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As 10 maiores temporadas masculinas da Era Aberta
DIZ-SE GERALMENTE QUE O TÊNIS MASCULINO está mais profundo e competitivo do que nunca. E isso é verdade. O esporte nunca foi jogado em tão alto nível. Mas nos últimos cinco anos, não é a excelência da ATP como um todo que tem sido mais impressionante. É o domínio dos tenistas top a despeito dessa concorrência. Desde 2006, vimos três tenistas - Roger Federer, Rafael Nadal e Novak Djokovic - reunirem temporadas que estão ranqueadas entre as mais gloriosas da Era Aberta.
A terceira e talvez a mais sensacional dessas temporadas - o ano de 2011 de Djokovic - terminou e parece um bom momento para voltar no tempo e analisar onde ela se enquadra entre as maiores temporadas da Era Aberta. Não há resposta certa e é isso que deixa esse joguinho legal. Aqui vai nossa contagem regressiva desde o início da Era Aberta em 1968.
O deus viking é mais conhecido pelo conjunto de sua obra do que por uma só temporada, o que é compreensível considerando que em nenhuma delas há o título do US Open. Porém, também é injusto com um tenista que teve uma percentagem de vitórias de 90% ou mais em quatro anos. Seu ápice foi 93,3% (84 vitórias e seis derrotas) em 1979. Na época, o "Anjo Sueco", o primeiro ídolo das matinês do tênis, evoluiu para um "Assassino Angelical" assustador. Aos 23 anos, já com três títulos de Wimbledon e de Roland Garros, Borg estava no auge dos seus poderes.
Em 79, ele adicionaria o quarto Aberto da França e da Inglaterra, venceria o Masters e terminaria em primeiro do ranking pela primeira vez. A única derrota digna de nota de Borg foi debaixo das luzes que ele tanto odiava em Flushing Meadows para o sacador Roscoe Tanner. A temporada seguinte traria um novo desafiante, John McEnroe, mas, em 79, deixou para trás um dos antigos. No que talvez tenha sido sua conquista mais satisfatória, ele venceu seu antigo nêmese Jimmy Connors todas as vezes que jogaram.
Em seus primeiros anos, McEnroe foi um artista adolescente temperamental do tênis, um mago com a raquete que estava a uma chamada errada da auto-destruição. Em 81, McEnroe, aos 21 anos e alcançando seu ápice, mostrou ao mundo exatamente o que podia fazer numa quadra de tênis. Foi tão surpreendente quanto foi empolgante. O ex-colegial de Queen's perdeu sua cara de bebê no começo da temporada e, ao final, ele tinha conquistado o inconquistável Bjorn Borg. McEnroe encerrou a sequência de cinco títulos do sueco em Wimbledon, tomou-lhe o número um do ranking e acabou por tirá-lo do esporte. Ele coroou o ano com talvez sua maior conquista: liderar o time norte-americano em uma vitória dramática na final da Copa Davis contra a Argentina. Como McEnroe disse depois do US Open, aquele ano ele sentiu que podia fazer qualquer coisa com a raquete. Poucos fizeram mais do que Johnny Mac em 81.
Wilander nunca tinha tido uma temporada como essa, e nunca teria novamente. O sueco, que venceu Roland Garros em 82 aos 17 anos, começou sua carreira como um especialista no saibro com o backhand de duas mãos e a força de vontade para ficar em quadra por horas. Em 88, ele acrescentou o slice de uma mão e dois títulos de Australian Open na grama. Em janeiro de 88, ele colocou seu nome nas quadras duras do novo Melbourne (então chamado Flinders) Park ao vencer Stefan Edberg e o garoto local Pat Cash em cinco sets nas semifinais e finais do Australian Open. Wilander enfrentou outro nativo, Henri Leconte, para vencer a final de Roland Garros (antes do jogo, Leconte disse que deveria atacar o segundo saque do sueco. Qual a resposta de Wilander? Não dar nenhum segundo saque. Ele acertou 71 dos 73 primeiros serviços que sacou). Naquele ano, ele escalou a mais alta montanha quando encerrou a série de três títulos de Ivan Lendl no US Open. Wilander terminou como líder do ranking pela primeira vez na carreira.
