Instrução Técnica

Invertido

Dicas espertas para executar uma direita invertida matadora


Novak Djokovic

É comum ver um jogador avançado golpear a bola com a direita no setor esquerdo da quadra. Chamada usualmente de direita invertida ou forehand inside-out, o golpe vem ganhando mais adeptos, inclusive entre as mulheres. E um dos aspectos que mais chama a atenção no tênis de alto nível é a região da quadra em que os jogadores estão dispostos a ir para realizar o golpe.

Esse é o aspecto que mais evoluiu em relação à direita invertida. Ela sempre existiu, mas as fronteiras em que ela atua vem se expandindo através de um poderoso arsenal de movimentação muito pertinente aos jogadores de elite. Não é difícil ver na televisão um jogador executando esse golpe com os dois pés no corredor do lado esquerdo: eles são capazes de atravessar toda a quadra para golpear com a direita.

Vemos que o forehand cobre cada vez mais território, principalmente quando os jogadores sacam e possuem a iniciativa necessária. Isso se deve ao maior poder ofensivo do forehand em relação ao backhand. Além de maior velocidade – a mecânica do lado dominante do jogador possibilita maiores níveis de rotação da bola. Isso torna o golpe mais contundente e com maiores possibilidades táticas.

O golpe é feito na maioria das vezes sobre o backhand do adversário, estabelecendo uma linguagem tática de domínio. No entanto, não basta ter apenas uma boa direita para jogar invertido: a movimentação é o fator chave para o sucesso de se aventurar nas terras do backhand.

Vejamos alguns pontos-chave que o tenista deve incorporar para ter êxito em jogar com a direita do lado esquerdo da quadra:

2 - Repare no giro por trás da perna direita. Quem primeiro vai é o quadril, a cabeça “fica” 3- O jogador se move de costas enquanto prepara o golpe  

1 - Análise e ação

O tênis é processado em nossa mente em quatro etapas: percebo, decido, executo e analiso. Percebo se a bola é alta, rápida, aberta, curta, se tem efeito... enfim as características cinemáticas do tiro do oponente. Decido: se vou golpear paralelo, cruzado, com altura, se faço uma curta... tomar a decisão de como vou executar meu golpe em função do que percebi da bola que vem. Executo: é a parte motora, a ação em si de executar o tiro programado. Analiso: em função das sensações de golpeio logo após ter rebatido e da trajetória da bola, uma análise é feita avaliando instantaneamente as possibilidades do oponente de acordo com o tiro gerado. Esta fase influi muito na recuperação da quadra e no posicionamento do jogador.

Baseado nesse processo, se queremos realizar com êxito a direita invertida, devemos ter boas habilidades de percepção e decisão. Se demoramos para perceber que a bola enviada nos dá chance de fugir e pegar com a direita, não teremos tempo para realizar a tarefa. Ao observarmos os grandes jogadores, veremos que, logo que a bola sai da raquete do oponente, eles já iniciam a movimentação. Sair cedo é fundamental e apenas uma boa percepção nos coloca nessa condição.

Mas o processo requer ainda uma boa decisão. Há bolas que são muito abertas e muito rápidas, que impossibilitam jogar invertido. O jogador logo que percebe a trajetória deve estar apto a decidir corretamente se vai golpear de direita ou esquerda. Se decide errado, não terá sucesso. Portanto, primariamente, ter um apurado sistema “percebo-decido” é a base inicial para essa ação na quadra. E essa habilidade deve ser adquirida com treinamento sistemático, exercícios específicos e, obviamente, procurando jogar dessa maneira nos treinos e competições. Com o tempo, o jogador vai adquirindo a capacidade de ler e decidir cada vez melhor.

2 - Giro

O segundo aspecto fundamental é como se mover para essa bola. Primeiramente, após o split step, o jogador deve girar por trás para sair para a bola. O giro por trás permite lateralizar-se em relação à bola, permitindo correr de lado. Nesse processo, é muito importante o quadril ser projetado para a esquerda antes da cabeça do jogador. Se a cabeça vai primeiro, o tenista correrá desequilibrado durante todo o processo.

