Você tem dificuldade de jogar contra alguns tipos específicos de tenistas? Entenda como eles pensam, veja a melhor maneira de anular suas táticas e derrote-os!
Carlos Omaki em 19 de Fevereiro de 2019 às 09:00
O sérvio Novak Djokovic é conhecido por sua inteligência dentro de quadra e seu poder de adaptação para cada advesário. Foto: USTA/Garrett Ellwood
JOGAR CONTRA AQUELE CARA que devolve todas as bolas é chato? Enfrentar aquele fulano que vive soltando as bombas do fundo e fazendo com que você corra sem parar é insuportável? Encarar um sujeito que saque e voleia a toda hora e não lhe dá ritmo é a maior das amolações? Boa parte dos tenistas tem problemas quando encontra pela frente adversários com um estilo de jogo que lhe incomoda. Vencê-los parece uma tarefa sobre-humana, mas lembre-se: todo mundo tem seu ponto fraco.
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E para que você seja bem sucedido nesta missão de enfrentar todos os tipos de oponentes de igual para igual, é preciso, antes de tudo, conhecer suas armas e fraquezas para explorá-las, com propriedade e eficiência. Sendo assim, vamos dividir os tenistas em três grandes grupos. Primeiramente, há aqueles que gostam de longas trocas de bola no fundo de quadra, com pontos demorados, defendendo-se bem e contra-atacando nas horas oportunas. Jogar contra eles significa quase correr uma maratona, pois a bola nunca pára e eles parecem chegar em todas. São partidas físicas e psicológicas, que levam a maioria das pessoas que não estão preparadas à estafa, tanto do corpo quanto da mente. No circuito profissional, o argentino Guillermo Cañas foi um dos que melhor representou este estilo, assim como o australiano Lleyton Hewitt - principalmente em seus anos como número um - e o espanhol David Ferrer.
A russa Maria Sharapova é conhecida por seu estilo ofensivo perto das linhas de fundo. Foto: USTA/Pete Staples
Em seguida, temos os que também gostam de jogar no fundo, mas que, ao contrário dos primeiros, são ofensivos e adoram definir as jogadas com belos winners. São tenistas fortes, que pegam pesado e gostam de ditar o ritmo do jogo, sempre dominando os pontos desde a primeira batida e colocando o adversário para correr de um lado para o outro da quadra. Seus golpes machucam e quase que obrigatoriamente colocam os oponentes em uma posição defensiva. O tcheco Tomas Berdych, o sueco Robin Soderling, a russa Maria Sharapova e a norte-americana Serena Williams são bons exemplos desta casta de jogadores. Além deles, Andre Agassi, obviamente.
Por fim, há os adeptos de uma arte em desuso no tênis profissional moderno, o saque e voleio, que possuem o fator surpresa como grande arma. Sua meta é sempre chegar à rede para definir o ponto, seja com um voleio, seja com um erro do adversário pressionado. Sua estratégia e sua movimentação, que parece ser aleatória, deixam os rivais sem ação. Enfrentá-los é sempre um exercício de foco e precisão, algo muito difícil quando se joga contra alguém que não dá ritmo. Atualmente, há pouquíssimos jogadores profissionais que ainda se arriscam a utilizar o saque-e-voleio com regularidade. O britânico Tim Henman foi um dos último remanescentse de uma geração de tenistas a usar este estilo clássico, que já teve John McEnroe, Stefan Edberg, Patrick Rafter, Pete Sampras, entre outros. Agora que definimos os jogadores por seus estilos, entenda como eles pensam, monte uma estratégia e vire este jogo.
