Aula de Geometria

Quais os melhores pontos para estar em uma quadra de tênis dependendo da sua jogada e da resposta do adversário?


Por que alguns jogadores correm mais na quadra do que outros? Por que alguns parecem receber sempre a bola na mão? Você já se perguntou por que sempre acaba dando a bola na mão do seu adversário?

A precisão das batidas, a experiência dos jogadores – e consequentemente uma melhor escolha de jogadas –, o raciocínio lógico muito associado ao controle emocional e a própria visão das jogadas – que permite uma boa antecipação nos movimentos –, são fatores que “diminuem” o tamanho da quadra, encurtam distâncias e aumentam o tempo para a movimentação. A maioria dessas qualidades são adquiridas com a vivência do jogo, porém, consciente ou inconscientemente, estão associadas ao conhecimento da geometria da quadra e suas particularidades.

Os que conhecem um pouco da ciência euclidiana sabem que a quadra tem um formato retangular, o que faz com que um drive cruzado possa percorrer quase dois metros a mais do que um paralelo. Além disso, a rede tem alguns centímetros a mais de altura nas laterais – que teoricamente não fazem tanta diferença –, mas que, na prática, demonstram a inteligência de todas as suas medidas. Esses são pequenos detalhes que, considerados ou ignorados, podem representar várias posições para cima ou para baixo no ranking do seu clube, um placar mais elástico ou mais apertado contra aquele velho parceiro de jogos e treinos.

Portanto, aqui vamos tentar ajudá-lo a reavaliar seu posicionamento em algumas das principais situações de jogo, mostrar e comprovar o posicionamento correto ou ajudá-lo tirar suas conclusões sobre o que pode melhorá-lo. Esses conhecimentos devem também influenciar nas decisões de escolha dos golpes para melhorar todas as suas jogadas, diminuir o desgaste físico e aumentar o percentual de acertos.

Se o tênis é um jogo de tempo e espaço, espaço é geometria e trabalhar com ela corretamente fará você ganhar bons jogos ou, ao menos, aumentará suas chances de vencer.

Na cruzada, é preciso se movimentar menos

Cruzada, o caminho seguro

Você sabe por que a quadra de tênis é um retângulo e não um quadrado? Se a quadra fosse quadrada, as batidas cruzadas e anguladas teriam mais área ainda e seriam indefensáveis. Essa preocupação já demonstra a maior eficiência nessa opção de jogada. Dessa forma, observe abaixo:

Repare que a linha verde representa uma jogada cruzada, que abre e angula as bolas, e a amarela mostra a paralela, que joga a bola de fora para dentro, portanto:

1) As cruzadas possuem uma margem de erros e acertos melhor do que as paralelas pelo fato de a quadra ser maior (cerca de 1,38 m) e de a rede ser mais baixa no centro. Além disso, se você adiantar um pouco a batida, uma cruzada pode se tornar uma boa angulada e, se você atrasar, a bola acabará indo mais ao centro. Porém, em uma paralela, se você adiantar também jogará a bola mais ao centro, mas, se atrasar, jogará a bola para fora.

2) Se você estiver em uma troca de bolas com seu oponente, aquele que usar o maior número de paralelas acabará se movimentando mais do que o outro – como você constata a seguir.

Geometria básica 1

Os aspectos citados anteriormente devem ser levados em consideração para todas as jogadas, do saque às curtas e lobs, ou seja, a primeira posição do jogo com os jogadores no fundo. No entanto, a teoria muda completamente se um dos jogadores estiver na rede. Dessa forma, veja o que fazer nas situações abaixo:

Bola batida para o centro

Se a sua bola foi direcionada ao centro da quadra, você deve se posicionar também ao centro, óbvio.

Bola direcionada a um dos cantos da quadra

Repare nos gráficos ao lado que, ao colocar o seu adversário em um dos cantos da quadra, se você se posicionar ao centro, estará muito mais próximo do ponto de batida paralela do que de cruzada do seu adversário. Dessa forma, quando você desloca seu rival para um dos lados, automaticamente terá que cobrir mais a quadra do lado oposto.


