Instrução Golpe
Compreenda a técnica de forehand de João “Feijão” Souza em quatro situações de jogo
O sucesso recente de João Souza, o Feijão, deve-se muito ao seu aprimoramento físico e mental. Aos 26 anos, o tenista de Mogi das Cruzes atingiu seu melhor ranking na carreira depois de fazer excelentes campanhas tanto no Brasil Open quanto no Rio Open, e também foi o destaque da equipe brasileira no confronto com a Argentina pela Copa Davis.
É notável que uma maior maturidade mental e um melhor preparo físico fizeram com seu jogo crescesse, mas, isso de nada adiantaria se Feijão não tivesse golpes sólidos em seu arsenal. E uma de suas armas mais relevantes é, sem dúvida, a direta, o forehand.
Souza é capaz de disparar golpes extremamente velozes e pesados do lado direito, o que machuca muito os adversários. Não à toa, ele usa e abusa de seu forehand, “fugindo” inúmeras vezes da esquerda (que também melhorou muito nos últimos tempos, tornando-se mais consistente e, com isso, menos frágil) para bater de direita e comandar o ponto.
Sendo assim, vamos mostrar aqui a belíssima técnica de Feijão em quatro situações diferentes de jogo para poder compreender a eficiência desse golpe tão comentado recentemente.
Um dos trunfos de João Souza, além do forehand, tem sido o ótimo saque quique aberto na esquerda dos oponentes (no lado da vantagem). Esse serviço tem lhe rendido muitos pontos de graça, ou então, segundas bolas fáceis para definir o ponto. Este é um desses casos. Depois do saque, a bola sobrou alta, dentro da quadra. Feijão obviamente dá alguns passos para a esquerda, fugindo do backhand, para finalizar de direita. A bola alta é perfeita para um ataque. Portanto, ele não hesita. Posiciona-se adequadamente, traz a cabeça da raquete para trás com antecedência, flexiona os joelhos em uma base semiaberta para poder conseguir gerar potência e pega a bola bem no alto e na frente do corpo com sua empunhadura Western bastante acentuada, batendo praticamente de cima para baixo, sem muito topspin. Um golpe para definir o ponto, seja em um winner, seja em um erro forçado do rival.
Quando a bola sobra no meio da quadra, não muito funda, também é hora de atacar e colocar o adversário para correr. Ter uma base bem plantada para esse tipo de situação é essencial. Em apoio semiaberto, Souza já está com a raquete preparada e o centro de equilíbrio baixo. A mão esquerda aponta para a bola, com o que para dar a referência. Repare que a cabeça da raquete vai para trás, mas não muito para baixo. O contato com a bola é feito à frente do corpo, sem que o braço esteja 100% esticado. Esta, aliás, parece ser uma caraterística comum do forehand de Feijão, que gosta de acertar a bola não muito longe do corpo (o que dá ao jogador uma sensação maior de controle da batida). A terminação acentuada à frente do corpo depois do contato garante um pouco mais de topspin em uma bola rápida. Golpe finalizado, ele está pronto para tomar uma posição ainda mais agressiva na quadra.
Devolver bolas que fazem você andar para trás nunca é fácil. É preciso ter pernas rápidas e fazer um bom ajuste de pés para conseguir um apoio e devolver a bola com profundidade e efeito, evitando, assim, futuros ataques. Assim que percebe uma bola mais longa, Souza começa a recuar, mas já com um começo de preparação da cabeça da raquete. Quando a bola quica no solo, ele já está com uma base montada em apoio de lado, quase fechado. Neste caso, a bola adversária não permite que ele tenha a melhor sustentação e equilíbrio para o golpe. Ele se apoia no pé direito para, em seguida, conseguir gerar alguma potência para responder a bola. Por sua base não estar 100% montada, ele acaba golpeando e indo para trás. Apesar de ainda pegar a bola na frente do corpo, ele deixa-a entrar um pouco mais (muito devido à sua preferência por pegar a bola mais perto do corpo). Para “compensar”, a terminação do golpe é mais para cima e para a frente, ainda com muito topspin.
Uma coisa é bater na bola quando você tem tempo para montar uma boa base e fazer a preparação adequada. Outra é quando precisa bater em movimento. Nesta jogada, Souza está tendo sua movimentação atacada e precisa se defender. Repare como ele corre já com a cabeça da raquete atrás do corpo. Muitos amadores cometem erros nessas batidas, pois deixam para armar o golpe quando já estão em cima da bola. Feijão consegue se apoiar no pé direito para gerar potência. Ele pega a bola na frente do corpo, novamente sem o braço totalmente esticado – o que lhe dá mais controle. Ele passa a perna esquerda sobre a direita e termina se apoiando sobre a direita, deslizando sobre o saibro, pronto para recuperar seu posicionamento na quadra.
Publicado em 30 de Março de 2015 às 00:00
Como ele se tornou número 1 do Brasil e até onde pode chegar + desvendamos seu forehand matador