Top 100 - sonho de nossas meninas há 20 anos

O tênis feminino brasileiro segue estagnado há anos, sem que qualquer garota desponte e chegue perto das melhores do mundo. O que fazer para mudar essa realidade?


Vivian Segnini chega a vender rifas para pagar despesas do circuito

Em 17 de abril, a catarinense Maria Fernanda Alves completa 27 anos. Muitos deles dedicados ao tênis, esporte que fez parte de sua vida desde muito cedo e continua hoje, apesar de todas as adversidades. Aos 27 anos, Nanda ainda é número um do Brasil, com ranking perto de 250 na WTA, uma posição intermediária. Mesmo assim, ela é uma vencedora no cenário do tênis feminino brasileiro.

A saga da melhor brasileira no ranking mundial encerra a imagem da modalidade no País. Há vinte anos, Andréa Vieira ingressava no top 100. Hoje, o esporte vive de passado e sem muitas perspectivas. Por isso, Nanda é uma vencedora, ou melhor, uma sobrevivente neste universo em que a expectativa de sobrevida não vai além dos vinte e poucos anos.

Mesmo sem brilhar internacionalmente, sem repetir os resultados de expoentes como Dadá Vieira e Patrícia Medrado - e, obviamente, a anos-luz de Maria Esther Bueno -, Nanda segue como a melhor do País. Em razão, diga-se, de sua abnegação, mas, também, em parte, devido à falta de "adversárias", pois a maioria de nossas meninas sucumbe diante das adversidades que estancam o desenvolvimento do tênis entre as mulheres por aqui.

A última tenista brasileira a figurar entre as 100 melhores do mundo foi Dadá Vieira, há 20 anos

Há cinco anos, a Revista TÊNIS publicou reportagem questionando especialistas sobre quem seria a próxima brasileira top 100 e quais os desafios que nossas meninas tinham que superar para quebrar este tabu (que na época já era de 15 anos). De lá para cá, sequer chegamos perto disso. Agora, retomamos o tema. Novamente fomos atrás de treinadores, ex-atletas e especialistas para entender o que acontece com o tênis feminino do Brasil e para onde vamos. Voltaremos a ter uma top 100 algum dia? Os problemas continuam os mesmos cinco anos depois? Fomos atrás destas respostas.


Poucos torneios , pouca competitividade...
Futures e Challengers são a porta de entrada para o sonho de ser top 100. Os torneios de US$ 10 e 25 mil são o ponto de partida não apenas para que as meninas conquistem os primeiros pontos que as colocarão no ranking da WTA, mas fundamentalmente para fazer movimentar o tênis e a carreira destas garotas. Até o fechamento desta edição, havia cinco torneios femininos confirmados para maio e mais três para julho (em 2010, já há confirmação de 17 masculinos, entre Challengers e Futures). Quantidade ainda pequena, mas já maior do que em 2005, quando apenas duas competições foram disputadas no País.

Maria Fernanda Alves, aos 27 anos, ainda é número um do Brasil
 
  Teliana Pereira luta contra uma lesão, mas continua tentando o tênis profissional

A possibilidade de jogar o maior número possível de torneios acaba sendo um divisor de águas na carreira de uma atleta. Isso é consenso, e é aí que começam os problemas do tênis feminino no Brasil. "Existem três ou quatro torneios de 25 mil (dólares) aqui. Isso é muito pouco. Não tem como as jogadoras evoluírem", diz Elson Longo, treinador de Vivian Segnini, atual número 3 do País.

Só para efeito de comparação, se aqui temos oito torneios confirmados, na Europa, são 149 competições marcadas, de acordo com site da Federação Internacional de Tênis (ITF). Em toda a América do Sul, são 15 - três na Argentina, dois na Colômbia e dois na Bolívia.

