Especial Longevidade

A voz da experiência

Roland Garros não foi palco apenas da consagração dos mais jovens. O saibro parisiense reservou grandes surpresas daqueles que preferem a discrição de um bom "passatempo" para prolongar um pouco mais suas carreiras dentro do circuito


"QUANTOS ANOS MAIS TENHO PARA JOGAR?" Rafael Nadal, horas depois de conquistar o histórico heptacampeonato em Paris, respondeu a esta indagação na coletiva. "Estarei aqui até o meu físico me dar condições para jogar", começou. "Acordo todos os dias com a motivação de querer melhorar, porque tenho paixão pelo que faço", encerrou o consagrado tenista "ainda" com 26 anos.

Para um jogador do naipe de Rafa, talvez seja mais fácil tolerar as dificuldades do circuito com tantos feitos obtidos tão precocemente - afinal, foram 11 Majors (quinto na história a colecionar tantos títulos de tal porte), sendo que completou o Career Grand Slam cedo, no 24º aniversário. Mas, para quem ainda não despontou no esporte ou sofreu com várias lesões e ainda não sentiu que "chegou sua hora", qual o próximo passo para adiar um pouco mais o inevitável?

Nesta edição de Roland Garros, tivemos várias provas de como quem já bateu na "casa dos 30" ainda tem fôlego para dar alegria aos fãs. O local Paul Henri-Mathieu, 30, após um ano parado por conta de uma contusão no joelho, pareceu um menino correndo durante as intermináveis 5h44m (segundo jogo mais longo da história do evento, perdendo apenas para as 6h35m de Clement x Santoro em 2004) da vitória sobre o norte-americano John Isner - que parece ser chegado a uma maratona. Mais emocionante foi ver "Po-lo" contar o porquê de seguir um caminho que parece, às vezes, não ter mais solução.

"Ter a oportunidade de viver experiências como esta é incrível. Jogar na quadra central é fantástico, especialmente após me recuperar de uma lesão. Foi por isso que lutei tanto para voltar, para viver momentos como esse novamente", explicou o francês, que alcançou a terceira rodada após entrar como convidado.

Quem não se utilizou de tal privilégio também teve histórias para contar, e não foi um "Zé Ninguém". Ex-número dois do mundo, o alemão Tommy Haas foi um dos vários atletas que sofreram com os limites do corpo - cirurgias no ombro e quadril -, mas que não desistiram de seguir em frente com objetivos à vista, mesmo com uma idade considerada elevada para os padrões atuais. Em Paris, o experiente atleta de 34 anos precisou passar pelo nada glamoroso qualifying e, cinco partidas depois (contando com as duas da chave principal), esteve na Suzanne Lenglen em duelo contra o ídolo local Richard Gasquet.

Infelizmente, o germânico não conseguiu superar o queridinho da torcida, porém a terceira fase na França o fez voltar ao merecido top 100, o que torna o seu trabalho mais valoroso a cada dia. "Se você tem fé que é bom em algo, acaba tentando seguir da melhor forma possível. Tento curtir bastante, jogar um Grand Slam como se fosse meu último", declarou.

Aos 34 anos, Tommy Haas mostra que ainda pode competir com os mais novos

PARA AS DUPLAS?

Para aqueles que não acreditam ter tantas chances em uma modalidade dominada por um ou poucos jogadores, como é o caso hoje das simples - fincada em Djokovic, Nadal e Federer -, a alternativa mais eficaz é debandar para o que é mais conveniente. No caso de dois destaques do estilo saque-e-voleio, as duplas foram uma espécie de abrigo em um momento de definição em suas carreiras.

MAX MIRNYI (BLR)

Destro
Idade: 34 anos
Atual ranking de duplas:
Melhor ranking duplas: 1º (junho/2003)
Destaques nas duplas: campeão US Open (2000 e 2002); e Roland Garros (2005, 2006, 2011 e 2012)
Mistas: campeão Wimbledon (1998) e US Open (1998 e 2007)

DANIEL NESTOR (CAN)

Canhoto
Idade: 39 anos
Atual ranking de duplas:
Melhor ranking duplas: 1º (junho/2002)
Destaques nas duplas: campeão Australian Open (2002); US Open (2004); Wimbledon (2008 e 2009); Roland Garros (2007, 2010, 2011 e 2012); e Ouro nas duplas nos Jogos Olímpicos de Sydney (2000)
Mistas: campeão Australian Open (2007 e 2011)

TOMMY HAAS (ALE)

