Wimbledon
Lições do 125º ano de Wimbledon, que consagrou um novo número um e uma nova sensação do tênis feminino
A GLÓRIA DE NOVAK DJOKOVIC NO MAIOR PALCO DO TÊNIS
NÃO DEIXE DE ACREDITAR EM SI
Quando Novak Djokovic surgiu como a terceira força do tênis mundial em 2007, muitos diziam que ele se tornaria número um do mundo um dia. Logo no começo de 2008, ele venceu o Aberto da Austrália, mas, ainda assim, não foi capaz de desbancar Rafael Nadal e Roger Federer. A liderança do ranking, tão perto, na verdade estava bem distante.
Federer era o campeão do estilo. Nadal o da garra. O que sobrava para Djokovic? Ele criou uma nova vertente, a do "palhaço", para tentar quebrar a dicotomia entre o perfeccionismo suíço e o suor espanhol. Encarnar esse personagem não funcionou e ele chegou a desistir, tentando algo mais sério. Também não funcionou.
No começo de 2011, um novo Djokovic surgiu. Ao que parece, desvendou os segredos de seus principais rivais. Investiu na parte física para poder acompanhar o ritmo de Nadal. Com isso, conseguiu algo impensável, tornar-se mais regular do que o espanhol e, mais do que isso, subjugá-lo em quase todos os quesitos técnicos. Ao ser capaz de ganhar de Nadal, logo também tinha Federer dominado. O suíço, porém, tirou-lhe o doce da boca na semifinal de Roland Garros, impedindo-o de alcançar o sonhado primeiro posto do ranking.
Em Wimbledon, o inevitável, enfim, aconteceu. O sérvio foi à final - fato que já o garantia como número um - e, mais uma vez neste ano, dominou Nadal como ninguém antes foi capaz de dominá-lo. Assim como nos jogos entre Nadal e Federer, em que o espanhol parece saber exatamente como vencer o suíço, Djokovic faz o mesmo com Nadal.
É apenas o terceiro título de Grand Slam de Nole, mas, se persistir, chegará ao nível da dezena, assim como Nadal e Federer.
CAMPEÃ EM 2004, MARIA SHARAPOVA ENFIM VOLTOU À FINAL NA INGLATERRA ONDE FOI PARAR A TÁTICA? Quem acompanhou o torneio feminino de Wimbledon 2011 deve ter ficado chocado em alguma rodadas, especialmente nas finais. Tudo bem que a grama privilegia os tenistas agressivos e que conseguem errar menos, mas o que se viu uma falta de plano tático geral. Quase todas as tenistas - que já estão mesmo jogando praticamente da mesma forma, alternando bons saques com bons golpes de fundo - não conseguiram apresentar uma variação tática sequer quando estavam atrás no placar. A resposta delas ao serem dominadas pelas adversárias era simplesmente tentar bater mais forte, o que os norteamericanos chamam de "overpower". Ou seja, elas queriam ganhar na força a todo custo. Uma opção muito limitante e, na maioria das vezes, perdedora. Uma sequência de jogos mostrou bem isso. Nas quartas, a alemã Sabine Lisicki venceu a francesa Marion Bartoli ao dominá-la com golpes pesados do fundo de quadra. A francesa ainda tentou bater mais forte, mas em vão. Em seguida, Lisicki foi amplamente subjugada pela força de Sharapova. A alemã também tentou bater mais forte que a russa no fundo de quadra, mas errou muito. E, na final, foi Sharapova que simplesmente não conseguiu aguentar o peso das bolas de Kvitova e, não sendo capaz de bater mais forte do que a tcheca e, sem conseguir pensar em outra estratégia que não bater mais forte, perdeu. Essa meninas poderiam muito bem ter algumas aulinhas de estratégia com Brad Gilbert. |
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PETRA KVITOVA, DE SURPRESA A CAMPEÃ DE WIMBLEDON
JOGUE AO SEU MODO
Quando em 2010 Petra Kvitova atingiu a semifinal de Wimbledon, sua campanha pareceu apenas mais uma das surpresas que a grama inglesa pode provocar. Ela perdeu para Serena Williams e a ordem estava restabelecida. A temporada seguiu e a tcheca, alta e canhota, galgou posições até surgir no top 10 em junho deste ano. Ao voltar a Wimbledon, provou que a semifinal do ano anterior não era mera sorte.
