Instrução Tática
Aprenda todos os caminhos para definir os pontos na rede
ÀS VEZES VOCÊ PODE ATÉ PENSAR: “o jogo de rede acabou”. Os tenistas de hoje jogam somente no fundo da quadra, golpeando a bola ferozmente, e vão à rede em raríssimas oportunidades. Sem contar que há os que só aparecem na rede para cumprimentar o adversário no final da partida, não é mesmo?
A velocidade fez com que isso acontecesse – a evolução dos materiais associada ao preparo físico impressionante dos atletas da atualidade dificultam e muito uma atuação constante na rede, mesmo daqueles tenistas que têm saques avassaladores. Diante dessas circunstâncias, desenvolver o jogo de rede se tornou algo secundário para alguns profissionais, infelizmente, e acabou influenciando os amadores.
No entanto, não é porque os profissionais resolvem tudo lá do fundo da quadra que você deve ignorar ir à rede. Saber jogar na rede, em grande parte das vezes, é um dos principais diferenciais entre os tenistas de pouco ou muito sucesso em nível amador. Porém, não basta apenas desenvolver seus voleios e smashes. Antes, é preciso conhecer os caminhos, as táticas mais eficientes para chegar à rede e definir os pontos de uma posição privilegiada.
Sendo assim, nesta edição, preparamos um guia com sete estratégias básicas para você dominar a rede e, com isso, melhorar o seu nível, tornando-se capaz de surpreender e vencer adversários que até então achavam que você só sabia ficar lá no fundão, sem alternativas. Vamos ajudá-lo a deixar seu jogo mais agressivo, surpreendente, cheio de opções de ataque e defesa, além de bem mais emocionante e divertido. Siga nossas dicas, divirta-se e vença subindo à rede.
Lembre-se que antes de subir à rede de qualquer forma, apenas vindo para a frente, é importante compreender os ângulos de passada dependendo do posicionamento em quadra do seu adversário e da direção que a sua bola está tomando. Acredite, o importante não é ficar no meio do T, como muitos pensam (e fazem). Para saber a posição certa na rede, confira o gráfico abaixo.
As linhas amarelas representam as melhores possibilidades de ângulo de passadas no forehand e no backhand do seu adversário (bola azul) na paralela e na cruzada. Perceba que, se você ficar no ponto vermelho (no meio do T), defender-se das passadas paralelas está fora de cogitação. Portanto, é preciso entender que o melhor posicionamento é na bissetriz (representada pela linha laranja tracejada) dos ângulos das opções de passada do seu oponente na paralela e na cruzada, ou seja, nos pontos verdes.
Ataque ou defesa?Subir à rede parece ser sempre um sinônimo de ataque, carregado de uma boa dose de risco... Mas saiba que fazer isso também pode ser uma forma de se defender das subidas à rede do seu adversário ou eliminar sequências de deixadinhas bem sucedidas, balões, winners e trocas de bolas intermináveis. |
Quando se fala em subir à rede, parece que a única, ou ao menos a primeira opção, é a sequência saque-e-voleio, o dito tênis clássico, a tática usada desde os primórdios do tênis, quando as quadras eram de grama, irregulares, e, com isso, trocar bolas de fundo não era uma boa opção. Mas, saque-e-voleio não significa sacar e sair correndo para a frente. É preciso ter uma tática em mente para executá-lo, especialmente hoje, quando o jogo está muito veloz.
Se você perceber que o adversário está devolvendo seu saque com dificuldade, é hora de sacar e volear. Porém, não se limite a só pensar nessa possibilidade se o seu saque está dificultando a devolução do oponente. Se você está perdendo pontos com winners de devolução ou iniciando os pontos sempre em desvantagem diante de devoluções slice, curtas ou com spins altos, essa tática pode ser uma boa maneira de reverter essas situações. Além disso, caso você perceba que seu rival está devolvendo seu saque sempre da mesma forma, com uma bolinha alta e cruzada sobre a rede, por que não interceptar antes e surpreendê-lo?
Você tem três opções lógicas para experimentar com seu saque:
Atacar a técnica é a outra opção interessante. Para isso, você deve avaliar de que lado seu oponente tem maior dificuldade em executar as passadas. Veja se ele tem uma esquerda pouco confiável, por exemplo. Porém, não entenda como deficiente, o lado que bate mais fraco. Muitas vezes, realizar o primeiro voleio com uma bola mais forte e longa é mais fácil e eficiente do que com uma baixa, menos veloz e colocada.