Cobertura da quadra
Se você está em um dos cantos da quadra e optar por bater uma paralela, terá de mover-se ou correr bem mais para se posicionar corretamente para a próxima bola.
A linha verde demonstra o deslocamento para o posicionamento caso você bata uma paralela. A amarela no caso de a opção ser a cruzada. Se a escolha for uma cruzada, a movimentação será bem menor.

Posição depois da cruzada!
Depois de bater uma cruzada, repare como, movendo-se ao lado oposto, você consegue uma “equidistância” para os dois lados.

 

Novak Djokovic

Não volte ao meio!
Você cruzou a bola e ficou no centro da quadra? Repare como a cruzada ficou aberta.

 

No saque
Seguindo a teoria apresentada, se você for sacar em uma partida de simples, o melhor ponto para igualar as distâncias será próximo ao centro (posição 1). Se for em uma partida de duplas, terá de cobrir, além do corredor de duplas, também os ângulos cruzados (posição 2).

Para receber
Se você for o devolvedor, lembre-se de que o posicionamento ideal protege um pouco mais os lados abertos do que exatamente o meio do quadrado de saque. Consequentemente, se o seu oponente se deslocar mais para as extremidades da quadra, embora deixe mais quadra aberta para a sua devolução, ganha mais ângulo para acertar as laterais. Assim, se ele abre no posicionamento para sacar, você deve abrir também a colocação para esperar a devolução.
Por exemplo, se o seu oponente estiver na posição 1 de saque, você estará na posição 3 para a devolução. Se ele estiver na posição 2 para o saque, você se deslocará para a posição 4 para a resposta, conforme os gráficos ao lado.

Geometria básica 2

Já que a preocupação é o posicionamento em quadra, não podemos deixar de falar sobre uma situação muito comum, especialmente entre os iniciantes que, ao se depararem com uma área tão grande, instintivamente acabam entrando na quadra e se posicionando na região de maior incidência de acertos das bolas – exatamente onde a maioria das bolas caem. No passado, os professores chamavam essa área de “mata-burro”.

Esse posicionamento só deve ser adotado em forma de antecipação, quando você sentir que seu adversário está em apuros ou desequilibrado, em situação de defesa, e não vai conseguir golpes potentes e precisos. Isso poderá ocorrer após um bom golpe de fundo ou talvez quando o seu adversário vem à rede e você consegue uma boa bola baixa, nos pés dele, forçando-o a um bate-pronto ou um voleio muito baixo, que certamente vai sair curto. Também é uma boa posição se você conseguir uma deixadinha.

Outro erro quase tão grande quanto ficar no meio da quadra é ficar muito longe da linha de fundo para “economizar” movimentação quando as batidas do seu adversário são profundas. Ficar a quatro ou cinco metros atrás da linha torna seus golpes inofensivos e aumenta demais a quadra para correr para as bolas curtas.

Lembre-se: tênis é um jogo de movimentos e nenhuma posição cobre todas as bolas. Mesmo que você tenha que ir o tempo todo para trás, precisa voltar para cerca de um passo (atrás) da linha de fundo.


Um dos erros dos principiantes é ficar entre o “T” e a linha de fundo, no dito “mata-burro”

Da mesma forma que ficar no “mata-burro” é ineficiente, o mesmo ocorre se ficar muito no fundo da quadra

 

Posicionamento na rede

Como dito anteriormente, a “geometria” da quadra muda quando se está na rede. Quando estamos no fundo, depois de golpear a bola, movimentamo-nos para o lado oposto do qual direcionamos a bola – para cobrir a quadra adequadamente. Na rede, a lógica se inverte e, se batemos na paralela, por exemplo, seguimos na direção da bola para cobrir eficientemente a quadra. Para melhor entender isso, confira os gráficos a seguir.

 

Approach no centro
Se você golpear a bola para o centro da quadra e for para a rede (approach), o melhor posicionamento obviamente será o meio, ou seja, o centro dos ângulos de passada dos dois lados – assim como ocorria no fundo da quadra.

