Como passar do tênis juvenil para o profissional? Existe uma forma "menos dolorosa"? Como fazer essa transição para ter maiores chances de sucesso na carreira?
Segundo o dicionário aurélio, o termo juvenil se refere ao jovem que constitui um torneio, uma equipe ou departamento de clube esportivo e que ainda não atingiu todo o seu vigor. Por sua vez, profissional, nos âmbitos da psicologia, aponta o indivíduo que atingiu pleno amadurecimento e se volta para certa atividade como sua profissão ou ofício.
Diante disso, não é difícil perceber que a passagem da adolescência para a vida adulta é marcada por diversas transformações físicas, culturais e psicológicas, e os jovens adquirem o poder de tomar suas próprias decisões (mesmo que acabem sendo precipitadas). No tênis, assim como em qualquer setor da sociedade, o adolescente é responsável por construir seu caminho e aprender como funcionam as coisas não apenas no esporte, mas na vida.
"Hoje em dia, o jogador consegue chegar entre os 50, 60 melhores jogando apenas Challengers. Mas acho que essa não é a maneira correta", Thiago Alves | "Na transição, nossos juvenis têm que viajar para a Europa, mesmo com bastante torneios aqui no Brasil", Edvaldo Oliveira |
Como a maioria dos integrantes dessa complexa faixa etária, os jovens atletas já não aceitam ser tratados como crianças, já que "baladas", "mulheres" e o "oba-oba" da curtição passam a ser aperitivos em seus cardápios - e podem se tornar grandes obstáculos para as responsabilidades que já se avistam no horizonte. Pelo contrário, querem reconhecimento como homens maduros. Afinal, não há uma idade específica para os juvenis se tornarem profissionais no tênis e, assim, eles são lançados em bandos nos primeiros degraus de um verdadeiro esporte de gente grande.
Foi nesse cenário de "nova geração à solta" que estivemos presentes na primeira edição do Challenger de São José do Rio Preto, cidade a 450 km de São Paulo, para acompanhar a nova cara do esporte no Brasil. À beira de um calendário repleto de torneios propícios aos novos representantes nacionais, as dúvidas que ficam são muitas: manter nossos filhos perto é a melhor forma de moldar um verdadeiro campeão? Ele estará pronto para encarar as dificuldades do circuito internacional?
Investigamos, então, o que é preciso para que o jovem chegue à plenitude necessária do amadurecimento e qual atitude ele deve ter para não sofrer as consequências de uma mentalidade precoce, porém, necessária na profissão. No bom provérbio popular, "está na hora de separar os homens dos meninos!"
"O tênis, mesmo que a nossa estrutura tenha melhorado bastante, não há tanto apoio como na Europa", Fabiano de Paula |
"Ganhava muito no juvenil, mas, no Future, você perde com mais frequência e isso pode afetar a confiança do jogador, que começa a duvidar dele mesmo. Por isso é um processo muito duro", José Pereira |
A passagem do "teto"
Nessa fase de transição, os Futures e os Challengers aparecem como opções para o jogador adquirir a condição técnica e confiança necessárias para despontar nos eventos posteriores. Principalmente os Futures permitem que muitos atletas tenham a chance de marcar seu primeiro ponto no ranking da ATP, ter a oportunidade de treinar com atletas mais experientes, a passar o "teto", nas palavras do técnico Marcus Vinícius Barbosa, o "Bocão".
"Na fase juvenil, é importante que o jogador tenha o pensamento de que ele está lá para jogar tênis. Se perder uma primeira rodada, tem que treinar todos os dias, independentemente do resultado, tudo é um trabalho", disse. "A grande diferença do juvenil para o profissional é a rotina, porque o juvenil de 16, 17 anos vai jogar qualifying de Future e pode encarar caras cinco ou até 10 anos mais velhos. Esse processo é sistematicamente repetido em diversos níveis. Quanto maior a competição, mais os detalhes fazem a diferença", acrescentou o treinador que trabalha no Instituto de Larri Passos em Santa Catarina.