#Q#

Falta de intercâmbio
A ausência de torneios, aliás, mantém o panorama que se deflagra desde o circuito juvenil, em que a falta de competições e de grandes jogadoras do resto do mundo reflete na formação das meninas. "Existem muitas tenistas talentosas no Brasil, mas como elas não têm adversárias no juvenil, ao chegarem ao profissional, sofrem um choque de realidade, porque a diferença é muito grande", diz a treinadora e última brasileira campeã do Banana Bowl, em 1991, Roberta Burzagli. "As brasileiras deveriam começar a jogar torneios profissionais mais cedo, para já irem se acostumando com o nível e a pressão dos torneios profissionais", opina Vivian Segnini, ex-número um do Brasil, que descreve, sem cerimônias, a indiferença e o egoísmo que grassam no alto nível: "Tênis juvenil é muito mais relaxado, se faz muitas amigas, se diverte... Mas, nos torneios profissionais, o nível é muito mais alto e a maioria das jogadoras está com treinador e ninguém ajuda ninguém. As brasileiras ficam muito tempo na realidade do tênis juvenil".

"Existem três ou quatro torneios de 25 mil (dólares) aqui. Isso é muito pouco. Não tem como as jogadoras evoluírem", Elson Longo

Fernanda Hermenegildo é uma das poucas que continua tentando a vida como profissional
 
 
Jenifer Widjaja ex-número um do Brasil, preferiu ir jogar tênis universitário nos Estados Unidos  


Número ideal
São oito os torneios confirmados para 2010. Mais do que em outros anos, mas, ainda muito menos do que no masculino (17) e menos do que o ideal para as mulheres. Aliás, fica a pergunta: qual o número ideal? Para todos os entrevistados, não há um número préestabelecido, mas há consenso de que algo em torno de 20 eventos por ano é a meta a ser alcançada. Para Raul Ranzinger, ex-capitão do Brasil na Fed Cup, "de 15 a 20 por ano está bom", para Vivian, 20 é o número mágico; Nathália Rossi, quarta brasileira na WTA, acredita que "o mesmo que o masculino" é a quantidade ideal, enquanto Ana Clara Duarte, a segunda do País, entende que "três quartos dos torneios jogados pelas tenistas deveriam acontecer no Brasil". A Confederação Brasileira de Tênis (CB T) pretende realizar 20 eventos femininos até o fim desta temporada.

Patrocínio, CBT e outros fatores
O cenário está exposto. Torneios insuficientes, poucas possibilidades de se igualarem às tenistas de outros centros. Assim, só resta às meninas um caminho: por o pé na estrada. E é aí que entra a figura do patrocinador. Algumas jogadoras, as mais promissoras, ainda conseguem o apoio de pequenas empresas que as ajudam com viagens, mas não conseguem bancar todos os custos de uma atleta de alto nível. Assim, sem a companhia do treinador e outros profissionais, elas viajam sozinhas, passam longas e duras temporadas fora do País, às vezes à custa de prejuízos financeiros e terminam voltando para casa. Para sanar este problema, o suporte de patrocinadores e o apoio de federações são fundamentais, mas, mesmo assim, nem sempre suficientes. E é nesta área justamente que a atuação da CB T é mais controvertida, sendo elogiada e criticada em igual proporção.

Isabela Miró ainda segue tentando o tênis profissional
 
Martina Yurgel deixou o tênis competitivo Letícia Sobral trabalha como instrutora hoje  

#Q#

2005 - 2010
O que aconteceu com as promessas?

Em 2005, perguntamos a diversos especialistas quais meninas poderiam ser top 100 nos próximos anos. Nenhuma sequer chegou perto disso nos últimos cinco anos. Veja o que aconteceu com cada uma das jogadoras citadas naquela época:

MARIA FERNANDA ALVES
Idade: 27 anos (13/04/1983)
Ranking em 2005: 155
Melhor ranking: 132 (12/09/2005)
Ranking atual: 251
O que aconteceu: Segue como número um
do Brasil, mas longe do top 100.

 

VIVIAN SEGNINI
Idade: 21 anos (03/01/1989)
Ranking em 2005: 827
Melhor ranking: 321 (20/10/2008)
Ranking atual: 387
O que aconteceu: Chegou a ser número um
do Brasil em 2008. Atualmente é a terceira
melhor do País.

