Brasil Open
Mudança para São Paulo se mostrou benéfica p/ Brasil Open, que teve excelente público desde primeiras rodadas e ginásio cheio nos últimos três dias, mesmo sem um brasileiro na final de simples. A Revista TÊNIS selecionou melhores fotos dos principais p...
Mudança para São Paulo se mostrou benéfica para o Brasil Open, que teve excelente público desde as primeiras rodadas e ginásio cheio nos últimos três dias, mesmo sem um brasileiro na final de simples. A Revista TÊNIS selecionou as melhores fotos dos principais personagens do torneio
Crédito - Fotos por: Douglas Daniel, Marco Maximo, Ricardo Valarini, William Lucas, Marcelo Ferreli, Gaspar Nobrega e Marcello Zambrana
"EM UM DIA AQUI JÁ TEVE mais público que em 11 anos na Costa do Sauípe", foi a primeira frase do sempre contido nas palavras, Ricardo Mello, logo após sua vitória na estreia do Brasil Open 2012. Esse "exagero" cometido pelo campineiro reflete um pouco o que significou a mudança do torneio do resort no litoral baiano para a capital paulista.
Depois de 11 anos na Costa do Sauípe, o Brasil Open parecia mesmo estar começando a definhar. Tudo era muito bom e belo para patrocinadores e jogadores, mas quase sempre faltou um componente essencial ao esporte: os fãs. E, ao mudar para São Paulo em uma grande arena como o Ginásio do Ibirapuera - com ingressos acessíveis -, o torneio conseguiu congregar esse elemento desde as primeiras rodadas.
Logo no fim de semana do qualifying (cuja entrada era grátis) pôde-se perceber que os amantes de tênis não perderiam essa oportunidade por nada. Com entradas a R$ 15 nos anéis superiores, houve gente que passou o dia todo acompanhando os jogos (mesmo sofrendo um pouco com a falta de estrutura do ginásio - cujos banheiros ainda deixam a desejar e a falta de lanchonetes). Eram fãs que compareciam pelo gosto de poder apreciar um bom espetáculo de tênis, mesmo quando um brasileiro não estava envolvido. E quando houve um representante nacional, esse público enorme mostrou que é capaz de fazer a diferença (como na vitória de Thomaz Bellucci sobre Leonardo Mayer, por exemplo).
Então, a troca valeu a pena? Para quem foi a Ibirapuera durante os nove dias de competição e ajudou a lotar aquela arena, a resposta é óbvia.
BRASIL OPEN 2012 Resultado final de duplas |
Bruno Soares (BRA) e Eric Butorac (USA) v. André Sá (BRA) e Michal Mertinak (SLK) 3/6, 6/4 e 10-8 |
Crédito - Fotos por: Douglas Daniel, Marco Maximo, Ricardo Valarini, William Lucas, Marcelo Ferreli, Gaspar Nobrega e Marcello Zambrana
Nas primeiras vezes que disputou o Brasil Open, espanhol chegou a ser vaiado. Hoje, é um exemplo de comportamento
2006 foi o ano que deu início à febre das duplas no Brasil. Foi naquela temporada que André Sá, aos 29 anos, e Marcelo Melo, com 23, juntaram forças para formar uma dupla que seria semifinalista de Wimbledon no ano seguinte e terminaria em nono lugar na classificação geral de duplas, ficando a uma posição de disputar o Masters. Na esteira desses mineiros, veio Bruno Soares, também de Minas Gerais, que logo teve sucesso, fazendo semifinal em Roland Garros na primeira vez que disputou o Grand Slam francês, ao lado do sérvio Dusan Vemic, em 2008. Tempos depois, uniu-se a Melo e, juntos, conquistaram três títulos (entre eles o Brasil Open 2011) e cinco vices. Atualmente, Melo, Sá e Soares estão cada um com um parceiro. André busca fazer dupla com o eslovaco Michal Mertinak, Bruno juntou-se ao norteamericano Eric Butorac e Marcelo ainda está sem alguém fixo. Os três, contudo, continuam se destacando.
E seus bons resultados têm inspirado outros brasileiros a trilharem o mesmo caminho, como João Souza e Ricardo Mello, por exemplo, que foram bem no Australian Open. E até Thomaz Bellucci, que vem se arriscando na modalidade.
