Veja e aprenda

Em dezembro, nove tenistas top 10 vão mostrar um pouco de suas técnicas no Brasil e você não deve perder a chance de aprender observando o jogo deles de perto


Ron C. Angle/TPL

Quem disse que não se aprende apenas observando? A maioria das coisas que aprendemos em nossas vidas foi por repetição e erro. As crianças aprendem assim. Elas nos veem comendo com colher e logo imitam. Elas nos veem praticando esporte e querem fazer igual. Para elas, basta olhar e tentar imitar. Às vezes funciona direto, às vezes elas precisam de uma ajudazinha extra. Boa parte do nosso processo de aprendizado é baseado em imitação, repetição, tentativa e erro.

Alguns técnicos de tênis, às vezes, cismam em dizer para seus alunos não tentarem imitar seus ídolos. No fundo, eles estão certos, pois cada pessoa tem a sua maneira, a sua forma de jogar baseada obviamente nos fundamentos do esporte. Ou seja, cada um interpreta os golpes a seu modo. Alguns mais semelhantes ao ditos “livros”, outros menos ortodoxos, que às vezes parecem jogar outro esporte e não tênis.

No entanto, os professores de tênis não podem negar que observar e tentar imitar, criteriosamente, algumas das técnicas dos grandes tenistas do mundo pode sim ajudar você a entender melhor o jogo e ajudar a incrementar o seu desempenho em quadra. Há coisas simples que podem ser notadas em uma mera bisbilhotada nas partidas dos gênios da atualidade e que, se você conseguir aplicá-las, vai lhe dar uma vantagem.

Aproveitando que nove tenistas top 10 virão ao Brasil em dezembro para partidas de exibição, a Revista TÊNIS fez uma lista de técnicas e estratégias que esses ícones do esporte costumam utilizar para que você fique atento e tente, depois, reproduzir em seu jogo.

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VICTORIA AZARENKA

A bielorrussa terminou 2012 no topo do ranking depois de vencer o Australian Open logo no começo do ano e ficar com o vice-campeonato no US Open. Ela fez grandes jogos contra Serena Williams e Maria Sharapova, suas principais rivais nessa temporada. No Brasil, ela reeditará a final do US Open contra Serena. O que podemos depreender do jogo dela?

- Paz de espírito e boa saúde. Para muitos, basta isso para estar bem. Para Vicka, também. Desde que ela deu um jeito em sua vida, começou a vencer e com uma regularidade que a levou ao número um. Ou seja, um bom momento fora de quadra ajuda muito também dentro da quadra.

- Seu adversário tem golpes mais potentes do que você, e agora? Repare como Azarenka, apesar dos golpes sólidos, é capaz de mudar a direção da bola sempre que percebe que sua oponente está prestes a dominar o rali. Não é fácil fazer isso durante uma troca de bola pesada, mas, se conseguir, você terá sempre vantagem.

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ROGER FEDERER

Será a primeira vez no Brasil daquele que é considerado o maior tenista de todos os tempos. Federer é capaz de arrastar multidões por onde passa, muito por seu carisma, mas grande parte também por sua técnica impecável. Alguns pontos que valem ser observados são:

- Alguns dizem que Federer é blasé e por isso não gostam dele. Ok, admitamos, às vezes o suíço parece mesmo pouco se importar com o que está acontecendo, porém, meus caros, um aviso, isso é uma tática. Ao não demonstrar emoções em quadra, ao estar sempre mantendo uma mesma fisionomia, ele também não entrega seus sentimentos para o rival, que nunca sabe se Federer está incomodado com algo ou não.

- Vendo poucos pontos quase não se nota, mas, ao assistir a um jogo completo, você sentirá o quanto o aspecto tático é importante para Federer. Muita gente acha que ele, por ser tão habilidoso, se dá ao luxo de não pensar nas jogadas que faz. Porém, ele é um verdadeiro “relógio suíço” quando se trata de aplicar uma estratégia. Seus saques são sempre calculados e os pontos importantes sempre jogados de forma impecável, buscando uma vantagem sobre o oponente.

- Há muita coisa para se ver no jogo do suíço, mas se quiser se focar em um aspecto só, repare no movimento de saque. Perceba como ele é todo sincronizado, sem pressa, desde o lançamento da bola no toss até o arco da raquete nas costas, as pernas flexionadas e a inércia do corpo para cima e para frente. Enfim, uma aula. Tente imitar e terá um saque excepcional.