Sempre no meio?
Já se o approach ou golpe de subida à rede for para um dos cantos, a cobertura dos ângulos será oposta à do fundo da quadra. Este gráfico mostra um posicionamento inadequado para demonstrar que, se a bola estiver nos cantos, você – posicionado ao centro – estará praticamente no caminho da melhor e mais potente batida do seu oponente (a cruzada), ou seja, será o alvo e, além disso, deixará a paralela completamente aberta.

Distância da rede
A distância da rede para o primeiro voleio dependerá da situação e da jogada, porém, o posicionamento que você deve buscar para não deixar um espaço muito grande para as bolas nos pés e não ficar próximo demais para não facilitar os lobs é exatamente entre a linha de saque e a rede. Nessa posição, com no máximo dois passos para frente ou para trás, você conseguirá pegar as bolas baixas e a maioria dos lobs.

 

Approach nos cantos
Nos dois gráficos acima, você pode observar a posição ideal se o approach for para o lado direito e esquerdo, respectivamente. Ou seja, se você bater na direita, siga para a rede fechando o lado direito. Lembre-se também que os ângulos que sobram, aparentemente nas cruzadas, apenas poderiam ser atingidos com bolas mais lentas ou com muito efeito, dando mais tempo para alcançá-las.

Approach paralelo ou cruzado?

Repare no posicionamento ideal após um approach paralelo e um cruzado. Com o paralelo (verde), você estará muito mais perto do ponto ideal para o primeiro voleio. Com o cruzado (amarelo), você terá de correr muito mais para chegar à posição ideal.

Para cobrir bem a rede, você precisa se movimentar na direção da sua bola de approach

 

Parceiro do sacador
Se o seu parceiro possui um bom serviço, que dificulta a devolução dos adversários, posicione-se mais próximo à rede, principalmente no primeiro serviço. Para o segundo, um ou dois passos para trás podem resolver o problema. Se o saque for muito fraco, você pode recuar até a linha de fundo e subir quando a bola já estiver em jogo. Repare que esta posição é a que lhe deixa em melhores condições de voleio, especialmente para o espaço entre o devolvedor e o voleador. No gráfico acima, demonstramos a posição básica do voleador em um primeiro saque do parceiro e os melhores pontos para executar os voleios, caso a bola venha em sua direção.

Parceiro do recebedor
Se o saque do adversário incomoda ou dificulta a devolução do seu parceiro, procurar fechar os ângulos de voleio do parceiro dele será sua principal função. Repare que a posição demonstrada no gráfico acima diminui principalmente o espaço entre você e seu parceiro para os voleios adversários. Se o saque rival for fraco ou a devolução do seu parceiro muito boa, você pode avançar mais, pressionando o sacador.

Duplas

Você tem quatro funções diferentes na duplas. A primeira e segunda são óbvias: sacar e receber. E a maioria dos jogadores diria que há apenas mais uma função, que provavelmente seria volear. Dessa forma, a quarta função seria quando você não está devolvendo o saque ou sacando e fica no fundo, certo? Errado. As outras duas funções com importância de posicionamento estratégico diferenciado são: parceiro do sacador e parceiro do recebedor.

Ou seja, você saca, recebe e joga com seu parceiro sacando ou recebendo saque. Portanto, ao lado estão algumas dicas básicas de posicionamento para você ficar na rede quando não está sacando e recebendo nas duplas.

Dicas

Como você pôde perceber, as batidas cruzadas economizam movimentos para a cobertura da quadra e são mais regulares do que as paralelas. Portanto:

   Use mais cruzadas do que paralelas durante os pontos;
2    Use as cruzadas para se defender;
3    Use as paralelas mais para atacar;
   As devoluções de saque devem ser, na maioria das vezes, cruzadas e no meio;
5    Devolva o saque na paralela quando estiver atacando;
   Para o approach, use mais as bolas paralelas.

Por Carlos Omaki

Publicado em 27 de Outubro de 2014 às 00:00


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Artigo publicado nesta revista

A geometria do Tênis

Revista TÊNIS 133 · Outubro/2014 · A geometria do Tênis

Saiba como se posicionar em cada situação de jogo