Não adianta culpar a imprensa pelos insucessos no esporte
É UM TREMENDO equívoco atribuir à imprensa culpa por insucessos. Jornalismo não é marketing. Pelo contrário, para ter credibilidade o jornalismo precisa ter compromisso com a informação, ser crítico, investigativo. Tenho ouvido de pessoas do tênis que os jornalistas precisam dar boas notícias. Ora, boa notícia para quem? Quando a imprensa divulgou denúncias contra Nelson Nastás, aquelas notícias eram ruins? Naquele momento seria correto omiti-las? Claro que não. E quem abasteceu a imprensa não foi o pessoal ligado à atual gestão? Será que a imprensa inventou a crise na Davis? Foram os jornalistas que fizeram boicote ou brigaram com o Governo de Minas? Ora, o Meligeni convocou coletiva para falar de sua saída e criticou a CBT. O certo seria ignorá-lo?
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Vejam o exemplo do futebol. Você conhece imprensa mais crítica? Entretanto, a CBF está aí com Ricardo Teixeira firme, forte e ganhando vários títulos. Vocês acham que a CBF tem problema de patrocínio? E o Ronaldo fenômeno? O craque ficou parado um tempão e nunca deixou de ser notícia. Era mulher pra cá e pra lá e a conta bancária cada vez maior. Embora seja nosso ídolo, o jornalista tem obrigação de informar que Ronaldo chegou à Alemanha 11 quilos acima do peso.
É preciso aprender a lidar com as críticas. É um sinal de maturidade respeitálas. Será que a imprensa deveria parar de falar sobre mensalão, criminalidade, corrupção? Durante anos, os militares obrigaram a imprensa a dar somente notícias boas. Proibiram notícia ruim. Ruim para eles é claro. Isto se chama censura. Portanto, este discurso de que a imprensa só dá notícia ruim é balela. Concordo que existam veículos que exploram mais o lado negativo das coisas. Mas, de certa forma, a imprensa é um espelho da sociedade. Ela não pode obrigar o torcedor a ser menos passional. Procuramos mostrar o lado racional, mas temos que respeitar a maneira de ser do brasileiro. Quando um tenista joga mal, o público espera que você fale a verdade. Quando não está bem fisicamente, precisamos dizer exatamente o que está acontecendo. Já o pessoal da ATP faz o seu papel, que é blindar o que acontece de ruim com seus pupilos. Até aí, tudo certo. Cada macaco no seu galho. É a função da assessoria de imprensa.
É simplista demais acusar a imprensa por tudo o que acontece de ruim. É preciso trabalhar para gerar resultado. O esporte é que precisa produzir boas notícias. O leitor não é burro. Reconhece quando o jornalismo é chapa branca, matéria paga. Uma coisa é fazer jornalismo em uma emissora de credibilidade como a Jovem Pan ou escrever na Revista TÊNIS, um veículo especializado que procura fazer jornalismo sério. Outra é fazer informe publicitário, revista de assessoria, direcionada só aos amigos. Isso não vende. Ninguém compra. Isso não ajuda o tênis a crescer.
O tênis precisa pensar grande para romper a barreira do clube fechado. O grande público quer ver ídolos. E a imprensa não pode fabricá-los. E o público vai cobrar seus ídolos, seus clubes, técnicos e jogadores. E lembre-se, a crítica, mesmo negativa, tem o lado positivo e serve de combustível. Conheço técnicos que na sua preleção utilizam críticas da imprensa e dos adversários para motivar seus atletas. Luxemburgo adora a estratégia. Larri Passos também. Por isso, fique tranqüilo, o craque sabe lidar com a crítica. O que precisamos é entender o lado positivo do bom jornalismo e lembrar que estamos todos no mesmo barco, lutando para divulgar e desenvolver o tênis no Brasil. E a melhor maneira de fazer isso é através do jornalismo sério.
Fernando Sampio produz programas para a tevê e boletins para a Rádio Jovem Pan AM. fernandosampaio@jovempan.com.br |
Publicado em 25 de Abril de 2007 às 08:33