Nos quatro primeiros meses, não parecia uma temporada histórica para Rafael Nadal. Ele perdeu nas quartas do Australian Open e não venceu seu primeiro torneio até chegar em Monte Carlo, em abril. Contudo, assim que Nadal entrou no ritmo, não mais saiu. O espanhol se tornou o primeiro tenista a vencer três Masters 1000 seguidos quando venceu Roma, Madri e Monte Carlo. Ele protagonizou o Grand Slam em Paris, vencendo sem perder sets, e manteve a forma em Wimbledon, para ganhar seu segundo título. Mas a maior conquista de Nadal veio no US Open, onde ele nunca havia passado da semifinal em sete tentativas. A oitava era o amuleto: ele completou o Grand Slam na carreira ao vencer Novak Djokovic na final. O espanhol foi o primeiro tenista em 41 anos a vencer três Majors consecutivos e o primeiro a fazê-lo em pisos diferentes. Cinco meses depois de seu primeiro título na temporada, o número um de Nadal era inevitável.
Tão perto novamente: assim deve ter pensado Federer ao final de mais uma temporada após ter vencido três Majors novamente. Pelo segundo ano seguido, ele ficou a uma partida de vencer o Grand Slam do ano. A derrota veio para Nadal na final de Roland Garros. Mas o ano 2007 de Federer deve ser lembrado pelo que ele fez. Isso inclui seu terceiro Australian Open, a revanche clássica de cinco sets contra Nadal para ganhar seu quinto Wimbledon, a vitória inconteste sobre Djokovic para ter seu quarto US Open e seu quarto Masters. Federer teve uma percentagem maior de vitórias em 2004 e 2005, mas Nadal ainda estava para alcançar seu auge naqueles anos. Em 2007, o suíço enfrentou a maior concorrência de sua carreira e derrotou-a. Tão impressionante, ele tinha vindo de uma temporada espetacular, na qual teve 92 vitórias e cinco derrotas.
Jimbo ocasionalmente vinha derrotando seus "veteranos" durante quatro anos, mas 1974 foi a temporada em que as profecias de seu domínio se tornaram realidade. Ceifando seus oponentes com seu revolucionário backhand de duas mãos, o garoto de 21 anos surrou a bola em seu caminho para suas três primeiras vitórias em Grand Slam, no Australian Open, Wimbledon e US Open. Ele ainda colocou pontos de exclamação nos últimos dois com sua demolição impiedosa da lenda australiana Ken Rosewall na final - seu 6/1, 6/0 e 6/1 na decisão do Aberto norte-americano foi a mais devastadora da história do torneio. Não foi apenas nos Majors que Connors se sobressaiu, ele teve 93 vitórias e quatro derrotas, a segunda mais alta percentagem da Era Aberta (95,9%), depois da de McEnroe em 1984. Mas 74 deixaria um gostinho amargo na boca de Connors, pois ele jogou o World Team Tennis daquele ano, enervando a ATP e ITF - assim foi banido de Roland Garros.
Levou um tempo para John McEnroe se recuperar da aposentadoria de seu rival Bjorn Borg - durante certo tempo nada mais podia se comparar ao entusiasmo de suas batalhas. Mas quando Mac colocou a cabeça no lugar, sua vida e seu jogo em ordem, e uma nova raquete de grafite em sua mão, ele voltou com tudo. Ele venceu seus primeiros 42 jogos em 84, no 43°, a final de Roland Garros contra Lendl, esteve vencendo por 2 sets a zero e teve um break no quarto set antes de sofrer a mais dolorosa derrota de sua carreira. Contudo, McEnroe foi simplesmente bom demais naquele ano para ser devastado por uma derrota, mesmo aquela derrota. Ele rebaixou Jimmy Connors na final de Wimbledon, no que muitos consideram a mais esplendorosa performance em uma quadra de tênis, e se vingou de Lendl ao derrotá-lo na decisão do US Open. Além dessas vitórias, o que marca o 1984 de McEnroe é sua implacável consistência. Suas 82 vitórias e três derrotas (96,5%) ainda permanecem como a melhor temporada de um tenista na Era Aberta.
