Histórias Raquetes

Aros históricos

Raquetes: da madeira, ao grafite, a materiais cada vez mais elaborados e tecnologias que ajudaram a transformar o jogo de tênis


VOCÊ CERTAMENTE já viu um jogo antigo, daqueles quando o tênis sequer era um esporte profissional - ou até mesmo já era, mas ainda no começo do profissionalismo -, e reparou em como tudo era diferente, a começar pela velocidade das trocas de bola. Winners, raros. Aces, também. Certamente a máxima "vence que erra menos" - que, no frigir dos ovos, ainda é bastante válida - foi cunhada nessa época.

Vendo isso, às vezes você se pergunta: "Como o tênis pôde evoluir tanto em tão pouco tempo?" Seria apenas mérito do profissionalismo, que fez com que as pessoas que se interessavam pelo esporte escolhessemo como um verdadeiro ganha-pão e passassem a ser atletas de verdade? Em parte isso ocorreu, mas há um fato que poucos levam em consideração: a evolução das raquetes.

Da madeira dura e pesada - que não gerava muita potência nos golpes e assim ajudava o tênis a ser mais lento -, ela passou ao metal, logo ao grafite e mais recentemente outros tantos materiais foram incorporados às fibras dos aros que ainda são basicamente formados por uma estrutura de carbono.

De "tábuas de amassar carne" dos tempos antigos, as raquetes evoluíram para algo leve e resistente que é capaz de gerar enorme velocidade nos golpes e ainda assim oferecem um controle impressionante (grande parte disso graças não só à tecnologia dos aros, mas também às cordas e muito às "novas" técnicas que criaram o topspin). Diante da evolução das raquetes no sentido de tornar os golpes mais potentes - e sob controle -, propomos pensar juntos:
Em decorrência das novas raquetes, as trocas de bola ficaram mais rápidas. Com as trocas de bolas mais rápidas, a indústria de raquetes logo pensou que era necessário, além de oferecer potência, acrescentar controle - criando, por exemplo, cabeças maiores. Aí, com as trocas de bolas mais rápidas e mais frequentes, qual solução os tenistas precisaram buscar? Preparo físico. Sem um grande preparo, não é possível suportar o nível do circuito. E isso é verdade mesmo entre os amadores, pois, repare que aqueles com o preparo um pouco melhor acabam se dando bem mesmo quando não possuem a melhor das técnicas.


Três modelos clássicos: a Dunlop Maxply, a Wilson T-2000 e a Head Radical

EVOLUÇÃO SEM FIM?

fotos: Ron C. Angle/TPL

Na era da madeira, o tênis era outro. A técnica e a tática pareciam ser ainda mais relevantes do que hoje e não era raro haver alguns tenistas meio gordinhos e que levavam uma vida bem pouco profissional. Inúmeros fumavam e outros tantos chegavam a tomar alguns tragos até durante as partidas. Mas tais comportamentos ainda se justificavam pela lentidão do esporte. O preparo físico era um fator importante (já que na fase pré-tiebreak os jogos podiam se estender quase que ad eternum), mas nem sempre primordial.

Com trocas de bolas mais lentas, era preciso pensar mais. A estratégia falava alto. Topspin, slice, variações mil deveriam fazer parte do arsenal de qualquer um que quisesse ter o mínimo de sucesso em quadra. Naquela época, como o equipamento era igual para todos, o que os diferenciava eram os estilos diversos e o grau de profissionalismo com que se dedicavam ao esporte.

O panorama começou a mudar já por volta dos anos de 1950/60, quando as primeiras raquetes de metal surgiram - na verdade, elas existiam desde o fim do século XIX, mas até então nunca haviam alcançado o desempenho da madeira. Elas, contudo, ainda eram tão duras quanto suas antecessoras de madeira. Anos depois, apareceram outras novidades, com raquetes feitas com fibras de vidro, carbono e até de cerâmica, que em seus primórdios, nos anos 80, já causaram grandes mudanças, mas ainda eram tão retrógradas quanto as de madeira.

Logo os fabricantes de raquetes começaram a inovar sobre a base de fibra de carbono - que se provou a mais apropriada. Acrescentaram outros materiais - mais leves, mais duráveis, mais flexíveis etc dependendo do que desejavam obter -, aumentaram o tamanho da cabeça (deixou de ter aquelas cabeças "minúsculas" de 70 polegadas quadradas), mudaram a espessura do aro, en m, tudo para melhorar a performance.

O primeiro resultado da combinação cabeça maior e fibras mais elásticas: potência. Mas, como "potência não é nada sem controle", as misturas foram se re nando para dar mais equilíbrio, tornando as raquetes instrumentos que apoiavam verdadeiramente o jogo dos tenistas, oferecendo aos mais "fracos", mais força nos golpes, e aos mais "fortes", maior controle.

AS CLÁSSICAS

Uma das primeiras raquetes inovadoras foi a Wilson T-2000, de metal, lançada em 1967 e imortalizada nas mãos de Jimmy Connors, que gostou tanto de trocar suas raquetes de madeira por ela que - quando anos mais tarde o modelo saiu de linha - ele saia mundo afora procurando quem lhe vendesse alguma.

