Campanhas mirabolantes dos anos 2000

A Revista TÊNIS fez uma seleção de 40 zebras que ocorreram desde o ano 2000 nos quatro principais torneios do mundo e nas Olimpíadas*


fotos: Ron C. Angle

Campeões inesperados

Gaston Gaudio
Roland Garros 2004

O título de Roland Garros em 2004 parecia decidido quando Guillermo Coria venceu Tim Henman e chegou à decisão contra seu compatriota Gaston Gaudio. Coria jogava o melhor tênis no saibro na época e, sem Federer na final, era improvável que outro tenista pudesse fazer frente ao Mago. O improvável ganhou aparência de impossível ao final do segundo set, com o placar de 2 a 0 para Coria. Mesmo assim, Gaudio conseguiu reverter e promoveu uma das maiores viradas que o público parisiense já viu, consagrando-se campeão na França.

Goran Ivanisevic
Wimbledon 2001

Ivanisevic parecia destinado a não vencer Wimbledon. Por uma década, o croata viu Pete Sampras superá-lo ano após ano na grama do All England Club. Quando todos davam Ivanisevic como acabado, eis que ele, quase aposentado, chegou à final pela quarta vez e, diante de Patrick Rafter - outro que lutara toda a carreira por um troféu em Wimbledon - triunfou finalmente.

Thomas Johansson
Australian Open 2002

Johansson está longe de ser um tenista fraco. Para muitos, porém, triunfar em um torneio Grand Slam era glória demais para ele e, de fato, o sueco nunca esteve entre os favoritos nestes eventos. Nunca esteve, mas conseguiu em 2002, após derrotar Marat Safin na final, encerrar a sequência de vitórias de Andre Agassi, campeão em 2000 e 2001 em Melbourne.

Mais que amealhar um Major, o sueco o fez nos anos 2000, período em que a alternância de campeões nestas competições foi menor.

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Maria Sharapova
Wimbledon 2004

As semanas que antecederam Wimbledon, em 2004, marcaram os últimos dias de anonimato de Maria Sharapova. A partir de então, ela se acostumaria a ser a maior estrela de sua geração e se tornaria a Sharapova que todos conhecem hoje. Na época, contudo, era uma desconhecida menina, 17 anos, que para muitos seria incapaz de derrotar uma tenista como Serena Williams. Feito que ela cumpriu, na final do torneio, para alcançar a consagração.


fotos: Ron C. Angle

Kim Clijsters
US Open 2009

Clijsters, uma das maiores tenistas da década de 2000, foi em toda sua carreira cotada como favorita nos torneios que jogou. No US Open de 2009, último torneio Grand Slam vencido por ela, a situação foi diferente. Mesmo sendo Clijsters, ela era zebra. Sem jogar desde 2006, a belga recém retornara ao tênis e, por melhor que fosse sua história, poucos pensavam que a aposentada Clijsters pudesse repetir o título de 2005. Muitos se enganaram e a ex-número um do mundo voltou ao topo do tênis tão repentinamente como abandonara o esporte, quatro anos antes.

Nicolas Massú
Atenas 2004

Com tantos favoritos para ganhar a medalha de ouro em Atenas, Massú certamente não estava nesta lista, ainda mais pela disputa ser em um piso rápido. Contudo, o torneio olímpico teve diversas zebras e o caminho se abriu para o chileno, que se consagrou.

Albert Costa
Roland Garros 2002

Apesar de Albert Costa sempre ter sido um tenista dos mais perigosos no saibro, poucos acreditavam que ele realmente tinha chance de vencer Roland Garros. Em 2002, contudo, ele provou que sim. Derrotou Guga, Corretja e Ferrero, três dos principais favoritos, para ganhar seu único Grand Slam na carreira.

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Incríveis vice-campeonatos

Marcos Baghdatis
Australian Open 2006

Nas primeiras três ou quatro rodadas do Australian Open, em 2006, o que mais chamou mais atenção do público nas partidas de Baghdatis foi sua namorada, a bela loira Camille Neviere, que enfeitava as arquibancadas a cada vitória do barbudo cipriota, ainda um rosto desconhecido da maioria dos fãs. Demorou um tempo, mas logo se viu que Baghdatis era mais que um homem "bem casado", ele tinha talento. O bastante para chegar à final e fazer bonito diante de Roger Federer, a ponto de vencer o primeiro set.

Martin Verkerk
Roland Garros 2003

Verkerk demorou 24 anos para jogar Roland Garros pela primeira vez. Como um velho estreante e sem grandes predicados no currículo, o holandês de 1,96m chegou a Paris para disputar aquele que seria o torneio da sua vida. 45o do mundo, os olhares passavam longe de Verkerk, até que ele iniciou uma atrevida sequência de travessuras na Cidade Luz, derrotando - sempre à base saques potentes - Carlos Moyá e Guillermo Coria, impedindo o público de ver na final o confronto dos dois principais saibristas do mundo à época. Na decisão, Ferrero cessou as peripécias do holandês que, todavia, já entrara para a história.

