Título de Bellucci, boa fase de Daniel e Alves, três duplistas entre os melhores do mundo, jovens promessas subindo no ranking. Será que voltamos a ser o País da raquete?
Thomaz Bellucci |
Setembro de 2004. A fase pela qual passa o tênis brasileiro não é das melhores. Guga, após uma temporada de altos e baixos, assume que ainda não está recuperado das dores no quadril e acena com a possibilidade de nova cirurgia. O boicote à Davis impera. Os resultados de outros tenistas mais jovens são parcos. Flávio Saretta e Ricardo Mello ensaiam bons momentos. O tênis brasileiro não parece ter renovação. De repente, Mello desencanta. 24o brasileiro a atingir o top 100, ele disputa o torneio de Delray Beach, vence Mardy Fish, Mario Ancic e Vincent Spadea na final e conquista seu primeiro troféu de ATP. É apenas o sétimo tenista do País a conseguir tal feito. Ao todo, são 35 ATPs vencidos por jogadores tupiniquins desde o início da Era Aberta em 1968.
Depois desta conquista, as esperanças se renovaram. Torcemos para que Guga voltasse a jogar bem após a segunda cirurgia, mas não aconteceu. Torcemos para que Saretta e Mello mantivessem o tênis brasileiro perto dos melhores do mundo, mas foram só lapsos. Os juvenis não despontavam. O Brasil caiu para a terceira divisão da Davis. Era o fundo do poço.
Cinco anos se passaram e a busca pelo novo Guga já era considerada risível. Almejar um top 100 consistente era um sonho. Além de Mello e Saretta, outros flertaram com o seleto grupo neste tempo, mas nenhum com constância. Thomaz Cochiarali Bellucci ainda era um juvenil (promissor, mas já com um problema no joelho).
O Brasil na Davis A última vez que o Brasil ascendeu ao Grupo Mundial foi em 1996, com uma vitória diante da Áustria de Thomas Muster pelo play-off, quando Guga ainda nem havia despontado. Quatro anos depois, com Kuerten já número um do mundo, chegamos à semifinal pela segunda vez na história da Davis, vencendo França, Eslováquia e só perdendo para a Austrália na grama. Antes disso, outra grande campanha do País foi em 1992, quando, após subir ao Grupo Mundial derrotando a Índia, o time de Luiz Mattar, Jaime Oncins, Fernando Roese e Cássio Motta venceu a Alemanha, a Itália e só perdeu para a Suíça no carpete. E bem antes disso, em 1966, Thomaz Koch e Edison Mandarino fizeram história ao levar o Brasil à final do Interzonal contra a Índia. O vencedor jogaria contra o campeão do ano anterior, a Austrália, para ver quem ficaria com o título. Naquela campanha, Koch e Mandarino venceram equipes fortes da Zona Europeia (da qual o Brasil fazia parte), como Dinamarca, Espanha (de Manuel Santana e Juan Gisbert), Polônia e França. Na semifinal do Interzonal, venceu os Estados Unidos de Arthur Ashe, Cliff Richey e Dennis Ralston. Contra a Índia, em Calcutá, o Brasil foi derrotado por Ramanathan Krishnan e Jaidip Mukerjea e perdeu a chance de jogar contra a Austrália dos lendários Roy Emerson, Fred Stolle, John Newcombe e Tony Roche. |
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Ricardo Mello, último a vencer um ATP antes de Bellucci |
A volta da esperança
Foram cinco anos complicados, sofridos. No começo de 2009, um novo alento. Bellucci vai à final do Brasil Open. Seria o novo herói nacional? Inexperiente, não conseguiu suplantar Tommy Robredo na decisão. Mas já tínhamos por quem torcer novamente. Os meses se passaram e o garoto sentiu a pressão. Derrotas em primeiras rodadas, oscilações. Em julho, ao invés de se firmar no top 100, seu ranking flertava com a saída do top 150. "Não estava preparado. Hoje entendo melhor o circuito", garante Bellucci.