É importante não queimar fases e primeiro jogar os torneios juvenis para depois passar aos profissionais
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Quem corrobora a opinião de Bocão é um dos destaques do Brasil em 2011, o paulistano Rogério Dutra Silva, de 27 anos, que explica que a mesma fórmula serve para os torneios maiores. "A gurizada tem que começar a treinar com os caras quando jogam Futures, Challengers, e assim por diante, para buscar essa experiência. Não pode sempre manter o mesmo nível, tem que crescer. Tive a experiência de ir para [Masters 1000] Cincinnati. Perdi no quali e fiquei a semana inteira com o Larri treinando com o Bellucci, com jogadores de ranking mais alto, como o [Philipp] Kohlschreiber. Na semana seguinte, fiz segunda rodada do US Open. Então, é importante mesclar muito para sempre procurar evoluir", afirmou Rogerinho, que conquistou medalhas de prata [simples] e bronze [duplas mistas] nos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara.
No caminho, no entanto, aparecem vários obstáculos que podem acabar retardando o processo de amadurecimento do jovem tenista. Para o experiente Carlos Oliveira, jogador de 35 anos e mais velho na chave em Rio Preto, a ausência dos pais no dia-a-dia do filho, muitas vezes, se torna um problema. "O que mais desgasta é a distância da família. Como o jogador precisa do ranking, ele chega a ficar dois meses viajando e bate um pouco a saudade, a solidão, aquela rotina de todo o dia é a mesma coisa.
Muitos levam pelo lazer e é por isso que, às vezes, desanimam", explicou o jogador natural de Bauru.
"Você pode acabar tomando decisões erradas nessa época de transição, começa a treinar muito ansioso e perde jogos que não perdia antes. A confiança cai muito", Ídio Escobar |
Ao contrário de "Carlinhos" (como é chamado Oliveira), muitas promessas nacionais explicam que o apego à família nem sempre influi na queda de rendimento. Para o promissor Bruno Sant'Anna, de apenas 18 anos, a preocupação é se acostumar com a nova realidade dos Futures, torneios com menor premiação e que não têm a mesma mordomia do que os juvenis. "No juvenil, a gente joga Grand Slam, tem hotel e comida de graça, os torneios são muito organizados. Agora, os Futures são outra história, principalmente no Brasil, que tem bastante opções. Você acaba sempre enfrentando o mesmo cara, são as mesmas pessoas. Você se acomoda naquela coisa de juvenil, chove patrocínios e você pensa em ir para Roland Garros, Wimbledon. Nos Futures, você acaba pensando: 'Vamos hoje para Marília, depois para Foz do Iguaçu.' Digamos que isso acaba se tornando mais deprimente", opinou o jogador de São José dos Campos.
Repetir resultados
"Prata da casa" em Rio Preto, Augusto Laranja acredita que muitos talentos tropeçam no meio da trajetória por não conseguirem os mesmos resultados da época prévia. "Alguns acabam desistindo porque se acostumam a sempre ganhar. E, no profissional, não acontece isso. Você acaba perdendo mais, principalmente no começo, tem sempre o pessoal mais experiente e o jogador tem que saber lidar com isso", afirmou o atleta de 19 anos. O alagoano José Pereira, de 20 anos, que venceu a Copa Gerdau na categoria 18 anos em 2009, concorda com Laranja e diz que muitos jogadores vêm com a ideia equivocada de que o sucesso no juvenil vai continuar nos primeiros passos no adulto. "Conquistei muito no circuito juvenil. Sempre ganhava, no mínimo, dois ou três jogos por torneio. Mas, no Future, você perde com mais frequência e isso pode afetar a confiança do jogador, que começa a duvidar dele mesmo. Por isso é um processo muito duro."
