Formação
Vivenciar a competição é sempre uma forma de aprender. O importante é viver, nem sempre ganhando, nem sempre perdendo, mas aprendendo a jogar
Meu sobrinho de três anos empunha um iPhone e passa um tempão entretido com um jogo em que um carro passa por uma estrada cheia de curvas e obstáculos. O objetivo é percorrer o caminho com o mínimo de batidas possível. Ao mesmo tempo, minha sobrinha de 11 empunha um iPad e me convida para jogar damas. No meu tempo, era um tabuleiro com peças de madeira. Agora, uma tela. Mas o jogo é o mesmo e minha sobrinha está treinada, vencendo sete partidas em nove. Entretemo-nos por quase uma hora, absortas pelo espírito do jogo, sem perceber o tempo passar.
Na tarde seguinte, quatro garotos com idade entre 8 e 11 anos vão para a quadra de tênis para mais uma aula. É final de semestre e o professor tem promovido jogos para avaliar a evolução de seus alunos. A ideia é fazer joguinhos curtos, de um game com revanche, em chave de um contra todos, para que possam experimentar o confronto com o máximo de adversários diferentes. A aula passa voando, não dando tempo para que terminassem todos os confrontos e, no final, o pedido: "Podemos continuar amanhã?" (eles estão de férias, podem escolher entre várias opções de lazer, e querem jogar mais tênis?). O professor abre um sorriso: "Claro que podemos continuar jogando mais amanhã!".
O jogo - qualquer jogo - é uma atividade humana que envolve corpo, mente e emoção. Quando as pessoas jogam, é como se participassem de um universo paralelo e o resto do mundo não existisse. As experiências vividas durante os jogos desde a tenra idade deixam marcas profundas justamente por envolver a emoção, e os adultos que organizam os jogos de tênis para crianças não podem deixar passar as oportunidades educativas que se apresentam.
Nesses joguinhos curtos, organizados pelo professor de tênis durante uma tarde, aconteceu de tudo: um garoto que perdeu inventou desculpas, outro, de melhor nível técnico, ficou nervoso e perdeu para um de pior nível, outro, que estava perdendo, começou a "fazer cera", outro, que também estava perdendo, desistiu do jogo, um garoto conseguiu virar um jogo impossível, outro que não sabia sacar aprendeu, outro caiu no chão para alcançar uma bola e continuou jogando... Enfim, foram muitas as oportunidades de aprendizado.
Na mesma semana foram realizados mais jogos curtos reunindo outras crianças num domingo, e os pais foram convidados a assistir. Antes de os jogos começarem, foram orientados a não dar instruções nem intervir na contagem, para que as crianças pudessem desenvolver seu pensamento estratégico e terem atenção à contagem. Assim, houve mais situações interessantes: pais ansiosos, crianças com medo de entrar em quadra, crianças jogando partidas de duplas e combinando táticas entre si, algumas voltando o ponto em caso de dúvida, outras dando o ponto para o adversário em bola duvidosa. No final, as crianças não queriam ir embora, queriam jogar mais.
Novak Djokovic perde a final de Roland Garros para Rafael Nadal com uma dupla-falta. Sara Errani vence Samantha Stosur na semi de Roland Garros - ou seria melhor dizer que Samantha perdeu para si mesma? A zebra alemã Sabine Lisicki vence a então número um, Maria Sharapova, em Wimbledon, para perder na partida seguinte para a compatriota Angelique Kerber. E, nas finais masculina e feminina de Wimbledon, mais emoções. Nestas cenas protagonizadas por tenistas profissionais, percebemos que o aprendizado emocional do jogo é constante e só termina mesmo quando partimos desta vida para melhor.
Colocar uma criança em contato com o jogo o mais rapidamente possível é muito saudável para seu amadurecimento. Nas aulas, deve-se priorizar exercícios em forma de jogos.
Nos jogos, usar as bolas e tamanho de quadra adequados à idade. Nas competições oficiais, encarar as vitórias e as derrotas com naturalidade. Vivendo e aprendendo a jogar.
Publicado em 19 de Julho de 2012 às 08:38