Andy Murray

A mais nova sensação do circuito masculino quer mostrar que o tênis do Reino Unido ainda pode formar grandes campeões


Ella Ling_RCA Productions

Aos 22, Andy Murray escreveu sua autobriografia, ganhou milhões, chegou ao top 5 e se tornou um dos jogadores mais consistentes na turnê. O que sobrou para essa sensação escocesa? Muito. Para começar, Murray quer ganhar um Grand Slam, o qual seria o primeiro para um britânico desde Fred Perry em 1936. Ele quer ser o número um. Ah, ele também quer que você saiba que ele tem senso de humor.

Por que você escreveu uma autobiografia tão cedo?

Esse foi um dos erros que cometi. Claro que era muito jovem quando me deparei com isso, mas fizeram uma boa oferta e aceitei. Olhando para trás, gostaria de ter esperado mais uns quatro ou cinco anos, porque tenho certeza de que a mesma oferta ou talvez uma melhor seria feita. Você aprende com as experiências. É como se aparecesse um monte de coisa e você tem que vivê-las. Não escolhi o título do livro (Hitting Back - algo como Devolvendo, em português), o que acho que deveria ter feito, mas não estava tentando provar nada para ninguém. Não sei se faria de novo.

Você foi criticado quando deixou seu técnico, Brad Gilbert, e decidiu viajar com Miles Maclagan e um time de treinadores. Você se sente exigente agora?

Não é exigência, só acho que o que as pessoas têm que entender é que o que funciona para um pode não funcionar para o outro. Por exemplo, Tim Henman treinou na Inglaterra por toda sua carreira e chegou a número quatro do mundo; mas não senti que aquilo serviria para mim, então quis ir para a Espanha e treinar lá. Brad é, com certeza, um ótimo treinador e o trabalho que ele tem feito com todos os jogadores com quem tem trabalhado vai muito bem. Ele alcançou ótimos resultados, mas, queria uma mudança e precisava de algo diferente. Queria viajar com um grupo de pessoas, coisa que o Brad não se interessava.

Qual a diferença entre Brad e Miles?

Miles é bem maduro, bem tranquilo, e o Brad é muito mais animado. É bom, às vezes, ser desse jeito se o ambiente do treino for um pouco monótono. O Brad pode mudar isso. E ele é sempre o mesmo, todo dia; não tem aquele negócio de ter dias bons ou dias ruins - ele é daquele jeito sempre. A razão pela qual isso é tão diferente agora não é só porque saio para jantar com o Miles, ou saio para almoçar, ou treino com o Miles, e fico em hotéis com ele. Tenho outras pessoas... Podemos ficar um tempo separados, e isso é muito mais tranquilo agora, e gosto disso porque melhora um pouco mais a minha personalidade.

Alguma vez o tênis prejudicou a sua relação com Judy, sua mãe?

Nem minha mãe nem meu pai nunca me colocaram, ou ao meu irmão (Jamie), sob qualquer pressão para jogar. Minha mãe parou de nos treinar quando tínhamos 10 e 11 anos, como se tivesse nos passado para alguém, porque ela não queria que houvesse nenhuma tensão na nossa relação. Família é mais importante que tênis. Claro, ela tomou uma ótima decisão, acho. Meu irmão e eu nos damos muito bem com ela.

O que faz dela uma treinadora tão boa?

Ela é divertida. Minha mãe adora ficar perto de crianças e, na verdade, nunca tentou treinar ninguém que tivesse mais de 15 anos. Ela está sempre feliz, sempre de bom humor, e faz você gostar de jogar. Acho que quando você tem essa idade, principalmente no Reino Unido, a coisa mais difícil é manter uma criança.

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Josh Merwin © RCA Productions/BEImages Sports

"Quando se começa a jogar com caras que são maiores e mais fortes que você, que batem mais forte na bola; você precisa encontrar outros jeitos de ganhar os pontos "

Fale sobre como é o Andy Murray fora das quadras.

