Instrução Brad Gilbert
No Brasil para o Workshop Internacional de Tênis da CBT, Brad Gilbert contou um pouco de sua experiência no circuito e deu sua visão sobre o tênis
ATÉ SEXTA-FEIRA, 3 DE JUNHO, Brad Gilbert - ex-treinador de Andre Agassi, Andy Roddick, Andy Murray entre outros tenistas - podia ser visto comentando as partidas de Roland Garros pela ESPN. Aliás, o "mestre da estratégia no tênis" estava em Paris acompanhando in loco o Grand Slam que consagrou Rafael Nadal como o maior tenista de saibro de todos os tempos e também Na Li como a primeira asiática a vencer um Major na história.
No sábado pela manhã, o irrequieto norte-americano já estava em São Paulo, no Clube Espéria, para palestrar diante de uma plateia de cerca de 300 treinadores brasileiros ávidos por ouvir seus conhecimentos. Calejado em discursar para um grande público, Gilbert se mostrou à vontade, falou sobre diversos temas do tênis de hoje e do passado, contou sobre suas experiências, foi à quadra (mesmo sabendo que seu forte é a parte mental e estratégica do jogo) para tentar mostrar na prática alguns drills que podem ajudar a desenvolver aspectos táticos.
A Revista TÊNIS acompanhou o técnico durante o Workshop e anotou os principais tópicos do seu discurso sempre muito lúcido sobre as tendências do tênis mundial, que seguem aqui enumerados 10 pontos que acreditamos ser os mais relevantes:
Mais do que ter uma boa técnica, para ser um bom tenista é preciso ter determinaçnao |
1 - DETERMINAÇÃO
Brad Gilbert é conhecido mundialmente por ter treinado Andre Agassi e ajudado o norte-americano, que havia despencado no ranking, a se recuperar, e por escrever o livro "Winning Ugly" (Vencendo feio). Neste Best-seller do mundo do tênis, ele prega que a aplicação tática está acima de qualquer coisa e é ela que vai, na maioria das vezes, fazer com que você vença uma partida, não importando a sua técnica. Sempre fiel a essa lógica, uma das coisas que Gilbert fez questão de frisar em seu discurso foi a importância de o tenista ser determinado. Para ele, a determinação é mais relevante do que a técnica, do que a maneira como alguém joga e empunha a raquete em seus golpes. Se você for uma pessoa determinada, terá sempre algum resultado.
2 - ADAPTABILIDADE
O treinador norte-americano lembrou que cresceu jogando em quadras de cimento, que são maioria nos Estados Unidos. Contudo, ele prega que é muito importante que os jovens cresçam jogando no saibro. "De lá você consegue uma transição melhor para as outras quadras", afirmou, pois, segundo ele, o jogo sobre a terra batida lhe traz mais armas e mais recursos, e também uma maior resistência e disciplina tática.
3 - VELOCIDADE
Não é difícil perceber o quanto o jogo de tênis atual é veloz. As trocas de bola são rapidíssimas e o jogo de pernas é um dos pontos cruciais para ser um tenista top. "É preciso trabalhar a velocidade desde cedo", garante Gilbert.
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4 - TER UMA BOA TÉCNICA
Apesar do mote "vencendo feio" ter ficado atrelado a Brad Gilbert devido ao seu estilo nada agradável de se ver, o treinador garantiu que é preciso ter uma boa técnica desde cedo. "Isso é o que vai lhe dar uma boa base para jogar no futuro", diz e complementa: "Se você estiver fazendo mudanças técnicas depois de velho, está com problemas. Então, aprenda bem desde cedo".
Brad Gilbert costuma sempre ficar de óculos escuros quando está acompanhando os jogos de seus atletas. Por quê? "Para que eles não vejam meus olhos e não tentem interpretar meus sentimentos. Tento sempre passar uma imagem de calma. E ser positivo". |
5 - SEJA POSITIVO E NÃO TENHA MEDO DE APRENDER COM A DERROTA
"Às vezes ia aos torneios, quando era juvenil, e perdia por 6/1 e 6/2. Saia da quadra chateado e reclamando. Mas meu pai logo dizia: 'Veja pelo lado bom, você ganhou três games. Da próxima vez, você já sabe como ele joga e pode vencê-lo'", lembra Gilbert. Para ele, ter essa visão sempre positiva é muito importante.
Mais do que isso, é necessário aprender com as derrotas: "Muitos tenistas têm medo de aprender com a derrota. Perder é ruim, dá medo, mas toda vez que você perde, precisa parar, pensar, processar, para poder jogar a próxima partida. São 64 jogadores em uma chave e só um ganhador. Então, você tem que aprender a perder".
6 - TÊNIS GLOBAL
Na época em que Gilbert ainda atuava pelo circuito profissional, os tenistas dos Estados Unidos dominavam o ranking. "Tivemos John McEnroe, Jimmy Connors. Atualmente, contudo, é muito difícil um país dominar efetivamente o tênis mundial. Joga-se bem tênis e há bons treinadores em todos os lugares do mundo, então, não importa de onde você vem, importa como você joga, importa saber o quão bom você é", atesta.
7 - TRABALHE A DEFESA
É notório que grande parte dos jogos é vencida pelo tenista que melhor agride o outro, que ataca os pontos fracos do adversário e capitaliza com isso. No entanto, Gilbert acredita que trabalhar a defesa é essencial para lhe dar confiança também na hora de atacar o oponente, já que treinar a defesa é mais difícil do que treinar o ataque.
8 - DISCIPLINA
Foco. Pensamento estratégico. Para Brad Gilbert, é preciso ser disciplinado para ter sucesso. Disciplina tática. Disciplina nos treinamentos.
9 - SAIBA IDENTIFICAR AS NECESSIDADES DE CADA JOGADOR
"Quando treinava Agassi, o foco da conversa com ele era sempre o jogador adversário, como fazer para vencê-lo, quais táticas usar para neutralizar os pontos fortes etc. Já quando estava com Mary Pierce, cada vez que abria a boca para falar sobre o estilo de jogo da oponente, ela não estava interessada. Ela era centrada em seu jogo e se importava muito pouco com o outro lado da quadra. Com Agassi, conversávamos muito, especialmente sobre o plano tático. Podíamos conversar por horas e horas e ele sempre estava interessado. Com Roddick, por outro lado, se eu falasse mais de um minuto e meio, ele já perdia o interesse e não se concentrava. Então, é preciso saber reconhecer a forma como lidar com cada jogador para montar uma maneira de melhor o treinar. Cada um é um e reage de forma diferente às coisas que você faz. Demorei para entender isso", admite Gilbert.
10 - ANÁLISE PROFUNDA
Durante o Workshop, Gilbert foi perguntado se poderia dizer qual dos três garotos que batiam bola na quadra ele acreditaria que poderia ter mais futuro no tênis. Ele preferiu não apontar um deles, o que, para alguns poderia significar que estaria fugindo da resposta, mas, na verdade, ele não somente estava seguindo seus princípios, pois, ao ver o bate-bola, o máximo que ele consegue analisar é a técnica do tenista. E, para o treinador norte-americano, a técnica, como todos sabemos, representa muito pouco. "Quero acompanhar ele em um torneio. Quero ver como ele reage sob pressão. Quero saber se ele tem estrutura para poder evoluir", afirma Gilbert.
Tente sempre ter uma visão e uma atitude positivas |
Publicado em 17 de Junho de 2011 às 09:00