Duplas

O perigo também vem do fundo

É possível ter sucesso nas duplas jogando na linha de base? Bruno Soares conta o porquê de esse estilo estar longe de desaparecer do tênis e revela comoevitar estragos ao encarar os tiros junto à rede


PARA VOCÊ QUE CANSOU DE VER dois jogadores metendo a mão na bola e que nunca avançaram além da linha do “T”, o jeito foi apelar para as quadras secundárias em São Paulo. Ali foi possível acompanhar um jogo mais agressivo de duplas, em que os tenistas procuram a definição rápida dos pontos. Certo? Bem, ao se deparar com dois marmanjos plantados no fundo, você poderia pensar: é possível ter sucesso jogando da base até na dupla?

Bem, essa é uma pergunta que requer explicação de alguém que se depara com esse tipo de situação costumeiramente. O mineiro Bruno Soares, tricampeão do Brasil Open, enfatiza que esse tipo de parceria é muito comum no circuito pelo fato de os jogadores de simples procurarem as duplas para adquirir ritmo ou até para desenvolver suas habilidades junto à rede.

Quem não se lembra da notável parceria entre Fernando Gonzalez e Nicolas Massú, que chegou ao ouro olímpico em Atenas 2004 acertando passadas do fundo? Para aqueles que pensam que esse estilo estaria em extinção, Soares faz uma previsão pessimista: esse tipo de jogo tende a sobreviver ainda por muitos anos.

ESTILO SOBREVIVENTE

O tênis na atualidade vive uma fase dinâmica, em que a tendência do jogo é mesclar vários estilos para enfrentar quaisquer situações em diferentes superfícies. Para Soares, campeão de duplas mistas do US Open 2012, o fato de as quadras estarem mais lentas do que há 10 anos faz com que a opção de atuar da linha de base seja viável também para as duplas. “Há 10 anos, era praticamente impossível sacar e ficar no fundo. As quadras eram mais rápidas, o jogo era mais veloz. Você era praticamente obrigado a sacar e volear, porque qualquer devolução já escorregava e você não tinha tempo para bater do fundo. Quanto mais cedo você antecipasse, melhor. Hoje, a ITF e a ATP estipularam que as bolas ficassem maiores, as quadras mais lentas, por isso há mais tempo de se jogar do fundo de quadra”, analisa.

“Você vê caras focando nas duplas, como o Fernando Verdasco jogando o calendário inteiro com o David Marrero. O Marc López e o Marcel Granollers foram campeões do ATP Finals no ano passado. Acho que a tendência é os caras de simples jogarem mais duplas. E isso só vai aumentar porque eles ‘pegaram a manha’ de como jogar, o feeling. À medida que o jogo fica mais lento, mais perigosos os caras são”, completa o mineiro.

MELHOR TÁTICA PARA ENFRENTAR OS FUNDISTAS

Dois jogadores do fundo não avançam à rede porque geralmente são especialistas da linha de base e sabem que ir para frente é a última opção. “Apenas se forem obrigados”, completa Soares. Se você confia que pode vencê-los trocando inúmeras bolas, alongando os ralis, o ideal é que você faça uma devolução firme e com profundidade e segure a onda ali mesmo, forçando o erro do adversário.

No caso de Soares, a outra opção acaba sendo mais eficaz, que é procurar a rede o mais cedo possível e pressionar o adversário a ter que fazer a passada mais arriscada. “A minha estratégia é abafar os caras, fazê-los darem tiros de risco, procurar a linha, executar uma jogada difícil. Quando esses caras têm a bola na mão, são muito perigosos. Mas se você mexe com a cabeça deles, pressiona, deixa o jogo mais rápido, você os tira da zona de conforto, e eles acabam hesitando”, conta o tenista que tem o recorde brasileiro de 12 títulos na modalidade.

Além disso, a variação do jogo, quebrando o ritmo com slices curtos e angulados, alternando saques fortes e outros com mais efeito, são alternativas que ajudam a atrapalhar os rivais que insistem com as longas trocas de bola. “Às vezes, os caras estão confiantes demais, estão devolvendo bem, então você tem que ter um plano em mente. Fazer australiana, sacar na esquerda, na direita, saques mais fortes, com quique, para achar o seu ritmo. A ideia é que eles pensem. O jogo de dupla é de muita precisão, então quando você ‘entra’ na cabeça do adversário, o faz tirar o olho da bola para ver onde você está indo na rede, você colhe os frutos”, sugere Soares.

Fotos: Marcello Zambrana/Inovafoto

DICAS DE QUEM SABE

Para você que aprecia uma boa duplinha no seu final de semana no clube ou até para aqueles que planejam se especializar na modalidade e se deparam com dois experts da base, aqui vão recados do titular brasileiro na Copa Davis para você saber o que fazer. Anote:

  1. Seja agressivo, você obtém mais sucesso na dupla avançando em quadra, buscando a definição dos pontos junto à rede;
  2. Na devolução, atacar o adversário que estiver na paralela, faça-o jogar e ele vai se sentir desconfortável e acuado junto à rede;
  3. Às vezes, não é preciso ter um voleio excepcional para ganhar pontos de graça. Apenas o fato de abafar o rival, indo para a rede e um voleio profundo já o coloca sob pressão;
  4. Analise as condições do local em que está jogando para definir a melhor tática. Se jogar numa quadra de grama, o melhor é abafar e “meter a cara na rede. No saibro, os simplistas terão mais vantagem pela bola não andar tanto. Então, é bom caprichar no saque para evitar levar devoluções no pé, algo que o põe numa posição defensiva e vulnerável junto à rede.
Matheus Martins Fontes

Publicado em 25 de Fevereiro de 2013 às 12:43


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Artigo publicado nesta revista