Sou muito tranquilo fora da quadra, muito diferente de como sou dentro dela. Raramente vou perder a cabeça. Mesmo assim, sou muito competitivo, adoro andar de kart, adoro jogar futebol, e boxe é o meu esporte favorito para assistir. Sei tudo sobre boxe. Leio sobre isso na Internet o dia todo quando estou fora da quadra.

Você já lutou boxe?

Não, tinha um saco de bater que ficava na garagem de casa, mas nunca me envolvi em nenhuma briga na minha vida e também não quero que isso aconteça [risos].

Qual a melhor luta que você já viu?

A melhor luta que eu já vi? Hmmm. Ao vivo?

"Família é mais importante que tênis"

Ou na televisão ou vídeo.

Quando estava nos Estados Unidos, paguei pela luta entre Manny Pacquiao e Oscar De La Hoya (6 de dezembro de 2008, em Las Vegas), o que foi inútil. Não estava feliz de pagar US$ 50 por isso. Tem um lutador escocês que conheço chamado Alex Arthur. Ele perdeu contra Michael Gomez. Era somente uma disputa pelo título do torneio britânico, mas essas parecem ser sempre as melhores lutas. Normalmente, as lutas dos campeonatos mundiais não são tão boas porque são perfeitas tecnicamente, a defesa deles é fantástica, ao mesmo tempo em que em níveis um pouco mais abaixo, os lutadores estão recebendo socos tanto quanto aguentarem.

Você pode comparar boxe e tênis?

Tem alguns caras, no boxe, que podem não ser muito talentosos, mas que têm um soco decisivo, e é a mesma coisa com o tênis. Alguém como (Ivo) Karlovic tem um ótimo saque, mas o resto do jogo dele não é tão bom. Pode ser difícil ganhar dele; taticamente, você precisa ser muito bom. Tenho certeza que é muito mais assustador entrar em um ringue de boxe do que jogar em uma quadra de tênis.

Andrew Murray

Ella Ling © RCA Productions/BEImages Sports

Nascimento
Dunblane, Escócia, em 15 de maio de 1987

Altura e peso
1,90 m e 84 kg

Destro

Profissional desde 2005

Treinador
Miles Maclagan

Família
Judy, mãe é ex-treinadora
William, pai é gerente na área de varejo
Jamie, irmão (13/02/1986) também é tenista top 50 em duplas

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Você tentaria lutar boxe?

Não. Acredito que não - bom, quer dizer, eu lutaria com um amigo. Mas com alguém que não conheço, não lutaria [risos].

E com o Rafael Nadal?

Acho que ganharia do Nadal em uma luta de boxe. É. Porque assisti a muita coisa e treinei uma ou duas vezes. Treinei com Amir Khan, ele era medalhista de prata (pela Grã-Bretanha) nas Olimpíadas (de 2004). Fui para a academia com ele uma vez, fiz alguns golpes e exercícios. Acho que, se você treinar um pouco, já faz uma grande diferença.

Você já pensou em jogar futebol em vez de tênis?

Costumava jogar para um time de base do Glasgow Rangers. Uma vez por mês, íamos treinar na Escola de Excelência dos Rangers. A primeira vez que fui, eles me perguntaram se gostaria de ir e treinar lá por período integral. Umas duas semanas depois, decidi que queria jogar tênis em vez de futebol, porque senti que era o certo quando tomei a decisão. Isso foi bom para a minha idade, mas não significa muito. É surpreendente que tenha escolhido jogar tênis.

Acho que um dos motivos foi que tinha uns 12 anos, tinha jogado alguns torneios e ido bem. E você tem um sistema de ranking em que você pode saber o quanto você é bom. E eu estava entre os quatro ou cinco melhores no ranking da minha idade na Europa. Ao mesmo tempo, com o futebol, não existe nenhum ranking e você não tem ideia de como está indo.

Qual é o seu time de futebol preferido?

