Especial Copa Davis
Em 2014, o Brasil retoma seu caminho para voltar à elite na Copa Davis e o cap. João Zwetsch admite a chance de renovar gradualmente o grupo. Quem pode entrar? Confira os palpites dos especialistas e perfis dos tenistas mais cotados para ingressar no time
QUANDO GUSTAVO KUERTEN ERA o temido número 1 e inflamava a torcida brasileira nos duelos em casa pela Copa Davis, o Brasil conseguiu se manter na elite do torneio até 2003. Mas, a partir do momento em que Guga não pôde mais competir em sua melhor forma, a saída foi apostar nos novos talentos em busca de renovação.
Em 2007, no confronto diante da Áustria, pelos Playoffs do Grupo Mundial, o jovem Thomaz Bellucci foi escalado de última hora, já que Flávio Saretta, nosso número 1 na época, foi cortado por lesão. E por mais que a vitória não tenha vindo naquele ano, o canhoto ganhou espaço em todas as convocações posteriores, subiu no ranking e sempre foi apontado como esperança real de ponto nos jogos de simples. Nossas opções para número 2, contudo, sempre oscilaram conforme o piso, e quem preencheu a vaga, mesmo que não tivesse o mesmo potencial de Bellucci, não deixou a desejar, com garra e superação.
Só que, em 2013, nossos melhores simplistas não tiveram tanta sorte, principalmente Bellucci, que sofreu com problemas físicos e falta de confiança, e não conseguimos vencer no retorno ao Grupo Mundial. Na próxima temporada, jogaremos o Zonal Americano e recomeçaremos o processo para voltar à elite.
Por isso, neste momento de reflexão, a Revista TÊNIS conversou com vários especialistas para compreender o panorama atual do tênis brasileiro e se olhar para os mais jovens é a melhor atitude a se fazer agora. O próprio João Zwetsch, capitão da equipe, é à favor de dar mais espaço aos garotos, mas de forma gradual, para que venham a alavancar suas carreiras a partir da experiência de defender sua bandeira.
“Tenho uma ideia muito forte em começar a levar esses garotos para jogar a Copa Davis. Gostaria de proporcionar a eles essa experiência tão interessante e diferente, mas no momento certo”, diz o capitão João Zwetsch
Jogar uma Copa Davis é uma missão que nem todo atleta tem o privilégio de viver na carreira. Ao mesmo tempo em que ele tem uma das únicas chances na temporada de atuar em equipe, por outro lado seu desempenho atinge proporções gigantescas e a pressão sempre o acompanha em quadra – da torcida, dos próprios companheiros ou da mídia.
Por isso, cabe ao capitão escolher os atletas mais preparados. Emilio Sanchez, ex-capitão da equipe espanhola campeã em 2008, afirma que sempre acreditou em jogar um confronto com os melhores à disposição, portanto, testar novatos não é a decisão mais oportuna se não acontecer no momento adequado. “Para mim, não tem conversa. A Copa Davis é [um torneio] para que joguem os melhores e cabe ao capitão escolhê-los. Não é uma ocasião para fazer testes. Os vários torneios do circuito estão aí para provar quem é competitivo e quem não é”, declara o ex-tenista, que trabalhou como coordenador técnico da Confederação Brasileira de Tênis (CBT) até o ano passado.
Em 2013, João Zwetsch contou com Bellucci em simples e Marcelo Melo e Bruno Soares para as duplas nas séries contra Estados Unidos e Alemanha, alternando Thiago Alves e Rogério Dutra Silva na segunda vaga. Na opinião do jornalista Giuliander Carpes, o rebaixamento para o Zonal reflete o atual momento do tênis brasileiro, que, apesar do ótimo desempenho nas duplas, amarga fracos resultados nas simples, principalmente os de Bellucci. “O Brasil é muito dependente do Thomaz e, como ele está tendo um ano ruim, isso acabou influenciando no desempenho da equipe ao longo do ano. E ainda não temos um número 2 muito confiável. O Rogerinho passou por uma lesão, o Thiago Alves, que jogou muito bem contra os Estados Unidos, não teve um ano consistente, e o Feijão nunca conseguiu se firmar na equipe”, comenta o repórter do UOL, que reconhece: “Mas por pior que esteja a fase do Bellucci, ainda não há ninguém à altura para substituí-lo”.