"Acho que a dupla sempre foi um complemente muito importante da simples. Sempre gostei de jogar. E eu jogava para me ajudar na simples. É um jogo mais dinâmico, mais rápido, você se diverte um pouco mais na quadra. Isso tem tudo a ver com o que a criançada gosta de ver no esporte. Espero que a gente possa estar inspirando outras crianças a jogar duplas, mas não deixando a simples. Usar a dupla como complemento da simples. E curtir bastante o jogo de duplas", aponta André Sá.
Neste Brasil Open, Soares sagrou-se bicampeão. O resultado o deixou na 18ͣ colocação do ranking, com Melo em 32° e Sá em 53°. Em parcerias, Bruno e Butorac foram ao quinto lugar, e André e Mertinak ao 24°.
BRASIL OPEN 2012 Resultado final de simples |
Nicolas Almagro (ESP) v. Filippo Volandri (ITA) 6/3, 4/6 e 6/4 |
Almagro mudou suas atitudes tanto em quadra quanto fora dela. Isso influenciou em seu jogo
"Apaixonei-me", foi assim que Nicolas Almagro definiu o porquê da mudança drástica pela qual passou sua personalidade nos últimos três anos. A primeira vez que o espanhol participou do Brasil Open foi em 2005. Perdeu na estreia e pouco chamou a atenção.
Depois, voltou, fez duas quartas-de-final seguidas e já ganhava fama de antipático. Nos dois anos seguintes (2008, quando foi campeão, e 2009) teve entreveros com a torcida brasileira. Era considerado arrogante em quadra e perdia a cabeça tão facilmente quanto batia sua poderosa esquerda de uma mão.
"É preciso ganhar com humildade para perder com respeito"
Em 2010, não veio ao Brasil. Voltou em 2011, já mudado. "É preciso ganhar com humildade para perder com respeito", teria sido a grande lição que aprendeu com o compatriota e amigo Juan Carlos Ferrero - que sabe o que é ter carisma. Com isso na cabeça, passou a "se comportar" melhor em quadra, com uma postura menos soberba e também começou a tratar melhor a imprensa, sempre alegre nas coletivas. Esse conjunto de atitudes, somado obviamente ao seu extremo talento e força - e a uma grande melhora na parte física -, fez com que o moço alcançasse o top 10.
Com boa cabeça, seu jogo ficou mais consistente. Seu saque poderoso sempre fez a diferença, assim como os forehands e backhands mortais do fundo de quadra. Neste Brasil Open, ele mostrou claramente como essa mudança de vida alterou também seu jogo, pois esteve "apertado" em três dos quatro jogos que fez, e conseguiu se safar mesmo não jogando seu melhor tênis. Isso é uma qualidade rara nos tenistas, típica de grandes campeões e que se reflete em mais uma frase de efeito da qual o espanhol se apropriou: "Finais não se jogam, se ganham".
Crédito - Fotos por: Douglas Daniel, Marco Maximo, Ricardo Valarini, William Lucas, Marcelo Ferreli, Gaspar Nobrega e Marcello Zambrana
Quando a fase não é das melhores, nem mesmo uma boa intenção consegue ser percebida como boa. E foi isso o que aconteceu com Thomas Bellucci no Brasil Open. Ainda sem grandes resultados desde meados do ano passado, tendo passado por mais uma troca de treinadores, o canhoto chegou cheio de expectativas.
Logo na estreia, uma partida capciosa contra Ricardo Mello. Um primeiro set avassalador era o sinal de que tudo estava no rumo. Um segundo set terrível fez retornar as dúvidas. No terceiro, enfim, a vitória.
Nas quartas-de-final, na noite de sexta-feira, com ginásio lotado, um duro duelo contra o argentino Leonardo Mayer - prato cheio para a torcida. Em "condições normais", o hermano teria vencido Bellucci, que estava sendo dominado pelo ótimo saque do oponente. Mas, com a pressão de mais de 7 mil pessoas, Mayer começou a ficar nervoso e perdeu completamente o controle. No fim, mesmo sacando em 5/4 no terceiro set para fechar o jogo, tremeu. E o ginásio também tremeu, tamanha a emoção pela vitória do brasileiro.