Dessa forma, a ansiedade pode ser uma consequência negativa para o jovem, que passa a se cobrar muito nos treinamentos, agindo como se apenas ele fosse o culpado da instabilidade. É o que relata o carioca Ídio Escobar, 19 anos. "Você pode acabar tomando decisões erradas nessa época de transição, começa a treinar muito ansioso, o nível não rende e daí perde jogos que não perdia antes. A confiança cai muito e você não mantém uma regularidade. Sempre melhora e piora, fica sempre nisso e acaba irritando muito o jogador", conta.
"Os jogadores sul-americanos têm a tendência de amadurecer mais tarde em comparação aos europeus", Tiago Fernandes |
Um dos promissores juvenis do país nos últimos anos, o também carioca Fernando Romboli tem convicção de que a parte mental é primordial para o recém- integrante do circuito profissional e que, se essa arma não for usada da maneira correta, pode acarretar em contratempos indesejáveis. "Na transição, fui muito bem porque começou a ter uma grande quantidade de Futures no Brasil. Então, você tem que se acostumar a jogar em um nível diferente, a precisão é outra e a maneira de você encarar isso é o passo para o amadurecimento do atleta", aponta o jogador de 22 anos.
Ingressar no circuito profissional não é tão difícil quanto parece, o mais complicado é se manter nele
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Novo pupilo de João Zwetsch, atual capitão do Brasil na Copa Davis, Caio Zampieri, 25 anos, já tem muita experiência para quem está na rotina de viagens desde os 14 anos. Para o atleta natural de Mogi Guaçu, a companhia de um técnico é uma ótima forma de evitar que o jovem venha a cometer erros previsíveis nesse perigoso estágio. "Se você tiver uma boa condição financeira, a melhor coisa é viajar com um treinador. Viajei minha vida inteira sem técnico, levei 'porrada' na cabeça, fiz escolhas precipitadas, coisas de moleque mesmo e, com treinador, é diferente. Ele te coloca no circuito, te apresenta aos caras, te ajuda a lidar com a pressão de jogar os torneios com adversários que você não está acostumado a enfrentar", afirmou.
A peneira vai se afinando
A maioria dos jogadores afirma que o mais difícil não é entrar no tênis profissional, mas permanecer dentro do circuito. Diversos imprevistos já foram discutidos e a "peneira acaba ficando mais afinada", segundo afirma Ricardo Acioly, treinador de João Olavo Souza, o Feijão. Para o pupilo de Pardal, o ingresso ao mundo dos Futures deve ser celebrado, mas o tenista deve compreender que a evolução do seu jogo continua e ele não pode se acomodar em ficar disputando um mesmo nível de competição por um longo período. "Eu comecei a jogar Futures dos 16 para os 17 anos. Então, não adianta nada ficar jogando esses torneios até os 20, 21 anos. Tem que dar aquele salto para os Challengers, qualis de ATP e chave principal desses eventos. Chegar entre os 200 do mundo e comparar com os caras perto do top 100 não tem muita diferença. Há umas semanas, o [Matthew] Ebden fez quartas em [Masters 1000] Xangai, o [Bernard] Tomic fez quartas em Wimbledon", lembrou Feijão.
"Não pode sempre manter o mesmo nível, tem que crescer", Rogério Dutra Silva |
"Eu estou vivendo essa fase de transição, de Challenger para ATP, já fiz duas semis [Santiago/2010 e Kitzbuhel/2011], joguei chave do US Open, ganhei de caras bons como Robredo, Andujar, que beiram top 30, 40. É uma questão do cara querer mais para ele, de sempre buscar aprimorar e evoluir", acrescentou o atleta de 23 anos.
