Brasil Open

O dono da festa

Rafael Nadal parou São Paulo durante sua participação no Brasil Open 2013 e mostrou muita garra para levar o bi mesmo longe da sua melhor forma. Por sua vez, Bruno Soares deu sequência à excelente fase e ficou com a terceira taça seguida no ATP brasileiro


Gaspar Nóbrega/Inovafoto

A FÓRMULA DE TRANSFERIR a sede para São Paulo mostrou ser um sucesso e o Brasil Open em 2012 contou com casa cheia, com um espanhol conquistando a plateia paulista. E Nicolas Almagro queria manter sua hegemonia no ATP brasileiro. Em 2013, a edição pareceu um replay da anterior - as arquibancadas foram tomadas, o Ibirapuera virou um verdadeiro caldeirão, mas a causa não foi mais o torneio em si, mas a ansiedade para acompanhar outro representante da península ibérica.

Desde que havia anunciado sua presença em São Paulo, Rafael Nadal levou uma verdadeira legião de fãs à loucura, perseguindo ingressos para tentar conferir de pertinho o ídolo que, em 2005, já havia vencido o evento ainda na Costa do Sauípe. Alguém se lembra daquele adolescente de 18 anos, de regata, que já corria igual a um louco em todas as bolas?

A verdade é que o novo Nadal, bem experiente para seus 26 anos e dono de 11 Grand Slams, não corre mais em todas as bolas, tampouco mostra o grande nível que o consagrou por sete vezes em Roland Garros, porém ainda cativa a todos com sua humildade e carisma. Quando não esteve em ação, atendeu aos fãs, deu autógrafos, abraçou "tietes", tirou fotos e até vestiu a camisa do Brasil, sem precisar fazê-lo para ganhar a já entusiasmada torcida paulistana.

Assim como em 2005, o Brasil proporcionou a Rafa o seu primeiro grande momento da temporada e acendeu a possibilidade de um recomeço para que retorne ao nível dos melhores. "Muito obrigado a todo o público pelo carinho. Guardo o Brasil no coração", disse o espanhol na cerimônia de premiação.

EU VOLTEI!

Desde a primeira coletiva em São Paulo, Nadal já deixou claro que não se considerava favorito ao título. As dores no joelho, que o fizeram parar por sete meses, ainda o atormentavam e o espanhol queria jogos para voltar a se sentir bem em quadra. Desde a terça-feira, data em que jogou a primeira partida no Brasil Open, nas duplas com o argentino David Nalbandian (que seria o seu rival na decisão de simples), Rafa sentiu a calorosa recepção da torcida brasileira, mas esteve longe de mostrar a intensidade e o tênis envolvente que o consagraram no saibro.

Desde as primeiras rodadas, Nadal sentiu dificuldades para encontrar o seu melhor nível, adaptar-se ao saibro veloz do Ibirapuera e confessou que se tornou "vencível" em uma superfície em que sempre foi acostumado a vencer. "Não creio que depois de uma lesão alguém volte e esteja melhor do que já foi. Sou um jogador normal", disse o canhoto.

Se a técnica não ajudou, o enferrujado Nadal apelou para outro fator que o diferencia dos demais - a humildade. Humildade para admitir que vive um período de limitação, mas que a persistência é algo por que o tênis ainda sente sua falta. A consistência e regularidade ainda não o acompanham, mas a garra e a vontade de vencer nunca o deixam na mão.

É bem difícil imaginar Rafa, em dias normais, perdendo sets para Carlos Berlocq ou Martin Alund, mas aconteceu. Não é algo para se envergonhar. Pelo contrário, os grandes campeões mostram seu verdadeiro valor quando são postos contra a parede. "Cada vitória é importante nesse período", confirmou Nadal. Após Viña del Mar (perdeu para Horacio Zeballos na decisão), Nadal chegou novamente à final e encontrou outro argentino como rival.

Na melhor das apresentações, o ibérico venceu com folga e levantou seu 51º troféu na carreira, o 37º em quadras lentas. Mas lento também está o processo de recuperação do jogador, que alterna jogadas brilhantes com erros bobos de quem ainda está à procura do seu melhor. Até levantar o troféu pesou, mas a sensação de vencer é reconfortante. "Que seja o recomeço de tudo", deseja.

