A capital do futuro

Acostumada a ser o centro das decisões políticas do país, Brasília virou a capital do tênis infanto-juvenil para a disputa do Campeonato Brasileiro.


O TÊNIS ERA CONSIDERADO um esporte de elite até pouco tempo. Mas com o surgimento de Gustavo Kuerten as coisas mudaram. Ficou mais conhecido do público e o número de jogadores aumentou. O que ninguém esperava era que o campeão brasileiro iria sair da maior favela do mundo.

Fabiano Batista de Paula nasceu e ainda mora na Favela da Rocinha, no Rio de Janeiro. Começou a pegar bola num hotel de luxo, aos 10 anos, para ajudar em casa, interrompendo o sonho de jogar futebol no Flamengo. Entre uma aula e outra, ia para o paredão e ficava imitando os golpes dos alunos.

De pegador passou a rebatedor e, aos 14 anos, começou a treinar de verdade. Pouco tempo depois, já era um dos melhores juvenis do País. Mas a consagração veio em Brasília .

Fabiano chegou para a disputa do Campeonato Brasileiro sem ser um dos favoritos. Ele passou boa parte do ano disputando qualifyings de torneios futures e por isso não tinha um bom ranking juvenil. Mesmo assim, passou fácil pelos seus adversários e chegou à final sem perder sets.

O obstáculo até o título foi o paulista Rafael Garcia. Numa decisão marcada pela irregularidade, Fabiano que começou errando muito e perdendo o primeiro set por 6/2. Mas em seguida o carioca passou a ser mais consistente e viu seu adversário se perder.

No terceiro set, Fabiano foi melhor nos momentos decisivos e conseguiu uma única quebra de saque que foi o bastante para lhe dar o título. Mas a felicidade do jovem ainda ser ia maior. A CBT anunciou que os campeões na categoria 18 anos teriam um wild card para um future no segundo semestre.

Após a partida, Fabiano disse que seu sonho é ser um tenista profissional e que o primeiro passo é conseguir um ponto no ranking. "Com certeza esse wild card vai ajudar. Já joguei alguns qualis esse ano e sei como é difícil vencer os profissionais. Eles não erram e batem forte na bola", afirmou.

E o que precisa melhorar para chegar ao nível deles? "Falta consistência e cabeça. Eles são muitos concentrados o jogo todo e isso faz muita diferença", disse o tenista que considera velocidade e raça suas maiores armas.

FESTA CASEIRA

Quem também terá a oportunidade de disputar seu primeiro torneio profissional é Raphaela Borges. A tenista do Distrito Federal está apenas no primeiro ano da categoria, mas já mostrou que tem talento e vontade de vencer.

Assim como Fabiano, ela não era uma das favoritas e estava na 21a posição no ranking antes do início do torneio. Mas foi mostrando seu jogo agressivo e chegou sem problemas até a final.

Na decisão, diante de familiares e amigos, Raphaela jogou uma partida perfeita. Errando pouco, com belos winners no fundo de quadra e determinação (ela sofreu uma contratura na perna antes do torneio e jogou a semana toda com a panturrilha enfaixada), ela derrotou Paula Pereira, sem dificuldades.

"Jogar em casa ajudou bastante. Todo mundo me deu muito apoio. Entrei em quadra um pouco ansiosa, mas eles me ajudaram a acalmar. Aí consegui fazer o meu jogo", afirmou a tenista, que pretende, além do future em que receberá o wild card, jogar mais torneios profissionais nesse segundo semestre.

A prioridade de Raphaela é terminar o colegial no fim deste ano e seu plano para 2007 é se dedicar exclusivamente ao tênis. Ela já vem treinando com Larissa Carvalho, atual número 336 da WTA, em Brasília, junto com o seu técnico Santos Dumont.

Flávia Bueno Raphaela Borges

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José Pereira Guilherme Clezar

ALEGRIA DUPLA

A família Haddad saiu vitoriosa de Brasília e viu dois primos se tornar em os campeões nos 10 anos. Beatriz foi a primeira a entrar em quadra. Aproveitando-se dos seus 1,60m e de ser canhota, ela atacou bastante e não deu chances para a gaúcha Maria Schiefelbein.

Ela já havia vencido o Banana Bowl e, apesar da pouca idade, afirmou que não se sente nervosa antes dos jogos.

Logo que acabou sua partida, ela correu para a quadra ao lado, onde seu primo Antonin jogava contra outro gaúcho, Rafael Matos. E assim como a prima, o jovem Haddad não teve dificuldades para ser campeão.

Ele soube neutralizar bem o versátil jogo do pequeno Rafael, filho do ex-tenista Fernando Roese. O gaúcho era um dos poucos jogadores de todas as categorias em Brasília que buscava variar o jogo e não tinha medo de ir à rede. Mas o pai disse que nao tem influência .

Perguntado sobre o que era pior: jogar, ver um tenis ta tre inado por ele e m qua dra, ou assistir o filho em uma final, Roese afirmou que "sem dúvida é ver o filho. É uma sensação completamente diferente e de muita emoção".

