Nos últimos três anos, o Brasil Open foi conquistado por tenistas espanhóis. Entenda por que eles dominam o saibro
EM 2010, DOS 21 TORNEIOS ATP disputados no saibro, 13 foram vencidos por tenistas da Espanha. Em segundo lugar no "ranking das competições de terra batida" estão Argentina e Rússia, com dois títulos. Sim, isso mesmo. Meros dois títulos para cada nação. O restante, Suíça, França, Estados Unidos e Brasil (Thomaz Bellucci venceu em Santiago), com um cada. Quer mais? A Espanha terminou 2010 com 14 homens no top 100. Mas, por que a superioridade dos espanhóis é tamanha quando o assunto é tênis jogado em quadras de saibro? A resposta é longa, então resolvemos pontuar as principais características dos tenistas vindos da terra do rei Juan Carlos que fazem com que eles simplesmente dominem esta superfície como nenhuma outra nação consegue. Como exemplo, vamos usar os três últimos campeões do Brasil Open: Nicolas Almagro (2008), Tommy Robredo (2009) e Juan Carlos Ferrero (2010). Você dirá: "mas eles não possuem estilos idênticos". Bem observado. Não mesmo. Porém, há pontos semelhantes que precisam ser levados em consideração no jogo de cada um deles que formam um conjunto de técnicas e táticas que montam o panorama conhecido como "a escola espanhola de tênis". Sendo assim, vamos por partes falar das técnicas e táticas usadas por eles e nas próximas páginas trazemos 13 pontos-chave que fazem desses tenistas reis do saibro. Se você também quiser ser o "dono da terra", aprimore-se em cada um dos tópicos a seguir. |
Os pontos no saibro são longos. Ponto. É notório que um tenista com melhor preparo físico - mesmo que tenha uma técnica não tão refinada quanto seu adversário, mas que consiga manter a bola em jogo - terá vantagem assim que a força das pernas abandonar o oponente e fazer com que ele cometa erros atrás de erros. Sendo assim, raramente você verá tenistas espanhóis "gordinhos". E mesmo os mais "cheinhos", como Almagro, por exemplo, possuem pernas fortes e rápidas. |
Os pontos no saibro são longos. De novo? Sim, essa afirmação é importante, pois a duração de um ponto geralmente determina o domínio mental que um tenista possui. Se ele é capaz de trabalhar o ponto com paciência, esperando sua vez de atacar, ele é capaz de dominar seu adversário mentalmente. Repare nos espanhóis. Depois de um erro, a maioria deles não se abala e espera o próximo ponto. Isso mina a confiança de qualquer oponente mais susceptível a ficar irado após erros bobos, que no saibro não são tão incomuns. |
3 PACIÊNCIA Quantas bolas você troca por ponto? Quantas você é capaz de trocar sem pensar: "preciso finalizar o ponto logo"? A cabeça de cada espanhol funciona assim: trocarei bolas até que meu adversário erre. Esse geralmente é o primeiro dogma que prega a escola de tênis espanhola. E, acredite, os "fiéis" seguem isso à risca desde a mais tenra idade. Abandonar ou romper com isso é para poucos. |
O QUE APRENDER COM NICOLAS ALMAGRO, CAMPEÃO DO BRASIL OPEN 2008 -Aproveite as bolas curtas e finalize o ponto com sua direita |
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Saque aberto. Primeira bola alta e profunda na esquerda do oponente. Segunda bola, um slice cruzado. Terceira bola, um backhand na paralela. Quarta bola, um spin no meio fundo. E assim vai até que o adversário encurte a bola para que o ponto seja definido em um winner ou em um erro forçado. Na mente dos espanhóis, cada ponto é crucial. É preciso planejamento. É preciso tática. É preciso doação total para vencer. Assim, cada bola será pensada, lapidada, elaborada com carinho para que o resultado seja sempre o mesmo: vencer o ponto. |
Quer se defender bem? Mande um topspin fundo e alto no backhand do adversário. Quer atacar com propriedade? Mande um topspin fundo e alto no backhand do adversário. Estranho? Não. O efeito topspin dá peso à batida e incomoda qualquer oponente em qualquer situação. O topspin ainda dá consistência aos golpes, fazendo-os cair sempre dentro da quadra. Quem domina a arte do topspin, domina o ponto. |