Destro
Idade: 34 anos
Atual ranking de simples: 87º
Melhor ranking simples: 2º (maio/2002)
Destaques nas simples: campeão Masters Series de Hamburgo (2001); Prata em simples nos Jogos Olímpicos de Sydney (2000); Semifinal Australian Open (1999, 2002 e 2007); e Wimbledon (2009)

PAUL HENRI-MATHIEU (FRA)

Destro
Idade: 30 anos
Atual ranking de simples: 183 º
Melhor ranking simples: 12º (abril/2008)
Destaques nas simples: Integrante da equipe francesa na final da Copa Davis (2002); segundo jogo mais longo da história de Roland Garros - 5h44m - vitória contra John Isner (EUA) 6/7(2), 6/4, 6/4, 3/6 e 18/16

PAUL HENRI-MATHIEU (FRA)

Canhoto/Destro
Idade: 34 anos
Atual rankings de duplas:
Melhor ranking de duplas: 1º (setembro/2003)
Destaques nas duplas: campeão Roland Garros (2003); Australian Open (2006, 2007, 2009, 2010, 2011); Wimbledon (2006 e 2011); e US Open (2005, 2008 e 2010)
Mistas: campeão US Open (2003, 2004, 2006 e 2010); Roland Garros (2008 e 2009); e Wimbledon (2008)

PAUL HENRI-MATHIEU (FRA)

Canhoto/Destro
Idade: 34 anos
Atual rankings de duplas:
Melhor ranking de duplas: 1º (setembro/2003)
Destaques nas duplas: campeão Roland Garros (2003); Australian Open (2006, 2007, 2009, 2010, 2011); Wimbledon (2006 e 2011); e US Open (2005, 2008 e 2010)
Mistas: campeão US Open (2002) e Roland Garros (2003)

MAHESH BHUPATHI (IND)

Destro
Idade: 38 anos
Atual rankings de duplas: 14 º
Melhor ranking de duplas: 1º (abril/1999)
Destaques nas duplas: campeão Roland Garros (1999 e 2001); Wimbledon (1999); e US Open (2002)
Mistas: campeão Roland Garros (1997 e 2012), Wimbledon (2002 e 2005); Australian Open (2006 e 2009); e US Open (1999 e 2005)

Max Mirnyi

Duplas é a modalidade que permite aos tenistas, mesmo aqueles que não tiveram uma grande carreira em simples, permanecer tempo maior no circuito, jogando os principais torneios o mundo

Mahesh Bhupathi


O bielorrusso Max Mirnyi e o canadense Daniel Nestor, campeões pelo segundo ano seguido em Paris e atuais líderes do ranking da ATP, aceitaram logo cedo encarar um outro tipo de situação em que não perderiam o prestígio de ocupar lugares mais respeitados nos principais torneios do calendário.

"Em momentos quando você chega perto dos 40, adora aceitar desafios, jogar contra os melhores, especialmente em Grand Slams. Você aproveita cada momento e tenta alcançar objetivos que não pôde realizar quando era mais jovem. Isso lhe dá uma motivação a mais para seguir na luta", resumiu Nestor, dono de sete Majors.

Mirnyi chegou a ser 18º do ranking no individual (2003) e endureceu jogos contra diversos tenistas top no começo da última década, inclusive contra Gustavo Kuerten. Porém, a percepção de que raramente conseguiria ser bem-sucedido jogando simples o fez concentrar seu foco nas duplas, modalidade em que já havia mostrado resultados relevantes, visto o título no US Open de 2000 ao lado do australiano Lleyton Hewitt.


Paul Henri-Mathieu


Daniel Nestor


Bob e Mike Bryan

"Tinha 32 anos quando decidi seguir apenas nas duplas e tentar ser o melhor na modalidade. Foi uma maneira de curtir o circuito, aproveitar a rotina de competir pelos títulos, porque somos jogadores que dedicamos 15, 20 anos de nossa vida ao tênis. A partir do momento que você percebe que está ganhando, que está bem fisicamente, tem a certeza de que terá chances de mostrar o seu melhor no que faz. Isso permite jogar sem se importar com a idade", concordou o bielorrusso, hoje com 34 anos (completará 35 em julho).

Além dos quatro "vovôs", outros trintões se destacaram no segundo Major da temporada, como o indiano Mahesh Bhupathi, 38, que conquistou o título nas duplas mistas ao lado da compatriota Sania Mirza. Os irmãos gêmeos Bob e Mike Bryan, 34, considerados os maiores duplistas da história, chegaram à final em Paris (perderam para Mirnyi/Nestor). Em terras francesas, nada melhor do que uma boa "fórmula do vinho", não?

Matheus Martins Fontes

Publicado em 22 de Junho de 2012 às 07:57


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