Um dos grandes nomes do tênis juvenil na época de Guga era Thiago Alves. O rio-pretense, hoje bem experiente com seus 29 anos, utiliza-se da mesma visão de Feijão e admite que faltou arriscar jogar os maiores torneios em seus melhores momentos na carreira. "Acredito que faltou ficar mais lá em cima. Fiquei muito tempo jogando Challenger de US$ 100 mil, fiquei acomodado", conta o jogador que chegou a ser número 88 do mundo há dois anos. "Lá em cima, o tênis é dominado do número 1 ao 4. Depois, até o número 50, o nível é diferente. Dos 50 aos 150, a questão é de confiança mesmo. Hoje em dia, o jogador consegue chegar entre os 50, 60 melhores jogando apenas Challengers. É o caso do Rui Machado [tenista português que venceu quatro torneios da série no ano], mas acho que essa não é a maneira correta. É uma das coisas de que me arrependo e, se voltar a estar lá, com certeza vou fazer diferente", declarou Alves, que alcançou às semifinais no torneio em casa.
Júlio Silva, de 32 anos, diz que a maneira de encarar o circuito mudou conforme o passar do tempo e a conduta se tornou muito mais profissional. Na época que despontava no esporte, o atleta de Jundiaí conta que os jogadores de Futures e Challengers quase não viajavam com treinador e, hoje em dia, a garotada se dispõe de atributos que nem ele possui na atualidade. "Eu treino sozinho, às vezes em Campinas com o Ricardo Mello quando ele está lá. Você vê caras jogando Future andando com treinador, preparador físico, nutricionista. Imagine em um ATP o que deve ter!? Hoje, o tênis ficou muito mais sério, o nível está cada vez mais alto conforme você vai jogando os torneios", relatou.
Para os mais novos, que ainda não estão tão acostumados com a rotina da chave dos principais eventos, o que impressiona é exatamente o comprometimento dos jogadores com a profissão que escolheram exercer para sua vida. "O nível dos Futures para os Challengers muda muito, os jogadores, a rotina e a estrutura. Eu diria que Future é, em média, 60% profissional; já os Challengers são entre 85 e 90% e, depois, vêm os demais, ATP, Masters, Grand Slam, que realmente são 100% profissionais", aponta José Pereira. "Os Challengers são um 'outro mundo'", adiciona Bruno Sant'Anna. "É um lugar que você consegue viver bem, pagar suas contas, onde tem eventos bem organizados. Nos Futures, os caras pensam em bagunçar, nas baladas, querem curtir e você acaba mais gastando do que ganhando ao disputar esse tipo de torneio. Nos torneios maiores, você vê que os caras estão focados, treinam oito horas por dia, lidam como sua profissão, como o seu trabalho", conclui.
Ficar no Brasil! Tiro no pé?
No atual panorama do tênis mundial, o Brasil ocupa um seleto lugar entre as potências no que diz respeito à quantidade de torneios profissionais em seu território. No início de 2011, o calendário masculino da ITF marcava 57 competições ao longo de toda a temporada em solo verde-amarelo, sendo um ATP 250, 14 Challengers e 42 Futures (sem contar o posterior cancelamento de alguns eventos). Mesmo com a fórmula "caseira" de fazer com que nossos prodígios fiquem no País para garantir seus pontos no ranking, alguns especialistas questionam se essa é a melhor maneira de preparar o atleta para o profissional.
Edvaldo Oliveira, treinador de Thiago Alves, acredita que o arsenal de torneios no País é um ótimo incentivo para os mais jovens, porém a forma com que são realizados e a repetição excessiva dos mesmos atletas na competição pode virar um círculo vicioso. "Na transição, nossos juvenis têm que viajar para a Europa, mesmo com bastante torneios aqui no Brasil. A Europa é o berço do tênis mundial, o jogador encontra diversas escolas jogando no mesmo evento, como a espanhola, a tcheca, a russa, a alemã, a italiana, a francesa. E também é o viver do dia-a-dia do torneio. Você acompanha jogos de outros tenistas, de diferentes nacionalidades e não conhecendo já todo mundo como acontece nos torneios aqui no Brasil", explica.
