Até que ponto vale a pena consertar ou aprimorar sua técnica?
O tênis é um jogo de técnicas e movimentos teoricamente simples para um iniciante. Por isso, ao olhar de fora da quadra, um leigo pode ter a impressão de que se trata de um esporte fácil de ser praticado. Mas, o verdadeiro grau de dificuldade da modalidade está nos tempos e espaços, na coordenação motora entre pernas e braços, e na ergonomia - a forma como o corpo humano responde às exigências físicas e psicológicas. Cada um destes fatores precisa ser dominado para a execução de cada "simples" golpe, misturando-se no real grau de dificuldade do jogo de tênis. Estas pequenas complicações, difíceis de entender, são os fatores que realmente transformam uma tímida primeira tentativa de bater na bolinha em uma inevitável sequência de fracassos, impossíveis de serem aceitos e, que se torna, rapidamente, um "desafio pessoal", um "vício".
Na verdade, tudo não passa de uma estranha e ímpar combinação de técnica, atividade física e concentração - que cativam, divertem, "curam" e, aos poucos, invadem a vida das pessoas. Ou melhor, ex-pessoas, já que agora serão "tenistas" para sempre! No entanto, começar a jogar tênis implica em criar mecanismos, muitas vezes próprios e que vão determinar o seu estilo. Sendo assim, até que ponto peculiaridades em sua forma de jogar podem ser considerados "estilo próprio", defeitos ou vícios?
Estilo ou defeito?
Se você entra na quadra e consegue cumprir as regras impostas e implícitas no jogo de tênis, parabéns! Você está jogando tênis. Porém, se todas as vezes que vai para uma partida sai dolorido ou acentua alguma dor repetitiva, atenção! Você pode estar desrespeitando o que chamamos cientificamente de "gesto humano" correto ou positivo. Provavelmente, você deve estar realizando algum movimento nocivo - conhecido por defeito de técnica, erro de execução ou, simplesmente, defeito.
O que são e como adquirimos os defeitos?
Falhas na biomecânica (ou, mais fácil, na "mecânica dos golpes") têm uma causa principal: erro no aprendizado. Eles podem ser causados, basicamente, por:
1- Aprendizado autodidático (sozinho)
Neste caso, a razão é simples. As pessoas não têm condições de executar e, ao mesmo tempo, diagnosticar falhas no movimento, coordenação, equilíbrio e ponto de contato. Nem mesmo jogadores de alto nível, professores e técnicos têm este poder. É sempre necessário um segundo observador para o diagnóstico e correção de um erro.
Errado - o movimento pela frente do corpo reduz o espaço para aceleração e ainda induz a uma parada, comprometendo a potência. |
Correto - o movimento mais longo sincroniza o tempo e gera potência, com a combinação de balanço (swing) do corpo e aceleração. |
2- Abandono precoce das aulas antes de uma assimilação consistente da técnica
A ansiedade em começar a disputar logo as primeiras partidas é o maior motivador do abandono precoce das aulas, quando, provavelmente - embora o professor já tenha permitido ou experimentado algumas execuções de golpes como saques, voleios, smashes ou mesmo backhands -, as pessoas não tenham se aprofundado no domínio técnica. A tendência, no início, é priorizar outros ensinamentos, como o forehand (a direita para os destros), por exemplo. Assim, a maioria das pessoas abandona as aulas com erros de execução ou aprendizado incompleto, ou seja, defeitos.
3- Erro na escolha do professor
Já neste caso, a culpa pode não ser sua. Talvez a comodidade em aprender no seu prédio, casa, clube ou na quadra mais próxima - muitas vezes a mais barata -, pode colocá-lo frente a um professor mal formado ou inexperiente. Em outros casos, o motivo de você entrar na quadra pela primeira vez pode ser pela influência de um amigo ou familiar que você (ou ele mesmo) julgue capaz de ensiná-lo sem a condição técnica mínima necessária.
Qual a diferença entre os erros e como se adquirem?
Terminação errada - o movimento pela frente induz à uma terminação reta. Isso obriga o sacador a travar o movimento para não acertar o próprio corpo. |
Terminação correta - com o movimento mais longo de saque, maior a aceleração e consequentemente maior o espaço necessário para desacelerar o movimento. A melhor terminação é cruzar à frente do corpo com a raquete, deixando que ela desacelere naturalmente. |
1- Memória muscular
Todos possuímos uma memória muscular, que nada mais é do que o armazenamento de tudo o que aprendemos e vimos em termos de movimento em nossa vida. Através dela, são gerados os arco-reflexos (ou só reflexos). Quando uma bola forte vem na direção do seu corpo - como um voleio ou uma devolução de um saque forte, por exemplo -, a contração da musculatura é uma atitude natural que se torna cada vez mais mecânica. Da mesma forma, com o passar do tempo, execuções incorretas repetidas por muitas vezes transformam um erro em algo "natural" para aquela pessoa, configurando o chamamos de vício.
