Monica Seles

"Amo isso, esse é o tipo de coisa que cresci ouvindo", diz Monica Seles sobre a música de Duran Duran que vinha do rádio. Seles está ocupada com a produção de seu novo livro (Getting a Grip: On My Body, My Mind, My Self), mas achou um tempo para conversar. Engraçada, amigável e relaxada, ela se mostra muito mais confortável atualmente do que quando era uma adolescente que redefiniu o tênis com seus golpes de duas mãos em ambos os lados. No entanto, essa tranquilidade foi recém-descoberta. Apesar de Seles ter voltado a jogar após a fatídica facada nas costas em abril de 1993 - que a tirou das quadras por dois anos -, ela não conseguiria suportar a depressão causada pelo drama da doença e da morte de seu pai, Karolj. Seles enfrentou isso comendo muito. Perder peso e reassumir o controle de sua vida foi uma batalha de quase uma década - mais difícil do que qualquer coisa que ela havia passado em uma quadra de tênis.

Em seu livro, você discute o exagero na comida e a depressão em detalhes. Foi muito difícil de escrever? Catártico?
Realmente queria escrever sobre isso - é uma coisa que vivi por nove anos. Escrevi um livro sobre mim; isso levou muito tempo, porque alguns capítulos não foram nada fáceis de escrever. Tinha que ser muito aberta sobre os meus sentimentos e isso foi muito duro. Mas, por outro lado, foi uma terapia para mim. Isso é parte de minha história, mas superei e passei a ter o controle da minha vida.

Você sabia qual era o problema, mas não conseguia controlá-lo. Qual era a parte mais frustrante?
Sempre tive o controle dentro de uma quadra de tênis. Mentalmente, era uma das mais centradas fora dela, mas, em uma simples questão como comida, não conseguia ter o controle. Não conseguia entender isso. Trabalhei com alguns dos mais fantásticos técnicos e treinadores e não acredito que eles conseguiam entender isso também. Para mim, era ótimo ver alguém tão poderosa e famosa como Oprah Winfrey (apresentadora de TV norte-americana) e escutar ela dizer: "Você sabe, eu também sofri bastante com isso". Isso me ajudava a perceber: "Está tudo bem, você é assim mesmo".

É frustrante para você ser lembrada principalmente pela facada?
Não, esperava por isso, porque sei que isso faz parte da minha vida. Isso alterou minha carreira. Pessoas que nunca haviam visto nada sobre tênis passaram a ouvir coisas sobre mim graças à facada. Física e emocionalmente, isso me fez demorar dois anos e meio para voltar a jogar. Infelizmente, quando voltei estava 20 quilos mais gorda. E, logo depois disso, meu pai foi diagnosticado com um câncer terminal no estômago.

Os problemas emocionais foram mais difíceis de serem superados do que os problemas físicos?
Certamente. Fisicamente, após oito meses, já poderia ter voltado a jogar, mas, emocionalmente, ainda estava muito distante disso - ainda estava em choque com o que tinha acontecido. Demorei dois anos e meio para voltar porque realmente não estava preparada.

Você se sentiu abandonada pelo esporte ou as pessoas não conseguiam entender completamente o que você estava passando?
Meu sentimento era esse porque isso foi uma tragédia e não foi nada bom para o esporte. então, as pessoas queriam apenas varrer a sujeira para debaixo do tapete como se nada tivesse acontecido. infelizmente, aconteceu, e eu fui a vítima, a única vítima nisso tudo e tive que lidar com esse fato. eu tinha 19 anos, era uma criança. não ganhei um centavo sequer em dois anos e meio, e tive enormes despesas com ações na justiça. tudo o que fiz foi, realmente, perder, em todos os sentidos.

Patrocínios também?
Todos eles, exceto a Yonex. Eles foram os únicos que me ajudaram, olharam para mim e viram além de apenas uma jogadora de tênis. olharam-me como uma pessoa. Por isso, serei eternamente grata. Os restantes passaram a procurar outras jogadoras, mas isso faz parte da natureza dos negócios. Decidi: "Você tem que deixar que isso se vá, tem que fazer o que você deseja fazer". Quando decidi voltar, falei: "Farei isso por três meses e verei se estou gostando". Quando voltei, em toronto, para o meu primeiro torneio o sentimento foi de que estava em casa.