MUITA RAÇA

Os 12 anos masculino foi a categoria mais disputada. Era a única em que os líderes do ranking não estavam na Europa. Antes da final, Henrique Mazão andava sozinho pelas quadras da Academia de Tênis em Brasília. Com as mãos dentro do agasalho, ele tinha uma cara séria e concentrada. Parou perto de uma das quadras para ver os pegadores de bola brincando e alongou um pouco. Quando entrou na quadra parecia muito concentrado, pronto para vencer.

Henrique vinha de duas partidas muito difíceis. Nas quartas e semi ele precisou de três sets para avançar e ambas decididas por 7/5 na última parcial.

Para chegar à final, Henrique teve de se superar contra Pedro Dumont, tenista da casa que jogava com apoio da torcida. Chegou a ver Dumont sacar para fechar a partida, mas manteve a calma e se classificou para a decisão.

Seu adversário no jogo pelo título foi o mineiro Higor Silva, líder do ranking. Com golpes muito fortes e precisos, tanto de esquerda, quanto de direita, Henrique arrasou Higor com um duplo 6/1, em uma partida perfeita. Depois, ainda voltou para a final de duplas, mas ficou com o vice.

Henrique treina três horas de quadra por dia e faz uma hora de preparação física. Quando perguntado qual o seu sonho, respondeu rapidamente "Ser top ten na ATP".

Se no masculino o favorito caiu na final, no feminino A paranaense Mariana Buffara não perdeu nenhum set e passou por Íasmin Rosa em uma partida que durou menos de uma hora. A tenista de Curitiba venceu 12 dos 13 torneios que disputou esse ano e lidera com folga o ranking da categoria. Mariana, que sofre vendo seu ídolo Rafael Nadal em quadra, já conseguiu vários patrocínios devido aos bons resultados.

SUPERAÇÃO

Giovanna Portiolli foi para a final dos 16 anos com me do e muito nervosa. Ela já havia chegado a várias finais e sempre perdia. E o início da partida não foi muito bom para a paranaense, pois a gaúcha Martina Trier weiler vence u o primeiro set . Mas as coisas começaram a mudar.

Giovanna começou a errar menos e Martina perdeu um pouco da vibração, que foi uma de suas carac terísticas durante to da a semana. A paranaense tomou conta do jogo e levo u o título. "Quando perdi o primeiro set, fiquei bem desanimada porque já tinha perdido para ela em Itajaí. Mas percebi que era uma coisa da minha cabeça, mantive a calma e consegui virar", afirmou, sorridente.

Já no masculino, José Pereira fez barba, cabelo e bigode. O tenista foi o campeão de simples, duplas e do Interfederações, disputa do antes do Campeonato Brasileiro. Jogando pela primeir a vez a categoria 16 anos , José Pereira, que nasceu em Santana do Ipanema , em Pernambuco, teve mais calma nos momentos importantes e derrotou Vitor Manzini com um duplo 7/5.

SUOR NO SAIBRO

A categoria 14 anos foi a única a ser disputada em quadras de saibro. E foi nela que saiu a decisão mais emocionante em Brasília. Flávia Bueno e Julianna Bacelar duelaram mais de duas horas sob um forte calor. E no final prevaleceu a maior experiência de Flávia, quinta colocada no ranking nacional. Sua maior arma, como ela mesmo admitiu, são seus fortes golpes de fundo de quadra. Julianna bem que tentou. Correu muito e devolveu muitas bolas , mas não resistiu.

No masculino, outro dono de fortes golpes saiu com o título. Usando sua direita para dominar os pontos, Guilherme Clezar, do Rio Grande do Sul, fez um torneio perfeito. Não perdeu sets e arrasou os seus adversários. Na final, não deu chances para Murilo Oliveira, de São Paulo. E o campeão também sonh a alto. "Quero ser top ten", afirma. Também torcemos para isso.

RESULTADOS
10 anos
Beatriz Maia(SP) venceu Maria Schiefelbein(RS) 6/ 0 6/1
Antonin Haddad(SP) venceu Rafael Matos (RS) 6/2 6/1
12 anos
Mariana Buffara(PR) v. Iasmin Rosa (ES) 6/1 6/0
Henrique Mazão( GO) v. Higor Silva( MG) 6/1 6/1
14 anos
Flavia Bueno( PR) v, Julianna Bacelar(GO ) 6/4 2/6 6/3
Guilherme Clezar(RS) v. Murilo Oliveira(SP) 6/2 6/1
16 anos
Giovanna Portiolli(PR) v. Martina Trierweiler(RS ) 4/6 6/2 6/2
José Pereira(SC) v. Vitor Manzini(SP) 7/ 5 7/5
18 anos
Raphaela Borges(DF ) v. Paula Pereira (SP) 6/1 6/3
Fabiano de Paula(RJ) v. Rafael Garcia(SP) 2/6 6/1 6/3
Gustavo PereiraFotos Marcelo Ruschel / Poa Press

Publicado em 11 de Outubro de 2006 às 08:13


Torneio

Artigo publicado nesta revista