A loira de olhos azuis e mão pesada nos golpes de fundo não perdeu sets até as quartas-de-final do torneio, quando trombou com a búlgara Tsvetana Pironkova, que, assim como ele, tinha surpreendido ao atingir a semi no Aberto inglês no ano anterior. Foram três sets, mas Kvitova ganhou, assim como ganhou o jogo seguinte contra a russa Vera Zvonareva, finalista de Wimbledon 2010. Na final, a jovem de 21 anos dominou Maria Sharapova, que até então tinha feito uma campanha quase irrepreensível. Venceu dando as cartas e deixou seu nome gravado ao lado de suas compatriotas mais famosas Martina Navratilova e Jana Novotna.
SEJA NA TERRA, SEJA NA GRAMA, NÃO HÁ OBSTÁCULO
SEJA RÁPIDO, VERSÁTIL E NÃO DESISTA
Vencer Roland Garros e depois Wimbledon em sequência pode parecer simples depois que Rafael Nadal fez isso duas vezes (em 2008 e 2010) e Federer uma vez (em 2009) nos últimos três anos. Nos fim dos anos de 1970 e começo de 80, o sueco Bjorn Borg também fez isso parecer simples ao vencer por três temporadas seguidas. Mas, ganhar na terra e depois na grama não é fácil.
A transição saibro-grama, especialmente para um tenista como Nadal, que baseia seu jogo na regularidade, é dura. A adaptação dos golpes e a maneira como se joga é completamente diferente. Então, não é à toa que o espanhol tenha merecido o número um mundo durante a última temporada, pois vencer nessas duas superfícies requer - principalmente de quem não tem um arsenal de improvisos como Federer - uma concentração excepcional. Primeiro, demanda ainda mais das pernas, pois da lentidão do saibro para a irregularidade da grama, o que mais importa é chegar bem na bola. Depois, é necessário sair dos topspins pesados na terra e passar a usar slices e ter de vir à rede às vezes para dominar a grama. Por fim, quando a técnica não estiver funcionando, é preciso ficar focado no jogo o tempo todo até aparecer uma brecha. E Nadal sempre acha uma. Ou quase sempre.
Mesmo tendo perdido o posto de número um do mundo para Djokovic, cada vez mais Nadal se consolida como um tenista versátil, capaz de sair do saibro e se adaptar perfeitamente à grama em pouco tempo |
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JO-WILFRIED TSONGA PROVOU QUE AINDA É POSSÍVEL SACAR E VOLEAR SER AGRESSIVO VALE A PENA Tsonga deu apenas uma chance de quebra para Federer. Que foi logo no começo da partida e o suíço, como sempre, aproveitou. Depois, o ex-número um venceu o tiebreak do segundo set para confirmar a liderança. "Barbada", muitos disseram, mas, o francês foi sendo cada vez mais agressivo, pressionando a devolução de Federer e sacando sem dar mais nenhuma chance de quebra.
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OS JOVENS SÃO SIM CAPAZES DE SURPREENDER OS FAVORITOS
A JUVENTUDE PODE, SIM, SURPREENDER
18 anos, muito talento e muita marra. Ver jovens aprontarem surpresas parece estar sendo cada vez menos comum no circuito. A faixa na cabeça de Bernard Tomic lembra um pouco John McEnroe, que atingiu a semifinal de Wimbledon aos 18 anos. Mas é o temperamento um pouco rude e a personalidade difícil que o fazem parecer o ídolo norteamericano em seus primeiros anos. O jovem australiano é arrogante algumas vezes - característica que é criticada por muitos -, contudo, foi, de certa maneira, essa soberba que o levou tão longe em Wimbledon em 2011, quando perdeu somente para Djokovic nas quartas (em jogo duro), mas antes tendo vindo do qualifying e vencido, entre outros, Robin Soderling. Tomic é um dos poucos garotos de hoje que não se intimida ao jogar contra os grandes, mais do que isso, acredita piamente que pode vencê-los. É preciso uma atitude muitas vezes deselegante para mostrar auto-confiança? Talvez não, mas para ele parece que está funcionando.
Publicado em 15 de Julho de 2011 às 07:32