Com qual a frequência você pensa em seu pai?
Quase sempre, muitas vezes como ele também faria, como me aconselharia a fazer. meu pai tinha um grande senso de humor como cartunista e, quando as coisas estavam complicadas e ele estava falecendo, ele continuava com esse senso de humor e eu só consigo pensar nisso. Para mim, isso foi muito importante quando reformulei meu álbum de fotos desde o primeiro dia que me tornei uma profissional. muitos de meus fãs e diversos fotógrafos me deram algumas belas fotos que pude guardar em uma caixa. isto é uma coisa ótima para catalogar.

Quando você fez isso?
Fiz isso há três anos. isso tudo me prendeu por um mês - seis ou sete horas por dia - mas, para mim, foi a melhor coisa que poderia ter feito. no tênis, você joga em uma semana e na outra já está seguindo para o próximo torneio. É tipo uma montanha russa, mas que nunca tem fim. essa é uma maneira para relembrar esses momentos.

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Agora que está no Hall da Fama do tênis, você se compara a outras jogadoras por aí? Onde você se coloca?
Não. Algumas pessoas são fantásticas. Na primeira vez que encontrei Rod Laver, estava com medo dele, porque o que ele fez foi simplesmente fantástico. Obviamente há alguém como Billie Jean King, a quem sempre admirei, por tudo o que ela fez fora das quadras, sendo uma pioneira. Muitas de nós, mulheres, não estaríamos aqui se não fosse por Billie, as premiações e tudo mais. Martina (Navratilova), Chris (Evert) - estou entre elas apenas, mas com muito orgulho. Quero dizer, houve algumas que venceram 30 títulos de Grand Slam.

Você acredita que poderia ter vencido 12 ou mais Majors? Ah, sim, certamente, mas, quem sabe?
Mas se a faca tivesse me cortado mais profundamente, teria ficado paraplégica e não teria ganhado meu nono título de Grand Slam. Isso mudou o curso de minha carreira e, definitivamente, tirou os melhores anos de minha vida, mas você sabe de uma coisa? Não posso mudar isso. Isso nunca aconteceu no esporte antes e espero que nunca aconteça com mais ninguém.

Wimbledon foi o único Major que você não venceu. Você lamenta alguma coisa, especialmente a decisão de não gemer (ao bater nas bolas) na final de 1992 contra SteffiGraf?
Sim, certamente [risos]. Era uma fase em que eu tinha 18 anos e queria agradar a todos. Bem, aprendi a lição da forma mais dura. Infelizmente, meus melhores anos foram tirados de mim por não poder jogar depois da facada. Se eu ganharia Wimbledon? Quem sabe. Steffijogava um tênis inacreditável em Wimbledon, a quadra se adequava a ela muito bem. Teria sido muito difícil vencê-la.

Em seu livro, você diz que ficou mais nervosa no concurso "Dancing With the Stars" (Dançando com as estrelas) do que em uma final de Grand Slam. É muito tenso?
Bem...[risos] No tênis, eu sabia o que estava fazendo - sabia como bater um forehand, um backhand. Eu me sentia no controle. No concurso de dança, realmente não sentia isso. Tinha que ficar me lembrando: "Pé esquerdo, pé direito". A perfeccionista em mim pensava: "Ó, meu Deus, não quero ser a primeira a ser eliminada, não quero estragar tudo". E é claro que foi isso que o aconteceu. Os jogadores de futebol foram muito bem. Infelizmente, os tenistas - sei de muitos que foram convidados - ficaram assustados com a minha experiência.

