Em entrevista coletiva, o catarinense anunciou que se aposenta após jogar uma série de torneios que começa no Brasil Open e termina em roland Garros
Em 2003, quando o genial Pete Sampras resolveu anunciar que abandonaria o tênis houve muita comoção, com cerimônia especial na quadra central do uS Open, e o supercampeão chorou. três anos depois, o mesmo aconteceu com andre agassi, um dos mais carismáticos tenistas da história, que desabou em lágrimas enquanto era aplaudido de pé por vários minutos. agora, em 2008, a emoção de uma despedida paira sobre o maior tenista brasileiro, Gustavo Kuerten.
Foi na terça-feira, 15 de janeiro de 2008, que Guga resolveu convocar a imprensa para dizer aquilo que todos já imaginavam que ele iria dizer. a verdade é que desde a segunda cirurgia no quadril, em setembro de 2004, o catarinense nunca mais conseguiu se recuperar. durante as três temporadas seguintes colecionou derrotas, mas, sempre competitivo, afirmava e reafirmava, com todas as letras, em todas as entrevistas, que não pensava no fim, mas no recomeço. contudo, aos 31 anos e ainda sofrendo com dores, resolveu, com ajuda da família e do técnico quase inseparável, que era o momento de dizer adeus.
Mas não houve pranto na sua primeira coletiva de despedida. alguns aplausos surgiram, mas foram relativamente discretos. Guga chegou estampando no semblante o sorriso com que conquistou multidões pelo mundo. tirou fotos com fãs e distribuiu autógrafos com a mesma paciência de quando, atarefado, era número um do mundo e com a mesma humildade de quando, desconhecido, ainda não havia vencido o primeiro dos três títulos em roland Garros. Sentou-se e, sem qualquer discurso formal, apenas esperou pelas perguntas dos repórteres. e elas vieram aos borbotões. com a calma e serenidade que lhe são característicos, respondeu a todos. entre as falas ressoavam palavras como "curtir", "felicidade", "prazer"...
O catarinense ria e se divertia durante as respostas e a multidão de jornalistas aglomerada diante dele silenciosamente lhe retribuía os anos de dedicação ao tênis preparando especiais sobre sua carreira. não há glória que seja esquecida, não há detalhe que passe em branco. uma pequena amostra de como suas façanhas estão eternizadas Kuerten já teve no ano passado em homenagem aos dez anos de sua primeira façanha no Grand Slam francês. na ocasião, ele visivelmente não se sentiu à vontade de terno ao lado dos suados e sujos de saibro Rafael Nadal e Roger Federer, que haviam acabado de disputar a final, e disse: "Espero estar aqui novamente, mas não de terno, e sim de tênis, shorts e camiseta!"
Turnê de despedida
Mesmo sabendo de suas limitações, Guga queria (e merece) encerrar seu ciclo dentro da quadra. E por isso, nos últimos três meses antes do anúncio de sua despedida, pediu conselho da família e do técnico Larri Passos para decidir o que fazer. Com apoio deles, chegou à conclusão que deveria dizer adeus jogando os torneios que lhe são mais significativos. Sua caminhada começa exatamente no Brasil Open, onde foi campeão em 2002 e 2004, com duas finais extraordinárias diante dos argentinos Guillermo Coria e Agustin Calleri, respectivamente.
Na decisão contra Coria, o brasileiro salvou match-point; contra Calleri, ele teve a chuva como aliada em uma final de dois dias. Este seria o seu último título, mas não o último momento de glória, que veio meses depois com a vitória sobre o número um do mundo Roger Federer, em Roland Garros. Isso tudo já sofrendo com muitas dores no quadril.
Depois da Costa do Sauípe, Kuerten pretende jogar o Masters Series de Miami. Nos Estados Unidos, o catarinense também possui uma legião de fãs até hoje, o que comprova seu carisma. Ele chegou perto (perdeu uma decisão incrível para Sampras), mas nunca venceu em Miami. Entretanto, em solo norte-americano provou que não era um mero especialista no saibro ao ganhar em Indianápolis e no Masters Series de Cincinnati. A maior conquista sobre quadras duras, porém, seria em Portugal, na inesquecível Masters Cup de Lisboa.
#Q#Momentos de Guga no Brasil Open 2001 - Guga, então número um do mundo, chega ao torneio cansado após ter atingido as quartas do US Open na semana anterior e perde para Flávio Saretta - na época uma jovem promessa do tênis nacional e que recebera convite da organização - na estréia. |
Dos EUA, Guga pretende voltar ao Brasil e jogar o Challenger de Florianópolis, diante de seus conterrâneos. Em seguida, quer disputar os torneios que o consagraram como Rei do Saibro: os Masters Series de Monte Carlo (em que foi bicampeão em 1999 e 2001) e Roma (campeão em 1999 e vice em 2000 e 2001) ou Hamburgo (campeão em 2000) e, para encerrar definitivamente sua turnê, nada menos que Roland Garros, palco onde ele surgiu para o mundo.
Se durante o anúncio de seu derradeiro calendário ninguém, nem mesmo Guga, verteu lágrimas e até mesmo os aplausos foram comedidos, dificilmente não haverá comoção quando sua raquete trançar no ar as últimas pinceladas nas quadras que o consagraram e que lhe valeram a alcunha de "Picasso do tênis". "Acho que essas minhas participações vão ser bem emotivas, mas também muito importantes.
Vão ser gratificantes, um momento que vou me presentear com uma passagem de lembranças boas, porque o tênis só me trouxe coisa positiva. Vale a pena eu reviver esses torneios porque vai me encher de lembranças maravilhosas e vou poder reviver alguns dos principiais momentos em termos de emoções que tive na minha vida", garantiu o catarinense.
Publicado em 28 de Janeiro de 2008 às 15:27