1) CONSISTENTES NO FUNDO DA QUADRA
Gael Monfils é conhecido por sua agilidade e sua capacidade de devolver até mesmo as bolas mais dificéis. Foto: Divulgação/ABN AMRO WTT
Ele segue a antiga máxima: no tênis, ganha quem erra menos. Por isso, joga com sua paciência. Espera que você tome a iniciativa do ponto, tente finalizá- lo e erre. É um jogo bastante psicológico, pois ele frustra o rival chegando em bolas impossíveis, devolvendo-as, obrigando-o a arriscar sempre mais. Esta espécie é comumente conhecida como devolvedores. O termo é pejorativo, não que na maior parte das vezes não seja merecido, mas, neste caso, vamos chamá-los de consistentes. Este indivíduo tem como base de seu jogo a regra: "Vou colocar todas as bolas de volta no seu lado da quadra, sem errar. Se você quiser bater e errar, o problema é seu!" Ele adora adversários ansiosos, que cometem erros bobos e se precipitam. Acredita firmemente que, em algum momento do jogo, você vai começar a errar. É tranqüilo, sem pressa, e não se aflige por nada. Sabe que se mantiver a bola em quadra, derrotará a maioria dos oponentes.
Qualidades - Suas principais qualidades são a movimentação e a resistência. Ele é rápido, por isso, recupera-se bem. Resiste a pontos e partidas longas e espera que o tempo desgaste seus oponentes, pois sabe que eles estão gastando mais energia na tentativa de definir as jogadas. Sabe quebrar o ritmo do jogo, mudando a velocidade da bola, a altura e os efeitos, quando nota que seu rival pegou o tempo de sua bola.
No nível amador, a tática mais comum destes jogadores é devolver todas, de preferência no meio e alta. Isso faz com que o adversário não tenha ângulo e ele possa se recompor no centro da quadra. Ele aproveita bem as fraquezas dos outros. Se percebe que um dos golpes de seu oponente é mais fraco, explora-o até o limite. Se percebe que existe dificuldade em algum tipo bola, jogará 110% do tempo no mesmo lugar. Sua postura é defensiva. Ele usa sua força contra você para contra-atacar.
A dinamarquesa Caroline Wozniacki se destaca no circuito feminino por sua capacidade de defender como poucas. Foto: Ben Solomon/Tennis Australia
Como vencer - Não demonstre impaciência ou ansiedade, pois é exatamente isso o que eles pretendem. Saiba que você vai cometer erros, mas não se desespere. Os consistentes odeiam adversários pacientes, que esperam as brechas - que sempre vão existir - para matar o ponto. Isso os leva à loucura, pois a maioria deles não é capaz de mudar o panorama do jogo quando encontra alguém disposto a esperar pelas suas chances. Tente tirá-lo da zona de conforto. Para isso, alterne bolas anguladas, curtas, profundas, slices, drop-shots. Bater de um lado para o outro, com bolas profundas e sempre iguais, é o que ele quer que você faça. Experimente-o na rede. Chame-o para frente. Faça-o volear. Como gosta de correr lateralmente, sempre tentando antecipar, use o contrapé. Desequilibre-o e avance. Faça bons approaches e voleie. Se você for realmente paciente, mantenha-se no jogo dele e force-o a usar golpes melhores, arriscar. Induza-o ao erro. Mantenha a sua estratégia.
Fraquezas - Este tipo de jogador adora se posicionar bem atrás da linha de fundo, para ganhar tempo. Isto reflete uma debilidade. Ele não gosta de entrar na quadra. Sente-se bem se movendo para os lados, mas não para frente. A maioria tem dificuldade de bater bolas de approach e voleios e comete muitos erros próximos à rede. Sua bola rende mais quando estão equilibrados. Portanto, quando sai deste estado, com bolas baixas, curtas e anguladas, tende a perder o controle, abrindo espaço. Também não gera potência, pois está acostumado a usar o peso de bola do adversário. Raramente vai tomar a posição de ataque. Como a estratégia é uma só, as jogadas são bastante previsíveis.
Fraquezas: Posicionamento, Movimentação para frente, Força, Adaptação , Ataque, Jogo de rede.
Para vencer: Mexer com equilíbrio, Ser paciente, Variar jogadas.