 

ROXANE VAISEMBERG
Idade: 20 anos (25/07/1989)
Ranking em 2005: 773
Melhor ranking: 281 (29/10/2007)
Ranking atual: 394
O que aconteceu: Grande aposta dos
treinadores para o top 100 em 2005,
Roxane segue no circuito.


ANA CLARA DUARTE
Idade: 20 anos (11/06/1989)
Ranking em 2005: 1004
Melhor ranking: 303 (27/08/2009)
Ranking atual: 304
O que aconteceu: Segue no circuito.


TELIANA PEREIRA
Idade: 21 anos (20/07/1988)
Ranking em 2005: 884
Melhor ranking: 196 (08/10/2007)
Ranking atual: s/r
O que aconteceu: Teliana foi medalha de
bronze nos Jogos Pan-Americanos do Rio de
Janeiro, em 2007, e número um do Brasil em
2007 e 2008. Há um ano, luta contra lesões.

FERNANDA HERMENEGILDO
Idade: 21 anos (13/10/1988)
Ranking em 2005: 839
Melhor ranking: 459 (20/10/2008)
Ranking atual: 610
O que aconteceu: Segue na ativa.


JENIFER WIDJAJA
Idade: 23 anos (07/12/1986)
Ranking em 2005: 310
Melhor ranking: 186 (08/10/ 2007)
Ranking atual: s/r
O que aconteceu: Deixou o tênis profissional
ao fim de 2007 quando ainda era uma das
principais tenistas do Brasil, e hoje joga tênis
universitário nos Estados Unidos.

LARISSA CARVALHO
Idade: 25 anos (09/03/1985)
Ranking em 2005: 344
Melhor ranking: 240 (13/11/2006)
Ranking atual: s/r
O que aconteceu: Abandonou o tênis por
hora para se concentrar no último semestre
no Instituto de Educação Superior de Brasília.


LETÍCIA SOBRAL
Idade: 29 anos (06/12/1980)
Ranking em 2005: 317
Melhor ranking: 284 (13/02/2006)
Ranking atual: s/r
O que aconteceu: Longe dos torneios, Letícia
hoje trabalha como instrutora de tênis.


MARÍLIA CÂMARA
Idade: 18 anos (01/01/1992)
Ranking em 2005: s/r
Melhor ranking: s/r
Ranking atual: s/r
O que aconteceu: Abandonou o tênis
competitivo e agora cursa faculdade de
engenharia no Ceará.

ISABELA MIRÓ
Idade: 17 anos (28/10/1992)
Ranking em 2005: s/r
Melhor ranking: 1016 (09/11/2009)
Ranking atual: 1061
O que aconteceu: A filha de Gisele Miró vem
mesclando torneios juvenis e profissionais.


MARTINA YURGEL
Idade: 16 anos (14/08/1993)
Ranking em 2005: s/r
Melhor ranking: s/r
Ranking atual: s/r
O que aconteceu: Após disputar o circuito
Cosat, desistiu do tênis competitivo no final
de 2009, aos 16 anos. Agora, estuda para
prestar vestibular para medicina.


MARIEL MAFFEZZOLLI
Idade: 19 anos (28/03/1991)
Ranking em 2005: s/r
Melhor ranking: s/r
Ranking atual: s/r
O que aconteceu: Joga tênis universitário
pela Universidade do Texas.


CARLA TIENE
Idade: 28 anos (15/05/1981)
Ranking em 2005: 544
Melhor ranking: 256 (22/04/2002)
Ranking atual: 694
O que aconteceu: Ainda aparece no ranking
por jogar alguns torneios profissionais, mas
trabalha como instrutora.

CAROLINA DE LUCA
Idade: 19 anos (10/12/1990)
Ranking em 2005: s/r
Melhor ranking: s/r
Ranking atual: s/r
O que aconteceu: Joga tênis pela
Universidade do Texas de El Passo.


#Q#

Uma das grandes promessas, Roxane Vaisemberg mantém-se no circuito
 
Carolina De Luca hoje joga por universidade nos Estados Unidos  

 

"Eles (CBT) apóiam as quatro primeiras com passagens e acredito que ainda vão fazer mais pelo tênis feminino", aponta Roxane Vaisemberg, quinta do Brasil. "Em 2010, a CBT liberou uma parte da verba que recebe dos Correios anualmente para ajudar apenas quatro meninas no primeiro semestre. Felizmente estou dentro desse grupo", diz Ana Clara Duarte. Já Elson Longo desabafa: "Minha garota (Vivian) era número um do Brasil e não conseguiu apoio nenhum. Vendi meu apartamento para viajar com ela".