Os saques com efeito causam, na maioria das vezes, devoluções também com efeito, dando mais tempo para você se aproximar da rede. As tentativas com slices ou quiques vão definir qual a melhor opção. Percentualmente, os quiques (saques com topspin) têm um índice positivo maior, tiram a bola da altura ideal para a devolução e podem provocar devoluções mais altas e mais fáceis de volear, principalmente a primeira bola. Procure evitar os saques chapados (flat) para subir à rede, eles darão menos tempo para se aproximar da rede e se posicionar para o primeiro voleio, pois a resposta provavelmente virá rápida.
Posicionamento para saque aberto
Posicionamento para saque fechado
Os pontos verdes indicam o posicionamento ideal para os saques abertos (gráfico acima) e fechados (gráfico abaixo). Perceba que, nesses casos, o melhor é seguir a trajetória do seu saque. |
Em extinção no circuito profissional, a tática de saque-e-voleio ainda é muito eficiente entre os amadores
Sacar aberto no ponto fraco do adversário pode ser uma boa opção. Assim, você, além de explorar uma deficiência dele, abre a quadra e pode até definir o ponto no primeiro voleio mais facilmente. Então, faça como neste gráfico. Saque um quique aberto na esquerda do oponente, fazendo com que ele saia da quadra. O quique vai lhe dar tempo de se posicionar mais próximo da rede para tentar definir o ponto, contando com uma devolução mais fraca.
Devolver com slice é a forma mais eficiente de executar essa jogada
Esta é outra tática muito usada antigamente e que hoje quase não se vê, a não ser nas duplas. Ainda assim, é uma estratégia eficiente quando empregada na situação certa, especialmente nos momentos de pressão, quando seu adversário provavelmente vai ter mais dificuldade de realizar a passada. Um dos poucos profissionais que ainda arrisca essa jogada atualmente é Roger Federer.
A primeira razão para optar por essa jogada é quando o saque do adversário (principalmente o segundo) é curto e você não está confiante o suficiente para fazer as devoluções winner. Porém, assim como na estratégia número 1, de saque-e-voleio, essa tática pode lhe tirar de apuros – por exemplo, quando seu adversário está sacando com muito efeito (quiques altos), que fazem com que você vá muito para trás ou seja obrigado a realizar devoluções altas, difíceis de controlar. Ela também pode ser usada em momento de alta tensão, em um break-point, quando realizar uma passada não é fácil.
Logo que seu oponente fizer o toss (lançar a bola para sacar), faça o split-step (parada de pernas) para dentro da quadra e pegue a bola na subida, depois do quique na área de saque. As devoluções com slice são as mais eficientes para essa jogada, principalmente na paralela, podendo também ser feitas no meio da quadra.
Deixar a bola cair na devolução fará com que você fique muito longe da rede para o primeiro voleio. Ao vir para a frente e pegar a bola na subida, você já estará se movimentando em direção à rede. As devoluções cruzadas reduzem muito o percentual de êxito dessa jogada, assim como as devoluções chapadas.
Está aguardando um segundo saque? Não tenha medo, dê alguns passos para a frente, pegue a bola na subida e pressione o adversário. Faça como nessa ilustração, jogue um slice paralelo no ponto fraco do rival (geralmente o backhand), deslocando-o, e suba à rede para tentar definir o ponto. Em muitos casos, ele vai se sentir pressionado e errar, e talvez você nem precise volear.
Esta é, talvez, a fórmula mais usada até hoje, é “feijão com arroz”: uma bola de ataque bem batida seguida de subida à rede para definir o ponto. Simples e prático. Mas nem sempre. É preciso reconhecer os momentos ideais para usar essa tática que é, sim, muito eficiente.
Esta é a forma mais conservadora e segura de chegar à rede. É quase uma obrigação quando a bola batida pelo adversário, com média ou pouca força, quicar antes da linha de saque. Se isso acontecer, você deve ter coragem, golpear e vir para a frente. Bater e voltar para o fundo vai abrir a quadra para seu oponente e você provavelmente passará de uma situação de ataque para defesa.
Para começar, é preciso trabalhar o ponto até que seu oponente devolva uma bola mais curta. Para isso, você pode atacar a movimentação dele, ou variar a altura da bola com spins e slices. Experimente as diferentes possibilidades. Assim que a bola encurtar e quicar perto da linha de saque, faça o approach paralelo e vá para a rede sem hesitar.
Como você estará mais próximo da rede, vai conseguir chegar bem perto para um primeiro voleio menos difícil, mas isso também significa que a resposta do oponente voltará mais rápida caso ele consiga alcançar. Por isso, as paralelas, principalmente com slices, serão a melhor opção para fazer o approach. Os slices atacam a técnica, dificultando os golpes mais potentes. Os spins ou golpes chapados atacam a movimentação e velocidade do adversário e devem ser usados com sabedoria.
