Torneio Copa Davis
Thomaz Bellucci deixa a desconfiança de lado, atua como top e devolve o Brasil à elite da Copa Davis em 2015
Thomaz Bellucci teve sua melhor atuação na Copa Davis e cravou dois pontos decisivos para o Brasil
PASSAVA DAS 18H DA TARDE DA sexta-feira, 12 de setembro e uma boa parte da torcida que tinha ido ao Ginásio do Ibirapuera acompanhar o primeiro dia de confrontos entre Brasil e Espanha pelo Play-off do Grupo Mundial estava indo embora. Muitos, que já estavam frustrados por terem comprado ingresso na esperança de verem Rafael Nadal, estavam ainda mais decepcionados com a atuação do time brasileiro até então.
Poucos presenciaram a acachapante derrota de Rogério Dutra Silva no primeiro jogo do dia. A superioridade do top 15 Roberto Bautista Agut (atual terceiro melhor tenista de seu país) foi tamanha que a partida durou pouco mais de 1h30, fazendo com que boa parte dos paulistanos que compraram ingresso sequer tenha tido a oportunidade de ver o duelo. Depois do revés, a impressão foi de que, mesmo diante de uma Espanha desfalcada de Nadal, David Ferrer, Tommy Robredo, Fernando Verdasco e Feliciano Lopez, o Brasil não teria a menor chance.
Para piorar, a rápida derrota de Rogerinho suscitou ainda mais a polêmica que havia sido lançada 10 dias antes quando o capitão João Zwetsch divulgou os convidados e, na lista, não incluiu o atual número 2 do Brasil no ranking, João Souza, o Feijão. Foram dias tensos, de muita falação, troca de acusações e Rogerinho tomava essa impiedosa chacoalhada.
Sua convocação, assim como a do jovem Guilherme Clezar, pareciam agora cada vez mais equivocadas, apesar de, diante do alto nível apresentado por Agut, ninguém achar que Feijão poderia ter feito muito melhor. Na cabeça de todos, talvez até mesmo de Zwetsch, o pensamento talvez fosse: “Nenhum dos nossos jogadores, nem mesmo Bellucci, têm nível para jogar de igual para igual com um top 20 inspirado”.
Restava torcer para que Bellucci vencesse Pablo Andujar, chamado às pressas pelo capitão Carlos Moyá – que além de perder suas grandes estrelas, ainda viu Marcel Granollers se contundir e não ter condições de defender a armada espanhola no confronto.
Aliás, a equipe B da Espanha, como alguns fizeram questão de classificar e esnobar, tinha Agut, top 15, Andujar, top 50 e os duplista David Marrero e Marc Lopez, também dentro dos 15 melhores duplistas do mundo. Se a equipe brasileira tivesse tenistas com tal status, talvez não houvesse tanta gente dizendo que vivemos em crise.
Contra Bellucci, Andujar jogou solto, tranquilo, ainda mais por ver seu time liderando o confronto. Sem nada a perder, abriu logo 2 sets a 0. E, ao fechar o segundo set, fez com que uma parte da plateia debandasse, preferindo enfrentar o trânsito caótico da sexta-feira à noite na capital paulista a terminar de ver o vexame brasileiro.
Mesmo com a vitória de Bellucci no terceiro set, ganhando uma sobrevida, ainda assim as esperanças eram poucas. O público que ficou tratou de fazer sua parte e, em dois momentos, fez com que o árbitro interviesse a favor da Espanha, impedindo que Bellucci conseguisse quebras de saque determinantes. Até que, sacando em 4/5 no quarto set, o brasileiro enfrentou um match-point.
Equipe da Espanha estava no Grupo Mundial há quase 20 anos
Ele sacou e conseguiu um belíssimo drive que triscou a linha. Tivesse errado, o desfecho desse Play-off provavelmente seria outro. Aquele ponto não só deixou o brasileiro vivo no jogo como o fortaleceu. Depois disso, venceu mais dois games seguidos e empatou a partida. No quinto set, quando todos temiam pelas condições físicas de Bellucci, o que se viu foi a completa derrocada do espanhol, física e mentalmente. Não à toa, o brasileiro foi fervorosamente abraçado por seus companheiros após a vitória. Ali estava a chance que todos queriam.
Ainda assim, a missão estava longe de se tornar fácil. Era preciso uma vitória nas duplas e mais outra em simples. Nas duplas, Bruno Soares e Marcelo Melo fizeram o jogo parecer tranquilo. Dominaram Lopez e Marrero, deram poucas chances em uma partida de alto nível técnico. Faltava um ponto.
Mesmo tão perto da improvável vitória no confronto, a perspectiva para o domingo não era animadora. Bellucci havia jogado por mais de 4 horas na sexta-feira, em um duelo extenuante tanto física quando emocionalmente. Será que ele suportaria uma nova maratona, e desta vez contra um adversário ainda mais qualificado?
Depois de salvar match-point no primeiro jogo, Bellucci se tornou o herói do confronto
A estratégia espanhola, apesar da pressão por ter de vencer, pareceu ser conservadora e, no início, era nítido que Agut queria alongar os pontos, sempre que possível, mantendo o brasileiro no fundo de quadra. Bellucci, por sua vez, partiu para o seu jogo, assumindo a responsabilidade de atacar para vencer os pontos.
Com o risco assumido, os erros chegaram a preocupar bastante, principalmente quando o espanhol conquistou uma quebra de saque no quarto game, fazendo 3 a 1 e ainda buscou um 15/40 no game seguinte, aparentando ter o domínio total da partida. Daí para frente, todavia, tudo mudou.
Com golpes potentes, Bellucci virou e venceu a parcial. No segundo set, contudo, Agut deixou tudo igual com certa facilidade. Poderia ser um sinal de cansaço do brasileiro, mas não. Apesar de ter perdido o set, Bellucci parecia confiante e, intimamente, sabia que a tática e o estilo de jogo do adversário o favoreciam. Era questão de tempo.
O quarto set foi tenso, com os dois tenistas alternando quebras de serviço, mas, no fim, Bellucci prevaleceu. Moyá, seguramente, pressentiu o desastre e fez com que Agut tentasse mudar de estratégia, tirando o brasileiro do fundo da quadra, abaixando a bola. Mesmo com alguma dificuldade, Bellucci conseguiu se manter à frente no placar para desespero dos espanhóis. No fim, com games impecáveis, selou o retorno do Brasil ao Grupo Mundial e o rebaixamento da Espanha depois de quase 20 anos na elite do tênis. Definitivamente, um fim de semana para ficar gravado na história do tênis nacional.
RESULTADOS |
Brasil 3 x 1 Espanha |
Roberto Bautista Agut (ESP) v. Rogério Dutra Silva (BRA) 6/0, 6/1 e 6/3 |
Thomaz Bellucci (BRA) v. Pablo Andujar (ESP) 3/6, 6/7(6), 6/4, 7/5 e 6/3 |
Marcelo Melo e Bruno Soares (BRA) v. Marc Lopez e David Marrero (ESP) 6/3, 7/5 e 7/5 |
Thomaz Bellucci (BRA) v. Roberto Bautista Agut (ESP) 6/4, 3/6, 6/3 e 6/2 |
Publicado em 26 de Setembro de 2014 às 00:00
Vitória épica leva equipe de volta ao Grupo Mundial da Copa Davis