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Esporte Clube Pinheiros

Agremiação é referência em diversas modalidades esportivas, entre elas, o tênis. Por suas quadras, pistas, ginásios e piscinas já passaram grandes campeões


Martina Navratilova, Ilie Nastasie, Manolo Santana, Andy Roddick, Guillermo Coria, Thomaz Koch, John McEnroe, entre tantos outros ídolos do tênis mundial já pisaram nas centenárias quadras do Esporte Clube Pinheiros. Estes jogadores participaram de torneios, exibições e, além de mostrar seus talentos ao público paulista, inspiraram várias gerações de tenistas criados no clube.

No entanto, aos 108 anos, o ECP é atualmente uma referência não só no tênis, mas no esporte brasileiro em geral. Ele é reconhecido como o maior clube poliesportivo da América Latina, com cerca de 36 mil associados. Os inúmeros atletas patrocinados pelo Pinheiros defendem as cores azul e preto em importantes competições internacionais como Olimpíadas e Jogos Pan-americanos. Os nadadores Gustavo Borges e Manoel dos Santos, o judoca Douglas Vieira e o triplista João do Pulo são os atletas que foram mais longe, alcançaram o pódio olímpico e ganharam títulos de sócio-honorário do clube localizado no elegante bairro do Jardim Europa, em São Paulo.

História

Fundando em 1899 com o nome de Sport Club Germânia, pelo alemão Hans Nobiling, o clube surgiu como um dos primeiros times de futebol do país, formado por jovens de origem alemã. Nobiling, que jogava futebol em Hamburgo, sua cidade natal na Alemanha, sonhava em difundir o esporte pelo mundo e foi exatamente o que fez ao desembarcar no Brasil, trazendo bolas, roupas, artigos esportivos e modelos de estatutos de clubes europeus.

O tênis só começou a ser praticado no Germânia em 1903, quando a diretoria alugou quadras na região central da cidade e, dez anos depois, o clube alcançou suas primeiras conquistas. A vitória do tenista Erasmo de Assumpção e as boas atuações dos associados na Taça Antônio Prado Jr., em 1913, trouxeram mais visibilidade ao esporte no Germânia. Até Nobiling, o fundador do clube, que só jogava futebol, começou a praticar tênis.

A sede do Germânia passou por diversos locais da capital paulista, até que, em 1920, uma área de 100 mil metros quadrados foi adquirida às margens do Rio Pinheiros e as primeiras instalações foram construídas.

Nesta época, a natação e o remo passaram a ser as modalidades mais difundidas no clube, devido à proximidade do rio, que não era poluído como hoje. Mas, com a conclusão das primeiras obras, outros esportes, como o tênis, voltaram a se popularizar entre os associados.

As primeiras quadras da nova sede foram construídas em 1924 com a colaboração dos próprios tenistas, que ajudaram na remoção da terra no local. O ano de 1924 também foi marcado no tênis do Germânia pela conquista da Taça Brasil e pelo envolvimento do clube na fundação da Federação Paulista de Tênis.

O "esporte branco" ganhou espaço com a formação das primeiras equipes de treinamento e com a inscrição do clube em diversos torneios. O grande número de interessados em jogar tênis fez com que a diretoria introduzisse a "Lei do Sino", que era rigorosamente obedecida e consistia em fazer soar uma badalada a cada meia hora, indicando a todos que as quadras deveriam ser desocupadas para as novas partidas.

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Novo nome

Clube já recebeu confrontos da Copa Davis

Por causa da II Guerra Mundial, em 1945, o Germânia passou a se chamar Esporte Clube Pinheiros, devido a um decreto que obrigou clubes estrangeiros a mudar de nome. Desde então, o ECP se firmou como uma referência no tênis e passou a sediar grandes competições, como duelos da Copa Davis e um dos mais importantes torneios do circuito mundial juvenil - o Banana Bowl. Nesses eventos, os sócios puderam acompanhar de perto alguns ídolos e futuras promessas do tênis internacional. Com a apresentação de tantos grandes nomes nas quadras do Pinheiros, o aparecimento de bons tenistas nas depências do clube foi natural. Entre os atletas que defenderam as cores da agremiação estão Fernando Meligeni, Ricardo Camargo, Mauro Grassi, Otávio Della, Thiago Alves, Hugo Scott, Vera Cleto, Sylvia Villar, Ingrid Metzner etc.

A realização de eventos de grande porte aproximava os sócios do esporte. "Lembro de ter visto McEnroe e Lendl jogando o Banana Bowl aqui no clube. Isso a gente nunca esquece. Acho que esta é melhor forma de fazer os sócios tomarem gosto pelo esporte e acompanharem grandes ídolos de perto", revela o assessor da diretoria do tênis, Marcelo Grassi, que deu suas primeiras raquetadas nas quadras do clube e chegou a ficar entre os 400 melhores tenistas do ranking mundial.

Para o tenista Francisco Del Posso, pinherense há 46 anos, a prática do tênis social formou uma grande comunidade dentro do clube. "Faço parte de um grupo que se reúne semanalmente desde 1975 para jogar duplas na quadra um. O tênis é praticamente uma religião para nós e somos uma família", revela Del Posso, afirmando que grande parte dos veteranos sempre praticou o tênis social por puro amor ao esporte, e nunca gostou de competir.