Wagner Carmo/Inovafoto

Bruno Soares conquistou o tricampeonato no ATP brasileiro

NOSSO REI

Embalado pelo ótimo início de ano, com título em Auckland e pela vitória com Marcelo Melo diante dos irmãos Bryan na Copa Davis, o mineiro Bruno Soares chegou a São Paulo esbanjando confiança. E mesmo que seus primeiros jogos tenham sido realizados no pequeno ginásio Mauro Pinheiro, ele não decepcionou.

Ofuscado pelos jogos de simples no Ibirapuera, Soares pediu reconhecimento e o obteve com categoria dentro de quadra. Na semifinal, ele e o parceiro, o austríaco Alexander Peya, salvaram dois matchpoints contra Oliver Marach e Horacio Zeballos e chamaram a presença da torcida na final, o que aconteceu em grande estilo, mesmo em um domingo de manhã.

Com casa cheia, Soares mostrou seu talento e se tornou o primeiro tricampeão seguido do ATP brasileiro, superando o ex-parceiro Marcelo Melo, com duas conquistas. E com três parceiros diferentes - em 2011, ganhou com Melo, e 2012, com o americano Eric Butorac.

Consciente, Soares já se considera um jogador maduro e diz ter "superado certa escala no circuito". Agora chegou a hora de mostrar seu valor também nos eventos mais importantes, os "grandões" e, nesse caminho, uma vaga no ATP Finals ou o primeiro Grand Slam na modalidade não deixam de ser reais possibilidades.

"Sinto-me forte mentalmente e o divisor de águas foi o título no US Open. A atitude e serenidade melhoraram dentro de quadra. Nos momentos decisivos, você tem que fazer a coisa acontecer. Estamos chegando no próximo passo de sermos fortes nos Masters 1000 e Grand Slams. Estamos preparados para beliscar o 'grandão'", concluiu.

Wagner Carmo/Inovafoto

Nalbandian foi um dos preferidos do público paulista

NOSSO HERMANO!

Quando desembarcou em São Paulo, David Nalbandian era um jogador considerado comum assim como a maioria na chave do Brasil Open. Apenas o 93º do ranking, ele disputava o primeiro torneio em seis meses e era improvável pensar em um bom desempenho logo de cara. "Se eu tivesse que arriscar, era difícil imaginar que estaria na final", declarou o ex-top 3, assim que bateu o italiano Simone Bolelli na semifinal.

Mas, assim como aconteceu em 2012, o argentino teve um tratamento diferenciado pelo público brasileiro e ganhou aplausos a cada jogada bonita de seu arsenal. Foi assim nas duplas com Nadal e nos jogos pela chave individual, em que bateu o tricampeão Nicolas Almagro no melhor jogo da competição.

"Creio que as pessoas avaliem o bom tênis, vê-se que elas gostam do meu jogo. Eu me lembro de Guga em Buenos Aires, quando todas as pessoas o apoiavam. É algo parecido. A rivalidade entre Brasil e Argentina fica totalmente em um segundo plano neste esporte", declarou o campeão da Masters Cup de 2005.

Nem a derrota na decisão para Nadal tirou o brilho da campanha de "Nalba", que, mesmo com problemas de lesão e já com 31 anos, mostra que ainda é muito perigoso em todas as superfícies diante de qualquer jogador.

Gaspar Nóbrega/Inovafoto

Martin Alund entrou como lucky loser e atingiu a semifinal

SURPRESAS

Para quem havia perdido na última rodada do qualifying, Martin Alund viveu a louca experiência de entrar de última hora, no lugar de Leonardo Mayer, para enfrentar Ricardo Mello, que faria sua despedida do esporte. Três horas depois do longo jogo pela fase prévia, o argentino entrou em quadra para ser coadjuvante na festa preparada para o brasileiro, que tinha chance de adiar um pouco mais o seu adeus.

No entanto, o ótimo nível da linha de base, com direitas potentes e uma esquerda de uma mão eficiente, foi demais para Mello. Aproveitando a rara oportunidade, Alund seguiu surpreendendo e bateu o favorito Jeremy Chardy na sequência. Após bater Filippo Volandri nas quartas, o argentino encontrou Rafael Nadal nas semifinais, algo que o próprio jogador considerou "um sonho". Alund exigiu ao máximo do espanhol, tirou um set e, mesmo assim, saiu de quadra com a alma lavada. "Foi a melhor semana da minha vida. Foi um pouco de sorte, mas a sorte só chega a quem a está buscando", declarou o tenista de 27 anos, que, com a campanha, furou pela primeira vez o top 100.

