Editorial - Edição 130
NÃO TEVE QUEM NÃO TENHA FICADO PASMO DIANTE da derrota brasileira para a Alemanha na Copa do Mundo. É como se, de repente, uma final de Grand Slam, em que todos preveem muito equilíbrio, fosse vencida rapidamente sem que um dos jogadores pudesse esboçar reação. E foi mais ou menos isso o que ocorreu, por exemplo, na decisão feminina de Wimbledon, quando todos aguardavam uma grande partida, mas viram a tcheca Petra Kvitova aniquilar a jovem canadense Eugenie Bouchard.
Então, qual lição levar de uma derrota dessas? Como reagir? No tênis, diferentemente de uma Copa do Mundo de futebol, os grandes torneios se repetem ano a ano. Mais do que isso, semana após semana, há competições de porte para serem jogadas. Então, o tenista precisa se recuperar rapidamente, erguer a cabeça, acreditar em si e voltar a vencer. Do contrário, perderá toda a confiança, começará a cair no ranking e não mais terá a oportunidade de voltar a jogar os principais eventos, onde terá de se provar novamente. Não é tarefa fácil.
No entanto, apesar de a derrota no futebol ter certamente abalado um pouco da confiança nos esportistas brasileiros de modo geral (pois muita gente acha que o futebol é o centro do universo e não existe nada além disso), é preciso olhar em volta e perceber que, nessa depressão pós-Copa, estamos deixando passar coisas boas como, por exemplo, um fato histórico para o nosso tênis: a vitória dos juvenis Marcelo Zormann e Orlando Luz em Wimbledon.
Desde a década de 1960 um brasileiro não levantava um troféu na grama inglesa. A última havia sido ninguém menos que Maria Esther Bueno. Mas, mais do que um fato isolado, podemos dizer que a conquista desses jovens já tem algo de sintomático, pois são garotos de uma geração que está se destacando e prova que há um bom caminho sendo trilhado em nosso tênis. Ainda pode ser incipiente, mas, ao menos, está se revelando aos poucos.
Portanto, se a derrota na Copa servir para que prestemos mais atenção ao esporte em geral, em todas as suas esferas, a lição estará aprendida, pois o tetracampeonato da Alemanha prova a importância do investimento na base e na distribuição mais igualitária de recursos, exemplos que podem se aplicados não só no futebol, mas em todos os esportes, incluindo o tênis, para que eles se desenvolvam cada vez mais e não sobrevivam apenas de talentos esporádicos.
Bom jogo!
Arnaldo Grizzo e Christian Burgos
Publicado em 28 de Julho de 2014 às 00:00