Instrução Duplas

Psicologia das duplas

Saiba como lidar com seus pensamentos e atitudes em quadra para não levar seu time à derrota


Quantas vezes você ouviu um membro de uma dupla perdedora dizer coisas como: “Não perdi o meu saque”, ou “Meu parceiro errou dois smashes fáceis nos break points”, ou “Estava jogando bem, mas infelizmente ele estava tendo um dia difícil”. Todas essas declarações (e milhares de outras tentativas de se esquivar da responsabilidade) podem até ser verdade, mas até mesmo pensar nelas (quando não dizê-las) é um sinal de insegurança e uma indicação de que o tenista não suporta seu parceiro na quadra, e assim, contribuiu significativamente para a derrota. A verdade: ninguém se importa em saber por que você perdeu.

Em muitos aspectos, duplas é como um casamento – quanto mais feliz seu parceiro for, melhor para você. Isso leva ao axioma: “Nunca faça ou diga algo – se puder – que faça seu parceiro se sentir mal ou infeliz”. No tênis, ao tornar seu parceiro infeliz é provável que você perca a partida (no jogo da vida, fazer o seu companheiro infeliz também faz com que você perca o jogo).

Isso tem implicações ao dar conselhos para o seu parceiro de duplas: em uma sentença, “seja delicado”. Obviamente que é comum perceber coisas que seu companheiro está errando, mas é melhor não dar qualquer conselho do que dizer coisas das quais ele pode se ressentir ou então pressioná-lo a fazer mudanças em posicionamentos ou estratégias com as quais ele se sente desconfortável. Como a execução é geralmente mais importante do que a estratégia, forçar conselhos indesejados a seu parceiro pode prejudicar a execução, então não faça isso. Isso é um tópico que você pode discutir com seu companheiro de antemão para ver quanto e qual tipo de conselho será bem-vindo ou, ao menos, aceitável.


É certamente prejudicial bater tanto papo que faça com que você perca a concentração

Sua atitude será óbvia para o seu parceiro, portanto, adote uma boa. Sua atitude tanto em termos de linguagem corporal quanto verbal terá um impacto poderoso na atitude do seu parceiro, então monitore isso de perto. Certifique-se de permanecer otimista e positivo independentemente da situação. Se você se tornar frustrado ou irritado com o desempenho de seu companheiro ou bravo ou desanimado com a sua própria performance, simplesmente vai arrastar a si mesmo, seu parceiro, e o time para baixo. Meu antigo parceiro de duplas, Donald Dell, sempre costumava me manter para cima de um jeito ou de outro. Quando ele estava recebendo o saque e estávamos perdendo o game, ele dizia: “Você ganha este ponto para mim e eu ganho o próximo para você”. Se ele não estivesse jogando bem naquele dia, dizia: “Não se preocupe, vou melhorar”. E ele estava sempre cumprimentando toda vez que eu jogava um bom ponto.

Um dos aspectos mais importantes da dupla é, certamente, em primeiro lugar, escolher o parceiro certo. Se você é um profissional jogando por seu sustento, o atributo mais importante, em curto prazo, é, obviamente, o nível de habilidade. Caso contrário, a personalidade é um grande fator. Tente selecionar um parceiro que seja otimista e que se encaixe bem com as suas idiossincrasias. Se você gosta de falar, encontre alguém que seja loquaz; se você é um estrategista e não resiste em dar conselhos, encontre alguém que aceite; se você é dominante, procure um parceiro que seja fácil de lidar; e se você se incomoda com o drama da partida, encontre um calmo.

Desculpe!

Devo me desculpar pelos erros? Decidir ou não pedir desculpas para seu parceiro quando você comete erros é um pouco delicado. É educado se desculpar com alguém quando você faz um erro que compromete o interesse mútuo. Mas você também quer que ele tenha confiança em você e, desculpar-se muitas vezes faz com que você pareça fraco. Então, eu não me desculparia muito. Depois, preocupar-se excessivamente sobre o que seu parceiro pensa do seu jogo e se desculpar profusamente tira sua mente da execução e prejudica o seu jogo. É bom se desculpar ocasionalmente, mas ainda assim você quer parecer forte. Uma boa maneira de fazer isso é dizer: “Desculpe, mas, não se preocupe, vou melhorar”.

Falatório!

"Desculpar-se muitas vezes faz com que você pareça fraco"

Quanto tempo os parceiros devem conversar entre si? Isso vai depender dos jogadores, óbvio. Você quer comunicar informações estratégicas e necessárias, assim como ajudar seu parceiro a se manter motivado, confiante e positivo, mas não quer se tornar pedante. Algumas pessoas podem lidar melhor com um pouco mais de conversa enquanto outras jogam melhor em uma atmosfera mais quieta e focada. É certamente prejudicial bater tanto papo que faça com que você perca a concentração. Sua principal responsabilidade é sempre executar golpes e isso requer foco ao se preparar para jogar, sem pensar sobre coisas para dizer ao seu parceiro.