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SERENA WILLIAMS

Há alguns anos, os especialistas em tênis feminino tendem a dividir a temporada entre a líder do ranking “de fato” e a líder “de direito”. Neste ano, mais uma vez isso aconteceu. Azarenka terminou em primeiro (de fato), porém, Serena novamente merece o principal destaque depois de vencer dois Grand Slams e o Masters de fim de ano. Seu jogo “imbatível” traz coisas notórias:

- Se você se vê diante de um adversário mais fraco, cujos golpes não lhe assustam, o que faz? Dê uma de Serena, parta para cima, pressione, seja agressiva o tempo todo. Isso vai intimidar o rival ainda mais e talvez lhe dar pontos grátis.

- Você percebe que é melhor do que o oponente, mas ainda assim o jogo pode enrolar? Dê uma de Serena novamente e não permita que o tenista do outro lado da quadra ganhe ritmo trocando bolas. Parta para a definição sempre que encontrar uma brecha. Acredite em seu jogo.

- Veja como Serena espera o segundo saque das adversárias. Muito dentro da quadra. Experimente isso você também. Encurte seu movimento e monte no segundo saque mais fraco do oponente para fazer winners de devolução ou então forçar erros.

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DAVID FERRER

O espanhol é o maior exemplo de que é preciso sempre lutar para alcançar seus objetivos. Não importa o tempo que demore. Uma hora eles virão. E, para David Ferrer, eles vieram bem tarde, já quase com 30 anos de idade. Contudo, não é só a persistência que faz dele um top 10. Veja o que apreciar em seu jogo:

- Você não tem um grande saque? É um problema, não? Mesmo entre amadores, não ter um bom saque para poder dominar o ponto logo de saída, é desalentador. O que fazer? Trabalhar na devolução. Nesse fundamento, Ferrer é um gênio. Fique reparando em suas táticas e técnicas de devolução. Observe como ele se posiciona nos primeiros e segundos serviços do adversário. Perceba que, no início, ele ainda está estudando, mas logo um padrão é formado. Note também que ele raramente arrisca as devoluções, colocando o maior número de bolas possível de volta na quadra adversária. Se você também fizer isso, terá sucesso.

- Você não tem grandes golpes? Não consegue definir muitas jogadas? Então fique atento ao que o espanhol faz. Repare como ele evita bolas arriscadas. Joga sempre com segurança. Busca minar o oponente com consistência. Pode parecer um jogo medroso, mas, acredite, é eficiente.

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MARIA SHARAPOVA

Esta não será a primeira vez de Maria Sharapova no Brasil. Em 2009, a russa fez uma partida exibição contra Gisela Dulko para promover um empreendimento imobiliário no interior de São Paulo. Não foram vendidos ingressos e poucos puderam ver a musa de perto. Agora, mais gente poderá avaliar seus dotes:

- Os trejeitos de Sharapova são conhecidos mundialmente. Seu ritual (alguns diriam mania) pré-saque é o mais notório e já chegou a ser satirizado por muita gente. Porém, repare que a moça sempre repete, sempre igual, sem se abalar. Por quê? Acredite, esses rituais são importantes. É o momento de respirar, pensar no jogo, na estratégia do próximo ponto e, por fim, executar. Portanto, tenha os seus rituais você também.

- Você gosta de jogar distribuindo pancada do fundo de quadra? Fazer winners e fazer o adversário correr? Então tente imitar a russa. Perceba como ela joga bastante próximo da linha de fundo, pegando a bola a maioria das vezes na subida, sem amaciar, ditando os pontos. Faça com que o oponente jogue sob os seus termos.

- Se você não é muito “íntimo” do jogo de rede, que tal experimentar a técnica de swing volley, o dito “voleio batido”. Sharapova é mestra nessa arte. Você perceberá que toda vez que a bola encurta um pouco e flutua, a russa avança em direção à rede e, do meio para a frente da quadra, faz esse swing volley sem deixar a bola quicar, sem dar tempo de a adversária cobrir a quadra.