Partindo do mesmo ponto de vista, José Nilton Dalcim crê que o canhoto pode ser peça fundamental para guiar um novo integrante no elenco devido à experiência de já ter enfrentado os melhores jogadores do mundo. “É muito arriscado colocar um jogador totalmente inexperiente numa Davis, porque a pressão pode estragá-lo. Aconteceu isso com Bellucci, que demorou bastante para adquirir o espírito de Copa Davis. Então, para encaixar um novo jogador no time, o ideal é que ele tenha a ajuda de um número 1 experiente, que garanta o ponto, no caso do Bellucci, para que ele não venha a sentir tanto a responsabilidade”, opina o editor do site TenisBrasil.
SacrifíciosNa Copa Davis, o capitão tem até o sorteio dos jogos – costumeiramente realizado na quinta-feira – para definir os titulares para uma eliminatória. Portanto, uma vez que ele indique os seus escolhidos, não poderá incluir mais reservas ao longo dos três dias de disputa. Desde 2008, o Brasil passou a jogar com uma dupla fixa – primeiro com Marcelo Melo e André Sá e, desde 2010, com Melo e Bruno Soares. A exceção aconteceu na série contra o Uruguai pelo Zonal de 2011, em que Zwetsch convocou apenas Soares como duplista nato e três jogadores de simples – Bellucci, Rogerinho e Feijão. Em Montevidéu, Bellucci acabou jogando suas partidas individuais e formou a dupla com Bruno no sábado. A ausência de outro duplista, consequentemente, “permitiu” que o capitão brasileiro pudesse trabalhar com mais opções para os jogos de simples. Mas com o sucesso das duplas no Brasil, liderado por Melo e Soares – hoje tops 10 do ranking mundial –, Zwetsch optou por manter o par fixo no time, e assim suas possibilidades para as simples ficaram mais restritas. Alexandre Cossenza, colunista do site Globoesporte.com, enxerga isso como obstáculo para a inserção de novos jogadores nas simples. “Não sei se há algum momento ideal para testar um novo jogador. O ideal é que você coloque o garoto no quarto ou quinto pontos, já com o confronto definido. Só que o Brasil tem o ‘problema’ de ter uma dupla muito boa, então impede ao capitão de ficar com um terceiro nome para as simples. O time brasileiro vem jogando com uma dupla fixa desde 2008 e ela acaba, de certa forma, impedindo uma renovação”. Na repescagem contra a Alemanha, para exemplificar, Bellucci sofreu com uma tendinite no ombro direito após o primeiro dia de jogos, porém como Zwetsch tinha optado pela dupla de Melo e Soares, caberia ao canhoto jogar a última partida no sacrifício ou um dos duplistas entraria em seu lugar. E mesmo que as duplas estejam nos dando importantes pontos na Copa Davis, Soares reconhece que não é fácil para o capitão tomar a decisão de manter dois jogadores de duplas no time, uma vez que, dos cinco pontos, quatro vêm dos jogos individuais. “Por nossa dupla ser muito forte, fica difícil que nosso time leve três, quatro simplistas para um confronto. Por exemplo, se jogamos contra a Grã-Bretanha e enfrentamos o Murray no primeiro dia, podemos colocar um jogador mais novo para pegar mais experiência. Já no terceiro dia, tem o número 2 deles, não tão complicado como o Murray, e por isso o capitão pode pensar numa escolha mais conservadora. Mas como jogamos geralmente com uma dupla fixa, precisamos de dois jogadores de simples que possam aguentar o final de semana inteiro”, encerra o mineiro. |
Em abril de 2014, o Brasil enfrentará, em sua estreia no Zonal das Américas, o vencedor do confronto entre Venezuela e Equador. Fábio Aleixo, repórter do jornal Lance, duvida que algum dos adversários será grande ameaça para o time de Zwetsch (nem Venezuela, tampouco Equador possuem representantes dentro do top 200) e, dessa forma, seria um ótimo momento para o capitão selecionar um novato para o grupo. “O Zonal pode ser um bom momento para testar um novo jogador, para que ele ganhe ‘cancha’, e vá se acostumando com o clima de Copa Davis. Porque, mesmo se ele perder os seus dois jogos, possivelmente o Brasil ainda vai sair com a vitória. Não adianta jogá-lo num Play-off, ou primeira rodada de Grupo Mundial, em que ele precisa vencer o jogo. É um risco muito grande de queimar um jogador que pode agregar bastante no futuro”, explica.