Rainer Schuettler
Australian Open 2003

Schuettler nunca inspirou paixão nos amantes do tênis. Seu jogo se valia - e ainda se vale - da regularidade e por vezes era meio insosso. Mesmo assim, ele conseguiu, em 2003, cumprir o sonho de todo tenista, disputando na Rod Laver Arena, contra Andre Agassi, a final do Australian Open. Schuettler, então número 36 do mundo, perdeu facilmente para o norteamericano, mas antes disso, superou adversários mais cotados e talentosos, como Andy Roddick e David Nalbandian.

Marion Bartoli
Wimbledon 2007

A pequena Marion Bartoli parecia a reencarnação de Davi diante de Venus Willians, na final de Wimbledon, em 2007. Um Davi que, daquela vez, sairia derrotado. Venus, a rainha da grama conquistaria seu quarto troféu no mais tradicional torneio do mundo. A derrota não diminui, porém, a trajetória de Bartoli, que além de chegar à decisão, bateu na semifinal, a número um do mundo Justine Henin.


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Jo Wilfried Tsonga
Australian Open 2008

No começo do Australian Open de 2008, Jo Wilfried Tsonga ainda era mais um na multidão para o grande público e, se havia algo no francês que chamava a atenção era sua incrível semelhança com o lendário pugilista norte-americano Mohamed Ali. Hoje, Tsonga continua parecido com Ali, mas deixou de ser um mero sósia. Isso graças à grande campanha em Melbourne naquele ano, em que chegou a vencer Rafael Nadal, na semi. Na final, Novak Djokovic levou o troféu.

Arnaud Clement
Australian Open 2001

No começo de 2001, o francês Arnaud Clement era o número 18 do mundo e vivia a melhor fase de sua carreira, o que não fazia dele uma estrela, embora os óculos escuros e as roupas coloridas e chamativas com as quais desfilava em quadra sugerissem o contrário. Sem ser cotado para o título, mas em semana inspirada, o francês venceu favoritos como Yevgeny Kafelnikov, nas quartas, e conseguiu chegar à decisão, quando perdeu para Andre Agassi.

Mariano Puerta
Roland Garros 2005

Os argentinos são especialistas em surpreender o público, especialmente em Roland Garros. E entre tantas zebras, se há uma que deva ser apontada como a maior delas, provavelmente seja Mariano Puerta, vice-campeão de Roland Garros em 2005. Dono de apenas três títulos ATP na carreira, Puerta ficou a uma partida de vencer o Aberto da França e, perdendo para o estreante Rafael Nadal.

David Nalbandian
Wimbledon 2002

Na primeira vez que disputou Wimbledon, Nalbandian simplesmente foi à final, provando que seu talento era mesmo inegável.

O argentino levou sorte na chave, pois Sampras acabou derrotado antes da hora, e fez jogos duríssimos durante todo o torneio. Na final, não suportou a correria de Hewitt.


Robin Soderling
Roland Garros 2009

Soderling não era nenhum desconhecido quando iniciou sua campanha em Roland Garros em 2009.

Ainda assim, o sueco fez muito mais do que dele se esperava ao derrotar Rafael Nadal, o maior tenista de saibro desde Bjorn Borg.

Foi a primeira derrota de Nadal no Aberto da França e, mesmo sem ter saído com título, o sueco, que perdeu para Roger Federer na final, teve em Paris uma das campanhas em Grand Slam mais memoráveis dos últimos anos.

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fotos: Ron C. Angle

Mardy Fish
Atenas 2004

Fish, um dos poucos remanescente do clássico estilo saque-e-voleio, sempre teve uma carreira de altos e baixos.

Um de seus dos pontos mais altos seguramente foi durante as Olimpíadas de 2004 quando atingiu a final contra Massú. Sua habilidade na rede, contudo, parou na constância de fundo do chileno.

Semifinalistas pouco prováveis

Franco Squillari
Roland Garros 2000

fotos: Ron C. Angle

Horas antes de Gustavo Kuerten derrotar a duras penas o espanhol Juan Carlos Ferrero, para chegar à sua segunda decisão em Roland Garros, outro sul-americano vivia seu momento de glória. Na primeira semifinal, Franco Squillari batalhava com o badalado sueco Magnus Norman por uma vaga na decisão. Batalha perdida. O argentino caiu fácil ante o número um da época (6/1, 6/4 e 6/3), mas deve ter retido na memória o cheiro do saibro e o som das arquibancadas na quadra Philippe Chatrier, o ápice de sua carreira.

Xavier Malisse
Wimbledon 2002

Xavier Malisse sempre foi um tenista sem grandes feitos. Antes da disputa de Wimbledon, em 2002, aos 21 anos, o belga não contava com nenhum título no currículo e sequer figurava no top 30. Na Inglaterra, em especial, seu sucesso parecia ainda mais improvável, já que não era um especialista na grama. Tudo indicava o fracasso, mas vencendo favoritos como Richard Krajicek, ele alcançou o auge de sua carreira, ao enfrentar na semifinal o surpreendente David Nalbandian.