Posicionamento para approaches paralelos e cruzados
Posicionamento ideal para os approachesAs linhas amarelas no gráfico abaixo representam os approaches (paralelo e cruzado). Os pontos verdes mostram os pontos ideais para o seu posicionamento depois da batida. Perceba que a posição para se defender de passadas, quando se faz o approach na paralela, é muito mais próxima do que a na cruzada. Não é à toa que é preciso ser cuidadoso para fazer approaches com bolas cruzadas. |
Vir para a rede em bolas curtas é uma obrigação. Trabalhe o ponto, espere uma bola curta e vá para a frente sem medo
A tática é bastante simples. A bola adversária encurtou? Bata (de preferência na paralela) deslocando o oponente, vá para a frente e tente finalizar a jogada com o voleio.
Se conseguir atacar a movimentação do seu oponente e perceber que ele não chegará equilibrado na bola, surpreenda-o vindo para a rede
Você já deve ter visto alguns tenistas soltando o braço do fundo da quadra e vindo para a rede, esperando por bolas que provavelmente voltarão mais curtas e fáceis. Roger Federer já cansou de fazer isso, assim como os gigantes Tomas Berdych e John Isner, que possuem golpes muito duros da base. Mas não são somente os gênios que podem usar essa tática. Você também. Basta entender o mecanismo.
Esta jogada é a forma mais arriscada, porém mais surpreendente de chegar à rede. Deve ser utilizada quando se consegue atacar a movimentação do oponente, principalmente se você estiver levando desvantagem nas longas trocas de bola de fundo de quadra. A melhor oportunidade é quando você consegue uma boa bola de ataque e percebe que o oponente terá dificuldade de contragolpear.
A melhor sequência será uma boa bola cruzada seguida de uma paralela. Ao perceber que conseguiu atacar a movimentação, ou seja, fez com que o adversário corresse para uma bola longa (à qual provavelmente ele chegará desequilibrado), pegue a resposta na subida, mandando para o lado oposto de onde seu rival está e vá para a rede atrás dela.
Uma das observações mais importantes é o desequilíbrio físico e a velocidade do seu oponente para chegar na próxima bola. Nesse caso, pegar a bola na subida com um bom topspin ou mesmo um golpe flat atenderão melhor a essa necessidade.
Você e seu oponente estão numa longa troca de bolas. De repente, você passa a dominar o ponto. Consegue uma boa cruzada, mas ele ainda devolve. Você pega a resposta na subida e solta uma bela direita na paralela. Percebeu que seu adversário não vai chegar inteiro na bola? Está esperando o quê? Vá para a frente, surpreenda-o uma vez mais e finalize o ponto no voleio.
Uma deixada não precisa necessariamente definir o ponto. Você pode vir para a rede e finalizar no voleio
Gustavo Kuerten era expert nessa jogada. Cansou de executá-la no saibro, em Roland Garros, para obrigar seus adversários a saírem do fundo da quadra. Ele pegava-os desprevenidos, executava um dropshot e finalizava o ponto com o voleio de uma bola geralmente fácil, que os rivais apenas tentavam passar para o outro lado da rede quando conseguiam chegar nas deixadinhas.
Você percebeu que seu oponente tem alguma dificuldade em movimentar-se para a frente, ou então não gosta de jogar do meio da quadra para a frente, ou ainda está golpeando muitas bolas curtas? Se sim, além dos approaches, uma boa opção para chegar à rede podem ser os dropshots. É uma excelente variação.
Trabalhe o ponto até que seu oponente encurte a bola (de preferência que ela quique antes da linha de saque) e execute a deixada. Lembre-se que você não precisa definir o ponto com esse golpe. Basta um dropshot bem executado, que fará com que seu adversário chegue na bola desequilibrado e apenas querendo colocá-la novamente em jogo. Nessa situação, a melhor alternativa é ir para a rede e definir a jogada com o voleio. Assim, você elimina uma das boas opções de contra-ataque rival que seria a contra-deixada.
As deixadas cruzadas têm um melhor índice de acerto e percentual de êxito pelo fato de a bola passar sobre a rede em sua parte mais baixa e seguir angulada para fora da quadra adversária. Lembre-se de, às vezes, também usar slices no fundo da quadra para não deixar claro que, ao preparar um golpe desses, você fará a deixada. Usar slices esconderá a intenção e, além disso, poderá atrair outro slice adversário, favorecendo a sua deixada.
