A vitória do Brasil sobre a Colômbia em Sorocaba serviu para confirmar a renovação do time e redimir Marcos Daniel. No entanto, agora a equipe encara a Croácia na tentativa de uma vaga no Grupo Mundial
CALOR INFERNAL. PARTIDA ACIRRADA . Tenistas nervosos. De repente, cãibras. Um jogador cai na quadra. A torcida fica tensa. Capitão e médicos vêm para socorrê-lo. Ele levanta, mas não é capaz de continuar. Seus músculos não respondem mais. Há quatro anos, Marcos Daniel vivia esta cena. Ele abria o confronto entre Brasil e Paraguai, contra Francisco Rodriguez. Número um do time brasileiro após o boicote dos principais jogadores contra a gestão de Nélson Nástas à frente da CBT, o gaúcho deveria vencer um adversário bastante limitado e dar o primeiro (e decisivo) ponto à equipe. Porém, no início do quarto set, com 2 sets a 1 de vantagem, Daniel sucumbiu às cãibras. E, durante bom tempo, esta derrota dramática o perseguiu. Depois disso, o gaúcho só voltou à Copa Davis em 2006, para jogar duplas ao lado de André Sá contra os equatorianos. Agora, em abril, Daniel teve uma nova chance de liderar o time brasileiro. Novamente número um do time, desta vez com todos os méritos, esperava-se que ele vencesse suas partidas e desse tranqüilidade ao jovem Thomaz Bellucci, bom, mas ainda inexperiente. #R#
No primeiro dia em Sorocaba, Daniel presenciou a mesma cena que vivera há quatro anos. Entretanto, desta vez foi Bellucci que, após ganhar os dois primeiros sets, começou a sentir cãibras, caiu na quadra e levou a virada de Santiago Giraldo, para desespero da torcida. Era a vez de o gaúcho provar a que veio, derrotar Juan Sebastian Cabal e empatar o confronto. Mas a tensão nem chegou a bater já que logo no primeiro game da partida o colombiano torceu o pé. Cabal ainda tentou algo até o fim do segundo set, quando percebeu que não tinha condições.
Com a dupla Sá e Marcelo Melo marcando, com a tranqüilidade esperada diante de uma fraca parceria colombiana, 2 a 1 em jogos para o Brasil, Daniel voltaria à quadra no último dia para confirmar seu favoritismo diante de Giraldo e encerrar o confronto, livrando Bellucci do peso de decidir. Eles já haviam se enfrentado seis vezes, com cinco vitórias do brasileiro. Apesar de partidas sempre muito disputadas, não é de estranhar que o gaúcho leve tamanha vantagem. O colombiano, de 20 anos, apresenta sérias falhas em seu jogo. Um segundo saque extremamente limitado e a total inconsistência ao bater bolas na corrida, além de um emocional bastante instável, fazem dele um prato cheio para o bom trabalho tático de Daniel.
CÃIBRAS
Com isso, o brasileiro venceu os dois primeiros sets. No entanto, com "estômago embrulhado", segundo afirmou após a partida, o gaúcho tinha altos e baixos. Após perder um match-point aparentemente fácil no tiebreak da terceira parcial, o vulto do fantasma paraguaio tomava forma. O quarto set foi tenso e o brasileiro passava a impressão de estar bastante desgastado. Contudo, Giraldo também dava mostras de que sentia o calor e as quatro horas jogadas contra Bellucci. E o cansaço do colombiano enfim apareceu e seus músculos não agüentaram. Com dores, ele caiu. Daniel comemorou junto com a equipe e até com certo comedimento, já que ninguém gosta de ganhar com o abandono do adversário. Deram-lhe a bandeira brasileira, ele ajoelhou, cobriu a cabeça e voltou para os companheiros. Sua história na Davis, enfim, começava a mudar. Nem mesmo na coletiva o gaúcho deixou transparecer uma alegria desmesurada. Estava sereno. Era o número um do Brasil e apenas cumprira o seu papel.
Com o confronto definido, o capitão Chico Costa colocou Bellucci para jogar contra Carlos Salamanca, que entrou no lugar do contundido Cabal - o pé do colombiano ainda estava muito inchado devido à torção no primeiro dia. Sem pressão, o jovem paulista venceu e o Brasil encerrou por 4 a 1 um duelo que tinha tudo para ser mais tranqüilo, já que os colombianos não contavam com seu principal tenista, Alejandro Falla, que pediu dispensa para tratar de uma hérnia de disco. Sem ele, o time do capitão Felipe Berón estava bastante limitado.
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AZAR
Assim o Brasil chegou ao play-off do Grupo Mundial e a expectativa da Confederação Brasileira de Tênis, do time e da torcida era de que o sorteio nos colocasse à frente de um adversário não muito forte. E, se possível, jogássemos em casa (mas desta vez não com ingressos a R$ 200, segundo o presidente da CBT, que reconheceu o exagero do preço em Sorocaba), para que tivéssemos alguma chance.
Mesmo os integrantes do grupo brasileiro reconhecem que ainda não tem condições de encarar as principais potências do tênis no mundo. "Seriam poucas as possibilidades de vencer, é mais uma oportunidade para ganhar experiência na Davis", admite o capitão Chico Costa. E Marcos Daniel lembra: "Não temos time como na época do Guga, Meligeni, Oncins. Nosso grupo não tem tantas possibilidades como aquele. Ter o número um do mundo faz diferença. Coloca o Federer no nosso time e a história muda", brincou.
Atualmente, em pé de igualdade com as grandes nações, só temos a dupla. Em sua primeira participação na Davis, a parceria deu conta do recado sem titubear e Melo, o estreante, mostrou o espírito que a competição requer. Ao restante, ainda falta chão. Bellucci e o reserva João Souza, o Feijão, são bons nomes, mas inexperientes. Só o tempo vai dizer do que são capazes realmente. E Daniel precisa provar que pode vencer tenistas top.
Por tudo isso, a probabilidade de que o Brasil passe ao Grupo Mundial são parcas, especialmente depois que tivemos a "felicidade" de cair contra a Croácia de Ivan Ljubicic, Mario Ancic, Ivo Karlovic, Marin Cilic, cabeça um do play-off. Se já não bastasse essa "sorte", como nunca havíamos enfrentado os croatas, foi realizado um sorteio para definir a sede e, para piorar, vamos jogar lá.
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GRUPO MUNDIAL
Na primeira divisão da Copa Davis, as semifinais estão definidas. A Espanha de Rafael Nadal e David Ferrer, que não teve problemas para bater a Alemanha - desfalcada de Tommy Haas -, encara os Estados Unidos (que venceram os franceses sem Richard Gasquet e Jo-Wilfried Tsonga). No saibro espanhol, as chances de Andy Roddick e James Blake são poucas.
Do outro lado está a Argentina, que precisou contar com a inspiração de David Nalbandian e Guillermo Cañas contra a Suécia, e o eclético time russo, que teve até mesmo Marat Safin derrotando o tcheco Tomas Berdych. Jogando em casa, os argentinos são favoritos, mas a Rússia tem time respeitável para todos os pisos.
CONFRONTOS E RESULTADOS Confrontos Semifinais |
Publicado em 7 de Maio de 2008 às 08:38