Diante de sua torcida, Bellucci encerrou com título a excelente temporada e aproveitou para "acertar as contas" com Nicolas Lapentti
ALGUNS AINDA TINHAM dúvidas. Outros, contudo, estavam certos da vitória. A verdade é que todos só tinham olhos para Thomaz Bellucci durante a última etapa da Copa Petrobras, na Sociedade Harmonia de Tênis, em São Paulo. Após uma temporada em que teve que provar seu valor, o jovem chegou ao aristocrático clube cercado de olhares, alguns cautelosos e outros eufóricos - no que seria seu último torneio em 2009.
Nem mesmo o sorteio da chave havia sido realizado e a expectativa já era grande nos corredores do Harmonia. O motivo, claro, a lista de inscritos divulgada pela organização. Maior nome do tênis brasileiro na atualidade, Bellucci - que acabara de entrar no seleto grupo dos top 50 - estava confirmado como o principal cabeçade- chave da competição. Além dele, os outros oito melhores tenistas brasileiros no ranking da ATP estavam garantidos - e a eles ainda se juntariam Rogério Dutra Silva e Caio Zampieri, que furaram o qualifying, e Gabriel Wanderley, tenista do clube e que recebeu um wild card.
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Com dores nas costas, Marcos Daniel - o número dois do País - foi a única baixa, deixando todas as atenções voltadas para o jovem Bellucci. E o nosso jovem número um trazia euforia às quadras paulistanas. Na semana anterior, fez campanha brilhante no ATP de Estocolmo, na Suécia, em que chegou às semifinais. Cada vez mais confiante e subindo no ranking, o tenista de Tietê certamente chegava ao Harmonia como o grande favorito, mesmo tendo que se readaptar às quadras de saibro. Além da diferença de piso, a longa viagem e o pouco tempo de descanso eram outros fatores que poderiam complicar a estreia do cabeça-de-chave número um - agora sim já com a chave sorteada e tendo o compatriota, e velho conhecido dos tempos de juvenil, João Souza, o Feijão, como adversário. Nos dois confrontos anteriores como profissionais, uma vitória para cada lado. Seria, então, o desempate entre duas grandes revelações do nosso tênis.
E foi justamente Feijão - que teve como aliados o fuso horário, o cansaço da viagem e a diferença de superfície sofridos por Bellucci - o único a arrancar um set do cabeça um ao longo de todo o torneio. Como um veterano, Bellucci não deu chances aos rivais e soube lidar com o favoritismo e a pressão de jogar diante de sua torcida. Entre suas vítimas rumo à decisão, tenistas experientes e bastante conhecidos, como o mexicano Santiago Gonzalez, o chileno Nicolas Massú e o espanhol David Marrero. Durante toda a semana, o público crescia a cada dia nas quadras do clube paulistano, localizado no nobre bairro dos Jardins. Na mesma medida em que o nível e a confiança de Bellucci subiam, o número de pessoas que se aglomeravam na arquibancada da quadra central do Harmonia aumentava. No domingo da final, então, certamente não foi diferente. Quem perdeu o horário e custou a levantar na quente manhã de 31 de outubro se deparou com os portões do clube fechados. A revolta, claro, era imensa, mas tinha uma justificativa: não havia mais lugar vago para assistir ao esperado duelo entre Bellucci e Nicolas Lapentti. Afinal, era a chance de ver o jovem paulista conquistar um grande torneio, além de ser vingar daquele que propiciou uma das derrotas mais doloridas de sua carreira, há menos de dois meses, em Porto Alegre, pelo play-off da Copa Davis.
Desta vez, ao contrário do que aconteceu no confronto válido pela Davis, o experiente e talentoso Lapentti não resistiu ao forte e sólido jogo de fundo de quadra do brasileiro. Com a confiança de quem estava brigando para entrar entre os 40 do mundo, Bellucci jogou como um verdadeiro top do tênis mundial e liquidou o algoz após 1h33 de partida. Era a primeira vitória de Bellucci sobre Nico - como o mais velho dos Lapentti é carinhosamente conhecido pelos colegas. E era, também, a sensação de doce vingança de todos os brasileiros que acompanham o tênis. Esta vitória, passando por cima de adversários bem mais experientes apesar de com ranking inferior, provou que o nível de Bellucci está mesmo nos torneios ATP e entre os 50 melhores do mundo atualmente. Sua postura tática, assim como sua técnica (especialmente o saque), além da parte física, mostraram grande evolução durante o ano.
O garoto que começou o ano como uma possível esperança de vitórias, concretizou-as. Diante de oponentes mais frágeis, ele soube se impor e não se intimidou com a torcida, revelando uma maior maturidade. Que venha 2010 com novos desafios!