Ele teve 74 vitórias e seis derrotas em 2004 e 81 contra quatro em 2005. Ele venceu cinco Grand Slams naquelas temporadas e venceria mais três em 2007. Mas o diamante dessa meia década de reinado seria 2006. Nesse ano, mesmo com um rival temível, Rafael Nadal, do outro lado da rede, Federer colecionou uma série de estatísticas impensáveis: teve 92 vitórias e cinco derrotas, a quarta maior percentagem de vitória da Era Aberta. Ele ganhou mais três Majors, adicionou um terceiro Masters à sua conta, venceu 12 de 17 torneios de que participou e alcançou a final de 16 deles. Tão impressionante quanto isso foram seus títulos seguidos de Indian Wells e Miami. Federer perdeu a chance do Grand Slam do ano em sua derrota para Nadal em Roland Garros, mas se vingou dessa derrota em Wimbledon e devastou o espanhol no Masters de Shanghai.
Novak Djokovic perdeu apenas quatro jogos na temporada faltando apenas dois torneios para o fim da temporada quando ele conversou com a imprensa. Mas não era cedo demais para perceber que o sérvio tinha feito algo especial em 2011. Ele começou o ano ganhando seu segundo Australian Open. Ele seguiu até empatar a série de 42 vitórias de McEnroe no começo de uma temporada, no que incluiu quatro finais seguidas contra o líder do ranking Rafael Nadal. Sem precedente foi que duas dessas vitórias sobre o espanhol vieram em finais de Masters no saibro, superfície que Nadal sempre dominou. Como McEnroe, o 43° jogo, em Roland Garros, foi demais para Djokovic. Ele perdeu a semifinal para Roger Federer.
Ele se recuperou em Wimbledon, onde bateu Nadal em outra final. O ápice veio na decisão do último Major do ano, onde o sérvio salvou dois match-points para vencer Federer na semi e então destruiu o incansável Nadal. O que faz da temporada de Djokovic especial foi o que ele fez contra dois dos maiores da história: uma coisa é ter 82 vitórias e três derrotas contra qualquer um como McEnroe fez em 1984, outra é ter 10 a 1 contra Federer e Nadal.
A temporada 1969 de Rod Laver não foi perfeita. Ele perdeu 16 vezes. Ele jogou cinco sets cinco vezes nos Grand Slams. Duas vezes ele teve que virar estando perdendo por 2 sets a zero para adversários bem "mortais". Por outro lado, é duro discutir com o que "Rocket" conseguiu aos 31 anos. Laver pode ter perdido 16 vezes, mas venceu 106. Ele venceu 18 dos 32 torneios de que participou e foi o primeiro tenista a romper a marca de US$ 100 mil em premiação. Mas o que importa é que Laver foi o último homem a alcançar o "Santo Graal" do tênis, os quatro Grand Slam em uma única temporada. Ao contrário da crença popular, seus oponentes não eram molengões. Ele venceu Tony Roche em uma semifinal épica de 90 games no Australian Open. Ele venceu outra lenda australiana, Ken Rosewall, na decisão de Roland Garros. Ele venceu o próximo grande campeão, John Newcombe, na final de Wimbledon. E ele terminou vencendo Roche novamente na grama molhada de chuva em Forest Hills. Seu 1969 talvez não tenha sido perfeito, mas foi perfeito a seu modo. Tão boas quanto outras temporadas tenham sido, não é à toa que todos os tenistas as trocariam por um Grand Slam. Laver ainda é o único na lista que conseguiu.
Publicado em 23 de Maio de 2012 às 09:34