Um Zé para o tênis do Brasil

Um jovem, nascido em Alagoas, de família pernambucana radicada no Paraná, foi campeão da Copa Gerdau em Porto Alegre


Marcelo Ruschel/PoapressO nome do vencedor da 25º edição da Copa Gerdau, o principal torneio juvenil da América do Sul e um dos nove mais importantes do mundo, é simples: José Pereira Jr. Esse Zé - nascido em Santana do Ipanema, sertão de Alagoas, é de família pernambucana, mas radicada em Curitiba - atualmente vive em Itajaí, Santa Catarina, onde treina. Como muitos nordestinos, o pai do garoto decidiu tentar melhor sorte no sul do País e acabou encontrando trabalho em uma academia de tênis na capital paranaense. Ele se estabeleceu por lá, como zelador, e trouxe a família, com os cinco filhos. Tempos depois, dois deles, se tornaram expoentes do esporte no Brasil: Teliana - atual número um do País na WTA - e agora José.

Para muitos técnicos, são histórias de vida marcadas pela superação, como a de Zé Pereira, que podem mudar a cara do tênis brasileiro. E determinação definitivamente é o que não falta para este garoto de 17 anos. Há três anos, ele se destaca nas categorias menores e, em sua primeira jogando entre os meninos de 18, começa bem, atingindo a sétima posição após a vitória na competição de Porto Alegre. Antes, porém, ele já havia sido campeão das etapas do Paraguai e da Bolívia do Circuito da Confederação Sul-americana de Tênis (Cosat) e semifinalista do Banana Bowl, em São José dos Campos.

O menino é humilde e paciente, e isso se reflete em seu jogo. Com boa movimentação e golpes consistentes e conscientes, Zé Pereira sabe esperar o momento certo para atacar o adversário. No Banana Bowl, ele só parou diante do talentoso sérvio Filip Krajinovic, que mais tarde perdeu a final para o forte, porém inconstante, argentino Juan Vazquez Valenzuela. Mas, na Copa Gerdau, nem o cabeça um, o salvadorenho Marcelo Arévalo - também de estilo baseado na regularidade e inteligência - conseguiu superar o brasileiro na final.

Marcelo Ruschel/Poapress  Marcelo Ruschel/Poapress
Ana Bogdan Filip Krajinovic

Contudo, o tenista de El Salvador - país que possui apenas dois jogadores com ranking na ATP, o próprio Marcelo e seu irmão mais velho Rafael - foi o responsável pela eliminação do brasileiro Rafael Camilo - irmão mais novo do judoca Tiago Camilo, medalha de prata nas Olimpíadas de Sydney 2000 - nas quartas. Camilo ganhou um convite da organização para participar do torneio em Porto Alegre, pois não tinha ranking juvenil, já que se dedica aos torneios profissionais. O paulista possui muito vigor nas batidas, sabe se impor, mas sofreu com um oponente que usou o peso de sua bola para contra-atacar.

Juvenil ou Profissional?

Acompanhar uma competição juvenil é interessante e eventos grandes e importantes como o Banana Bowl e a Copa Gerdau, que juntam jovens de 12 até 18 anos, em diferentes fases de desenvolvimento tenístico e humano, são ricos neste sentido. Esse bando de meninos e meninas já possui uma rotina de atleta profissional, mas trejeitos singelos de crianças. Se um dia eles sorriem após uma vitória improvável, no outro choram escondidos (ou não) por uma derrota, como se fosse a última partida de suas vidas. Durante um mesmo jogo, passam da vibração à revolta, devido à sua inconstância. Nessa idade, tudo parece questão de vida ou morte.

Arnaldo Grizzo Arnaldo Grizzo
Rafael Camilo Juan Vazquez Valenzuela

Alguns viajam em grupo, outros sozinhos. Alguns interagem, outros se isolam. A língua usada nas conversas é uma mistura de inglês, espanhol, francês, russo e o que mais houver por perto. O computador é instrumento tão importante quanto a raquete, pois, se não define o ponto, mata a saudade. Se a maioria é tímida quando diante dos olhos dos espectadores, fica à vontade para flertar com algum colega e engatar um namorico.

Arnaldo Grizzo
Marcelo Arévalo

Em quadra, a falta de maturidade é determinante. Não é difícil ver um garoto alto que tem problemas no saque. Há ainda aqueles baixinhos que surpreendentemente apelam para o saquee- voleio. Alguns ainda nem definiram se seu backhand é com uma ou duas mãos. Tática de jogo é algo que eles, apesar de saberem o que significa, simplesmente se esquecem quando a coisa aperta. Aí, apelam para o coração, que nem sempre é confiável. Ganhando ou perdendo, ouvem um belo sermão do técnico (ou pai). Uns têm paciência para a ladainha, outros nem tanto.

No fim, a verdade é que eles são apenas garotos, que ainda estão aprendendo como as coisas funcionam, não só no tênis, mas na vida. Tratados como adultos, alguns já se mostram preparados para as responsabilidades que se avizinham, outros ainda não se preocupam. No entanto, eles ainda são crianças, no máximo adolescentes, e não merecem ser cobrados tão cedo, pois o esporte, antes de tudo, é sinônimo de lazer e diversão. Se José Pereira ou outros Zés vão, ou não, se tornar grandes profissionais, só o tempo dirá.

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fotos: Marcelo Ruschel/Poapress

 

RESULTADOS  

Copa Gerdau

18 anos
José Pereira Jr (BRA) v.
Marcelo Arévalo (ESA) 7/6(4) e 6/1
Elena Bogdan (ROU) v.
Bojana Jovanovski (SRB) 6/1, 2/6 e 6/1

16 anos
Facundo Mena (ARG) v.
Guilherme Destefani (BRA) 6/4 e 6/0
Fernanda Brito (CHI) v.
Belen Luduena (CHI) 3/6, 6/4 e 6/2

14 anos
Daniel Santos (PER) v.
Juan Galarza (ARG) 6/2 e 6/0
Carla Forte (BRA) v.
Maria P. Deheza (BOL) 6/4, 1/6 e 6/3

12 anos
Silas Cerqueira (BA) v.
Antonin Haddad (SP) 6/2 e 6/1
Luana Trautwein (SC) v.
Carolina Alves (SP) 4/6, 6/4 e 6/3

Banana Bowl

18 anos
Juan Vazquez Valenzuela (ARG) v. Filip Krajinovic (SRB) 7/5 e 6/3 Ana Bogdan (ROU) v. Paula Ormaechea (ARG) 6/2 e 6/4

16 anos
Guilherme Clezar (BRA) v.
Juan C. Ceballos (VEN) 6/2, 3/1 e desis.
Fernanda Brito (CHI) v.
Belen Luduena (CHI) 6/3 e 6/3

14 anos
Tiago Monteiro (BRA) v.
Vitor Pinheiro (BRA) 7/5 e 6/2
Maria Paula Deheza (BOL) v.
Montserrat Gonzalez (PAR) 6/3 e 6/1

12 anos
Silas Cerqueira (BA) v.
Antonin Haddad (SP) 6/0 e 6/4
Carolina Alves (SP) v.
Isabela Camargo (SC) 6/2 e 6/4

Arnaldo Grizzo

Publicado em 2 de Abril de 2008 às 07:59


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Artigo publicado nesta revista