São Paulo recebeu pela primeira vez o circuito de veteranos da ATP. Sobraram técnica, simpatia e belas jogadas; faltaram público e Bjorn Borg
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Pela primeira vez, a turnê de veteranos da AT P foi realizada na América do Sul. No fim de novembro, o público que compareceu ao Ginásio do Ibirapuera em São Paulo pode rever ídolos do passado, se divertir com o clima descontraído e, acima de tudo, comprovar que técnica e talento definitivamente não desaparecem com o passar dos anos. A lamentar, a abrupta retirada de Bjorn Borg – o principal nome do evento – e o abusivo preço dos ingressos (90 reais por dia), que impediram o torneio de se tornar uma verdadeira festa do tênis e esvaziou as arquibancadas.
No circuito BlackRock, como é chamado, só jogam tenistas que foram número um do mundo, campeões ou vice de algum Grand Slam, além de vencedores ou finalistas da Copa Davis. Em São Paulo, preenchiam esses honrosos requisitos os suecos Mats Wilander e Bjorn Borg (substituído pelo compatriota Magnus Larsson), o francês Henri Leconte, o argentino Guillermo Vilas, o espanhol Sergi Bruguera e o equatoriano Andrés Gomez. Fernando Meligeni e o português João Cunha e Silva foram convidados para completar os grupos.
Bruguera chegou como líder disparado do circuito. Em ótima forma física e com “apenas” 36 anos, ele havia conquistado seis das 10 etapas anteriores. Vilas e Wilander causavam uma expectativa ainda maior, pois juntos somaram 11 títulos de simples em Grand Slams. Wilander chegou ao topo do ranking mundial em 1988, ano em que conquistou o Australian Open, Roland Garros e o US Open. Onze anos antes, o argentino Vilas assombrava o mundo do tênis, com as conquistas de Roland Garros, US Open e de mais 14 títulos em apenas 12 meses. No entanto, graças aos contestados critérios de pontuação da ATP na época, ele injustamente não foi o número um do mundo naquela temporada.
Borg não dise a que veio
No entanto, é desnecessário dizer que a maior estrela do torneio era mesmo Borg, um dos maiores nomes da história do tênis em todos os tempos. O sueco conquistou 11 troféus de Grand Slam entre 1974 e 1981 – foram cinco títulos consecutivos em Wimbledon e o hexacampeonato de Roland Garros. Líder do ranking por 109 semanas, ele foi um dos primeiros popstars do tênis, e fez sua fama em torno do mito do “Homem de Gelo”, o tenista inabalável, forte e extremamente eficiente em seus golpes.
Por tudo isso, foi um tremendo “balde de água fria” quanto o sueco, no momento de sua partida de estréia, foi à quadra e comunicou que não jogaria a competição. “Vim para cá com a esperança de jogar, mas as dores foram piorando ao longo dos dias. É uma pena, porque guardo ótimas lembranças daqui e queria muito ter jogado”, disse ele ao microfone, lembrando do segundo torneio que venceu na carreira, em 1974, naquele mesmo ginásio. Em seu lugar, foi convocado o também sueco Magnus Larsson, um gigante de 1,93m, que chegou ao top 10 em 1995. Forte, um tanto acima do peso e bonachão, Larsson exibiu golpes muito potentes (especialmente o saque), jogou em alto nível e acabou agradando a platéia. Borg continuou em São Paulo até sábado, dia 24 de novembro. No entanto, só apareceu no Ibirapuera mais uma vez e, mesmo com tempo livre de sobra, não falou mais com os fãs ou com a imprensa. Limitou-se a prometer que jogará novamente no Brasil, se o evento voltar a ser realizado em 2008.
Estilo de jogo
Com o passar do tempo, alguns tenistas desenvolvem outras habilidades e mudam um pouco as suas características em quadra. Como a diversão é um dos principais objetivos dos veteranos em torneios como este, eles se permitem fugir um pouco do padrão de jogo que os consagraram – e também o fazem para poupar o físico. Assim, quem imaginava que Bruguera se limitaria às bolas cheias de topspin do fundo de quadra, se surpreendeu com o uso de outros efeitos e golpes bem mais variados e técnicos. Wilander, famoso por quase não cometer erros não-forçados, alternou essa regularidade com golpes agressivos e muitos voleios. E, por incrível que pareça, até Meligeni arriscou diversas subidas à rede. Quem diria?
Larsson (de costas) e Wilander tiveram uma “disputa acirrada” na rede |
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Mas o que o brasileiro mais demonstrou foi mesmo toda a descontração e espírito de luta que marcaram sua carreira. Plantou bananeira, parou o jogo para tirar fotos, imitou macaco, trocou de lado com os adversários no meio do ponto... O único que ameaçou seu título de “campeão das palhaçadas” foi o francês Henri Leconte, outro tenista extremamente carismático que contagiou o público. Por outro lado, Guillermo Vilas (o mais velho entre os participantes) jogou as três partidas com o espírito de competição acirrado. Falava sozinho para se motivar, fazia cara feia quando cometia um erro bobo, mas não deixou de sorrir para a torcida e foi sempre atencioso com os fãs. E, como era de se esperar, deu um show de tênis com sua técnica impecável. Como curiosidade, vale destacar que o argentino, quando acertava o primeiro saque, disputava o ponto inteiro com a segunda bolinha em sua mão – uma das manias que não mudou com o tempo...
O resultado das partidas pouco importava, pois as atrações eram a exibição técnica e a diversão proporcionada pelos ex-profissionais. No fim, os “jovens” Meligeni e Bruguera, ambos com 36 anos, provaram que a idade faz diferença neste circuito e foram à final no domingo. Fininho queria a revanche contra o espanhol já que, na etapa de Algarve, em Portugal, havia perdido em dois sets a final para Bruguera. A partida foi em alto nível, com poucas brincadeiras e muitas trocas de bola. Mesmo jogando na casa do rival, Bruguera novamente venceu em dois (disputados) sets e faturou seu sétimo título na temporada.
Vilas ainda guarda o costume de jogar com a bolinha na mão |
Borg |
Leconte (acima) brincou o tempo todo e Meligeni foi perseguido por Bruguera em sua própria quadra |
Publicado em 17 de Dezembro de 2007 às 11:33