Torneio Fed Cup
Após 10 anos, o Brasil volta aos Play-offs do Grupo Mundial da Fed Cup e terá a chance de subir de divisão em série contra a Suíça, em abril
A ÚLTIMA VEZ QUE O BRASIL disputou os Play-offs do Grupo Mundial da Fed Cup aconteceu em 2004, quando o time comandado por Dadá Vieira foi derrotado pela Croácia em confronto disputado no Clube Paineiras do Morumby, em São Paulo. Na ocasião, Carla Tiene estava presente na formação brasileira e participou do jogo de duplas contra as europeias, que levaram a melhor por 4 a 1. De lá para cá, a equipe nacional amargou anos e anos disputando o Zonal das Américas, praticamente esquecida na terceira divisão do torneio.
No ano passado, porém, o país deu sinais de reação. Ficou a uma vitória de jogar a repescagem do Grupo Mundial II, mas fomos derrotados na final do Zonal pelo Canadá da promissora Eugenie Bouchard, hoje top 20. Ainda assim, o Brasil já mostrava que o momento de subir um degrau na Fed Cup estava próximo. E ele chegou um ano depois, e de forma incontestável.
Tiene, que há 10 anos sentiu na quadra o peso da derrota, capitaneou a esquadra brasileira de volta aos Play-offs com uma campanha perfeita no Zonal disputado em Lambaré, no Paraguai. Sem perder um ponto, Teliana Pereira, Paula Gonçalves, Laura Pigossi e Gabriela Cé despacharam as concorrentes e carimbaram o passaporte para a repescagem no mês de abril, em casa.
Gabriela Cé e Laura Pigossi (à direita) formaram o time brasileiro
Desde o início, as brasileiras reconheciam que o episódio de 2013 uniu ainda mais o grupo para o Zonal no Paraguai. E sem a presença das fortes seleções da Argentina e do Canadá (que estavam disputando o Grupo Mundial II), Teliana Pereira & Cia se tornavam favoritas para vencer o grupo das Américas neste ano. Mas o favoritismo teria que ser comprovado dentro de quadra.
Nos dois primeiros confrontos, duas vitórias tranquilas diante das limitadas seleções de Equador e Bahamas. Na última rodada do Grupo B, veio o primeiro confronto duro – a perigosa Colômbia, de Mariana Duque-Marino e da experiente Cataliña Castaño, que tinha um retrospecto melhor contra a equipe canarinho. No entanto, Paula e Teliana não deram chances e fecharam seus jogos em sets diretos, colocando o país na decisão das Américas pelo segundo ano consecutivo.
A final reservou um duelo à parte contra as anfitriãs paraguaias. Mesmo com o público contra, Paula soube controlar os nervos e derrotou Montserrat Gonzalez no primeiro jogo, ampliando sua invencibilidade na Fed Cup. Em seguida, restou a Teliana fechar a série com triunfo contundente sobre Veronica Cepede Royg para começar a festa brasileira sob o sol escaldante de 40ºC.
Em meio à comemoração, as atletas carregaram Tiene nos ombros, e a capitã brasileira comparou os sentimentos da sua época de jogadora e agora de ajudar o grupo na volta aos Play-offs à beira da quadra: “Tem uma emoção de estar como jogadora e, agora, sinto uma responsabilidade maior de ser a capitã do grupo. Vi o quanto as meninas batalharam, o quanto se dedicaram para essa conquista. O tênis feminino merecia essa classificação. Que esse seja o primeiro passo de muitos”, declarou a técnica.
Para Paula Gonçalves, que detém nove vitórias em nove jogos na Fed Cup, o comprometimento do time desde a derrota para o Canadá em 2013 foi determinante para o Brasil conseguir seu objetivo. “No ano passado, batemos na trave, acabamos perdendo no último jogo. Ficou um gostinho de estar perto da vitória. E esse ano fomos muito focadas na vaga, nós tínhamos totais condições de vencer. A união fez a diferença para o grupo”, analisou a jogadora treinada por Carlos Kirmayr. Teliana Pereira concorda com Paulinha e destaca a relação bem próxima das jogadoras dentro e fora das quadras: “Todas as meninas se dão bem, vão assistir ao jogo da outra. Não é à toa que fazia 10 anos que não jogávamos os Play-offs e agora temos boas chances de ir ao Grupo Mundial. O tênis é um esporte tão individualista e, hoje em dia, conseguimos ficar mais tempo juntas”.
De volta à repescagem, o Brasil foi sorteado para enfrentar a Suíça em local a ser definido pela Confederação Brasileira de Tênis (CBT), entre os dias 19 e 20 de abril. A comissão técnica já revelou que a série deve ser realizada em uma quadra de saibro descoberta. As europeias contam atualmente com duas jogadoras com rodagem internacional, Stefanie Voegele e Romina Oprandi. Mas talvez o grande destaque do time suíço seja a jovem Belinda Bencic, ex-número 1 no juvenil e campeã de Wimbledon e Roland Garros na modalidade.
Aos 17 anos, Bencic já está bem próxima de ultrapassar a barreira do top 100 e, na Fed Cup, também vem fazendo estragos. No revés contra a França, em fevereiro, a jovem suíça ainda conseguiu as duas vitórias em simples para o time, mesmo jogando fora de casa.
Número 1 do Brasil, Teliana Pereira reconhece que o time suíço é bem gabaritado, principalmente pela experiência internacional, mas crê nas chances de vitória em casa. “As jogadoras suíças são bem fortes. A Oprandi estava machucada, mas já está voltando. A Voegele está entre as 60 melhores há alguns anos, e a Bencic é uma menina talentosa e foi bem no Australian Open. Mas nosso time também é forte, estamos unidas, e jogando em casa com o apoio dos brasileiros temos grandes chances de vencer”, confia.
Carla Tiene também se apoia na versão de Teliana para respeitar a Suíça, mas vê que a fome de vitória das suas comandadas será primordial para uma vitória histórica em abril. “Se fosse resolver por ranking, a Suíça talvez nem estaria jogando o Play-off. Acho que muito mais do que o ranking, as nossas meninas estão querendo muito, estão ansiosas para que chegue logo a data para jogar, estão realmente se preparando para isso”, conclui.
Brasil e Suíça empatam no retrospecto da Fed Cup em 1 a 1, com as suíças tendo vencido o último duelo em 1990. O triunfo verde-amarelo aconteceu em 1972. A última vez que o tênis feminino brasileiro disputou o Grupo Mundial da Fed Cup ocorreu em 1991.
Resultados - Zonal Americano I Fed Cup 2014 |
Final – Brasil 2x0 Paraguai R1 – Paula Gonçalves (BRA) v. Montserrat Gonzalez (PAR) 6/3, 4/6 e 6/1 R2 – Teliana Pereira (BRA) v. Veronica Cepede Royg (PAR) 6/3 e 6/2 |
Publicado em 17 de Março de 2014 às 00:00
Por que ela chegou aonde outras não conseguiram?