2) AGRESSIVOS DE FUNDO DE QUADRA
O espanhol Rafael Nadal é conhecido por sua habilidade em disparar potentes golpes do fundo de quadra, através de seu característico topspin. Foto: Ben Solomon/Tennis Australia
Este tenista geralmente pensa: "Tenho uma bola potente, então vou ficar soltando a mão até matar o ponto". É corajoso, arrojado e confia demais no seu taco. Tanto que não tem medo de cometer erros não forçados, pois sabe que na próxima bola pode dar um winner. Sua meta é abrir a quadra para definir o ponto com um golpe indefensável. Boa parte dos jogadores de fundo de quadra, quando não são "devolvedores", são extremamente agressivos. Ele adora ficar distribuindo bagaçadas e dominar o ponto desde o início. Castiga o adversário, fazendo-o correr de um lado para outro e define com golpes potentes. Bate com força, sempre buscando o ataque e se sente realizado ao acertar um winner.
A estratégia é simples: impor o ritmo. Com esse plano de jogo, ele quer pressioná- lo o tempo todo, induzindo-o ao erro, ou então, forçando-o a arriscar mais para sair desta situação de defesa. Quer que você vá para trás, cedendo espaço, abrindo brechas para bolas anguladas e drop-shots.
Qualidades - Um jogador agressivo de fundo de quadra sabe jogar com ritmo. Nisso ele é muito bom, pois usualmente tem muita força nos golpes de base e prefere trocas de bola rápidas. A confiança que possui nas batidas é grande, por isso, joga sobre a linha, sempre tentando pegar na subida, diminuindo o tempo de reação. Adora jogar distribuindo golpes do meio da quadra, pois sabe que vai empurrar o oponente para trás e ganhar terreno. Devolve o saque agressivamente, para logo tomar conta do ponto. Pressiona e ataca incessantemente, estabelecendo um domínio de ações. Em sua zona de conforto, é capaz de fazer todas as jogadas, desde bolas bem anguladas, drop-shots e até mesmo approaches e voleios.
A americana Serena Williams consegue imprimir grande volume de jogo e encurralar suas adversárias durante as partidas. Foto: Bem Solomon/Tennis Australia.
Fraquezas - Ritmo, em tênis, significa muitas bolas parecidas, com mesma velocidade, mesmo peso, mesma altura. A variação costuma incomodá-lo. Bolas sem peso, com slice, baixas ou curtas intercaladas com outras com spin, altas ou profundas atrapalham a constância de seus golpes. A maioria não gosta de se mover, bater na corrida e, principalmente, andar para trás, perder domínio da quadra. Não costuma ser muito veloz e nem resistente. Fica vulnerável em jogos longos e que exigem muita movimentação. Defender também não é o forte.
Como vencer - Cuidado com a devolução de saque. Jogue preferencialmente com o primeiro serviço, impedindo ao máximo o ataque logo na primeira bola. Faça com que ele saia do meio da quadra. Suas bolas são mais eficazes quando estão parados no centro sobre a linha. Fora desta zona, seja correndo para a lateral ou para o fundo, os golpes tendem a perder eficiência. Forçá-lo a se movimentar para trás, de maneira que pegar a bola na subida não valha a pena, é uma boa pedida. Quebrar o ritmo é importante. Varie os efeitos e a altura das bolas. Sem isso, ele vai se sentir sempre confortável para bater. Experimente- o na rede. Sempre que possível, ataque-o. Tente sacar e volear. Alongue os pontos, tente desgastá-lo. No nível amador, a paciência é uma grande virtude contra este jogador, pois em algum momento os erros começarão a surgir.
Qualidades: Força. Ataque, Posicionamento, Pressão, Confiança nos golpes, Domínio de quadra, Ritmo e tempo de bola.
Fraquezas: Movimentação, Resistência, Defesa, Adaptação.
Para vencer: Mexer com equilíbrio, Desgastar, Quebrar o ritmo, Atacar.
3) SAQUE E VOLEIO
Apesar de poder ser considerado um tenista completo, o suíço Roger Federer costuma brilhar combinando seu potente e colocado saque com boas subidas à rede. Foto: Bem Solomon/Tennis Australia.