"Comecei a jogar Futures dos 16 para os 17 anos. Então, não adianta nada ficar jogando esses torneios até os 20, 21 anos. Tem que dar um salto", João Souza |
Por sua vez, Alves recorda que sua adaptação às condições europeias no início da carreira não foram nada animadoras. Diferença do peso da bola, jogadores desconhecidos, clima estranho, tudo isso esteve na rotina do tenista brasileiro nas viagens ao exterior. "Como não tinha essa abundância de torneios no Brasil, a gente tinha que ir para a Europa. Na Itália, por exemplo, no mesmo espaço de tempo de dois Futures hoje no Brasil, lá está tendo Challengers. É bom você ir para ficar umas seis semanas para se acostumar àquele ritmo diferente. Então, pode não ir tão bem nas primeiras semanas, mas você vai, aos poucos, adquirindo confiança. O brasileiro tem que aprender a ver o tênis de uma forma diferente."
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Além disso, o rio-pretense foi além e discordou da rotina que os novos atletas levam na fase de transição - dando prioridade aos Futures e se esquecendo do trabalho importante na base juvenil. "A molecada não está sabendo aproveitar essa quantidade de torneios da maneira correta, estão achando que só ir para os Futures e perder em quadra é o mais importante. O tênis juvenil no Brasil perdeu a força de antigamente", criticou.
Jovens não devem ficar estagnados em um único nível de torneio. É preciso buscar novos e maiores desafios
"Acho que tem que seguir todas as etapas, primeiro os estaduais, os brasileiros, COSAT, europeus, todos os ITF e jogar os Grand Slams para adquirir 'bagagem'. A maioria dos jogadores [que despontam] passou pelo juvenil, como o Tomic, o [Grigor] Dimitrov. Essa quantidade de torneios Future está banalizando os torneios juvenis", enfatizou Alves.
Edvaldo Oliveira concorda com o pupilo e presume que a preocupação excessiva do jovem tenista brasileiro em disputar vários torneios profissionais em sequência possa se tornar um perigoso empecilho na transição do atleta. "Sou contra lançar os meninos com 15 anos para jogar qualis de Futures. Muitos sequer estão preparados para ganhar jogos em sua categoria", relata. "É um risco desnecessário 'queimar' o menino cedo e dizer que tudo é uma preparação. O erro do brasileiro infanto-juvenil é buscar jogar muitos torneios e se preocupar apenas com ranking. Ele fica pouco tempo na base dele e, assim, não consegue aprimorar a parte técnica, o que lá na frente vai fazer falta", finalizou.
Por que somos tão imaturos?
Tiago Fernandes, 18 anos, campeão do Australian Open juvenil no ano passado e primeiro brasileiro a liderar o ranking na modalidade, afirma que os jogadores sul- americanos têm a tendência de amadurecer mais tarde em comparação aos europeus. Para o âmbito brasileiro, o carioca Fabiano de Paula, 22 anos, defende a tese de que somos condicionados pela influência futebolística. "Acho que isso vem da cultura. No Brasil, o pessoal vai muito na onda do futebol. O tênis, mesmo que a nossa estrutura tenha melhorado bastante, não há tanto apoio como na Europa, que tem Centros de Treinamento quase para todo mundo", apontou o atleta, que nasceu e mora até hoje na favela da Rocinha.
Já Bruno Sant'Anna se apóia no argumento de que os europeus têm mais acesso às oportunidades, aos torneios e patrocínios pela proximidade com os demais países desenvolvidos e, muitas vezes, grandes produtores de material esportivo. "Para o europeu, é muito mais fácil, pois tudo lá é perto, os países são muito pequenos. A questão de raquete, por exemplo. Para ela vir aqui para o Brasil, o jogador tem que pagar um valor de imposto, então compensa mais você ir à loja e comprar uma. O cara perde um jogo lá, está nervoso, pega um trem e, em uma hora e meia, está em casa para treinar e jogar logo em seguida. Para eles, é muito mais cômodo jogar tênis. Aqui, você perde em Natal, daí tem que viajar na semana seguinte para Porto Alegre, o voo de 4 horas, espera no aeroporto por mais 2 horas e, quando você vê, perdeu quase um dia viajando", explica.
