Total de pontos disputados: 980
Arnaldo Grizzo

Publicado em 13 de Julho de 2010 às 07:04


Torneio

Artigo publicado nesta revista

Espanha Campeã - Nadal em Wimbledon

Revista TÊNIS 82 · Agosto/2010 · Espanha Campeã - Nadal em Wimbledon