Número um dourado

Após longa espera, Nadal assume a ponta do ranking, com todos os méritos. O ouro em Pequim é a "cereja do bolo"


fotos: Ron C. Angle/TPL
Alegria foi tanta que Djokovic voltou a extravasar nas comemorações e rasgou a camisa

O que parecia certo após a final de Wimbledon, virou realidade durante o Masters Series de Cincinnati e ganhou louros nas Olimpíadas de Pequim. O espanhol Rafael Nadal, depois de mais de três anos correndo atrás de Roger Federer, enfim pôde alcançar o objetivo máximo da carreira de todo tenista, o número um do mundo. Na segunda- feira, 18, de agosto, após a magistral conquista da medalha de ouro olímpica, o jovem espanhol se tornou o 24º homem a liderar o ranking da ATP (criado em 1973), interrompendo um domínio de mais de quatro anos do suíço (237 semanas).

“Ser número um do mundo é um presente por todo o trabalho feito anteriormente”, comemorou o segundo tenista de Mallorca a assumir a ponta do ranking. Antes dele, Carlos Moyá, também nascido na ilha espanhola, mas na capital, Palma, havia estado no topo em março de 1999. Em setembro de 2003, Juan Carlos Ferrero, também da Espanha, foi o segundo a atingir tal posto. Assim, Nadal, da cidade de Manacor, com pouco mais de 35 mil habitantes, tornou-se o terceiro do país a liderar o tênis masculino.

O primeiro lugar já vinha se desenhando desde a final de Wimbledon, quando o espanhol desbancou Federer em partida histórica. Depois disso, sem confiança, o suíço simplesmente não conseguiu repetir os resultados obtidos nos Masters Series que antecedem o US Open e, especificamente este ano, também nas Olimpíadas de Pequim. No Canadá, onde defendia o vice, Federer caiu na estréia para o francês Gilles Simon. Em Cincinnati, onde foi campeão em 2007, perdeu na segunda rodada para o croata Ivo Karlovic. Mas, só as derrotas do suíço não bastavam, Nadal precisava manter a regularidade e fazer campanhas melhores que as do rival.

Fernando Gonzalez

Sendo assim, jogando um tênis impecável, ele foi campeão em Toronto. Na semana seguinte, precisava chegar às semifinais para roubar o número um de Federer. Dito e feito, bateu o equatoriano Nicolas Lapentti nas quartas e garantiu seu lugar na história. Na rodada seguinte, perdeu para o sérvio Novak Djokovic, mas já não importava. O número um seria dele em duas semanas.

Com isso, Nadal atingiu um feito que outros grandes campeões não conseguiram e pôs fim à sina do segundo lugar. Historicamente, outros campeões de Grand Slam não chegaram ao primeiro posto. O norte-americano Michael Chang, o alemão Michael Stich, o argentino Guillermo Vilas, o croata Goran Ivanisevic, o espanhol Manolo Orantes e o tcheco Petr Korda são alguns dos que pararam no segundo lugar. Além deles, outros tenistas talentosos também nunca subiram no degrau mais alto do ranking. O alemão Tommy Haas, o espanhol Alex Corretja e o sueco Magnus Norman foram alguns dos que estiveram muito perto de sentir o gostinho da liderança, mas falharam. No entanto, Nadal não ficará com esse trauma. Com Federer tendo de defedefender muito mais pontos que ele no final da temporada, há boa chance de o espanhol terminar 2008 na liderança. Novamente, basta que ele mantenha a regularidade que apresentou até agora.


#Q#

Olimpíadas
Mesmo com o número um garantido, não importando o resultado dos Jogos Olímpicos, Rafael Nadal manteve o ritmo alucinante de vitórias em Pequim. Após um pequeno susto na estréia contra o italiano Potito Starace, o espanhol derrubou os adversários seguintes sem piedade. No decisivo confronto semifinal, reencontrou Djokovic. Em clima de Copa Davis, o tetracampeão de Roland Garros precisou de três sets, mas venceu após um enorme vacilo do sérvio, que errou uma bola fácil na rede no ponto final.