Já na era das raquetes de mesclas de fibras, uma das mais relevantes foi a Kneissel, com seu modelo sem "coração", ainda bem ao estilo das de madeira.

Aí surgiram os mais tradicionais modelos "de grafite" que marcaram época - elas ficaram tão famosas que os fabricantes passaram a apenas "atualizar" os modelos sem mudar os nomes. Algumas tinham resquícios da época da madeira, como a Dunlop 200, consagrada por John McEnroe, que a empunhava para desferir seus voleios mortais. Ela era pesada, dura e precisa, e fez enorme sucesso.

Aí também nasceu a Prince Classic, em 1975, de cabeça maior, que virou mania e estava na mão de milhares de amadores. Muitos deles fãs de Michael Chang (talvez pensassem: se essa raquete ajuda o jogo desse baixinho, vai me ajudar). Foi uma das primeiras a ter cabeça maior do que a maioria.

A evolução dos materiais das raquetes teve influência direta na evolução do tênis materiais das raquetes

A Prince Classic inaugurou a era das raquetes de cabeças grandes

Outra clássica é a Wilson Pro Staff que ficou marcada por ser a raquete de Pete Sampras, mas que já estava no mercado antes de o norte-americano despontar. Uma raquete de fibra de carbono, extremamente dura - e assim permanece até hoje -, de cabeça pequena voltada para quem tinha muita força nos golpes, pois dava um controle fenomenal. Mas era pesada quase como as de madeira.

A Head não ficou para trás e criou dois modelos inesquecíveis, a Prestige e a Radical. A primeira, também durinha, foi lançada em 1987 (faz 25 anos em 2012 com lançamentos especiais - confira o teste da Prestige S nesta edição) passou pelas mãos de inúmeros tenistas da época e virou xodó no Brasil no m da década de 1990, quando Gustavo Kuerten despontou. A Radical, por sua vez, um pouco mais leve e de cabeça maior, ganhou fama com Andre Agassi. Logo se tornaria a raquete preferida de um sem número de amadores que sonhavam em ter uma devolução de saque como a do norte-americano.

Nesse meio tempo, a evolução tecnológica não parou. A ProKennex, por exemplo, vendo o sofrimento dos amadores com raquetes pesadas e duras, criou uma linha especial para os que, diante desse quadro, apresentavam o tão temido tennis elbow.

A evolução dos materiais das raquetes teve influência direta na evolução do tênis materiais das raquetes

Mais recentemente, a Babolat, apesar do ingresso tardio nesse mercado, também inovou com raquetes mais aerodinâmicas que influenciaram outras marcas a desenvolver modelos na mesma linha.

A RAQUETE INFLUENCIA NO JOGO

fotos: Ron C. Angle/TPL

Uma raquete é capaz de modelar o estilo de jogo de um tenista?

Atualmente, as raquetes são praticamente feitas sob medida para os principais tenistas do mundo. Diante do sucesso de alguns jogadores, as marcas aproveitam o momento e modelam conforme os desejos deles. Ajustam a combinação de materiais, deformam o aro, aumentam ou diminuem a cabeça de acordo com o que lhes pedem.

No entanto, é interessante notar também uma questão "Tostines": é o tenista que escolhe sua raquete de acordo com seu estilo de jogo ou é a raquete que modela o estilo de jogo do tenista? Essa questão pode parecer tola, mas se pensarmos que cada um "aprende" com uma raquete diferente quando criança e adolescente - e a escolha do modelo, nessa fase, nem sempre tem a ver com questões relacionadas ao estilo de jogo -, talvez a reposta não seja tão óbvia.

A Wilson Pro Staff de Sampras (acima) e a Head Presti ge de Guga (ao lado) são dois dos modelos mais usados pelos profissionais até hoje

Uma criança que aprendeu a jogar tênis na época de Sampras e teve como presente uma raquete de seu ídolo certamente tendeu a desenvolver um estilo de jogo parecido com o do norte-americano, pois o modelo que ele usava era propício para quem batia forte e queria extrema precisão nos golpes e toques na rede. Já uma que cresceu vendo Nadal e usou sua raquete, provavelmente desenvolveu um estilo de mais topspin.

Mas isso somente porque viu seus ídolos atuando assim em quadra? Não. A escolha da raquete, mais do que o apreço pelo ídolo, tem importância fundamental na formação tenística de alguém. Se sua raquete não gera spin, dificilmente você vai ter o afã da "armada espanhola". Por outro lado, se ela gera muito spin, há grande chance de você desenvolver um jogo de fundo consistente. Estilos de ataque e defesa têm muito a ver com a escolha de um modelo. Contudo, ela não é determinante - como as diversas exceções à regra provam.

Ainda assim, repare no circuito profissional. Observe bem o estilo de cada tenista e veja com qual raquete ele joga - lembrando que a maioria deles não muda de raquete durante toda a carreira. Certamente é um modelo que "se encaixa" com o jogo dele. A verdade é que somos adaptáveis e, ao jogar durante muito tempo com um determinado modelo, acabamos nos adaptando a ele e "ajustando" nosso jogo.

Arnaldo Grizzo

Publicado em 1 de Fevereiro de 2012 às 15:52


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Artigo publicado nesta revista