Editorial - Edição 141
Difícil imaginar o que passou pela cabeça de Marcelo Melo em 2006, quando ele tinha apenas 23 anos e precisou tomar uma decisão que definiria o rumo de sua carreira. Naquele momento, ele teria que abrir mão de ser um tenista de simples para se dedicar somente às duplas.
Além de ser uma modalidade de menor prestígio dentro do tênis, era preciso ter quase que plena certeza de sucesso para poder encarar o desafio, pois, nas duplas, além de a premiação ser bastante inferior que nas simples, você ainda precisa dividir a grana com seu parceiro. Ou seja, para se manter no circuito, é preciso ser ainda mais vitorioso do que em simples.
Nove anos depois, a aposta de Melo lhe rendeu o que todo garoto que começa no tênis sonha em conquistar, um Grand Slam. Por mais que seu estilo seja favorecido pelas superfícies mais duras, quis o destino que seu primeiro título de Major ocorresse justamente em Roland Garros, onde 14 anos antes Guga levantou seu terceiro troféu e se consagrou.
Essa vitória de Melo vinha sendo “ensaiada” há algum tempo. Em 2009, ele foi vice nas duplas mistas no Aberto da França. Em 2013, fez final em Wimbledon com Ivan Dodig, chegou a vencer o primeiro set, mas sofreu a virada para os Bryan. No final do ano passado, eles ficaram com o vice no ATP Finals – mais uma vez perdendo para os irmãos norte-americanos. Isso sem contar as vezes em que chegaram às semifinais dos Grand Slams, como no Australian Open deste ano, por exemplo. Ou seja, faltava pouco.
Então, para coroar essa jornada, nada mais apropriado do que conquistar o primeiro título diante da mais temida dupla de todos os tempos, Bob e Mike Bryan. Foi a forra. Com direito a atuações impecáveis e a presença de Guga na primeira fila da arquibancada da quadra Philippe Chatrier. Um título mais do que merecido.
No entanto, devemos apontar que a importante conquista de Melo é “somente” mais uma do tênis brasileiro. Se contarmos apenas os últimos meses, tivemos um título de WTA com Teliana Pereira (em plena ascensão), um de ATP com Thomaz Bellucci (que voltou a jogar seu melhor tênis), sem falar nos títulos do jovem Orlando Luz, que chegou a alcançar o número 1 do ranking juvenil. E há ainda quem ingenuamente (ou maldosamente) diga que o tênis brasileiro vive uma crise.
Nesta edição, portanto, celebramos esse momento espetacular e queremos que você vá para a quadra comemorar as vitórias dos nossos ídolos, mas também as suas próprias.
Bom jogo!
Arnaldo Grizzo e Christian Burgos
Publicado em 24 de Junho de 2015 às 00:00
Brasil volta a vencer em Roland Garros Qual o segredo para derrotar os Bryan?