Discórdia!

Destruindo os adversários: Jogar no tenista mais fraco do time adversário sempre proporciona benefícios duplos. O primeiro é simplesmente tático, pois é provável que você vença pontos dessa forma. Mas o segundo é igualmente importante – isso pode semear a discórdia entre seus rivais. Os jogadores mais fracos, que estão perdendo muitos pontos, vão ficar envergonhados e podem se tornar progressivamente mais inseguros e hesitantes. Ao mesmo tempo, os jogadores mais fortes podem se sentir usados e frustrados. Se tudo der certo, eles vão começar a olhar para seus parceiros como albatrozes e sentir que precisam fazer algo mais para compensar. Se eles começarem a exagerar, simplesmente vão exacerbar os problemas e acelerar o colapso.

Constranger!

Intimidação: Outro ataque psicológico envolve intimidação física. Ocasionalmente, quando você e seu parceiro assim como seus dois oponentes estiverem na rede e você tiver um voleio alto e fácil, você pode se beneficiar matando a bola com muita potência. Você não vai tentar acertar alguém, mas como está a uma distância curta, a violência do seu golpe naturalmente recordará seus adversários sobre sua própria segurança. Mais tarde, em situações semelhantes, eles podem resolver se afastar em vez de ficar e tentar responder com voleios no reflexo.

Por exemplo, muitos anos atrás, eu estava jogando um torneio em Tucson contra Chuck McKinley em um jogo de duplas. Chuck venceu Wimbledon em 1963 e era baixo, mas tinha o formato de um tanque (seu apelido era “Toco”). Ele era incrivelmente forte, veloz e agressivo. Nas duplas, ele tinha um truque assustador. Ao devolver o saque no lado da vantagem, ele batia um slice baixo e vinha correndo para a rede atrás do golpe. Se o sacador, que também estava vindo para a rede, voleasse alto, Chuck bateria um swing volley com extrema potência diretamente sobre o adversário que estava na rede. Ele usava uma raquete de madeira de 425 gramas e podia chicoteá-la como um palito de dente. Com meu parceiro sacando e eu na rede, era perturbador.  Em um ponto, no entanto, foi mais do que perturbador. Com a devolução de Chuck caindo sobre o seu pé e com o rival quase sobre a rede, meu parceiro entrou em pânico e tentou um lob de voleio. Ele foi curto e Chuck teve um smash comigo à queima-roupa.


Os jogadores mais fracos, que estão perdendo muitos pontos, vão ficar envergonhados e podem se tornar progressivamente mais inseguros e hesitantes


"Tente selecionar um parceiro que seja otimista e que se encaixe bem com as suas idiossincrasias"

Por mais assustador que fosse o voleio alto de Chuck, não era nada comparado ao seu smash absolutamente estrondoso e ele acertou tão forte no estômago que quase me derrubou! Não tive tempo de virar o corpo ou me defender, e a bola poderia ter me atingido em qualquer lugar. Depois disso, os pensamentos de vencer o jogo evaporaram. Só queria sair da quadra antes de me machucar.

Obviamente que Chuck se desculpou. Ele disse que estava apenas tentando colocar força na bola e o golpe saiu torto. Mas tenho uma suspeita persistente de que ele fez isso de propósito pois estava um pouco bravo por ter perdido nas simples (para mim). Chuck era um cara maravilhoso e um bom amigo, mas, quando estava na quadra, não estava procurando fazer amigos. Sua teoria da intimidação era ser como um canhão solto, dar uma paulada na bola, desculpar-se se ela pegar em alguém, mas fazer com que os oponentes percebam que acidentes às vezes acontecem.

Em resumo, duplas requerem que você leve em consideração três mentes distintas: a sua, a do seu parceiro e a dos seus adversários. Você precisa fazer seu parceiro se sentir relaxado e confiante (nele mesmo e em você) enquanto você se mantém focado e intenso o suficiente para desempenhar bem. Você também quer semear tanta insegurança, discórdia e talvez até mesmo medo entre seus oponentes quanto as regras escritas e não escritas permitirem.

Trecho editado do livro Tennis: Winning the Mental Match, de Allen Fox. Para adquirir, acesse: www.allenfoxtennis.net
Allen Fox é Ph.D. em psicologia pela UCLA, é ex-campeão da NCAA, quadrifinalista de Wimbledon e ex-membro do time da Copa Davis dos Estados Unidos. Atualmente dá consultoria para atletas em questões mentais, palestras sobre psicologia do esporte e é autor de diversos livros sobre o lado mental da competição.

Por Allen Fox

Publicado em 28 de Setembro de 2015 às 00:00


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