Destaque do País em 2013 nas duplas, Bruno Soares emenda: “Se, de repente, vemos que o nosso eventual número 1 tem grandes chances de ganhar, não vejo o porquê de não testarmos o garoto”. O vice-campeão do US Open cita que o novato também não sairia prejudicado caso enfrentasse algum grande ídolo, como Novak Djokovic, Rafael Nadal ou Roger Federer. Nessa situação, o resultado é o que menos importa para o jovem tenista, que ganha motivação por poder jogar o seu melhor sem tanta cobrança. “Às vezes, o confronto é contra o Federer na Suíça. Qual a real chance do menino ganhar dele? Pouquíssimas. O mesmo acontecendo contra o Djokovic. Daí pode ser bacana colocar o menino para jogar mais solto, para adquirir mais experiência”, continua o número 3 do mundo.
Dalcim, por sua vez, expõe o argumento de que trazer novas peças à equipe deve visar também a uma maior versatilidade do time, o qual encontra muitas dificuldades para jogar fora das quadras mais lentas. “Continuamos dependentes de jogar no saibro. Sempre temos três ou quatro opções para jogar na terra, mas quando o confronto vai para a quadra rápida são poucas opções. O João precisaria ter um leque maior de jogadores que não sintam a dificuldade dessa transição do saibro para o piso rápido, porque acabamos ficando dependentes de um só jogador ou de uma só superfície”.
Um dos jogadores brasileiros mais promissores da nova geração e que se aproxima do top 150 do ranking é Guilherme Clezar, pupilo de Zwetsch. Com 20 anos, o gaúcho conquistou Challengers em diferentes pisos, sendo um na quadra rápida de Campos do Jordão na temporada passada e o outro no saibro de Campinas, em agosto. Tais resultados fazem Dalcim pender para o lado de Clezar como favorito à nova vaga na equipe brasileira. “Tenho quase certeza que o João vai arriscar com o Clezar, porque conhece o jeito que ele joga, já ganhou torneios na quadra rápida e no saibro, é um nome em que ele pode confiar um pouco mais. Copa Davis é jogo de cinco sets, exige do físico e do mental e, nessas horas, fala mais alto conhecer pessoalmente o jogador, como acontece com o João e o Clezar”.
O chileno Patricio de La Barra também se posiciona a favor do comandado de Zwetsch, porém evita levantar muitas expectativas sobre o gaúcho, já que o torcedor brasileiro, segundo as palavras do jornalista, “é imediatista” e pode não ter a paciência necessária com o atleta. “Vejo que o brasileiro é de momento, porque quando o jogador está numa ascendente, todos vão em cima, a exigência é muito grande. Mas quando não está jogando bem, ele é vaiado, criticado duramente na imprensa. Ninguém mais respeita que ele possa não estar no seu melhor momento.
“A Copa Davis é [um torneio] para que joguem os melhores e cabe ao capitão escolhê-los. Não é uma ocasião para fazer testes. Mudar tudo para ficar mais vulnerável não é a solução. Deve-se trabalhar para que os jovens consigam ter nível para poder jogar”, acredita Emilio Sanchez
“Continuamos dependentes de jogar no saibro. O João precisaria ter um leque maior de jogadores que não sintam a dificuldade dessa transição do saibro para o piso rápido”, diz José Nilton Dalcim
ApostasDiante da possibilidade de novas caras entrarem na escalação de Zwetsch, vários jornalistas opinaram sobre quem estaria merecendo uma chance para nos representar na Copa Davis em um futuro próximo. A maioria reforçou a importância da manutenção de Bellucci, então apresentamos uma lista dos jogadores que poderiam completar a outra vaga de simples no elenco brasileiro. |
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1º) GUILHERME CLEZAR – 5 VOTOS |
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2º) THIAGO MONTEIRO – 2 VOTOS |
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3º) TIAGO FERNANDES - 1 VOTO |
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3º) BRUNO SANT’ANNA - 1 VOTO |
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3º) HENRIQUE CUNHA - 1 VOTO |
“Como jogamos geralmente com uma dupla fixa, precisamos de dois jogadores de simples que possam aguentar o final de semana inteiro”, aponta Bruno Soares
Brasileiro é oito ou 80”, reconhece o repórter da Rádio Cooperativa do Chile.