Faça como Guga, espere uma bola mais curta, execute uma deixadinha e vá para a rede atrás dela. Mesmo que seu adversário consiga chegar na bola, provavelmente não estará equilibrado e apenas tentará responder para o seu lado da quadra. Diante dessa bola mais fácil, você mata a jogada no voleio. Se estiver no fundo da quadra, vai dar a ele a chance de se recuperar no ponto.
Depois de um bom lob, vale a pena pressionar e surpreender seu adversário vindo para a rede
Essa é a típica jogada das duplas. Quando os duplistas executam um bom lob, impreterivelmente sobem para a rede para definir o ponto com um voleio. Nas simples, essa tática também funciona e segue a mesma lógica.
Seu oponente veio para a rede e você conseguiu se defender ou contra-atacar com um lob, pronto, vá para a rede sem titubear. Simples e fácil.
Após conseguir um bom lob, preferencialmente com topspin e longo, e perceber que seu oponente deu as costas para a quadra (ou seja, ele não vai conseguir o smash), aproveite a dificuldade de visão que ele terá, a provável falta de precisão na resposta e a movimentação dele para trás e vá para a rede ganhar o ponto, ou, no mínimo, tentar induzi-lo ao erro.
Sempre que possível, execute os lobs sobre o backhand do oponente, por duas razões simples. Primeiro, caso ele não saia bem feito, o smash de backhand tem menor alcance e eficiência do que o de forehand. Segundo, quando a bola passar por cima do adversário, vai forçá-lo, na maioria das vezes, a se defender de costas também com o backhand, que normalmente é o golpe menos potente e preciso – principalmente para os tenistas que batem desse lado com as duas mãos. Lembre-se, jogadores rápidos podem passar da bola e desferir golpes potentes se o lob não for bem executado. Certifique-se de que conseguiu lobar e atacar a movimentação ao mesmo tempo.
Seu oponente está lhe pressionando na rede. Você consegue um lob bem executado, fazendo com que ele tenha que voltar para o fundo da quadra. A melhor opção, logo após bater o lob, é ir para a rede para pressionar o rival. Você pode forçá-lo ao erro ou interceptar a resposta dele com um voleio. Lembre-se que a melhor estratégia para o lob é executá-lo no backhand do adversário.
Talvez você não se dê conta, mas aquela bola alta com topspin no backhand do seu adversário que bate com uma mão só pode ser o seu caminho mais simples para a rede. Rafael Nadal tem feito isso recentemente. Quando ele percebe que seu rival não está aguentando suas bolas altas e fundas, vem para a rede para pressionar, surpreender e definir o ponto.
Se seu oponente está usando como estratégia induzi-lo a erros com balões, a última opção seria satisfazê-lo arriscando bolas de ataque a metros de distância do fundo da quadra. Se você não estiver conseguindo levar vantagem nessa jogada (trocas de bolas altas no fundo da quadra), ou não está com paciência para esperar por um erro, e precisa de uma opção diferente, capriche no próximo balão (com muito spin) e vá para a rede. Com um pouco de prática, poderá ser a sua melhor opção.
Devolva balões procurando “empurrar” o oponente para trás. Ao perceber que conseguiu jogá-lo para longe da linha de base, fazendo-o golpear a bola acima da altura da cabeça, desconfortável ou próximo ao alambrado do fundo de quadra, vá para a rede para tirá-lo da zona de conforto e ganhe os pontos com o voleio.
Balões estão dentro da regra e fazem parte do jogo, não são desonestos, nem antiéticos. São armas e recursos eficientes. Para evitá-los, o primeiro passo será ter paciência e mostrar que você não cairá na armadilha adversária cometendo erros desnecessários. Ir para a rede no momento oportuno certamente desestimulará a tentativa.
SurpresaTodas as jogadas aqui apresentadas serão sempre mais eficientes quando contarem com o famoso “elemento surpresa”. Elas podem e devem ser utilizadas tanto em situações de vantagem como de desvantagem durante as partidas. |
Se seus “balões” estão conseguindo empurrar seu adversário para trás, por que não pressioná-lo ainda mais vindo para a rede? Bata uma bola com bastante topspin. Assim que perceber que seu oponente está indo para trás e terá dificuldade em responder, adiante-se e tente interceptar a resposta com o voleio. Lembre-se que essa também pode ser uma tática para evitar se sujeitar às intermináveis trocas de bolas altas do fundo de quadra.
Uma bola alta com topspin pode ser o seu caminho para a rede
Publicado em 23 de Outubro de 2013 às 00:00
7 táticas essenciais para chegar à rede e vencer o ponto
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