Estrutura

A evolução e a importância do tênis no Pinheiros podem ser aferidas pelo número de quadras. Se apenas duas existiam nas primeiras décadas do século XX, hoje já são 24, incluindo um ginásio com duas quadras cobertas. O número de atletas cadastrados no departamento de tênis ultrapassa os 3 mil. As dimensões das instalações e a demanda do clube podem ser comparadas a de uma pequena cidade dentro da metrópole paulistana. Na agremiação, que possui três bares, seis lanchonetes e quatro restaurantes, além de salas de cinema, teatro, biblioteca e até uma escola infantil, trabalham cerca de 2.500 funcionários.

Em uma área de 170 mil metros quadrados, com muitos jardins e alamedas arborizadas, o Pinheiros concentra a prática de 15 modalidades recreativas e 21 competitivas e já obteve diversas glórias em esportes como o vôlei, pólo-aquático, natação, esgrima e handebol.

Museu preserva a memória da agremiação

Sob nova direção, o departamento de tênis - que foi dividido em dois setores: um responsável pelos veteranos, outro, pelo infanto-juvenil - tenta resgatar a formação de talentos e a criação da identidade entre os associados e o Pinheiros. "Nosso objetivo é formar novos jogadores através das escolinhas, que também têm a função de ensinar os tenistas a agirem como cidadãos dignos", diz o diretor Hugo Scott, que tem em seu currículo uma vitória sobre o francês Yannick Noah quando era juvenil. Cerca de 450 jovens participam das aulas semanalmente. "Hoje as crianças têm aula e vão embora. Queremos tornar essa permanência mais longa, para que elas possam criar uma identidade maior com o clube", revela Scott.

A história do ECP se encontra preservada no Centro Pró-Memória, idealizado em 1991. Este museu reúne, desde entrevistas, até trajes utilizados pelos atletas que marcaram época na agremiação paulistana.

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Prata da casa
Ingrid Metzner A primeira brasileira em Wimbledon

Certamente, a maior tenista que já atuou pelo Pinheiros foi Ingrid Metzner Drechsler. Nascida no Rio de Janeiro, Metzner veio para São Paulo aos nove anos e sua família, de origem alemã, se associou ao clube. Porém, a carreira da atleta quase tomou outro rumo logo no início da adolescência. Por ser bastante ativa, Ingrid jogava tênis de mesa, fazia ginástica artística, balé aquático e atletismo, acumulando troféus e medalhas em todas as modalidades que praticava. Mas teve que escolher apenas uma para se aperfeiçoar. "Optei pelo tênis por ser o esporte mais desafiador entre todos estes", revela a tenista, que travou grandes duelos com Maria Esther Bueno na década de 1950. Rápida, ágil e com uma direita muito potente, ela foi uma das poucas a vencer Maria Esther no Brasil.

Em 1956, além de ter conquistado a medalha de bronze no Pan-americano do México e o bicampeonato sul-americano adulto com apenas 19 anos, Ingrid tornouse a primeira brasileira a viajar pelo mundo para disputar os grandes torneios do circuito, como Wimbledon. Foi campeã em Cannes (França), Malvern (Inglaterra), Duisburg, Nurenberg e Travemuende (Alemanha) e Cascais (Portugal).

Com orgulho e saudosismo, a tenista recorda daquela época. "Apesar do sufoco com as despesas e burocracia nas viagens, foram tempos maravilhosos. O tênis não era como é hoje, eu viajava sozinha e tinha que me preocupar com tudo, desde alimentação e preparo físico até o passaporte e a compra das passagens aéreas". Quando retornava ao Brasil, Metzner seguia fazendo o curso de secretariado no Mackenzie, mas a condição para o abono das faltas era que ela ocupasse o lugar do professor e contasse suas experiências pelo mundo aos colegas de sala.

Com apenas 20 anos, Metzner desiludiu-se com a falta de patrocínio, decidiu se dedicar à família, abandonou as quadras por quase 20 anos e não se arrepende. "Sempre dei minha vida ao tênis, mas hoje tenho meus filhos e netos, que têm valor maior do que qualquer troféu que eu já conquistei no circuito", orgulhaclubes pinheiros >> 58 se. No entanto, ela voltou a competir em 1977, como veterana, e confirmou seu faro por títulos vencendo torneios no Brasil e no mundo. Em seu retorno, além de ter sido campeã brasileira por mais 16 vezes nas categorias para damas, Ingrid voltou a ser campeã sulamericana.

Uma carreira tão vitoriosa não seria possível sem o apoio da agremiação. "Já viajei muito pelo mundo e nunca vi nada parecido com o Pinheiros, que custeou minhas viagens para disputar torneios de veteranos, e sempre tentei retribuir esse apoio. Me considero como uma árvore deste clube. Sou primeiro uma pinheirense e depois brasileira", brincou Ingrid, em meio aos incontáveis troféus do museu do clube.

Luiz Pires

Publicado em 12 de Novembro de 2007 às 14:07


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Artigo publicado nesta revista