Kimiko Date

Resistência feminina

A japonesa Kimiko Date Krumm mostra como é possível se manter no tênis mesmo depois dos 40


Ron C. Angle/TPL

AINDA NO PRIMEIRO DIA do qualifying, a movimentação é lenta nos bastidores em Florianópolis, as lojas são abertas, as quadras recebem os últimos preparativos e, enquanto isso, uma baixinha oriental caminha até a seção de credenciais com uma bolsa de gelo nos dois calcanhares. Quem se aproxima vê o nome Kimiko no pedaço de plástico. Com pernas e braços magros, mas ao mesmo tempo definidos, estipula-se uns trinta anos para a "guria" numa roda entre amigos desavisados.

Pesquisando no site da WTA, descobre-se que a idade da mulher é, para ser mais exato, 42 anos. Mais adiante, não demora-se muito para perceber que a japonesa é a mulher mais velha em atividade no circuito. E que físico. Ela impressiona a todos com sua preparação e, ao longo da disputa do Brasil Tennis Cup, procurou-se conhecer os truques de quem desafia os limites do tempo e do corpo.

Aos 42 anos, tenista japonesa é admirada pelas colegas por sua longevidade

PANELA VELHA

Natural de Kyoto, Kimiko Date Krumm começou a jogar profissionalmente em 1989 e chegou a ser número 4 do mundo seis anos depois. No entanto, a pressão da mídia local e o cansaço mental e físico foram determinantes para que a japonesa optasse pela aposentadoria precoce aos 26.

Depois disso, foram 12 anos sabáticos em que ela fez várias atividades, entre elas correr a maratona de Londres em 2004 e também comentar os Grand Slams em um canal japonês. O novo contato com o tênis fez com que Kimiko decidisse jogar o circuito novamente, mesmo estando com 38 anos.

Desde então, a nipônica vem sendo exemplo do quanto o aspecto físico se tornou primordial para as melhores jogadoras do circuito. Para ela, com idade "avançada", é necessário tomar alguns cuidados que não eram requisitos quando era "uma menina". "Não é fácil voltar a treinar. Até quando se é jovem é duro treinar. No meu caso, mais complicado ainda. Depois das partidas, fico muito cansada. No dia seguinte, está tudo dolorido, mas tento fazer o máximo para melhorar. Tento dormir bastante, geralmente durmo antes das 22h, bebo muita água, como alimentos saudáveis. É claro que preciso fazer exercícios, mas não em quantidade exagerada porque daí fico mais cansada", explica.

Ron C. Angle/TPL

Acho que é uma das jogadoras mais preparadas do circuito e que ainda continua mantendo um bom nível de tênis. É uma inspiração para todas", declara Flipkens

SEGREDOS

Outro fator desafiador, segundo Kimiko, é encontrar o equilíbrio ideal para a exigência física do corpo no dia a dia, para que não venha a trazer problemas de lesão nas articulações e músculos. "É complicado manter meu físico com a minha idade. Se fizer muitos exercícios como fazia quando era mais jovem, quando tinha 20 anos, é demais para mim. Mas se não fizer, perco terreno para as tenistas mais fortes. Então, é muito difícil equilibrar todos esses fatores na balança", opina a japonesa.

A romena Monica Niculescu, campeã em Floripa, afirma que é impressionante o trabalho de pernas que a japonesa realiza no pré-jogo. "Nessa idade, ela está maravilhosa. Você precisa ver como ela se aquece antes do jogo, faz um treino de 45 minutos. É tão bom vê-la jogar tão rápido, bater tenistas top 30, top 50 e jogar três sets contra Venus como ela fez em Wimbledon (perdeu por 8/6 no terceiro set). Não sei como ela consegue. Se ela permanecer saudável, chuto ainda uns três anos a mais para ela. Ela parece melhor do que quando era jovem", opina.

A belga Kirsten Flipkens, outra que cita o físico como metade do sucesso do atleta no tênis, corrobora a versão de Niculescu, citando Kimiko como um espelho para as demais. "Os jogos estão cada vez mais longos, os ralis mais longos, as rivais mais fortes, acho que você deve estar muito bem fisicamente e a maneira que Kimiko faz isso é incrível. Ela tem mais de 40 anos e ainda está dando 100%, ela está em forma. Acho que é uma das jogadoras mais preparadas do circuito e que ainda continua mantendo um bom nível de tênis. É uma inspiração para todas", declara.

Kimiko deve prosseguir em sua saga derrubando tabus (veja alguns no quadro) no circuito e, no que depender das adversárias, ela tem ainda muita "gordura" para queimar.

ALGUNS FEITOS DE KIMIKO DESDE SUA VOLTA AO CIRCUITO EM 2008:

  • Jogadora mais velha a vencer uma top 10 (bateu Samantha Stosur em Osaka 2010 com 40 anos e 17 dias);
  • Nove vitórias sobre tenistas entre as 20 melhores do mundo;
  • Segunda jogadora mais velha a conquistar um título de WTA (Seul 2009 com 38 anos, 11 meses e 30 dias, a recordista é a norte-americana Billie Jean King com 39 anos, sete meses e 23 dias em Birmingham 1983);
  • A mais velha a ingressar no top 50 desde Billie Jean King, com 40 anos, em março de 1984 (Date Krumm voltou ao top 50 em agosto de 2010);
  • Quinta mais velha (aos 42 anos e 109 dias) a vencer uma rodada de Grand Slam - a mais velha é a norte-americana Martina Navratilova, aos 47 anos e 235 dias.
Matheus Martins Fontes

Publicado em 21 de Março de 2013 às 09:20


Perfil/Entrevista

Artigo publicado nesta revista

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