Jonas Bjorkman
Wimbledon 2006

Bjorkman foi, ao longo de sua carreira, um tenista muito bem cotado entre seus companheiros de profissão, em especial por seu domínio técnico de fundamentos como saque e devolução e por suas habilidades como duplista. Em Wimbledon 2006, contudo, o sueco já estava velho e passava longe de ser lembrado entre os favoritos em simples para qualquer torneio de grande porte. Ninguém pensou nele, mas Bjorkman venceu especialistas em quadra rápida, como Max Mirnyi e Radek Stepanek e chegou à semifinal, quando perdeu para Federer.

Robby Ginepri
US Open 2005

À medida que a era Sampras/Agassi chegava ao fim, iniciou-se a procura de herdeiros para o trono do tênis dos Estados Unidos. Robby Ginepri nunca foi cogitado para tal. Mesmo tido como um tenista mediano, o patinho feio do tênis norte-americano teve, porém, em 2005, seus minutos de cisne, numa semana em que não apenas chegou entre os quatro do US Open, como esteve próximo de derrotar Andre Agassi na semifinal. Perdeu em cinco sets para o compatriota.

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Sjeng Schalken
US Open 2002

Sjeng Schalken teve bons momentos no circuito, vencendo torneios ATP, como o Brasil Open de 2003. Nem por isso sua chegada à semifinal do US Open, em 2002, deixou de ser um feito incrível para o holandês.

Depois de derrotar Gustavo Kuerten nas quartas, Schalken fez jogo duro contra Sampras, levando dois sets para o tiebreak.

Vladimir Voltchkov
Wimbledon 2000

Vladimir Voltchkov era número 237 do mundo ao desembarcar em Londres, em julho de 2000. O bielo-russo era um tenista pouco expressivo, não tendo vencido nenhum torneio ATP. Naquele meio de ano, em 2000, Voltchkov ficaria, porém, muito perto da glória. Quando avistou Pete Sampras do lado contrário, na quadra central, estava a um jogo da final de Wimbledon. Perdeu em três sets.

Fabiola Zuluaga
Australian Open 2004

Com um jogo mais adaptado ao saibro, a colombiana Fabiola Zuluaga nunca havia passado da terceira rodada de nenhum Grand Slam até 2004.

Mas, logo no primeiro Major do ano, a sul-americana, cujo ranking sempre rodeou posições entre 40 e 80, resolveu aprontar. Contando com a sorte, foi à semi, só perdendo para a número um, Henin.


Clarissa Fernandez
Roland Garros 2002

Clarissa Fernandez é outro caso de tenista que teve a semana de sua vida em um torneio Grand Slam. Antes (e depois também) de Roland Garros, em 2002, a argentina nunca foi além da segunda rodada em um Major. Mas, aquela semana seria diferente e Clarissa, após derrotar tops como Elena Dementieva, se classificou para a semifinal, quando caiu diante de Venus Williams.


Paola Suarez
Roland Garros 2004

Paola Suarez esteve entre as melhores duplistas do circuito da WTA nos anos 2000, formando com Virginia Ruano Pascual uma parceria oito vezes campeã de torneios Grand Slam. Não obstante seu sucesso coletivo, em simples, a argentina não obteve projeção sequer similar. Por isso o espanto de muitos quando ela chegou à semifinal de Roland Garros em 2004.

fotos: Ron C. Angle

Jie Zheng
Wimbledon 2008

Zheng conquistou ótimos resultados na carreira e segue ainda hoje disputando em pé de igualdade com as tops. Quando chegou à semifinal de Wimbledon, em 2008, a chinesa, que viera do qualifying, deixou muitos de boca aberta com seu tênis, sendo eliminada apenas pela quase sempre imbatível Serena Williams, e, mesmo assim, em jogo duro.

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Tim Henman
Roland Garros 2004

Em 2004, poucos acreditavam que Tim Henman poderia ir longe em Grand Slams, ainda mais no saibro de Paris, piso que não era compatível com seu jogo. Todavia, com uma atuação sólida e com um pouco de sorte na chave, foi à semifinal e deu trabalho a Guillermo Coria.

Surpresas nas quartas-de-final

Gustavo Kuerten
Roland Garros 2004

Sim, Guga sempre foi favorito no saibro de Paris. Porém, em 2004, ele estava voltando de nova cirurgia e poucos acreditavam que ele estivesse na melhor forma. Chegar à terceira rodada para jogar contra Federer já poderia ser considerado uma vitória, mas o brasileiro foi além. Despachou o número um do mundo com tranquilidade e só parou nas quartas diante de Nalbandian.

Severine Bremond
Wimbledon 2006

A carreira de Severine Bremond é tão obscura para a maioria dos fãs de tênis que antes do início de Wimbledon, há quatro anos, o melhor ranking de final de ano desta francesa era 95, ao fim de 2004. Em 2006, as coisas não andavam muito melhores, tanto que Bremond entrou na chave do Grand Slam britânico como qualifier. E assim, a francesa, uma tenista pouco expressiva e em mau momento, surpreendeu e só caiu nas quartas, para a cabeça de chave número 3, Justine Henin.

Felipe De Queiroz

Publicado em 17 de Maio de 2010 às 09:15


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Artigo publicado nesta revista