Na decisão do ouro, o espanhol encarou o chileno Fernando Gonzalez, que salvou três match-points na semi contra o norte-americano James Blake, que tinha eliminado o errático Federer nas quartas-de-final. O “Bombardeiro de Reina”, após o bronze individual em Atenas, tentava igualar o surpreendente resultado de seu compatriota Nicolas Massú, há quatro anos. Porém, Nadal foi demais e nem mesmo a garra nacionalista chilena pôde fazer algo.

A dupla continua entrosada. Depois de vencer em Wimbledon, as irmãs Williams ficaram com o ouro em Pequim

Na Disputa do Bronze, Djokovic – que chorou muito após a derrota na semi – se recompôs, venceu Blake e extravasou rasgando a camisa na comemoração.

E, se o sonho de Federer de ganhar uma medalha para a Suíça parecia ter se esvanecido em sua derrota nas quartas, ele virou realidade nas duplas. Ao lado de Stanislas Wawrinka, o agora ex-número um fez uma campanha irrepreensível, derrotando parcerias de peso, como os indianos Maheshi Buphathi e Leander Paes, os favoritos norte-americanos Bob e Mike Bryan e, por fim, os suecos Simon Aspelin e Thomas Johansson. O ouro em duplas não era bem o que Federer tinha programado, mas deixou-o feliz e redimiu um pouco sua temporada abaixo das expectativas.

Já as esperanças brasileiras de medalha logo deram adeus à Pequim. Em simples, Marcos Daniel e Thomas Bellucci perderam na estréia. Daniel deu trabalho para o austríaco Jurgen Melzer, mas caiu por 6/7(9), 6/1 e 8/6. Bellucci levou uma virada do experiente eslovaco Dominik Hrbaty, por 2/6, 6/4 e 6/2. E a dupla André Sá e Marcelo Melo também não foi muito longe. Os mineiros pegaram uma chave forte. Ganharam o primeiro jogo contra os tchecos Radek Stepanek e Tomas Berdych, por 5/7, 6/2 e 8/6, mas pararam em Paes e Buphati, por 6/4 e 6/2.

Prata em Sydney, Dementieva, enfim, levou a medalha dourada

Entre as mulheres, só deu Rússia, mesmo sem Maria Sharapova, machucada. A Sérvia, que esperava medalhas também no feminino, ficou sem. Ana Ivanovic desistiu antes de começarem os Jogos, devido a um problema na mão. E Jelena Jankovic, que roubou o número um da compatriota, só atingiu as quartas. Porém, após oito anos, Elena Dementieva voltou a uma final olímpica. Em Sydney, com apenas 18 anos, a russa perdeu o ouro para Venus Williams. Desta vez, contra a compatriota Dinara Safina, ela levou a melhor. Na disputa de bronze, mais Rússia. Vera Zvonareva superou a chinesa Na Li, que fez campanha espetacular diante de sua torcida.

Nas duplas, ao menos, a China ficou com o bronze. Após o ouro histórico em Atenas com Ting Li e Tian Tian Sun, Zi Yan e Jie Zheng por pouco também não chegaram à final quatro anos depois. Elas pararam nas espanholas Anabel Medina Garrigues e Virginia Ruano Pascual, que ficaram com a prata ao perderem para as irmãs Williams. Foi o segundo título olímpico das norte-americanas em duplas e o terceiro vice da Espanha na história dos Jogos. Confira os medalhistas


#Q#

2008 – Pequim, China
Simples Masculino
Disputa do ouro: Rafael Nadal (ESP) v. Fernando Gonzalez (CHI) 6/2, 7/6(2) e 6/3
Disputa do Bronze: Novak Djokovic (SRB) v. James Blake (USA) 6/3 e 7/6(4)

Duplas Masculino:
Disputa do ouro: Roger Federer/ Stanislas Wawrinka (SUI) v. Simon Aspelin/ Thomas Johansson (SWE) 6/3, 6/4, 6/7(4) e 6/3
Disputa do bronze: Bob Bryan/ Mike Bryan (EUA) v. Arnaud Clement/ Michael Llodra (FRA) 3/6, 6/3 e 6/4

