Torneio Brasil Tennis Cup

As novas histórias de Teliana

Brasileira alcança marcas de mais de 20 anos no tênis feminino nacional


Teliana Pereira

A Confederação Brasileira de Tênis (CBT) decidiu apostar alto no tênis feminino brasileiro há cerca de três anos, trazendo para o país um torneio de primeiro nível. Era a chance de nossas jovens tenistas terem contato mais próximo com jogadoras top do mundo todo, aprenderem, evoluírem e, quem sabe, futuramente, alcançarem o patamar esperado pela entidade.

Nos dois primeiros anos do Brasil Tennis Cup, em 2013 e 2014, as meninas tiveram a oportunidade de ver de perto Venus Williams, Garbiñe Muguruza, Carla Suarez Navarro, Francesca Schiavone e outros tantos grandes nomes. Neste ano, com vistas aos Jogos Olímpicos de 2016, os organizadores decidiram que seria um bom momento para que nossas tenistas pudessem brilhar. Assim, mudaram o piso do cimento para o saibro (preferido por nossas atletas) e não investiram em trazer nenhuma grande estrela. A tática deu resultado.

As meninas quebraram marcas que assombravam o tênis feminino brasileiro há mais de 25 anos. A primeira foi quando Gabriela Cé e Teliana Pereira avançaram para as quartas de final do torneio realizado no Costão do Santinho Resort. A última vez que duas brasileiras haviam chegado a essa etapa em uma competição WTA havia sido em 1989 com Niege Dias e Luciana Corsato, em Taranto, na Itália.

Contudo, foi Teliana quem deu o salto que todos aguardavam. A pernambucana venceu a competição (a última a ganhar um torneio desse porte no Brasil havia sido Niege Dias em 1987, no Guarujá) e, com isso, ingressou entre as 50 primeiras do ranking, alcançando a 48a posição. Ao atingir essa colocação, ela se tornou apenas a terceira brasileira na história a aparecer entre as top 50 (depois de Maria Esther Bueno e Niege Dias).

Sonhos realizados


Teliana havia sentido o joelho semanas antes em jogo contra Annika Beck (foto no topo da página), que barrou a boa campanha de Gabriela Cé (foto abaixo)

“Estou super feliz. Estou realizando todos os meus sonhos. Queria terminar entre as 50 melhores, o ano ainda não acabou”, afirmou Teliana logo após a vitória sobre a alemã Annika Beck por 6/4, 4/6 e 6/1 na final. Extremamente emocionada, a tenista de 27 anos chorou muito, agradeceu família (abraçou a mãe em um dos momentos mais tocantes do pós-jogo), amigos e torcida, que compareceu em peso para apoiá-la.

E a jovem precisou mesmo de todo o apoio que obteve, pois, poucos dias antes de o torneio começar, ela sentiu o joelho direito durante a disputa do WTA de Bad Gastein, exatamente na estreia contra Annika Beck. De volta ao Brasil, conseguiu se recuperar, porém, durante a semana do WTA de Florianópolis, foi acometida por uma forte gripe, que a acompanhou até a partida decisiva. “Foi muito duro. Eu estava super cansada, já faz dois ou três dias que estou gripada. Hoje acordei pior. Os pontos estavam muito longos e não estava aguentando mais correr muito. No terceiro set, sabia que tinha que tomar uma decisão: não pensar no cansaço, nas dores ou as coisas iriam escapar”, revelou.

“Não tenho palavras para descrever o que estou sentindo agora. Foi uma semana incrível. Cheguei aqui e nem sabia se iria jogar, estava com o joelho muito ruim e não estou acreditando que consegui essa vitória. É o melhor ano da minha vida, estou vivendo um sonho”, resumiu Teliana.

Guerreiras


Brasil Tennis Cup de 2016 ocorrerá uma semana antes das Olimpíadas do Rio de Janeiro

Além das dores no joelho e da gripe, a número 1 do Brasil precisou superar adversárias complicadas, especialmente a argentina Maria Irigoyen, na estreia, em uma partida que durou mais de 3 horas e precisou ser transferida de quadra por falta de luz natural. Na decisão, contra Annika Beck, top 70, demonstrou toda a sua garra para sair vitoriosa. “Se tem uma coisa que me identifico muito é quando me chamam de guerreira. Esta palavra me descreve. Sei que não tenho a melhor direita, a melhor esquerda, mas me considero privilegiada por ter essa característica. Luto até o final, nunca desisto”, avalia.

E essa característica de Teliana certamente tem influenciado outras brasileiras. Uma delas é Gabriela Cé, que alcançou as quartas. Com um jogo aguerrido, ela salvou match-point na estreia contra a holandesa Cindy Burger e depois deu duro para superar a polonesa Paula Kania. “Eu me defino bem como guerreira, mas nem sempre dá certo. É o grande lema do tênis, da vida, não desistir nunca. Esta semana estou conseguindo lidar com isso, superar várias adversidades e estou super contente com isso”, analisou Gabi, que depois foi superada por Beck.

O Brasil aliás poderia ter ido ainda melhor se não fossem duas casualidades. A primeira ocorreu com Beatriz Haddad Maia, que fez quartas no Rio Open este ano. Pouco antes do Brasil Tennis Cup, Bia sentiu dores no ombro ao disputar o Pan-Americano de Toronto e não conseguiu se recuperar a tempo. Ela certamente teria grandes chances de avançar na chave. Outra brasileira que levou azar foi Paula Gonçalves, que fraturou o dedo mindinho da mão esquerda durante um treinamento em Florianópolis alguns dias antes do início do torneio. Ela ainda entrou em quadra, mas perdeu na estreia.

Teliana Pereira
Teliana superou as dores no joelho e a gripe para sagrar-se campeã

Rio 2016

Ao vencer o WTA de Floripa, Teliana garantiu 280 pontos no ranking. Deve-se lembrar que esses pontos preciosos ainda estarão valendo quando a lista das tenistas aptas a disputar as Olimpíadas do Rio de Janeiro for divulgada em 2016. Isso (juntamente com um desempenho regular até lá) pode garantir uma vaga para a pernambucana.

Outro detalhe importante é que, em 2016, o Brasil Tennis Cup deve mudar novamente de piso e voltar a ser disputado em quadras de cimento, similares às que serão usadas nos Jogos Olímpicos. E, por ocorrer uma semana antes da competição na capital carioca, deve atrair várias das principais tenistas do mundo que certamente usarão o torneio catarinense para se adaptar.

Resultados finais BRASIL TENNIS CUP 2015
Teliana Pereira (BRA) v. Annika Beck (GER) 6/4, 4/6 e 6/1
Annika Beck e Laura Siegemund (GER) v. Maria Irigoyen (ARG) e Paula Kania (POL) 6/3 e 7/6(1)
Por Arnaldo Grizzo

Publicado em 23 de Agosto de 2015 às 00:00


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Artigo publicado nesta revista

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Revista TÊNIS 143 · Agosto/2015 · Guerreira!

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