Torcida foi um fator importante na campanha de Bellucci
Bellucci também se emocionou. A carga foi tanta que não conseguiu dormir e se refazer para a semifinal do dia seguinte. Ainda assim, entrou em quadra, lutou para conseguir ganhar o primeiro set, mas a exaustão o venceu. "Fiquei em quadra por respeito ao público", disse chateado. Chateado, pois boa parte desse público o vaiou no fim. Vaias que o brasileiro não conseguiu compreender, pois "havia lutado, dado o seu máximo" (certamente lembrando das críticas que recebeu por abandonar o confronto na Índia pela Copa Davis em 2010).
Sua intenção certamente foi a melhor. O que ele não entendeu, no entanto, é que a postura com que ficou em quadra não passava a imagem de quem estava lutando em nome da torcida, mas de quem estava entregando os pontos. Em sua cabeça, ele queria dizer uma coisa, mas suas expressões comunicavam o oposto e foi isso o que o público viu (e acabou por vaiar). Se soubessem o que se passava na mente do tenista, com certeza ficariam do seu lado. Mas Bellucci está aprendendo. Falta "se expressar melhor".
Crédito - Fotos por: Douglas Daniel, Marco Maximo, Ricardo Valarini, William Lucas, Marcelo Ferreli, Gaspar Nobrega e Marcello Zambrana
Quem observa Filippo Volandri sacando um primeiro serviço a 120 km/h logo pensa: "Como alguém com um saque tão lento consegue estar entre os 100 primeiros do ranking?" Mais do que isso, como ele consegue vencer alguém que tem uma das melhores devoluções do circuito, como David Nalbandian? É realmente uma incógnita. Mas a verdade é que Pippo compensa a falta de potência com aplicação tática, um quê de habilidade e preparo físico invejável para alguém com 30 anos.
Seu jogo contra Nalbandian foi de altíssimo nível, especialmente no primeiro set. Contra Bellucci, mostrou sua "rodagem" e não aguçou a torcida, suportando, calado e calmo, todas as vaias. Na final, colocou Almagro para correr, fazendo-o bater sempre desconfortável. Não conseguiu vencer, mas deu uma aula para quem acha que uma "deficiência técnica" pode determinar um tenista.
Sem um grande saque, Volandri compensa com aplicação tática e excepcional preparo aos 30 anos
Leonardo Mayer é da mesma geração de Thomaz Bellucci. Nasceu no mesmo ano e, mais do que isso, tem a mesma altura que o brasileiro, o mesmo porte físico. No jogo entre ambos, estava dominando as ações com seu saque. Todavia, ainda imaturo, foi vítima do público.
Sempre birrento, desde os tempos de juvenil, Mayer sofreu com a torcida contra. Foi vaiado (xingado em alguns momentos) e não conseguiu manter a calma. O que seria um jogo relativamente fácil para ele (já que o brasileiro não estava conseguindo equilibrar as coisas), transformou-se em um pesadelo. Cada atitude sua só piorou a situação, que culminou com a derrota.
No dia seguinte, certamente já estava em Buenos Aires para o ATP local, mas bem que poderia ter assistido ao jogo de Bellucci e Volandri para entender com o italiano como é preciso se comportar para minimizar os efeitos da torcida.
Crédito - Fotos por: Douglas Daniel, Marco Maximo, Ricardo Valarini, William Lucas, Marcelo Ferreli, Gaspar Nobrega e Marcello Zambrana
Já faz tempo que a Espanha vem dominando as primeiras posições no circuito. Atualmente, são 13 os top 100 espanhóis. O jovem Albert Ramos (também da mesma geração de Bellucci) é um deles. À primeira vista, seu tênis não é muito vistoso e nada chama muito a atenção. Porém, ao ver seus jogos no Brasil Open, todos puderam reparar como ele é capaz de jogar taticamente, sempre movendo os adversários de um lado para outro da quadra, com golpes consistentes e bons contra-ataques (o que deixou Fernando Verdasco louco, por exemplo). É mais um da esquadra que dará trabalho.
Publicado em 1 de Março de 2012 às 11:34