"Ele (Longo) me ajuda nas despesas em viagens, já pegou todas as economias e deixou todos os jogadores para viajar comigo por um tempo", confidencia Vivian, cujo depoimento é exemplar para se entender a dinâmica de sobrevivência de uma tenista profissional no País: "Também tenho patrocínio de uma empresa de São Carlos (Opto) que me ajuda nas passagens. E, além disso, várias pessoas da minha cidade se juntam e me ajudam. Faço rifas. Tenho sorte de tantas pessoas me apoiarem porque, se dependesse de conseguir patrocínio, é muito difícil".

Assim é com muitas meninas e, também, com as tops, como Vivian, que não deixa de elogiar o esforço da CBT. "Acho que a CBT, junto com os Correios, vem buscando ajudar o tênis feminino", diz ela, para quem "os torneios das mulheres são tão atraentes quanto os dos homens (...) Ou até mais, porque as mulheres são mais bonitas". Já Carlos Alberto Kirmayr - que já trabalhou com grandes tenistas, como a argentina Gabriela Sabatini - quando questionado sobre o apoio dispensado à modalidade, é taxativo: "O que está sendo feito no Brasil é zero". E completa: "Tudo o que se faz aqui provém da auto-iniciativa".

"Várias pessoas da minha cidade se juntam e me ajudam. Faço rifas. Tenho sorte de tantas pessoas me apoiarem porque, se dependesse de conseguir patrocínio, é muito difícil", Vivian Segnini

Assim é com muitas meninas e, também, com as tops, como Vivian, que não deixa de elogiar o esforço da CBT. "Acho que a CBT, junto com os Correios, vem buscando ajudar o tênis feminino", diz ela, para quem "os torneios das mulheres são tão atraentes quanto os dos homens (...) Ou até mais, porque as mulheres são mais bonitas". Já Carlos Alberto Kirmayr - que já trabalhou com grandes tenistas, como a argentina Gabriela Sabatini - quando questionado sobre o apoio dispensado à modalidade, é taxativo: "O que está sendo feito no Brasil é zero". E completa: "Tudo o que se faz aqui provém da auto-iniciativa".

À parte o descontentamento e a inquietude de alguns com sua atuação, em defesa da CB T está o fato de o número de torneios vir aumentando, ainda que lentamente nos últimos anos. Contra a Confederação, contudo, está a constatação de que o desempenho de nossas melhores tenistas em nada melhorou ultimamente.

Ana Clara Duarte é a atual segunda melhor do País
 
  Larissa Carvalho está terminando a faculdade

Cultura, mais um obstáculo
"Se tivermos mais torneios aqui, temos mais chance de conseguir melhorar o ranking, conseguir patrocínios, divulgar nosso tênis e poder ir para a Europa mais preparadas", opina Roxane, que já foi apontada como principal nome do Brasil para figurar entre as 100. "Acredito que a partir do momento em que você está entre as top 100, você consegue se firmar, tanto pelo dinheiro e como pela facilidade de patrocínio, mas, para chegar até lá, as meninas da América do Sul enfrentam muitas barreiras, começando pela nossa cultura diferente", aponta a paulista.


#Q#

O técnico Carlos Omaki segue este pensamento: "Nossa sociedade não cria mulheres para serem musculosas, para trabalharem e se esforçarem como homens", opina, certo de que ainda não é tão interessante para os investidores a imagem espartana que as tenistas ostentam (ou têm que ostentar) para triunfar neste universo.

Carlos Alves, capitão brasileiro na Fed Cup, vai na mesma linha, e reclama da falta de cultura esportiva e do pouco reconhecimento no Brasil. "Se uma tenista é a melhor do Brasil, ela tem que ser reconhecida em seu País", afirma o treinador, que também é pai de Nanda Alves.