Se Alund foi a zebra da parte superior da chave, o italiano Simone Bolelli avançou em um quadro que reservava grandes jogadores no piso, como o espanhol Tommy Robredo, campeão em 2009, e o argentino Juan Monaco. Mas o italiano manteve a regularidade desde o primeiro jogo e chegou às semifinais sem perder sets. A trajetória de Bolelli repete o que Fabio Fognini alcançou em 2008, quando também foi batido apenas na semifinal. O italiano mostrou versatilidade também nas duplas e foi à semifinal, outro bom resultado ao lado de Fognini.

Gaspar Nóbrega/Inovafoto / William Lucas/Inovafoto

APLAUSOS E VAIAS

Não foi apenas para Bruno Soares que os brasileiros torceram ao longo da semana. Em simples, o desempenho foi discreto, é verdade, mas João Souza, o Feijão, e o jovem Guilherme Clezar impressionaram ao furar a chave classificatória. Enquanto o pupilo de João Zwetsch caiu no tiebreak do terceiro set para Thomaz Bellucci na estreia, Feijão avançou às oitavas e fez ótima apresentação diante de Nadal.

Mesmo que o resultado não tenha sido satisfatório, Feijão ganhou o público, que o aclamou ao final do encontro, ao contrário do que aconteceu com Bellucci, que, pelo segundo ano seguido, parou na regularidade de Volandri. Errático, o canhoto voltou a acusar a pressão por um bom resultado no maior torneio do País e admitiu decepção com a reação da torcida, que o vaiou após o jogo. "Nunca é fácil para mim em jogar dentro do Brasil. Sempre tenho um friozinho na barriga. Acho que as pessoas querem ver um bom tênis e se isso não acontece, recebo críticas. Para mim, é muito difícil sair de quadra vaiado no meu país, nunca aconteceu comigo nem fora do país. É uma coisa muito triste", avaliou.

Marcelo Ferrelli/Inovafoto

Brasil Open 2013 marcou a despedida de Ricardo Mello das quadras

DESPEDIDA

Campeão de 15 Challengers, sendo 14 em solo brasileiro, o paulista Ricardo Mello decidiu encerrar a carreira no Brasil Open, palco dos seus melhores resultados em torneios do alto escalão da entidade. Em 10 aparições, foram três semifinais - em 2005, 2010 e 2011 -, que só não foram maiores do que seu título no ATP de Delray Beach de 2004.

O título nos Estados Unidos o colocou no mesmo patamar de Thomaz Koch, Luiz Mattar, Gustavo Kuerten, Fernando Meligeni, Jaime Oncins e Thomaz Bellucci como os únicos brasileiros com troféus de ATP. Em julho de 2005, o campineiro obteve sua melhor classificação, a 50ª, em uma época que o tênis nacional vivia um período de crise, com a lesão no quadril de Guga e o rebaixamento do País à terceira divisão na Copa Davis.

Assim que foi derrotado por Alund em São Paulo, Mello confessou que se cobrou bastante e que só foi curtir mais o circuito no final da carreira. "A época em que ganhei Delray Beach foi a mesma que o Guga se lesionou. Então criaram muita expectativa sobre mim e passei a me cobrar mais. Virou uma confusão mental e só depois passei a lidar melhor com essa pressão. Comecei a aproveitar mais. Os últimos anos, 2010, 2011 foram os melhores, foram anos em que eu joguei muitas semanas no ano, consegui curtir o circuito", concluiu o experiente jogador de 32 anos, que foi tetracampeão do Aberto de São Paulo e defendeu o Brasil na Davis de 2005 a 2011.

BRASIL OPEN 2013
Final - Simples
Rafael Nadal (ESP) v. David Nalbandian (ARG)
6/2 e 6/3
Final - Duplas
Alexander Peya (AUT) e Bruno Soares (BRA) v. Frantisek Cermak (CZE) e Michal Mertinak (SVK)
6/7(5), 6/2 e 10/7
Matheus Martins Fontes

Publicado em 25 de Fevereiro de 2013 às 12:05


Torneio

Artigo publicado nesta revista