Quase famosos

Mesmo sem grandes títulos em suas carreiras, Benjamin Becker e Michael Russell fazem parte de momentos históricos do tênis


Ron C Angle Productions/BEImages Sports
Becker aposentou Agassi

Provavelmente, você já ouviu falar ou até já viu o rosto de Benjamin Becker e Michael Russell. Afinal, os dois já estiveram no foco das câmeras das quadras centrais de importantes jogos de Grand Slam. No entanto, os dois ganharam mais fama pelos adversários que enfrentaram do que propriamente pelo desempenho na carreira. Hoje, se estivessem do seu lado, você os reconheceria?

O alemão Benjamin Becker nasceu em Merzig, se profissionalizou em 2005 e alcançou seu melhor ranking (38º) em março de 2007. No entanto, quis o destino que nenhuma página da biografia de Becker (que apesar do sobrenome não tem parentesco com o compatriota ex-número um, Boris) fosse tão importante para o mundo do tênis quanto o jogo que ele realizou na terceira rodada do US Open de 2006, a primeira vez que disputava a competição.

Nesta partida, ele enfrentou ninguém menos do que Andre Agassi, que estava jogando seu último torneio. Naquela edição do Grand Slam norte-americano, a aposentadoria de Agassi chamava mais atenção do que a própria disputa do título. Quem o vencesse colocaria fim a uma das mais fascinantes carreiras do tênis. Esse papel coube a Benjamin Becker, até então um tenista completamente desconhecido que jogava seu segundo ano como profissional. Em três horas de jogo, o alemão venceu a lenda por 7/5, 6/7(4), 6/4 e 7/5. O mundo se despediu de Agassi, e conheceu Becker.

Já o tenista norte-americano Michael Russell nem precisou de uma vitória para se tornar inesquecível, principalmente para o público brasileiro. Nascido em Detroit, profissional desde 1998, e número 60 do mundo em agosto de 2007, o grande momento de Russell foi a partida contra Gustavo Kuerten, nas oitavas-de-final de Roland Garros, em 2001.

Após o bicampeonato em 2000, e como número um do mundo, Guga era o grande favorito ao título do Grand Slam francês novamente. Após vitórias tranquilas nos primeiros jogos, parecia que o brasileiro não teria dificuldades para vencer o desconhecido norte-americano. Matérias da época apontavam o favoritismo total do catarinense e falavam do adversário que ele teria pela frente em tom de deboche. "Gustavo Kuerten terá como rival um jogador que parece não disputar o mesmo circuito profissional de tênis que consagra o brasileiro. Aos 23 anos, o norte-americano Michael Russell não tem biótipo, 'roupa' ou mesmo vida de tenista que participa de torneios milionários pelo mundo todo", escreveu a Folha de São Paulo na ocasião.

Mas, o que se viu no jogo que o Brasil parou para assistir, no domingo de manhã, estava longe de ser uma partida fácil contra um atleta descompromissado. A "correria" do então 122º do ranking fez daquele jogo o mais difícil da campanha do tricampeonato de Guga. Após três horas e meia, e depois de salvar um match-point no terceiro set, o ídolo brasileiro fechou o jogo em 3/6, 4/6, 7/6(3), 6/3 e 6/1.

Ron C Angle Productions/BEImages Sports
Russell quase impediu o tri de Guga em Paris

VIVÊNCIAS

"Foi muito legal. Ninguém me conhecia, e eu joguei bem", conta Becker sobre a campanha no US Open de 2006. Sobre a partida em que encerrou a carreira de Agassi, o alemão admite que sentiu nervosismo e explica o que tentou fazer para evitar a pressão. "Não dá para descrever exatamente o momento do jogo, pois você se sente como se estivesse em um filme. Desde que acorda e sabe que vai jogar, você tenta se concentrar.

Quando entra na quadra e vê toda aquela gente, tenta não olhar. Tem que se concentrar na quadra de tênis. Apenas bater na bola, não importa quem esteja do outro lado. Eu tentei, foi difícil", explica o tenista, que completa: "No aquecimento, estava bastante nervoso e, quando entrei na quadra, também estava muito ansioso. Mas, durante o jogo, você vai se acostumando com isso". No entanto, o alemão afirma que, para ele, foi mais importante ter feito sua melhor campanha em Grand Slams do que ter derrotado uma lenda. "Acho que será legal olhar para trás, quando eu tiver 60 anos e dizer: 'Olha lá o que fiz'. Mas, para mim, o mais importante foi ir tão longe em meu primeiro US Open." Para Russell, as lembranças da partida contra Guga são contraditórias: "Foi bom e ruim. Bom pois cheguei tão perto de vencer o número um do mundo. Mas, ao mesmo tempo, você estava tão perto de vencer e perde; é difícil."

O norte-americano explica o que passou em sua cabeça quando teve o match-point, sacando em 5/3, no terceiro set: "Estava na dúvida se sacava um 'quique' aberto na esquerda dele, que estava funcionando durante o jogo. Mas, no ponto anterior, ele tinha errado uma devolução de direita. Então, joguei no forehand e ele deixou uma bola curta, talvez foi a única chance que tive de ser agressivo. Tivemos um rali, ele acertou uma bola na linha, ganhou o ponto e o resto é a história". Ele ainda admite ter sentido a pressão em um jogo tão importante: "Deveria ter me mantido mais calmo, me focar mais na bola, mas era muito difícil. Era a primeira vez que passava por uma situação dessas".

ANO NOVO

Após momentos gloriosos, o começo de 2009 não foi fácil para os dois tenistas, que agora veem estes pequenos momentos de fama bem distantes e são tratados apenas como mais dois jogadores comuns. Derrotados na estréia do Aberto de São Paulo, foram direto da quadra para a sala de fisioterapia para amenizar as dores das lesões. Becker se recupera de uma lesão no ombro, Russell teve uma leve distensão na perna durante o jogo em São Paulo. Para o tenista alemão, o mais importante na nova temporada e na carreira é estar bem fisicamente para poder jogar seu melhor tênis. Russell também espera se livrar de contusões para voltar ao top 100. "Se não conseguir, vou parar no final deste ano", afirma.

Rodrigo Linhares

Publicado em 29 de Janeiro de 2009 às 11:55


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Artigo publicado nesta revista