Assim como o jogador agressivo, o de saque-e-voleio também quer controlar o ponto desde a primeira batida e busca a definição rápida, preferencialmente com um erro de devolução de saque, sem que tenha que se esforçar demais. Portanto, o saque é o principal fundamento do seu jogo. Está sempre atacando, principalmente a movimentação do adversário, que começa a se sentir ineficiente. Não fica no fundo de quadra mais do que o estritamente necessário. Seu raciocínio é seqüencial e baseado em probabilidades: "Vou sacar ali, a bola deve vir aqui e vou fazer aquilo!" Se você gosta de ganhar ritmo durante trocas de bola, esqueça! Se possível, ele fará com que você não bata mais do que duas bolas em seqüência.Na cabeça dos adeptos à quase extinta arte do saque-e-voleio ocorre o seguinte pensamento: "Passar uma vez é fácil. Quero ver me passar toda hora!" Este jogador geralmente é criativo e estrategista. Consegue bolar a seqüência dos pontos. Surpreender os adversários é um de seus objetivos. Ele é confiante e sabe lidar com situações difíceis. Pressiona 100% do tempo. Com suas subidas à rede, gosta de amedrontar, pois sabe que um rival inseguro perderá eficiência e facilitará as suas jogadas. É um tenista intuitivo, que joga observando a movimentação do oponente e move-se por probabilidade.
Qualidades - O saque, sem dúvida, é o ponto forte. Ele possui estratégias eficientes no serviço, com muita variação, bolas abertas, no centro, no corpo, com slice, spin, chapado. Como complementos perfeitos para um bom saque, os voleios são sempre colocados e matadores. Seu posicionamento é muito bom, pois costuma antecipar-se às jogadas e ler os movimentos do adversário. Com isso, reduz o tempo de reação. Pressionar é a palavra de ordem. Adora estar o mais perto da rede possível, onde é mais eficiente, mas joga bem do meio da quadra, pois este estilo obriga-o a se adaptar. Você verá que aquelas bolas de bate-pronto que imagina terem sido "de sorte", na verdade não são.
Tenista de boa estatura, o grego Stefanos Tsitsipas tem como um de suas armas o saque e voleio e já usou dela para vencer partidas importantes, como o duelo com Federer no Australian Open de 2019. Foto: Ben Solomon/Tennis Australia
Como vencer - Se o jogo deste tenista se alicerça em probabilidades, evite, a todo custo, ser previsível. Concentre-se na devolução de saque e varie. De preferência, realize bolas mais baixas, que o impeçam de matar o ponto logo na primeira jogada. Alterne peso, altura e ângulos. Arrisque. Ataque a devolução. Varie também as passadas: com paralelas, cruzadas e lobes. Angule as bolas. Alonge os pontos. Suba à rede antes dele. Mantenha-o no fundo da quadra ao máximo. Sempre que possível, faça-o voltar para o fundo. Ele odeia perder espaço e correr para trás. Não se intimide com a presença dele na rede. Os amadores geralmente apresentam dificuldade em volear algumas bolas específicas, então, fique atento para encontrar esta brecha.
Fraquezas - Se tudo gira em torno do saque e do voleio, isso significa que os outros golpes não devem ser tão eficientes. O jogo de fundo não lhe favorece. Também não gosta de ser pressionado, assim como ter de jogar pontos longos e partidas desgastantes. O estilo de jogo se baseia totalmente no ataque, portanto, postar-se na defesa será sempre um problema. Como está sempre buscando a rede, a movimentação lateral e para trás não é a sua preferida.
Qualidades: Criatividade, Antecipação, Ataque, Posicionamento, Movimentação, Variação , Adaptação e Pressão.
Fraquezas: Defesa, Jogo de fundo de quadra e Resistência.
Para vencer: Variar jogadas, Atacar e Desgastar.
Lembrete: A maioria dos tenistas não gosta de jogar contra o seu "espelho", ou seja, não quer que seu oponente faça o mesmo jogo que ele. Se você consegue se adaptar bem a qualquer estilo, vale a pena tentar. Além dos três tipos de jogadores citados, podemos ainda lembrar dos all-court player, aqueles que têm domínio de todas as zonas da quadra. Aí você vai dizer: "Então esses caras são invencíveis?" Não é bem assim. Todos possuem pontos fracos. É preciso encontrá- los. Até mesmo Roger Federer, melhor exemplo de um all-court player, tem suas limitações. Rafael Nadal que o diga.