Simples Feminino:
Disputa do ouro: Elena Dementieva (RUS) v. Dinara Safina (RUS) 3/6, 7/5 e 6/3
Disputa do bronze: Vera Zvonareva (RUS) v. Na Li (CHN) 6/0 e 7/5

Duplas feminino:
Disputa do ouro: Serena Williams/ Venus Williams (EUA) v. Anabel Medina Garrigues/ Virginia Ruano Pascual (ESP) 6/2 e 6/0
Disputa do bronze: Zi Yan/ Jie Zheng (CHN) v. Alona Bondarenko/ Kateryna Bondarenko (UKR) 6/2 e 6/2

Resultados das Olimpíadas (desde a volta do tênis em 1988)

1988 – Seul, Coréia do Sul
Simples Masculino
Disputa do ouro: Miloslav Mecir (CZE) v. Tim Mayotte (USA) 3/6, 6/2, 6/4 e 6/2
Bronze: Stefan Edberg (SWE) e Brad Gilbert (USA)

Duplas Masculino
Disputa do ouro: Ken Flach/ Robert Seguso (USA) v. Sergio Casal/ Emilio Sanchez (ESP) 6/3, 6/4, 6/7(5), 6/7(1) e 9/7
Bronze: Stefan Edberg/ Anders Jarryd (SWE) e Miloslav Mecir/ Milan Srejber (CZE)

Simples Feminino
Disputa do ouro: Steffi Graf (GER) v. Gabriela Sabatini (ARG) 6/3 e 6/3
Bronze: Zina Garrison (USA) e Manuela Maleeva (BUL)

Simples Feminino
Disputa do ouro: Steffi Graf (GER) v. Gabriela Sabatini (ARG) 6/3 e 6/3
Bronze: Zina Garrison (USA) e Manuela Maleeva (BUL)

Duplas feminino
Disputa do ouro: Zina Garrison/ Pam Shriver (USA) v. Jana Novotna/ Helena Sukova (CZE) 4/6, 6/2 e 10/8
Bronze: Steffi Graf/ Claudia Kohde- Kilsch (GER) e Elizabeth Smylie/ Wendy Turnbull (AUS)

fotos: Ron C. Angle/TPL
Federer queria o ouro e conseguiu, nas duplas

1992 – Barcelona, Espanha
Simples Masculino
Disputa do ouro: Marc Rosset (SUI) v. Jordi Arrese (ESP) 7/6(2), 6/4, 3/6 e 4/6 e 8/6
Bronze: Andrei Cherkasov (EUN) e Goran Ivanisevic (CRO)

Duplas Masculino
Disputa do ouro: Boris Becker/ Michael Stich (GER) v. Wayne Ferreira/ Piet Norval (RSA) 7/6(5), 4/6, 7/6(5) e 6/3
Bronze: Javier Frana/ Cristian Miniussi (ARG) e Goran Ivanisevic/ Goran Prpic (CRO)

Simples Feminino
Disputa do Ouro: Jennifer Capriati (uSA) v. Steffi Graf (GER) 3/6, 6/3 e 6/4
Bronze: Mary Joe Fernandez (uSA) e Arantxa Sanchez vicario (ESP)

Duplas feminino
Disputa do Ouro: Gigi Fernandez/ Mary Joe Fernandez (uSA) v. Conchita Martinez/ Arantxa Sanchez vicario (ESP) 7/5, 2/6 e 6/2
Bronze: Rachel McQuillan/ Nicole Provis (AuS) e Leila Meskhi/ Natalia zvereva (EuN)


#Q#

1996 – ATLANTA, EUA
Simples Masculino
Disputa do ouro: Andre Agassi (uSA) v. Sergi Bruguera (ESP) 6/2, 6/3 e 6/1
Disputa do Bronze: Leander Paes (INd) v. Fernando Meligeni (BRA) 3/6, 6/2 e 6/4

Duplas Masculino
Disputa do Ouro: Todd Woodbridge/ Mark Woodforde (AuS) v. Neil Broad/ Tim Henman (GBR) 6/4, 6/4 e 6/2
Disputa do Bronze: Marc-Kevin Goellner/ david Prinosil (GER) Jacco Etling/ Paul Haarhuis (NEd) 6/2 e 7/5