Outro talento da nova safra que já passou a transição do juvenil e encontra confiança no circuito é Thiago Monteiro, revelação de 19 anos comandado por Larri Passos. No primeiro semestre, o garoto cearense mostrou maturidade ao se arriscar nos torneios pela Europa e voltou com dois títulos da Turquia. Dalcim também aponta para o garoto na mira de Zwetsch, por mais que veja Clezar como primeira opção. “O Thiago vem jogando muito bem nos Challengers e é um bom nome, mas ainda não tem a bagagem do Clezar. Se o João optasse pelo Thiago, seria muito mais arriscado, porque ele é orientado por outro técnico, tem outra linguagem e o João teria que adaptá-lo ao time, coisa que não aconteceria com o Clezar”, revela.
Ter duas opções, Clezar e Monteiro, pode ser a alternativa para uma evolução no time do Brasil. Patricio de La Barra crê nessa sentença e compara a realidade do tênis brasileiro com a do seu país, rebaixado ao Zonal II (equivalente à terceira divisão). Ao contrário da última década, quando foi liderado por Fernando Gonzalez e Nicolas Massú em seus momentos de glória, o Chile se vê hoje forçado a recorrer a jovens da base, quase todos inexperientes, devido à falta de jogadores competitivos. Por conta disso, o jornalista lembra que a situação brasileira não é sinônimo de desespero como acontece em sua nação. “A diferença entre o tênis do Brasil e do Chile é que estamos no fundo do poço. O time chileno ficou sem ninguém capaz de enfrentar os melhores times da América do Sul, então somos obrigados a apostar nos mais novos, em Christian Garín, Bastian Malla e outros. Já o Brasil ainda tem uma boa dupla e o Bellucci, em um momento de inspiração, pode ganhar de qualquer um. O País tem potencial, só tem que ir incorporando, aos poucos, os jogadores mais novos”.
Emilio Sanchez acredita que dar oportunidade aos mais jovens só vira opção quando tiverem nível para competirem na Copa Davis, mas também nega que o Brasil tenha que alterar todo o planejamento de seu time em 2014 apenas pelo regresso ao Zonal. “Mudar tudo para ficar mais vulnerável não é a solução. Nesses momentos, a força e segurança do Brasil estão na dupla e em Bellucci, portanto tirar os pontos que são seguros não é certo. O que o Brasil precisa é trabalhar para voltar a ter uma equipe mais completa, como na época de Guga, Meligeni, Saretta, Sá. Deve-se trabalhar para que os jovens consigam ter nível para poder jogar”.
Ciente do atual momento do pupilo Clezar e da evolução de Monteiro e outros talentos da nova geração, Zwetsch mantém a calma habitual de quem já está à frente do País na Copa Davis há mais de três anos. Sem pestanejar, o capitão brasileiro vê, sim, a aproximação do momento ideal para contar com novas armas para seu esquadrão, porém sabe que uma decisão errada pode comprometer todo o trabalho. “Tenho uma ideia muito forte em começar a levar esses garotos para jogar a Copa Davis. Gostaria de proporcionar a eles essa experiência tão interessante e diferente, mas no momento certo. Os dois [Clezar e Monteiro] estão perto disso. Eles já estão vencendo jogadores que disputam o Zonal da Copa Davis, então a possibilidade de incorporá-los ao nosso time está cada vez mais próxima”.
Publicado em 23 de Outubro de 2013 às 00:00
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