Muito do que acontece em uma quadra de tênis é invisível
Bolinha para cá, bolinha para lá, bolinha para cá, rede, fora ou winner. O jogador vai calmamente buscar a bola para o próximo ponto, ou então, o pegador lhe manda uma. A bolinha está agora na mão, ou no bolso, mas a cabeça não para. Ele se posiciona para sacar. Acerta um ace, vence o game. Na virada, tem um minuto e meio para beber água e descansar. Sua mente continua funcionando, apesar do corpo largado na cadeira.
Levanta-se, vai agora à posição de recepção de saque. Gira a raquete na mão. Saltita no lugar. Relaxa o tronco e os braços. E então mais um game se inicia.
Durante quanto tempo de uma partida a bola está em jogo? Estudos apontam que do tempo total de uma partida, apenas algo entre 20 e 30% são efetivamente jogados; o restante é o tempo mental da partida (1). É o que acontece de "invisível".
Nesta nova série de instrução da Revista TÊNIS, serão abordados alguns aspectos mentais básicos do jogo. Então, um alerta: colocar estas dicas em prática pode melhorar seus resultados em quadra. Você está preparado psicologicamente?
O jogo interior
Compreensão que leva a uma nova perspectiva competitiva.
De acordo com W. Timothy Gallwey, autor do livro "O Jogo Interior" (2), quando praticamos um esporte competitivo, estamos, na verdade, disputando dois jogos: um com o adversário (que ele chama de jogo externo) e outro consigo mesmo (o jogo interior).
Ao enfrentar um adversário - literalmente, aquele que nos cria as situações adversas - passamos por um processo de autoconhecimento e de autossuperação. Primeiro, autoconhecimento; porque precisamos conhecer todos os recursos que temos para lidar com os desafios que nosso oponente nos cria. Segundo, autossuperação; pois em algum momento de nossa história esportiva enfrentaremos um oponente tão difícil, mas tão difícil que, se quisermos superá-lo um dia, teremos de desenvolver recursos que não tínhamos antes. Este é o processo chamado por Gallwey de "jogo interior".
Olhando por este ponto de vista, podemos encarar nossos adversários como nossos melhores amigos. Quanto mais capaz, habilidoso e treinado ele for, mais precisaremos desenvolver nosso potencial. Captou?
Imagine aquele adversário chato, "garfador" e criador de confusão em quadra que você não quer enfrentar por nada deste mundo. Que qualidades você precisa desenvolver para superá-lo? Paciência? Tranquilidade para manter a educação e chamar um juiz? Assertividade para não permitir que o pai ou técnico dele interfiram no jogo?
Agora pense naquela menina "baloeira", que devolve todas as bolas, que não bate forte uma bola sequer. Será que você precisa desenvolver também a paciência para construir uma oportunidade de ataque? Será que precisa trabalhar em um swing volley para cortar seu tempo e atacar do meio da quadra?
Sim, estes são seus melhores amigos. Eles apontam o que ainda precisa ser melhorado dentro de você, para se tornar o melhor que puder ser.
Grandes rivalidades do tênis são assim. Um puxa o desenvolvimento do outro. A tal ponto que, quando um dos elementos da rivalidade se "aposenta", o outro fica triste e até perde a motivação. Foi assim quando Bjorn Borg parou de jogar (pergunte ao Jimmy Connors), quando Ivan Lendl machucou as costas (John McEnroe ficou chateado...). Imagine se Federer, agora que casou e vai ter um bebê, resolve se aposentar. O que seria da motivação de Nadal? Cartas para a redação!
Neste "Jogo Interior", quando a partida começa, é disparado o cronômetro marcador do tempo que ainda resta para você decifrar seu adversário, seus pontos fortes e fracos. Este cronômetro também marca o tempo para você fazer quantas mudanças táticas forem necessárias para sobrepujar seu oponente. Connors, número um do mundo nos anos 80, costumava dizer a seguinte frase quando era derrotado: "Acabou o tempo e não consegui descobrir uma maneira de vencê-lo hoje. Parabéns."
FAÇA FÁCIL:
1. Se possível, analise seu adversário de antemão e monte um plano de jogo para vencê-lo, de acordo com seus pontos fortes e com os fracos dele.
2. Se o plano não deu certo, depois de cinco games, mude-o.
3. Desenvolva uma atitude de gratidão pelas adversidades. Elas o farão mais forte!
Referências bibliográficas:
(1) Samulsky, D. "Mental Game" - artigo publicado no site E Coach - o site dos professores e treinadores de tênis da International Tennis Federation. (2) Gallwey, W.T. The Inner Game of Tennis. New York: Bantam Books, 1974
Suzana Silva desenvolveu a linha de Raquetes"EZ Wilson" e é diretora da Tote Esporte com Arte. tote@tote.com.br |
Publicado em 5 de Maio de 2009 às 06:05