SAQUE
2- Coordenação e adaptações pessoais
A execução de inúmeros movimentos simultâneos de braços, pernas e tronco - sem uma prática proporcional e apropriada -, pode gerar movimentos inadequados ou falhas acentuadas de coordenação. Outro fator preocupante, que também leva às falhas, é a autoadaptação para ajustes de tempo e distância. As consequências são vistas nas posições e gestos dos punhos, joelhos, cotovelos e tornozelos. Estes vícios, sem dúvida, podem gerar problemas no futuro.
3- Falso domínio ou controle da bola
A tentativa de gerar potência, precisão e até efeitos - como side spins e slices, "inventados" para dificultar a ação do companheiro ou adversário - também cria gestos particulares de falso domínio, que podem até não machucar, mas que, no mínimo, vão tornar seus inventores conhecidos como "chatos" e reduzir drasticamente seus parceiros de jogo. O aprimoramento e o frequente uso destas "armas", ou recursos de própria autoria, também conhecemos como vícios.
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VOLEIOS
Errado 1. preparações longas |
Correto - preparações curtas e apoio neutro |
Correto - contato com a bola à frente do corpo e aproveitando a envergadura |
Até que ponto vale a pena corrigir defeitos e vícios?
Como você pode concluir, os erros são falhas de execução e aprendizado. Por sua vez, os vícios são erros gestuais repetidos por inúmeras vezes e que foram gravados na memória muscular.
Os erros são mais fáceis de serem corrigidos. O primeiro passo seria evitar ou consertar uma de suas três causas principais:
1- Abandonar o aprendizado autodidático
2- Voltar ao professor precocemente abandonado
3- Procurar um bom profissional para orientá-lo
Se seus problemas ainda forem apenas erros e falhas, algumas aulas resolverão. Sempre vale a pena corrigi-los ou aprender como acertá-los. Principalmente, porque, se você ou alguém estiver diagnosticando um ou mais erros no seu jogo, você poderá confirmar as alterações na contagem das suas partidas.
Já os vícios são maus hábitos adquiridos com o passar do tempo e levam um bom período para serem esquecidos, corrigidos ou substituídos. Eles são bem mais difíceis e demorados de ajustar, pois nem sempre resultam em erros ou pontos perdidos durante os jogos.
A plástica (ou beleza) do jogo e a probabilidade de problemas físicos "futuros" normalmente não são estímulos suficiente para longos períodos de ajustes técnicos para os "velhos" tenistas.
Crianças ou adultos, quem adquire mais facilmente os erros e vícios? Quem é mais fácil de ser corrigido?
Certamente é mais fácil ensinar crianças do que adultos, por várias razões, e podemos destacar algumas como:
- Aprender naturalmente
Já que falamos de um esporte com uma complexidade motora e de coordenação, alguns movimentos são assimilados mais facilmente por tentativas e execuções, princípio básico e natural do aprendizado infantil.
- Ausência de bloqueios
Adultos costumam pré-estabelecer suas facilidades e dificuldades, são mais conservadores, ousam menos e têm bloqueios como a vergonha e a autocrítica.
- Aprendizado motor
Crianças são mais flexíveis, têm melhor controle motor e mais equilíbrio do que os adultos.
Quando criança, ninguém tem vícios, apenas maus professores.
Quais os erros e defeitos mais freqüentes? Como corrigi-los?
Saque (imagens da página 37)
O movimento de saque é o mais complexo do tênis e a tentativa de facilitá-lo dá origem a um dos mais comuns e característicos defeitos deste golpe: a "levada" da raquete pela frente do corpo, ou seja, a "estilingada".
O saque é o único golpe do tênis que você mesmo prepara e coloca a bola para golpeá-la, não precisando e nem devendo encurtá-lo para se preocupar com o tempo. O movimento deve ser longo e desembaraçado. Quanto mais longo, maior o espaço para aceleração. Realizado da maneira errada, ou seja, fazendo a "estilingada", seu saque ganha menos altura, menor aceleração e efeito errado (gera o under spin, completamente contra-indicado para o saque).
Além disso, este mau hábito costuma acarretar em outros problemas:
- Empunhadura
A "estilingada" normalmente é executada com uma empunhadura Western ou semi-Western.
- Transferência de peso
Como a raquete é movida na frente do corpo, o sacador perde totalmente a potência do giro do tronco, quadril e ombros.
- Terminação
O movimento estilingue normalmente tem uma terminação curta à frente do corpo, causando frequentes raquetadas na canela quando o sacador imprime mais força no golpe.
Correção:
- Comece a treinar o saque levando a raquete pelas costas. No início, "quebre" o movimento em dois tempos.