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JO-WILFRIED TSONGA

O francês certamente tem o jogo mais “espetaculoso” dos top 10. Assistir a uma partida sua sempre traz algo de singular, sempre com jogadas inesperadas, sempre com uma novidade, sempre um sorriso. Portanto, vale aprender algumas coisas com seu estilo inovador:

- Se há uma coisa que você nunca verá em uma partida de Tsonga é passividade por parte dele. Ele é um tenista agressivo por natureza. Ele ataca, ele arrisca, ele toma atitude. Isso demonstra confiança em si mesmo e impõe respeito sobre o adversário. Vale a pena tentar ser como ele às vezes.

- Você tem bons golpes de fundo, costuma ter domínio dos ralis, mas tem medo de definir o ponto na rede? Amigo, vá ver o francês jogar e tente imitá-lo. Ele sabe que, com a velocidade do jogo atual, há muitos riscos em ir para a rede, mas, ao fazer isso, você também está surpreendendo e pressionando seu rival. Repare que, apesar de Tsonga ter uma excelente técnica de voleio, sua principal astúcia à rede não é necessariamente a técnica, mas apenas o fato de estar lá e colocar a raquete na bola, bloqueando-a. Com o tempo, se você for à rede com frequência, aprenderá a jogar com bate-pronto e perceberá que executar um bom voleio não é tão complicado assim.

- Marasmo, mesmice. Há quem vença partidas pela constância. Não é o caso de Tsonga. Repare que ele sempre está inventando algo. Ele sempre tenta um golpe diferente. Ele sempre busca uma jogada pouco convencional. Às vezes funciona, outras vezes não. Mas, ainda assim ele tenta, sem medo, sabedor de que não deve deixar seu oponente confortável nos ralis.

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CAROLINE WOZNIACKI

O reinado de “Carô” já foi amplamente questionado. A loirinha linda se tornou número um do mundo sem ter vencido um Grand Slam e deixou o posto também sem ter ganhado. Seu jogo, porém, não é tão frágil quanto a maioria dos críticos costuma dizer e há o que valorizar:

- Quantas bolas durante uma partida você dá por perdidas? Não estamos falando das que são isoladas sobre o alambrado. Estamos falando das que seu adversário tem domínio do ponto e estão praticamente mortas, portanto, você sequer se dá ao trabalho de tentar correr para respondê-las. Para a dinamarquesa, isso simplesmente não existe. Não há bola morta. Por mais improvável que seja ganhar o ponto, ela corre e joga a bola do outro lado da melhor forma possível, fazendo a oponente bater mais uma vez. Dessa forma, cansa a mente rival e pode também ganhar alguns pontos “perdidos”.

- Quando você não tem golpes muito potentes, porém, mesmo assim quer ter domínio dos ralis, o que faz? Faça como Wozniacki, fique o mais perto possível da linha de base, pegue as bolas sempre na subida (quase de bate-pronto), aproveitando ao máximo a força do oponente.

- Se você não tem um grande saque e nem grandes golpes, isso significa que seu estado de alerta precisa estar sempre no máximo. Repare como Caroline tão logo executa o saque, já está pronta para se defender ou atacar, dependendo da resposta adversária. Ou seja, não espere para ver o que vai acontecer, esteja sempre preparado.

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BOB E MIKE BRYAN

Assistir a uma partida da melhor dupla do mundo, senão da história, é uma verdadeira aula de tênis nessa modalidade. Então, se você gosta de jogar duplas, vale a pena observá-los de perto e ficar atento a alguns pontos especiais:

- Comunicação. Repare como os gêmeos norte-americanos se entendem perfeitamente. Eles estão sempre conversando e trocando informações por sinais.

- Note como eles “atacam” todas as bolas e estão sempre se mexendo, especialmente o tenista que está na rede, sempre tentando arrumar uma maneira de interceptar e definir o ponto no voleio.

- Uma das consequências de uma boa comunicação é uma boa tática, e duplas é uma modalidade bastante tática e estratégica. Perceba como os Bryan têm uma tática definida para cada ponto, cada game, cada set. Tente reparar nos padrões e na frequência com que eles executam determinadas jogadas. Para quem está simplesmente assistindo, às vezes isso passa despercebido.

Arnaldo Grizzo

Publicado em 16 de Novembro de 2012 às 15:35


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Artigo publicado nesta revista