Como era se preparar para o show?
Era uma coisa nova e extremamente difícil de aprender. É um enorme compromisso. Ficamos no cabeleireiro fazendo maquiagem por cinco horas e meia antes do show nos dois dias. Colocamos base, cílios falsos, brilho, tranças no cabelo - digo, demora muito para ficar daquele jeito. Na verdade, na primeira noite, voltei para casa e tirei a maquiagem porque pensei: "Não posso sair assim, estou parecendo uma dançarina de Las Vegas". Na verdade, usei outra palavra, mas não vou repetir aqui nesta revista [risos]. No final, quando você olha no espelho, é como a diferença do dia para a noite. A TV devora toda a maquiagem. O que a maquiadora lhe falou quando você tirou tudo o que havia feito? Ela disse: "Sente de volta na cadeira, vamos fazer tudo de novo". [risos]

Você batia os dois golpes com as duas mãos. Algumas pessoas tentaram repetir, mas não tiveram o mesmo sucesso. Por quê? Isso a surpreende?
Estou surpresa. Estou muito feliz de ver Marion (Bartoli) jogar, pois ela é a última jogadora (a fazer isso). Não vejo mais nenhum juvenil jogar com as duas mãos. Comecei a jogar com as duas mãos porque meu pai trouxe para casa uma raquete da Itália que era exatamente do meu tamanho. Não conseguia segurá-la; era muito pesada.

Então, esse era o único jeito. Ao longo do tempo, várias vezes as pessoas tentaram me fazer jogar com apenas uma mão. Para mim, não funcionava, não conseguia fazer isso. Ficava feliz quando meu pai falava: "Tudo bem, esta é quem ela é, ela tem sua individualidade, então vamos manter dessa maneira e tentar aprimorar isso". Gostaria de ter treinado com Fabrice Santoro quando nós dois estávamos no circuito. Ele é um gênio. Existe apenas um Fabrice.

O que você acha do tênis feminino atualmente? Você acompanha bastante o circuito?
Assisto aos Grand Slams porque acredito que todo mundo os leva mais a sério e realmente acontecem as melhores partidas. Adoro ver jogadoras surgindo como Victoria Azarenka e Sabine Lisicki. Treinei com Sabine dois anos atrás e ela é uma ótima garota.

Ninguém mantém um padrão semana após semana como você fazia, como Graf fazia. Por quê?
Gosto do que Serena e Venus (Williams) estão fazendo. Elas têm uma vida fora do esporte, ainda mais quando chegam aos Grand Slams - são diferentes Williams nos Grand Slams que nos outros torneios. Acho que é isso que faz com que elas continuem jogando por muito tempo.

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Quais as diferenças do circuito hoje e antes?
É um pacote completo agora. Os agentes vêm até você e falam: "Você poderia olhar esse jovem jogador para a gente?". E não é só isso: "Ó, ela é realmente boa, Monica". E ainda: "Ela é tão meiga, vai ficar tão bonita - e ainda é uma boa tenista". Porque eles percebem quanto dinheiro podem ganhar fora das quadras. Eu vi o "swinsuit" (ensaio fotográfico de Maria Kirilenko, Daniela Hantuchova e Tatiana Golovin para a revista Sports Illustrated) e estava muito bonito, mas isso gera uma pressão extra no esporte. Porém, por outro lado, isso é bom, porque traz uma nova audiência para o tênis.

Como é o seu relacionamento com seu antigo treinador, Nick Bollettieri, atualmente?
É ótimo, na verdade, estive lá em outubro, no 30º aniversário de sua academia. Foi muito legal. Seu amor pelo esporte é contagiante. Espero que um dia Nick esteja no Hall da Fama e se junte a mim, porque ele contribuiu muito para o esporte. Se você disser "Nick" para qualquer pessoa envolvida com tênis ao redor do mundo, ela saberá exatamente de quem você está falando.

Você esteve participando de um programa de ligações ao vivo na rádio. Como foi isso?
Realmente curti ir para Nova York toda semana para o programa. Era apenas uma conversa entre mulheres, com diferentes convidados. Cresci principalmente ao lado de homens - treinadores, técnicos, agentes -, então foi muito legal conversar com todas essas mulheres. E todos que me conhecem sabem que adoro conversar. Você não consegue me fazer parar de falar.

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