É o "topspin no saque", diz-se. E essa afirmação é bastante verdadeira. O saque quique é o saque cheio de efeito que quica alto e atrapalha a devolução do adversário. Os espanhóis são mestres neste tipo de serviço. Eles geralmente usam esse recurso no segundo saque (mas no primeiro com frequência também), mirando o backhand do oponente (especialmente se o revés for executado com uma mão e for do lado da vantagem). Com isso, eles ganham tempo, impedem que seu serviço seja atacado e, mais do que isso, ficam em uma situação favorável para atacar. Experimente o famoso saque quique aberto e domine o ponto. |
A tática clássica da escola espanhola sempre foi: sacar um quique aberto na vantagem, dar dois passos para a esquerda para esperar a devolução e dominar o ponto com o forehand. Parece simples. E é. E funciona em grande parte das vezes. Você perceberá que muitos dos espanhóis não possuem golpes devastadores, mas diversos usam a direita para definir as jogadas. Assim que a devolução vem fraca, eles golpeiam de direita para fazer o adversário correr de um lado para o outro da quadra. |
Fugir da esquerda para bater a direita também é uma das táticas mais difundidas do jogo tradicional no saibro. A ideia é simples: usar seu melhor golpe para forçar o adversário a usar mais o backhand. Esta é a essência do famoso forehand inside-out. É um golpe que geralmente segue o saque quique aberto e serve para pegar o adversário no contra-pé, por exemplo. Ao fugir para bater a direita, os espanhóis também colocam o oponente em uma situação de dúvida: "será que ele vai atacar na paralela ou na cruzada"? Mas, o básico do básico é forçar a esquerda do adversário. E, caso o rival ouse atacar a bola na paralela, eles ainda têm a opção do forehand na corrida, uma técnica em que os espanhóis também são craques. |
O QUE APRENDER COM TOMMY ROBREDO, CAMPEÃO DO BRASIL OPEN 2009 -Mantenha a bola sempre funda |
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Alguns dos melhores tenistas do mundo possuem um golpe especial e, para muitos deles, este golpe especial é o forehand na corrida. Muitos tenistas, para não serem atacados no backhand, usam muito da artimanha de fugir da esquerda e bater a direita de dentro para fora. Com isso, eles correm risco de serem atacados na paralela. Contudo, eles sabem desse risco e "pedem" para que o adversário faça a inversão do jogo para a paralela, pois seu contra-ataque com o forehand na corrida costuma ser fatal. |
Todo espanhol que se preze sabe tudo o que deve fazer para se defender no fundo de quadra. Com um trabalho de pernas e um preparo físico excelentes, a meta deles é nunca deixar a bola quicar duas vezes em seu lado da quadra, nunca lhe dar o gostinho de finalizar o ponto em um winner. Mesmo que seja impossível alcançar a bola, eles irão até ela como que dizendo: "da próxima vez, se você não jogar uma bola tão boa, eu pego". Mais do que pegar, eles vão jogar do outro lado de uma maneira que impeça outro ataque. |
Jogar contra um espanhol é como jogar contra dois adversários. Parece que ele está em todos os lugares da quadra. Mais do que isso, parece que mesmo quando você dá uma bola que seria um winner contra qualquer outro adversário, ele, mais do que alcançar, consegue devolver e vencer o ponto, seja com uma passada espetacular, um lob, ou mesmo uma bola que leve você ao erro. Aqui você vai aprender o real significado da teoria "para toda ação há uma reação". |
O QUE APRENDER COM JUAN CARLOS FERRERO, CAMPEÃO DO BRASIL OPEN 2010 -Seja rápido para alcançar todas as bolas e devolver tudo para o outro lado da rede |
Repare nos tenistas norte-americanos jogando no saibro. Repare em Andy Roddick. Perceba como ele tem dificuldade em se locomover. Perceba como ele tem dificuldade para recuperar terreno quando é jogado para fora da quadra. Perceba como ele escorrega, no mau sentido da palavra. Deslizar (e não escorregar) no saibro é uma arte. É preciso tempo de prática para saber o exato momento em que você precisa deixar a inércia levar seu corpo para a frente, frear e se recuperar da melhor maneira. |
O maior segredo do saibro é ser regular, ou seja, manter a bola em jogo a todo custo. Depois, você deve ter uma consistência nos golpes, ou seja, além de apenas mantê-los em quadra, mantenha-os firmes, profundos e com a colocação desejada. |
Publicado em 14 de Janeiro de 2011 às 07:40
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