Treinamento
Muitos especialistas ainda mencionam o fato de não haver treinamento especifico para as meninas, como cita Monna Brandão, responsável pelo departamento de tênis feminino da academia Ripol: "O treinamento das garotas sempre ficou em segundo plano, não havendo projetos voltados para a especificidade do tênis feminino até o ano de 2000". À parte a falta de resultados em nível internacional, a treinadora destaca o lado bom do trabalho feito em prol das meninas recentemente. "Nos últimos 10 anos começaram a surgir novas ideias, mas ainda não temos uma metodologia voltada para o feminino e para as necessidades das garotas do nosso País. Precisamos de mais tempo para amadurecer essas ideias e formar boas jogadoras para o circuito mundial", completa.

Raul Ranzinger destaca a importância de ter profissionais bem capacitados no tênis feminino em um momento em que jogo das garotas passa por bruscas transformações. "Isso comporta uma preparação física mais dura, mas também mais especifica. A técnica mudou bastante nos últimos anos e as atletas conseguem jogar um tênis mais completo", explica. Para o treinador, as condições de desenvolvimento são tão importantes quanto a abundância de competições: "Sem infraestrutura não é possível treinar e desenvolver qualquer tipo de atleta. O esporte chegou a um nível tão alto que não se pode deixar nada ao acaso. Os treinadores precisam estar preparados para o tênis moderno".

Mulheres no ranking da WTA por país
(primeira semana de abril de 2010)

País No de tenistas ranqueadas
Estados Unidos
Rússia
Itália
Japão
França
Alemanha
Espanha
República Tcheca
Austrália
Reino Unido
China
Eslováquia
Argentina
Brasil
Holanda
Bélgica
Índia
Canadá
Suíça
México
96
87
59
59
52
49
44
41
38
34
34
29
26
22 (86 homens)
21
18
17
14
12
5

Torneios femininos (ITF) por continente

Continentes 2009 2005
Europa
África
América do Sul
Ásia
Oceania
América do Norte
América Central
Brasil

274
18
30
84
20
55
19
8

246
14
12
63
18
61
23
2

 

"Muitas vão para os Estados Unidos fazer faculdade, outras desistem do tênis. Infelizmente, não depende só da nossa boa vontade", Roxane Vaisemberg


#Q#

Mariel Maffezzzolli também está nos Estados Unidos
 
Carla Tiene tem trabalhado como instrutora  

Seguindo essa linha de pensamento, a CBT pensa na construção de um centro de treinamento. Vista por muitos como solução para parte dos problemas da modalidade, a medida desagrada alguns, como Vivian Segnini, que entende "que juntar jogadoras em um centro de treinamento não seja solução, pois cada uma tem sua estrutura e seu treinador em quem confia".

Outros caminhos
É consenso que faltam grandes torneios e jogadoras competitivas no Brasil. Para alguns, a criação de novos Futures e Challengers no País é o principal o passo a ser seguido. Mas há ainda aqueles que vêem a base como fundamental. Dadá Vieira, a última brasileira a flertar com a elite, defende a criação de centros de treinamentos locais, "um em cada estado", para massificar o esporte. Para outros, porém, isso não basta. José Salib Neto defende que a CBT deveria investir antes nos valores individuais e, depois, na estrutura. "São os atletas que movem o esporte e que criam referência", argumenta o ex-tenista e empresário. "Tem que pegar as melhores e botar para fora do País, com o Emílio Sanchez, ou com o Nick Bollettieri, com as melhores do mundo".

Vanessa Menga, que saiu do Brasil para treinar na academia de Sergi Bruguera, endossa essa visão. "Essa experiência foi fundamental para mim como jogadora e como pessoa", admite ela, que, contudo, faz questão de ressaltar a qualidade dos treinadores nacionais. "A melhor fase da minha carreira foi quando eu treinava com o Kirmayr. O único problema é que treinava eu e mais duas, três meninas".