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OUTROS DESTAQUES
Não foi só a sensacional campanha de Bellucci que chamou a atenção durante a semana de evento na capital paulista. A primeira a ganhar destaque foi, acreditem, a chuva. Durante os dois primeiros dias, praticamente não houve tênis nas quadras do Harmonia. Conhecida como "terra da garoa", São Paulo comprovou a fama e viu uma insistente chuva adiar os primeiros grandes duelos.
Com o bom tempo recuperado, era hora de assistir a grandes partidas de tênis. E, para sorte dos paulistas, bons jogos não faltaram na última etapa da Copa Petrobras 2009. Que tal um duelo entre o campeão de Roland Garros em 2004 e o campeão Olímpico em Atenas? E, para azar de Gaston Gaudio, 27 >> este encontro aconteceu logo na primeira rodada, com o argentino dando adeus logo cedo à competição.
Outros duelos também fizeram o público se sentir em um dos grandes torneios do tênis mundial. Afinal, Juan Ignacio Chela contra Nicolas Lapentti mais parece um clássico de Roland Garros, não? E o clássico intercontinental entre o mesmo Lapentti e o experiente espanhol Santiago Ventura? Todos, claro, grandes jogos, que levaram os amantes de tênis ao delírio na capital paulista.
BRASILEIROS
Além do título de Bellucci, outros tenistas brasileiros tiveram destaque. franco ferreiro e Julio silva fizeram boa campanha e chegaram às quartas-de-final. mas outros nomes de peso no tênis nacional, como Thiago alves e ricardo mello (que fizeram um equilibrado duelo na primeira rodada), acabaram não avançando na chave. Nas duplas, a torcida também pôde comemorar. mello, que após vencer o amigo alves havia perdido logo na rodada seguinte para marrero, se redimiu ao lado de ferreiro e levantou o troféu. destaque ainda para as parcerias formadas por ricardo hocevar e João souza e marcelo demoliner e fernando romboli, ambos semifinalistas.
Desta vez, ao contrário do confronto da Davis, Lapentti não teve chance |
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DE VOLTA À SÃO PAULO No final dos anos 1990 e início dos anos 2000, o público sul-americano se acostumou a ver de perto alguns dos maiores nomes do tênis latino jogando nas quadras do continente. era a Copa Ericsson, série de torneios Challenger que movimentava o calendário na América do Sul. após alguns anos sem torneios deste gabarito, a Copa petrobras surgia para preencher a lacuna deixada por aqueles eventos. Porém, a cidade de São Paulo ainda sentia a falta de todo aquele clima que a etapa brasileira da Copa Ericsson trazia às quadras da capital. Rostos consagrados, tenistas promissores, nomes de peso no tênis internacional. famílias reunidas, clima de confraternização não só nas arquibancadas como também na sala de jogadores. Definitivamente, era o momento em que grandes amigos, além de rivais, se reencontravam após um desgastante ano longe de casa. Em 2004, 2005, 2006 e 2008 a etapa brasileira da Copa Petrobras aconteceu na bela e quente Aracajú. O forte calor era grande adversário dos jogadores, mas a receptividade característica do povo nordestino impressionava os atletas. em 2007, uma escala em Belo Horizonte, onde os mineiros puderam ver de perto a as promessas do tênis sulamericano. Chegava 2009 e o calendário da Copa Petrobras era anunciado. enfim, após oito anos (a última etapa da Copa Ericsson disputada na capital paulista foi em 2001), os paulistanos voltariam a receber uma etapa desta importante gira de competições. Considerado um dos clubes mais tradicionais da cidade, a sociedade harmonia de Tênis foi o local escolhido para sediar o evento. sua quadra central, de muita história, era o palco ideal para receber figuras importantes como Gaston gaudio, Nicolas Massú, Nicolas Lapentti, Juan Ignacio Chela e, claro, uma legião de brasileiros comandada pelo novo top 50 do tênis mundial, Thomaz Bellucci. Nas mesmas quadras onde Maria Esther Bueno alcançou algumas glórias e continua até hoje dando as suas raquetadas, estes rostos conhecidos do público Sulamericano brigariam pelo título da última etapa da Copa Petrobras de 2009. antes, o evento já havia passado por Bogotá (Colômbia), Buenos Aires (Argentina), Montevidéu (Uruguai), Assunção (Paraguai) e Santiago (Chile) - cada uma com um campeão diferente, sendo que apenas a etapa chilena não teve um tenista da casa levantando o troféu. |
Júlio Silva |
Nicolas Massú |
Franco Ferreiro e Ricardo Mello |
RESULTADOS Etapa Bogotá
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Publicado em 11 de Novembro de 2009 às 07:53