Torço para o Hibs (Hibernian), que é o quinto ou sexto melhor time na Escócia. Meu avô costumava jogar com eles. Fiquei alguns anos em Barcelona, então pude assistir bastante ao time local. Se tiver Liga dos Campeões ou qualquer coisa, vou acompanhá-los.

Você tem um ótimo senso de quadra. Desenvolveu isso por jogar bastante com adultos mesmo sendo jovem?

Não joguei contra adultos, mas costumava jogar com pessoas que eram dois ou três anos mais velhas. E acredito que quando se começa a jogar com caras que são maiores e mais fortes que você, que batem mais forte na bola, você precisa encontrar outros jeitos de ganhar os pontos, porque não pode tentar aguentá-los fisicamente.

E foi aí que comecei a usar coisas como o slice e o drop shot. Precisava de muitas táticas para ganhar meus jogos e acho que essa é uma das minhas vantagens no tênis. Taticamente sempre fui muito bom desde quando era mais novo.

Por que você se tornou um jogador mais forte que seu irmão?

Jamie era excelente quando tinha 13 anos. No ranking de 1986, ele estava logo atrás do (Richard) Gasquet e do Nadal. Ele se mudou pra Londres (com 12 anos) para treinar e odiava ter que ficar longe de casa. Ele ficou com saudade. O treinador com quem estava treinando tentou mudar o jogo dele.

Entre 12 e 14 anos, ele passou de melhor do Reino Unido com folga, e terceiro melhor na Europa, para, não sei, [longo suspiro], para bem abaixo na lista. Essa foi uma das coisas que minha mãe diz que ele aprendeu. Ela não queria que eu fosse embora de casa até que ela tivesse certeza de que estava pronto ou maduro o suficiente para isso.

Foi difícil para você deixar sua família e ir treinar na Espanha?

Não tive tanta saudade, não ligava muito para isso. Estava acostumado a ficar longe dos meus pais por umas duas semanas de vez em quando, e foi se tornando cada vez mais longo conforme ficava mais velho. E quando tinha 15 anos, foi uma decisão difícil de ser tomada porque adorava ficar perto da minha família, mas tinha que fazer isso se quisesse me tornar um bom jogador de tênis. E não gostava muito da escola, então tive que ir embora.

" Adorava ficar perto da minha família, mas tinha que fazer isso (ir treinar em outro país) se quisesse me tornar um bom jogador de tênis "

fotos: Ron C. Angle e Ella Ling/RCA Productions

É importante para você ser identificado como um escocês?

Sou muito patriota; amo a Escócia. Tenho tido um apoio enorme dos escoceses. Passei os primeiros 15 anos da minha vida lá e praticamente toda a minha família, 80% dela, é escocesa. Mas também passei muito tempo na Inglaterra e é lá que treino com o meu técnico. Meus dois treinadores físicos e meu fisioterapeuta são da Inglaterra, minha namorada (Kim Sears) é inglesa, e jogo pela Grã-Betanha. Estou orgulhoso de representar a Grã-Betanha, mas não acredito que alguém realmente consiga esquecer de onde veio.

Você tem que ganhar um Grand Slam em 2009 para esse ser um ano satisfatório?

Acho que não. Não quero colocar tanta pressão em alcançar isso. Acredito que tenho potencial para ganhar este ano, mas é muito difícil e você precisa de um pouco de sorte, acho, para ganhar seu primeiro Grand Slam. É claro que estou chegando perto. Terminei muito bem o ano passado, mas não comecei tão bem, e só quero manter aquela consistência durante o ano todo em vez de ficar instável como estava no começo do ano passado. Os últimos seis ou sete meses foram muito bons e se puder manter isso, vai ser muito bom.

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O que faz você rir?

Assisto bastante aos filmes do Will Farrel e ao seriado "The Office".

A versão britânica ou a da tevê norteamericana?

A versão britânica. Não consigo entender a norte-americana.

" Sou muito patriota; amo a Escócia"

 

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Tom Perrota

Publicado em 27 de Abril de 2009 às 11:04


Perfil/Entrevista

Artigo publicado nesta revista