Simples Feminino
Disputa do Ouro: Lindsay davenport (uSA) v. Arantxa Sanchez-vicario (ESP) 7/6(6) e 6/2
Disputa do Bronze: Jana Novotna (CzE) v. Mary Joe Fernandez (uSA) 7/6(6) e 6/4

Duplas Feminino
Disputa do Ouro: Lindsay davenport (uSA) v. Arantxa Sanchez-vicario (ESP) 7/6(6) e 6/2Disputa do Ouro: Gigi Fernandez/ Mary Joe Fernandez (uSA) v. Jana Novotna/ Helena Sukova (CzE) 7/6(6) e 6/4
Disputa do Bronze: Conchita Martinez/ Arantxa Sanchez-vicario (ESP) v. Manon Bollegraf/ Brenda Schultz-MxcCarthy (NEd) 6/1 e 6/3

Safina: vice em Roland Garros, vice em Pequim

2000 – SYDNEY, AUSTRÁLIA
Simples Masculino
Disputa do Ouro: Yevgeny Kafelnikov (RuS) v. Tommy Haas (GER) 7/6(4), 3/6, 6/2, 4/6 e 6/3
Disputa do Bronze: Arnaud di Pasquale (FRA) v. Roger Federer (SuI) 7/6(5) e 6/7(7) e 6/3

Duplas Masculino
Disputa do Ouro: Sebastien Lareau/ daniel Nestor (CAN) v. Tood Woodbridge/ Mark Woodforde (AuS) 5/7, 6/3, 6/4 e 7/6(2)
Disputa do Bronze: Alex Corretja/ Albert Costa (ESP) v. david Adams/ John Jager (RSA) 2/6, 6/4 e 6/3

Simples Feminino
Disputa do Ouro: venus Williams (uSA) v. Elena dementieva (RuS) 6/2 e 6/4
Disputa do Bronze: Monica Seles (uSA) v. Jelena dokic (AuS) 6/1 e 6/4

Duplas Feminino
Disputa do Ouro: Serena Williams/ venus Williams (uSA) v. Kristie Boogert/ Miriam Oremans (NEd) 6/1 e 6/1
Disputa do Bronze: Els Callens/ dominique van Roost (BEL) v. Olga Barabanschikova/ Natalia zvereva (BLR) 4/6, 6/4 e 6/1

fotos: Ron C. Angle/TPL
Torcida sérvia vibrou com o bronze de djakovic, mas se frustou com a desistência de Ivanovic e derrota de Jankovic

2004 - ATENAS, GRÉCIA
Simples Masculino
Disputa do Ouro: Nicolas Massu (CHI) v. Mardy Fish (uSA) 6/4, 3/6, 2/6, 6/3 e 6/4
Disputa do Bronze: Fernando Gonzalez (CHI) v. Taylor dent (uSA) 6/4, 2/6 e 16/14

Duplas Masculino
Disputa do Ouro: Fernando Gonzalez/ Nicolas Massu (CHI) v. Nicolas Kiefer/ Rainer Schuettler (GER) 6/2, 4/6, 3/6, 7/6(7) e 6/4
Disputa do Bronze: Mario Ancic/ Ivan Ljubicic (CRO) v. Mahesh Bhupathi/ Leander Paes (INd) 7/6(5), 4/6 e 16/14

Simples Feminino
Disputa do Ouro: Justine Henin-Hardenne (BEL) v. Amelie Mauresmo (FRA) 6/3 e 6/3
Disputa do Bronze: Alicia Molik (AuS) v. Anastasia Myskina (RuS) 6/3 e 6/4

Duplas Feminino
Disputa do Ouro: Ting Li/ Tian Tian Sun (CHN) v. Conchita Martinez/ virginia Ruano Pascual (ESP) 6/3 e 6/3
Disputa do Bronze: Paola Suarez/ Patricia Tarabini (ARG) v. Shinobu Asagoe/ Ai Sugiyama (JPN) 6/3 e 6/3

Arnaldo Grizzo

Publicado em 28 de Agosto de 2008 às 09:49


Torneio

Artigo publicado nesta revista