Quando o jogo fala mais alto

Quando o jogo fala mais alto

Ron C. Angle/TPL

MUITO SE FALA QUE, EM ALGUNS ESPORTES – o tênis incluído –, falta espírito, falta alma. Não é à toa que atletas de muitas modalidades, que se tornaram profissionais, nunca puderam competir nos Jogos Olímpicos, que sempre valorizou o amadorismo, por acreditar que esta é a forma “pura” da prática esportiva. Que o diga o Barão de Coubertin, “inventor” das Olimpíadas modernas: “No dia em que um esportista parar de pensar que acima de todas as coisas está a felicidade do seu próprio esforço e a intoxicação do poder e do equilíbrio físico que ele obtém disso, o dia em que ele deixar pensamentos vaidosos e outros interesses tomarem conta, nesse dia seu ideal estará morto”.

O tênis ficou fora dos Jogos de 1924 até 1988, período que acompanhou a intensa profissionalização do esporte. Em Seoul, na Coreia do Sul, o prêmio para o campeão era uma medalha (só para os três primeiros) e nada de dinheiro. Muita gente se interessou em jogar mesmo assim – que o diga Steffi Graf, que já havia ganhado o Grand Slam naquele ano e completou um inédito e até hoje inimitável, Golden Slam. Outros vários, contudo, preferiram os torneios da ATP e WTA, com grana e pontos distribuídos para todos os jogadores.

Até 1996, em Atlanta, os Jogos não contavam pontos para o ranking e o “espírito olímpico” dos tenistas nem sempre foi o mais forte e diversos dos top preferiam não competir. Em Sydney 2000, começou-se a computar pontos para os participantes e a história do tênis nas Olimpíadas começou a mudar. Quatro anos mais tarde, uma grande prova de que os tenistas tinham, sim, a gana, a alma dos verdadeiros esportistas foi dada. Nicolas Massú e Fernando Gonzalez superaram todas as barreiras, jogaram partidas homéricas e levaram as primeiras medalhas de ouro da história do Chile.

Agora, em 2012, o tênis parece finalmente ter reintegrado aos Jogos. São raros os tenistas que decidem não participar. Mais raro ainda é ver alguém não se esforçar. A semifinal entre Roger Federer e Juan Martin del Potro, que terminou 19 a 17 no terceiro set, depois de quase quatro horas e meia de partida, mostrou o quanto uma medalha significa para os maiores tenistas do mundo.

Dessa forma, esta edição da Revista TÊNIS celebra o espírito esportivo, falando sobre os heróis olímpicos, sobre a volta por cima de Thomaz Bellucci, sobre Guga como o grande embaixador do nosso tênis e sobre outras tantas coisas que vão lhe inspirar para entrar em quadra.

Bom jogo!
Arnaldo Grizzo e Christian Burgos


Editorial

Artigo publicado nesta revista