- Golpeie a bola o mais alto possível
- Exercite a terminação cruzada com a raquete entrando do lado esquerdo (ou direito, para canhotos)
Voleio (imagens na página anterior)
Invariavelmente, os maus voleadores têm movimentos muito longos ou grandes, além de empunhaduras erradas.
Correção:
- Lembre-se que, se você vai à rede, seu objetivo maior é melhorar seus ângulos da quadra e não fazer força. Para fazer força e direcionar bolas para a linha de fundo você não precisa subir à rede
- Encurte o movimento, trabalhando os voleios muito mais como bloqueio do que como um golpe de fundo
- No fundo da quadra, você pode escolher a perna que fica à frente do corpo para bater a bola, alterando seus apoios: neutro, semiaberto ou aberto. Já na rede, os apoios são sempre neutros, ou seja, pernas trocadas (esquerda na frente para o golpe de direita; e perna direita adiante para o voleio de esquerda)
- Realize sempre o "split step" antes de volear
Smash (imagens abaixo)
Os erros mais comuns neste golpe são a preparação da raquete, posição de pernas e empunhadura. O overhead é o golpe de "defesa" contra o lob e as bolas altas. Os lobs, por sua vez, podem ser ofensivos ou defensivos. Ou seja, altos (defensivos) - dando tempo para movimentos longos -, ou baixos e rápidos (ofensivos) - gerando a necessidade de um movimento mais veloz.
Correção:
- Para não ter dois movimentos de smash, use uma preparação mais curta do que no saque
- Procure realizar o overhead com os pés fixos no chão ou com salto "tesoura", sem sobrepassos com a perna de trás
- A melhor empunhadura para os smashes é a Continental. Se você não conseguir usá-la, aproxime-se ao máximo dela, evitando as variações de Western
Errado - o overhead é o golpe de mais difícil posicionamento e ajuste de tempo. Movimentos longos têm uma probabilidade muito grande de erro, por isso, repetir o movimento do saque não é uma boa prática. |
Correto - levar a raquete para o "backswing" por cima do ombro facilita o ajuste de tempo e serve para todas as situações. Contra lobs ofensivos ou defensivos. |
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SMASH
Drives (golpes de fundo)
Pernas, equilíbrio, preparação e terminação. Como já vimos em edições anteriores, bater em movimento - como os profissionais - requer muita técnica e prática, já que existe um movimento para cada situação. Alguns jogadores não conseguem alongar suas batidas e o principal fator é o tempo de contato com a bola, que aumenta a terminação ou alonga o movimento. Lembre-se que, para cada golpe, uma quantidade diferente de efeito é usada, resultado principalmente da terminação.
Correção:
- O maior objetivo deve ser flutuar o mínimo possível, movimentando-se para bater na bola sempre com os pés apoiados no chão
- As preparações devem ser simples, rápidas e desembaraçadas. Uma ótima opção são as preparações curtas ou retas (principalmente para iniciantes) e as preparações em semi-loop. Não se esqueça: a cabeça da raquete guia todo o movimento!
Mude para melhorar
Lembre-se de que a técnica não é apenas a busca para o melhor rendimento em potência e precisão, mas também a forma mais segura fisicamente para atingir estes objetivos. Por isso, por mais que você já jogue bem, se detectar falhas em sua técnica, isso significa que você pode e deve melhorá-la, objetivando evolução na performance e aumentando sua longevidade na prática do tênis.
Se você já é um "cinquentão" e preserva, desde os tempos de juvenil, uma empunhadura Western ou Western extrema, saiba que a sua ergonomia, adaptação aos elementos (piso, bolas, raquetes etc) e às condições, torna-se cada vez mais difícil principalmente com gestos tão antinaturais como os golpes com esse tipo de empunhadura. Neste caso, uma mudança pode evitar ou prevenir lesões, dando mais tempo à sua "carreira", além de certamente melhorar também seu desempenho.
Até profissionais mudam
Uma das maiores tenistas de todos os tempos, Martina Navratilova, voltou à condição de número um do mundo mudando radicalmente seu estilo de jogo de fundo de quadra por um agressivo jogo de saque-e-voleio. Este foi o mesmo tipo de trabalho que a musa Gabriela Sabatini realizou antes de atingir seu melhor ranking. Fernando Meligeni é outro que mudou o seu backhand de duas mãos para uma mão e teve grandes resultados.
Programe seu aperfeiçoamento técnico com um especialista e siga o programa até atingir seu objetivo. Adaptações técnicas, assim como adaptações no seu material, são inteligentes e importantes. Jogue certo, para jogar bem e sempre!
Nos "drives", movimentos simples, sem muitas variações de altura, minimizam as chances de erros. Uma das maneiras mais simples são as preparações curtas ou retas. |
Um pouco mais avançado, mas também eficiente e simples, é o semi-loop. Os apoios de perna neutros também ajudam a diminuir as chances de posições incorretas. |
Publicado em 27 de Abril de 2009 às 14:16
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