É preciso amadurecer mais rápido e o papel dos pais é fundamental nesse aspecto
Para Acioly, o atleta recém-promovido ao profissional no Brasil tem um perfil muito diverso dos padrões do tênis. Pardal afirma que o jogador deve trabalhar muito em todos os aspectos de seu jogo na fase de transição - físico, técnico, tático e psicológico. No entanto, ele analisa que o brasileiro demora a encontrar essa "coesão" e aproveita para comparar essa realidade com as escolas mais tradicionais. "Essa mecânica de amadurecimento é mais rápida fora do Brasil. Na Europa, aos 18 anos, é bem provável que os pais já tenham expectativas de o filho sair de casa. O norte-americano é o contrário, ele quer sair da casa dos pais para se sentir mais independente. É por isso que nossos tenistas têm a tendência de 'crescer' um pouco mais tarde. Pensar em ficar 30 semanas fora viajando é muito duro."
"Alguns acabam desisti ndo porque se acostumam a sempre ganhar. E, no profissional, não acontece isso", Augusto Laranja |
Zampieri menciona Gaston Elias como um exemplo de jogador europeu acostumado com a rotina de trabalho desde criança. Parceiro do português treinado por Jaime Oncins nos jogos de truco durante as folgas, Zampieri acredita que os atletas do Velho Mundo têm outra mentalidade para encarar o esporte. "O Gaston [Elias] começou a viajar sozinho com 12, 13 anos, porque tem mais torneios por lá. Os sul-americanos com 16 anos estão começando a conhecer o mundo, querer sair com as meninas, aquele negócio de 'curtir a vida'. Na Europa, com 15 anos, os caras já estão viajando 10 semanas sem parar, treinando e jogando. Isso faz diferença", opina.
Mentor de grandes nomes como Tiago Fernandes, José Pereira, Bruno Semenzato, entre outros, Marcos Vinícius Barbosa destaca que o amadurecimento tardio do atleta nacional está mais relacionado ao perfil social que desempenhamos. Os pais, muitas vezes, erram na forma de educar os filhos e a consequência é passada para dentro do jogo. "Sou pai de quatro filhos e sinto isso na pele, convivendo e trabalhando com esse processo", relata o catarinense que figurou entre os 10 melhores no juvenil e alcançou as semifinais de Wimbledon na modalidade.
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"Às vezes, vejo a educação lá fora, tento passar aqui e acabo sendo mal visto. Vi uma situação na Austrália que me marcou. Uma mãe ensinava a criança a andar. Se ela cai, os pais ficam de longe, olhando para ver se não se machucou, se está sangrando, se arranhou. Daí, eles falam: 'Come on, let's go, get up!' (Vamos lá! Levante-se!) Ali, você começa a educar a criança desde a infância. Os latinos não têm isso. Se a criança cai, já chegam os pais, avôs, tios e primos. E o que ela faz? Começa a chorar! Isso tudo passa para a quadra. Num 30/40, o tenista vai reagir de acordo como ele foi educado pelos pais. Então, nós, de certa forma, 'estragamos' a criança. Eu me incluo nesse grupo e tento fazer diferente, porque o jogador é dentro da quadra como ele é fora dela", finalizou.
Os 'perrengues' AUGUSTO LARANJA - 19 anos - São José do Rio Preto/SP BRUNO SANT'ANNA - 18 anos - São José dos Campos/SP ROGÉRIO DUTRA SILVA - 27 anos - São Paulo/SP JÚLIO SILVA - 32 anos - Jundiaí/SP IDIO ESCOBAR - 19 anos - Angra dos Reis/RJ CAIO ZAMPIERI - 25 anos - Mogi Guaçu/SP |
Publicado em 16 de Novembro de 2011 às 08:39