3 - Correr de costas

Após girar por trás, o jogador invariavelmente deverá correr de costas. E correr de costas não é simples, principalmente se levamos em conta que, enquanto se movimenta, deve-se estar realizando a preparação do golpe. Essa coordenação de pés e mãos é dificultosa e requer treinamento específico. Os passos de costas devem ser curtos e na ponta dos pés.

4- Estabelecimento da base semiaberta para o golpe 5- Impulso de pernas projetando o jogador na linha do golpe

4 - Estabelecimento da base

 

4 - Trajetória divergente e o jogador “esperando a bola”

Quando atinge o local de golpe, o jogador deve estabelecer uma base semiaberta, realizar uma boa carga e golpear a bola de maneira equilibrada e usando todo o corpo. Mas, para que isso aconteça, o jogador deve ter tempo. Tempo é o aspecto crítico dessa ação. Devemos lembrar que a trajetória da bola cruzada é divergente ao jogador: quanto mais a bola caminha, mais ela se desloca para a esquerda, afastando-se da posição inicial do atleta. Portanto, o tenista deve se adiantar em relação à bola se quiser ter um tempo extra necessário para estabelecer uma base. Surge um conceito muito comum em alto nível: o de “esperar a bola”, ou “estar atrás da bola”. Ambos indicam o fato de a movimentação não ser junto com a bola, mas estar um pouco adiantado em relação a ela para poder se estabelecer.

 

5 - Pernas

O ideal é que, estabelecendo-se a base, as pernas empurrem o jogador na direção do golpe. Muitas vezes, o tenista chega sob pressão de tempo e caba batendo caindo para o lado esquerdo ou para trás. O alinhamento da direção do impulso das pernas com a trajetória da bola, comumente chamado de “Drive Leg” , otimiza consideravelmente a eficiência do tiro, e depende invariavelmente da qualidade da movimentação.

Roger Federer

Azul - bola rápida
Vermelho - bola pesada 


7- Veja a área útil do golpe paralelo. A primeira figura abaixo, quando o jogador está próximo do centro da quadra e, na segunda figura, quando o jogador está muito aberto. Fica claro pelo diagrama que, quanto mais aberto se está, maior o risco de se fazer a paralela.

6 - Execução

Ao contrário do que possa parecer intuitivo, os tiros de direita invertida mais eficientes são as bolas pesadas, aquelas que possuem muito topspin e altura. Esse tipo de bola sai da linha da cintura do adversário, obriga-o a ir para trás, dificultando a execução do backhand. Isto força o rival a jogar curto, onde pode-se então direcionar a direita invertida paralela. Essa sim, deve ser mais plana e rápida, pois está apontada ao espaço vazio. Jogar invertido rápido e na linha da cintura, abre a possibilidade do contra-ataque paralelo de backhand. Quem tem um bom backhand sabe aproveitar essa bola com velocidade na zona de conforto para contra-atacar.

7 - Onde bater

Caso o jogador se afaste muito do centro da quadra para realizar a direita invertida, ela deve ser cruzada, pois, quanto mais aberto se está, maior o risco de fazer a paralela.

8 - Complemento

Quem pretende usar a direita invertida deve lembrar que o lado direito da quadra fica exposto e, em dado momento, será explorado pelo adversário. Portanto, saber fazer a direita na corrida é fundamental como complemento para esse sistema de jogo. Sempre que se treinar inverter, deve-se trabalhar os deslocamentos para o lado direito para cobrir eventuais contra-ataques.

Usar as forças e vantagens do forehand diretamente no backhand do adversário é uma linha de jogo muito vantajosa. Mas requer muita qualidade de movimentação, leitura de jogo e variações de golpes. Como qualquer outra virtude no tênis, requer muito treino, tempo e dedicação.

 

Por Elson Longo

Publicado em 27 de Abril de 2015 às 00:00


Técnica/Drills dicas direita invertida forehand inside-out

Artigo publicado nesta revista

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