Apesar dos pesares
Vivian Segnini vende rifas para se manter em atividade. Nanda Alves, há anos como principal tenista do país, é tão anônima nas ruas como rosto do mais ermo "João" em meio à multidão. Tão duro é o caminho para as que buscam o Olímpo e tão persistente são as adversidades que muitas desistem. Após alguns anos, elas deixam a raquete de lado, mantendo o tênis como um estilo de vida, mas não como profissão. O esporte, então, volta a ser uma doce alegria, que vive agora na lembrança, longe das responsabilidades do mundo competitivo. Uma a uma as meninas se tornam médicas, administradoras, engenheiras, advogadas... Profissionais como tantas outras, enfim, sem glamour, por um lado, mas sem a insegurança do universo do tênis, por outro.

Marília Câmara deixou o tênis para fazer faculdade

"Muitas vão para os Estados Unidos fazer faculdade, outras desistem do tênis. Infelizmente, não depende só da nossa boa vontade", desabafa Roxane, de 21 anos, que ainda escolhe os treinamentos árduos em busca do sonho, em detrimento das benesses da vida de uma garota na sua idade. Até quando? Fica a pergunta.


#Q#

Somente algumas continuam na batalha. Elas amam o esporte, e prosseguem, movidas por esse sentimento, algo entre a teimosia e estoicismo. Uma fé no incerto e, às vezes, improvável. O caso de Vivian Segnini é o preciso exemplo da situação que aflige as tenistas brasileiras. A menina que vende rifas para jogar tênis. Sutil ironia. Ela (e as outras também) bem sabe, afinal, que viver no tênis feminino no Brasil é, em última análise, jogar com a incerteza.

2005 e 2010, o que mudou?
Em 2005, a Revista TÊNIS ouviu especialistas que opinaram sobre os problemas do tênis feminino brasileiro. Veja aqui o que se dizia na época e o que foi dito hoje:

2005 - Sobre quantidade de torneios no Brasil
"Nossas meninas só conseguirão (ser top 100) se melhorarmos a estrutura para treinamentos, viabilizarmos as viagens e, é claro, fizermos torneios no Brasil. Além disso, precisamos de patrocinadores para todas as fases das suas carreiras",
Carlos Alves

2010
"Existem três ou quatro torneios de 25 mil no Brasil. Isso é muito pouco, não tem como as jogadoras evoluírem",
Elson Longo

2005 - Sobre treinamento para meninas
"Nossas meninas precisam aprender a treinar e conseguir jogar um tênis mais completo. Elas só jogam de fundo. Precisamos também de técnicos mais experientes, que as orientem melhor"
Carlos Alberto Kirmayr

2010
"A técnica mudou bastante nos últimos anos e as atletas precisam jogar um tênis mais completo",
Raul Ranzinger

2005 - Sobre a falta de patrocinadores
"Acho que, na minha época, as condições eram piores do que agora. Eu era 76 do mundo e tinha um patrocinador. E até chegar lá, não tinha nenhum. É assim aqui no Brasil, você tem que mostrar primeiro para depois as pessoas ajudarem",
Andréa Vieira

2010
"Tenho sorte de tantas pessoas me ajudarem porque, se dependesse de conseguir patrocínio, é muito difícil",
Vivian Segnini

2005 - Sobre a vontade das meninas
"Mulher tem muito problema. Não quer deixar família, namorado. Eu nem pensava, ia embora e ia fazer o que gostava. Hoje não vejo as meninas muito aventureiras. Algumas são bastante dependentes e, de repente, as que não são, não têm jogo",
Gisele Miró

2010
"O argentino, por exemplo, sai de casa com passagem de ida e consegue se virar e aguentar a pressão. As brasileiras nem sempre têm esse espírito",
Vanessa Menga

2005 - Esperança?
"Sempre digo nas transmissões que ainda espero poder comentar um jogo de uma tenista brasileira nos grandes torneios da WTA",
Miriam D'Agostini

2010
"Não sei dizer se em curto prazo alguém vai chegar lá (no top 100), mas quatro ou cinco meninas que conheci têm potencial para estar em posições muito melhores de ranking do que estão atualmente",
Raul Ranzinger

Felipe De Queiroz

Publicado em 19 de Abril de 2010 às 06:00


Especial

Artigo publicado nesta revista