Porém, um título no Challenger de Rimini fez com que voltasse a se aproximar dos 100 primeiros. Duas semanas depois, tentou a sorte no quali do ATP de Gstaad, na Suíça - terra do genial Roger Federer -, e foi muito além do que todos imaginavam. Surpreendeu ao vencer os favoritos Stanislas Wawrinka e Igor Andreev e ganhou seu primeiro ATP. Era a realização de um sonho para ele. Seria a concretização de uma promessa de nosso tênis?
É o que esperamos. Que o garoto de 21 anos tem jogo (ou capacidade de jogo) para brigar com os principais jogadores da ATP, isso ninguém duvidava. Que o canhoto possui um estilo moderno, de golpes fortes de fundo, bom saque e eficiente aproximação à rede, isso estava nítido. Faltava a tal da experiência. Ainda falta, mas logo - tornando-se um habitué dos grandes torneios, enfrentando os principais tenistas do circuito - é de se acreditar que Bellucci se consolide. E, quiçá, traga novos valores consigo. "Ainda não sou o cara. Ganhei um torneio importante para o Brasil, é verdade, mas estou longe de ser o cara. Temos outros jogadores muito bons. Tenho que manter os pés no chão. Falta muito ainda", revelou o jovem.
Lista de Brasileiros que já venceram torneios da ATP Luiz Mattar - 7 títulos Fernando Meligeni - 3 títulos Jaime Oncins - 2 títulos Carlos Alberto Kirmayr - 1 título Thomaz Koch - 1 título Ricardo Mello - 1 título Thomaz Bellucci - 1 título |
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Um grupo forte de novo
A vitória de Bellucci fez com que ele voltasse ao top 100 (em 66o) e, melhor do que isso, na mesma semana o Brasil teve três tenistas neste seleto grupo. Marcos Daniel - que em Gstaad fez semifinal após vencer três franceses (Paul-Henri Mathieu, Julien Benneteau e Florent Serra) -, ao invés de pensar em aposentadoria, aos 31 anos, está no auge e se aproximou do top 50. Thiago Alves, apesar de ainda inconstante, entrou no top 100, saiu, mas tem grandes chances de terminar a temporada nesse grupo.
Enfim, por uma semana revivemos anos de glória do tênis nacional, com um campeão e um semifinalista em torneios ATP e três top 100 - algo que não acontecia desde 2003, com Guga, Saretta e André Sá, que ainda jogava simples. O melhor de tudo é perceber que o Brasil novamente tem um bom grupo de jogadores, especialmente se incluirmos na lista Sá, Marcelo Melo e Bruno Soares, destaques nas duplas nos últimos anos. E, desta vez, se não temos ainda um tenista fenomenal, o time é mais homogêneo do que na época de Guga.
Marcelo Melo e André Sá, Brasil entre os melhores nas duplas Marcelo Ruschel |
Uma chance de ouro
Tudo isso faz crer que a equipe brasileira da Copa Davis, capitaneada por Chico Costa, enfim pode voltar ao Grupo Mundial - mesmo sabendo que vencer ou manter-se lá seja uma tarefa hercúlea. Para voltar à elite - de onde saímos em 2003, com a trágica derrota para o Canadá, que desencadeou o boicote -, "basta" vencer o Equador dos irmãos Lapentti no play-off.
Costa já definiu o time com Bellucci, Daniel, Melo e Sá. Os reservas serão Soares, Alves, Franco Ferreiro (que atuou brilhantemente na vitória sobre a Colômbia, em maio) e o promissor Marcelo Demoliner. Está longe de ser um time imbatível, mas certamente deve ser favorito diante da torcida em Porto Alegre, nos dias 18, 19 e 20 de setembro. Nicolas e Giovanni não atravessam grande fase e os outros equatorianos também não devem ser páreo para um grupo em tão boa fase quanto o brasileiro. "Estamos no melhor momento do tênis brasileiro. Temos todas as chances do mundo de vencer este confronto e voltar para o Grupo Mundial", afirma Bellucci, que completa: "Tenho certeza de que posso fazer muito mais do que já fiz". Nós também temos.
Publicado em 24 de Agosto de 2009 às 08:47
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